Naruto Renegado - Capítulo 10
Capítulo 10: Uma visão assustadora.
Energia.
Sentia o chakra por todas partes. Iniciando pelo seu peito e se espalhando pelo corpo, até mesmo fora de si. Ia longe demais e não sabia se era o seu próprio chakra ou o de mais alguém.
Escuridão.
Não enxergava nada, tudo estava infinitamente preto. Seus olhos estavam abertos? Não os sentia, não dava para saber. Aquele lugar o consumia, onde estava?
Sangue.
Conseguiu mexer a ponta de seus dedos. A mão. Os pés. Algo estava nos seus pés, algo molhado e quente. O som do eco ressoou quando ele bateu o pé na água.
Acorde. Ouviu uma voz. Acorde, pirralho.
— Pirralho! — O som de uma pancada forte batendo em um portão de ferro acordou Naruto completamente.
— Hã? O quê? Onde… Onde eu estou?
Seus olhos estavam se acostumando com a escuridão e pôde enxergar as paredes e o chão. Um mar de sangue cobria seus tornozelos, causando uma sensação estranha na pele e um cheiro horrível no ar.
— Atrás de você — disse uma voz grossa, metálica, como se arranhassem uma faca no ferro.
Naruto se assustou, virou-se e caiu de bunda no sangue. Ele estava em um corredor escuro, e no final dele havia um portão de barras cor de bronze e um selamento na fechadura. Atrás das grades havia uma raposa gigante.
O animal era tão grande que seu focinho era maior que Naruto. Ela sorria, mostrando seus inúmeros dentes afiados. E se olhasse atentamente, veria na escuridão suas caudas movendo-se.
O garoto ficou paralisado pelo medo. Segundos atrás estava na Floresta da Morte lutando para se tornar um Chunin e agora estava nesse local estranho na frente dessa criatura.
— Pirralho, como foi que achou este lugar? — perguntou o monstro.
E o até então ninja hiperativo sempre tagarela, ficou ali, parado, sem dizer uma única palavra. Tentou se recompor, engoliu em seco e se levantou.
O monstro chegou mais perto das barras, estava a sete metros do garoto. Percebendo o silêncio, ela continuou:
— Como foi que você chegou até aqui?
— Quem é você?! — revidou a pergunta, apontando o dedo. — Como eu vim parar aqui?
— Como você parou aqui? Você perdeu a luta contra uma genin. Foi humilhado por ser fraco.
As memórias voltaram e Naruto se lembrou do que aconteceu: salvou Sasuke de um ataque da serpente e a mulher estranha fez um jutsu ainda mais estranho com os dedos em sua barriga. O que estava vendo seria obra dela? Seria um genjutsu? Naruto perguntou.
— Eu não sou fraco — gritou Naruto de volta.
— Mas você perdeu. Por isso está aqui. Porque você é fraco demais.
— Não… Ela… Ela só teve sorte!
— Sorte? — zombou a raposa. — Você sabe que não. Não consegue proteger a si mesmo e nem a seus companheiros.
A respiração de Naruto ficou ofegante. Ele deu alguns passos para trás, não sabia o que fazer, não sabia o que dizer. A voz do monstro enjaulado continuou, como faca arranhando ferro. Mas Naruto fechou os punhos e gritou de volta.
— Eu vou ser Hokage, tô certo! Eu vou proteger os meus companheiros e a vila da Folha!
— Proteger? Assim como protegeu a sua família? — zombou a raposa novamente. Ela gargalhou e suas caudas se agitaram, causando ondas no sangue.
— O quê? — Naruto ficou perplexo.
— Eu vou te mostrar. Naruto. O quanto você é fraco.
A raposa bateu forte nas barras de cobre e o som reverberou por todo o lugar. O sangue se agitou e chegou até os joelhos de Naruto, embora já estivesse molhado quando caiu de bunda.
Quando percebeu, Naruto já não estava mais lá. Estava em Konoha, na rua. Era noite e a Lua cheia pairava no céu. Cidadãos andavam pra lá e pra cá, crianças brincavam nas praças, tudo estava normal.
Naruto olhou para os lados, sem entender o que estava acontecendo. Seu coração batia a mil por hora, novamente estava em um local completamente diferente de antes.
O cheiro da comida estava ficando fraco quando o odor estranho tomou conta. Um estrondo altíssimo foi ouvido por todos na vila, e um vento forte o empurrou para trás. Pessoas caíram, objetos voaram, uma nuvem de poeira foi levantada.
Naruto viu no horizonte da vila, perto do prédio do Hokage, a mesma raposa que estava conversando com ele. Mas desta vez ela parecia descontrolada, começou a atacar os prédios e casas, matando inúmeras pessoas pelo caminho.
