Lumen Saga - Capítulo 3
No sétimo milênio, entre os séculos III e IV, o mundo conheceu um herói que se autodenominava Vagus. Um andarilho habilidoso com a espada, que percorreu os três grandes impérios lutando contra a corrupção dos imperadores, defendendo a liberdade dos camponeses e escravos legais. Após sua morte em 7.430, surgiu a Ordem de Vagus, uma organização quase militar.
Desde a tenra idade, muitos sonham em ingressar nessa ordem. Uma minoria usa esse privilégio para o mal, aproveitando as permissões semelhantes às de soldados para fazer o que bem entendem. Já a maioria busca ajudar as pessoas por onde passam, aumentando sua influência e ascendendo nas patentes.
Um grupo de pessoas se reuniu no centro de uma praça de terra, gritando e berrando como se entoassem um cântico ritualístico. Observavam uma luta de espadas com interesse.
Um dos combatentes, encharcado de suor, deu um passo para trás, analisando os movimentos do oponente em busca de uma oportunidade para atacar. O adversário, por outro lado, mantinha um sorriso confiante.
— Você concordou em lutar por dinheiro, então por que está evitando o confronto, aldeão? — zombou um homem na plateia.
Um garoto de cabelos cor de trigo circulou pelo perímetro interno, observando a luta enquanto a plateia aplaudia a surra que o aldeão levava. O aldeão foi jogado contra a multidão e empurrado ao chão por um sujeito robusto.
— Uuh… — o garoto resmungou. — Essa doeu.
O outro combatente, um agente de Vagus, parecia se vangloriar de toda a situação. De braços abertos, ele assentiu os telespectadores, implorando por mais gritos.
— Posso pegar sua espada emprestada? Prometo que não vou quebrar — murmurou, pegando a espada do aldeão.
O agente de Vagus sentiu o garoto e se virou rapidamente para vê-lo.
— Quem é você? — interrogou o agente.
— Sou Theo, um agente novato de Vagus. E o senhor?
— Eu sou Sigmore, agente de quarto grau — respondeu com um sorriso.
— Posso desafiá-lo para um duelo?
Sigmore assentiu que sim.
“Ele está dois graus acima de mim… Provavelmente um lutador experiente. Será uma boa oportunidade para ganhar experiência e prática em combate. Mas essa espada…” refletiu Theo, olhando para a espada do aldeão. “Uma Xifo… Parece ter uma qualidade bem abaixo do padrão.”
“Esse garoto pensa demais”, ponderou Sigmore, avançando em direção a Theo. Lançou um golpe em direção ao garoto, que se esquivou habilmente.
— Senhor, eu ainda não terminei meu raciocínio — reclamou Theo, evitando o golpe de Sigmore.
— Vai ter tempo para isso numa luta real? — retrucou Sigmore, atacando novamente e aproximando a lâmina perigosamente do rosto de Theo.
Theo inclinou-se para trás, escapando do ataque, e se ajoelhou rapidamente. Em seguida, prendeu o braço esquerdo de Sigmore, segurando sua espada.
— Não sei. Só vamos descobrir se tentarmos, não é? — Um sorriso contornou seu rosto.
— Qual é o sentido de tentar e acabar morto?
— A morte é o fim, de qualquer jeito. Bom, é o que dizem por aí…
Theo lançou o braço de Sigmore para trás e se afastou. “Como vou lidar com essa espada? Deveria ter trazido a minha própria”, pensou.
Sigmore avançou ágil, desferindo golpes com sua espada, buscando acertar Theo. O garoto permaneceu na defensiva, desviando habilidosamente e procurando uma abertura nos movimentos de seu oponente.
Notando que nada mudaria apenas atacando com a espada, Sigmore buscou acertar o garoto com chutes.
Travando as espadas, Sigmore desferiu um chute com a perna esquerda, mantendo seu corpo com o apoio da perna direita. Theo, por sua vez, segurou a perna do oponente antes de ser acertado em suas costelas.
Explorando a defensiva do garoto, Sigmore recua bruscamente a perna esquerda, puxando Theo juntamente. Ao desequilibrar o garoto, Sigmore tentou golpear com o lado da espada, mas falhou.
“O que ele vai fazer? Avançar? Normalmente seria isso. Mas ele é um agente de quarto grau, já possui classificação suficiente para não agir de maneira tão previsível assim. Então…”
Sigmore jogou a espada para o ar, a fazendo girar contra o próprio eixo. Desferindo um tapa forte no pomo da arma, ela foi lançada em alta velocidade contra o garoto.
