Naruto Renegado - Capítulo 27
O dia terminou, e outro se iniciou. Os genins que chegaram depois do término dos cinco dias propostos para a segunda fase do exame foram eliminados, assim como os que não apareceram com os papiros do Céu e da Terra.
Embora todos fossem bem recebidos, mesmo falhando no exame. Ao mesmo tempo que os que passaram foram avisados que as preliminares começariam no dia seguinte, para surpresa de alguns que pensaram ter mais tempo para se recuperarem.
Naruto passou a tarde do dia anterior, mais a noite e a manhã dormindo. Às vezes tinha pesadelos, às vezes sonhava com seus pais, com suas vozes. Elas sussurravam constantemente, mas ele nunca as entendia, não sabia o que dizia.
Isso tornava as coisas piores, pois ao mesmo tempo em que eles pareciam tão distantes, ouvir as suas vozes o fazia sentir a falta deles.
As vezes parecia sentí-los, como se eles segurassem sua mão. Isso o impedia de ter pesadelos, mas quando a mão o soltava, as visões voltavam. Em seus sonhos tudo era vermelho sangue, a não ser o céu, que se mantinha na cor preta.
Ele caminhava pela vila, ou pela floresta em alguns dos casos, sempre sozinho. No primeiro caso ele achava seus pais mortos, no segundo ele se via abandonado por eles. Naruto odiava os dois, e logo a sensação de calor voltava, com a mão segurando a sua.
Quando acordou o primeiro que voltou foi sua audição. Alguns cochichos, a porta, seus próprios batimentos cardíacos. Se manteve assim por alguns minutos, até que finalmente acordou.
Quando seus olhos abriram, ainda confusos, observou o teto e lembrou-se de ter ido para a enfermaria. Ao olhar para o lado viu uma figura sentada o fitando. Seu rosto corou e ela se levantou bruscamente, como se não esperasse que ele acordasse tão cedo.
— Hinata? O que está fazendo aqui? — perguntou, confuso.
— E-eu vim ver como você estava… E por um acaso você acabou acordando. — Colocou suas mãos atrás da cintura e corou as bochechas.
O garoto loiro olhou a sua mão, e fechou com força, sentindo seus chakra circular pelo corpo. Ele estava totalmente curado e recuperado, depois de dormir por tanto tempo.
— Eu estou bem — disse, sério.
— Você tem certeza? — perguntou Hinata, preocupada. Ele pareceu não entender a pergunta, se sentia forte novamente. Mas ela continuou: — Seu olhar está diferente de antes… Não pude deixar de notar.
Naruto ficou sem reação por um momento, ele não entendia o que ela queria dizer com isso. Colocou a mão na nuca e forçou um sorriso pra disfarçar.
— Como assim diferente, Hinata? Eu sou o mesmo Naruto de sempre!
— Não — retrucou ela. — Eu vi você enquanto dormia, suas expressões. Eu sei que estava tendo pesadelos. Eu pensei que você deixaria isso quando acordasse, mas seus olhos ainda demonstram que eles não acabaram…
Hinata nem mesmo acreditava que estava falando daquele jeito. Isso pois estava realmente preocupada, ela havia ficado quase o tempo todo o acompanhando, segurando sua mão e trocando os panos quentes de sua testa.
Sempre havia sido mais calada, mas naquele momento, os dois sozinhos, tinha que dizer alguma coisa. Ela deu dois passos para frente, juntando toda a coragem que tinha. Naruto não a acompanhava com os olhos, pois observava o lençol por cima de suas pernas. Estava pensativo.
— Tudo bem se não quiser me contar… mas…
— Eu tenho pesadelos — cortou. — Tenho pesadelos todas as vezes que durmo. Não me lembro quando eles começaram… E tenho raiva de todas as pessoas que me subestimam e me jogam pra baixo como se fossem superioras!
A imagem da raposa tomou sua mente, sua zombaria, seu orgulho, eram coisas que Naruto não suportava. Além de que ela o fazia se lembrar de como as pessoas o tratavam na vila, como um verdadeiro monstro.
— Mas você não vai se deixar afetar por eles, você é o Naruto, e o Naruto que eu conheci nunca se deixou levar pelos outros. — Hinata deu outro passo, ficando ainda mais perto. — Por isso você queria ser Hokage, não é?!