A raposa uivou para o céu enquanto suas caudas balançavam e destruíam tudo. Cada vez que batiam no chão um estrondo seguido de um pequeno terremoto quebrava tudo ao redor.
Naruto ficou paralisado enquanto todos fugiam. Quando ouviu uma voz o chamando, uma voz feminina. Ele não a reconheceu, mas tentou distinguir de onde vinha. Até que percebeu que vinha da mesma direção da raposa.
— Naruto, socorro! — gritou a voz.
O garoto movimentou seu punho para pegar a kunai, mas não estava com sua pochete, nem com a bandana ninja e nem com sua roupa tradicional. Ele vestia uma camisa branca e um shorts laranja, e parecia ter pelo menos sete anos.
Naruto correu mesmo estando desarmado, já não havia pessoas naquela área, e enquanto mais chegava perto da raposa, mais a destruição o cercava. Quase tropeçou quando outra voz também foi ouvida.
— Nos salve, Naruto! — Desta vez era de um homem.
— Ei raposa idiota! — gritou o garoto. Por mais que nunca os tivesse conhecido ou visto, no fundo ele sabia, aqueles eram os seus pais. — Devolve eles! Devolve!
— Naruto, ajude-nos — gritaram as vozes.
E lá estava ele, na frente do monstro, buscando ao seu redor algum vestígio de seus pais. Seu coração batia rápido, seus olhos ardiam e sua respiração pesava. Não os achou, e sua atenção se voltou para a raposa.
— Naruto, salv… — Com uma pancada, a raposa tirou alguém do meio dos escombros, e com a outra pata tirou outra pessoa. Naruto viu de relance que uma delas tinha cabelos loiros e longos.
O monstro juntou ambos com as duas mãos e os arrebentou ao meio. Suas vísceras se espalharam pelo ar, seu sangue caiu como chuva em cima de Naruto, e as partes que estavam nas mãos da raposa se tornaram irreconhecíveis.
A raposa gargalhou enquanto Naruto via a cena. Suas caudas se agitavam no ar, e não tinha ninguém que pudesse contê-las. E só parou de rir para ouvir o choro de Naruto.
O garoto esperneava e gritava coisas sem sentido. Socou o chão até sair sangue de suas mãos, e depois tentou juntar os pedaços de órgãos e carne, como se pudesse ajudá-los com isso. Mas no fundo sabia que era tarde demais.
— Pai… Mãe… — conseguiu pronunciar essas palavras, apenas para voltar a chorar sobre seu sangue.
Quando abriu os olhos percebeu que eles não estavam lá. O que viu foi a raposa atrás das barras de cobre, no final do corredor. Naruto percebeu que havia voltado ao lugar em que estava antes, e agora o sangue do chão que cobria seus tornozelos parecia mais assustador.
Mesmo aqui, Naruto não conseguiu resistir às lágrimas, pois seus olhos ardiam. Tudo aquilo se sentiu real, era real para ele, embora quisesse acreditar que não. Por mais que dissesse para si mesmo que aquilo era falso, o sentimento de perder seus pais novamente foi horrível.
— Por quê? Por que você me mostrou isso! Sua raposa maldita!
— Eu matei os seus pais, pirralho — respondeu a raposa. — Porque você é fraco demais, não passa de um verme humano e fraco. Você não tem ódio. Você não tem força, você não tem nada.
— Você matou os meus pais? — Naruto disse, incrédulo. — Foi você… Você tirou tudo de mim…
A raposa gargalhou novamente, e Naruto caiu de joelhos no lago de sangue. Tentava entender aquilo, o porquê dele estar ali. Então se levantou e um passo de cada vez se aproximou do monstro.
— Você me odeia? — perguntou a raposa, com um sorriso sarcástico.
— Eu odeio você — repetiu Naruto.
— Você quer me matar?
— Eu vou te matar.
Naruto chegou até as barras de cobre e apoiou suas mãos, sujando de sangue por onde as passava. A raposa também se aproximou mais da grade e seu focinho estava a centímetros da mão de Naruto.
— Você é fraco demais pra isso. Naruto… Você sabe o que eu sou?
O garoto não respondeu. Apenas observou os olhos vermelhos da raposa, profundos, obscuros e que demonstravam sua fúria e repulsão. Depois olhou o selo na grade, reconhecia aquele símbolo. O mesmo que tinha em sua barriga desde que se deu por gente.
A raposa, com sua voz metálica, seguiu seu discurso.
— Eu sou a reencarnação do ódio. Eu sou o poder destrutivo que varre tudo em seu caminho. Um demônio criado para punir os humanos. Eu sou… a vingança.