Theo foi forçado a tomar a iniciativa e contra-atacou, defendendo o projétil, a jogando para o chão e preparando uma investida contra Sigmore, que no entanto, já havia se movido da antiga posição.
Sigmore correu para recuperar sua espada, mas Theo agiu subitamente, acertando um chute no tórax do agente. Quando lançado para trás, Sigmore se pôs novamente em postura de combate enquanto esperava Theo se aproximar.
Num simples movimento, o garoto atacou com uma tentativa de jab de direita, mas falhou. Os dois agentes começaram a trocar socos e chutes, com a vantagem estando para Theo, pois ainda possuía uma arma.
O agente superior acertou uma joelhada no estômago de Theo, enquanto este desferiu um jab na bochecha do adversário. Os dois acertos foram o suficiente para obrigar eles a recuarem.
Ambos se lançaram um metro para trás.
Sigmore aproveitou o momento e avançou, indo em busca da espada que perdera novamente. Theo ainda tentou intervir, porém, o outro agente foi mais ágil e conseguiu recuperar sua arma.
Recuperando a espada, Sigmore se virou bruscamente e cortou o ar na direção de Theo, que não tinha velocidade de reação o suficiente para desviar. Jogando o peso do corpo para baixo, Theo se jogou no chão. Contudo, a lâmina de Sigmore cortou uma mecha de cabelo de Theo.
Os olhos âmbar de Theo caíram em raiva.
Theo reagiu impulsionado por tal sentimento, atingindo Sigmore com um chute no queixo, seguido por uma cotovelada no estômago, empurrando-o para trás.
Sigmore retaliou, tentando atacar, mas Theo esquivou-se e deslizou pelo chão.
Uma onda de ventania, fria e arrepiante cobriu Sigmore, literalmente o empurrando para trás. Gesticulando os dedos, Theo estendeu os braços contra Sigmore.
— Huh?! — murmurou Sigmore, surpreso.
“Um desviante!” ponderou.
Com um movimento rápido, Sigmore rolou para o outro lado. Surpreso, ele rompeu o silêncio da plateia com um sorriso:
— Quem diria que você ficaria tão bravo só porque cortei sua franjinha…
“Quase despertei uma tempestade indesejada…”
— Meu cabelo é sagrado. — Theo retrucou, examinando o corte.
— Então, você está desafiando outros artistas marciais para ganhar experiência em combate?
— Exato. Com apenas quinze anos, é recomendado para iniciantes lutar contra outros agentes o máximo possível. Tive sorte de encontrar você na fronteira da cidade.
— Theo, leve ele para casa? — pediu Sigmore, apontando para o aldeão caído enquanto soltava uma piscada unilateral para Theo. — Tome isso, você venceu. Eu prometi quinhentas moedas para quem me vencesse.
— Mas senhor… — protestou um subordinado.
— Esse garoto é um desviante. Acha que eu vou enfrentar? Mesmo que seja um adolescente, seria tolice. — Jogando o saco de dinheiro em direção a Theo, Sigmore lançou uma última pergunta. — Ei, você já tem algum pseudônimo?
Theo amarrou o saco de dinheiro em sua cintura, olhando nos olhos de Sigmore e fazendo um gesto de cumprimento, respondeu:
— Sim. Me chame de Lumen.
— Lumen, né? — Esboçou um sorriso sarcástico. — Até mais. Vamos, rapazes, estão a fim de gastar a noite no bar?
Enquanto Sigmore e seus subordinados se afastaram, Theo se aproximou do aldeão caído e se perguntou:
— Como vou descobrir onde é a sua casa?
A plateia começou a se desfazer gradualmente, com cada aldeão tomando um rumo diferente. No entanto, um foi diferente. Um senhor corcunda, sofrendo de sobrepeso. Seus olhos estavam fechados, seu corpo era coberto por um avental de couro.
— Sir Sigmore… Aquele vermezinho idiota — murmurou o aldeão. — Sempre fazendo bagunça e colocando nas costas dos ingênuos. Quero saber o que ele vai fazer quando for promovido pelo rei.
Theo observou o senhor caminhar até ele tocando na mecha cortada por Sigmore.
— Garoto, como já está para anoitecer… — O aldeão apontou para uma rua íngreme. — No final da rua Rudsir, a última casa depois da ladeira. É a casa desse amigo. Boa sorte…
— Obrigado…
Ao gesticular os dedos, o vento suspendeu o aldeão no ar e o levou até as costas do garoto. Theo caminhou com o senhor até o entardecer.