Hinata se inspirava em Naruto, sua determinação a enchia de coragem e sentia que não podia perder aquilo. Naruto era um pilar para ela, e se ele caísse, ela cairia junto. Ver o garoto sorridente e cheio de sonhos daquele jeito, cabisbaixo e calado, com um olhar frio, a afetava mais do que gostaria de confessar.
Mas aquela palavra disparou algo em Naruto. Ele se lembrou de seu sonho, de seu objetivo de querer ser respeitado e aceito na vila. Para isso tinha que se tornar Hokage. Esse era seu sonho.
— Eu vou ser Hokage, e não vou deixar nada se colocar no meu caminho!
— Isso, é esse o olhar — disse Hinata, vendo o brilho do seus olhos, como se tivesse se recuperado totalmente, desta vez por dentro.
Naruto se levantou, agradeceu a enfermeira pelos cuidados e saiu, separando seu caminho do de Hinata. Enquanto ele andava, ela observava suas costas, se distanciando a cada passo. E por aquele momento ela temeu que ele se afastasse demais algum dia.
✫✫✫
— Temos que conversar — disse Anko, se aproximando de Kakashi. Ela olhou de relance os outros dois senseis que estavam ali e ambos entenderam o recado.
Ambos foram para outra sala mais afastada e segura para conversarem. Anko olhou para os dois lados antes de fechar a porta.
— Temos que tirar Sasuke do exame agora. — Estava séria, e parecia preocupada. — Orochimaru está atrás dele.
— Entendo a sua preocupação, Anko — disse Kakashi, tranquilo. — Mas é meio tarde pra isso, o garoto já está com a marca que Orochimaru colocou nele.
A jounin caminhou de um lado para o outro, com uma das mãos na barriga, em cima das faixas. Ela não parava de pensar no que poderia acontecer.
— Eu tenho que tirá-lo do exame. Ele vai voltar pelo garoto, sei que vai. Eu sou a encarregada da segunda fase.
— O Hokage te dispensou, a mandou descansar e se recuperar. Você está ciente disso.
Anko franziu o rosto e depois fez uma expressão de preocupação. Kakashi percebeu e suspirou.
— Eu também me preocupo pelo garoto — Anko se abriu. — Você sabe pelo que eu passei nos tempos em que estive com Orochimaru, não quero que aconteça o mesmo com ele.
Kakashi olhou para a porta, como se pudesse ver Sasuke dali, imaginando o garoto nas garras de Orochimaru.
— Eu cuidarei de Sasuke pessoalmente, e também selarei a marca da maldição.
Anko caminhou lentamente até a entrada da sala e abriu a porta. Se virou para seu companheiro e, enquanto saía, disse:
— O selo só vai funcionar enquanto Sasuke permitir que funcione. Se Sasuke quebrar, o selo também quebra. E não é Orochimaru vir até ele que me preocupa, é ele ir até o Orochimaru. — Fechou a porta e deixou Kakashi ali, sozinho.
Kakashi deu um longo suspiro por trás da máscara e coçou a nuca, pensando no quão complicado era a situação. Ainda assim ele cumpriu o que havia dito, foi até a enfermaria e chamou Sasuke para a mesma sala onde estava antes.
Sasuke o acompanhou sem saber do que se tratava. Quando chegaram lá, ele viu vários símbolos no chão, formando um mais. Nesse momento o Uchiha soube o que aconteceria.
Kakashi explicou como funcionava o selo, desenhou os símbolos ao redor da marca e pelo corpo do garoto.
— Você está pronto?
— Sim — respondeu Sasuke sem ter muita certeza disso, mas tentando parecer confiante.
Após colocar dois dedos no centro da marca, Kakashi recitou algumas palavras, e todos os símbolos e letras que estavam em volta foram absorvidos, juntando-se uns com os outros e formando novos símbolos ainda menores.
O grito de Sasuke retumbou naquela sala, e o garoto caiu desmaiado logo em seguida. Na marca da maldição, agora, além dos três tomoes, tinha um círculo feito com símbolos. O selo havia sido completado.
“O selo só vai funcionar enquanto Sasuke permitir que funcione”, as palavras de Anko se repetiram na mente de Kakashi. Ele viu o garoto no chão e o levantou, carregando-o em seu colo.
Levou o garoto desmaiado até a enfermaria novamente e disse para a enfermeira que ele precisava descansar. O colocou na cama e viu uma expressão de dor no jovem Uchiha.
“Agora tudo depende de você, Sasuke”, pensou.