Naruto Renegado - Prólogo
Prólogo: A Ponte.
O vento batia contra o rosto do garoto, congelando seu pulmão ao passar o ar gelado, se espalhando por seu corpo. Seu cabelo curto era jogado pelo vento enquanto corria. Embora suas pernas fossem pequenas, era relativamente rápido, ainda mais nessas condições.
O medo, a curiosidade e o receio tomavam conta do garoto, mas ele precisava saber o que havia acontecido. Mais cedo, quando dois mercenários capachos de Gatõ invadiram sua casa para uma tentativa de sequestro, ninjas de Konoha o salvaram do perigo.
Depois disso eles desapareceram, e tempo depois se ouviram gritos e explosões vindos do Norte, a mesma direção para onde foram os ninjas de elite. Inari queria saber o que estava acontecendo.
Se perguntava se eles estavam bem: a garota de cabelo rosa, o garoto de cabelo loiro e o outro que parecia sempre emburrado. Eram as pessoas que o salvaram e que acreditava ter uma amizade, mesmo no pouco tempo que se conheceram.
Era tarde e o Sol estava se escondendo no mar, dando lugar à escuridão. Correndo contra ele, o garoto ia em direção à grande ponte. Mal tinha saído de casa quando ouviu sua mãe.
— Inari! Inari! Não vá sozinho, é perigoso — gritou Tsunami, uma mulher morena, preocupada. Embora não conseguiu chamar a atenção do garoto, pois ele estava determinado a seguir em frente.
Passou pelas ruas de terra a toda velocidade, tombando em três pessoas pelo caminho. As casas foram deixadas para trás e a floresta se iniciou. Não demoraria muito para chegar até a ponte se ninguém o impedisse, o que não foi o caso.
Inari sentiu uma mão segurando seu pulso e o impedindo de correr, virou-se, tentando se soltar. Quando viu que era seu avô, ficou irritado, já que sabia que ele o impediria de ir até lá. O velho o olhou bravo.
— O que está fazendo? Não sabe que é perigoso? Você deveria estar em casa, com sua mãe. — Tazuna o olhou, apertando seu pulso com mais força enquanto o garoto se debatia.
O homem já era velho, usava um pequeno óculos de grau e tinha barba e cabelos grisalho. O que mais chamava atenção era o seu chapéu em formato de funil de cabeça para baixo.
— Eu tenho que ir até lá, eu tenho que ver o que aconteceu, os barulhos pararam! — protestou Inari e apontou em direção à ponte. Tudo o que ele pôde ver foi a subida um pouco íngreme que vinha antes dela e o pôr do Sol ao lado.
— É perigoso, você não sabe o que pode ter acontecido, vamos esperar os ninjas de Konoha que contratamos voltarem e dizerem que podemos ir para a ponte. — Diversos corvos voaram para o Norte, e os dois olharam para o céu por um momento.
— E se eles precisarem de ajuda? Ou.. ou e se eles tiverem perdido e não voltarem mais? — o garoto estava soluçando, com medo só de pensar na possibilidade. Queria a todo custo ir até a ponte e ver com os próprios olhos o que aconteceu.
O velho já havia afrouxado a mão quando percebeu que seu neto havia deixado de tentar se soltar, tudo o que devia fazer agora era convencê-lo de voltar para casa e esperar os ninjas voltarem.
— Então Gatõ e seus capachos tomarão tudo, a cidade vai ser deles e a ponte nunca vai ser terminada. É isso que vai acontecer se eles perderem, e você ir lá pode causar exatamente esse resultado. Tudo o que podemos fazer agora é esperar e confiar neles.
O garoto abaixou a cabeça e tentou segurar suas lágrimas. Não faz muito tempo havia prometido que nunca mais iria chorar, mas era difícil manter a promessa enquanto tudo acontecia. Ele se acalmou e seu avô o soltou.
Desabou no chão, praticamente sem esperança. Se sentia horrível por esperar ali e deixar tudo nas mãos dos ninjas que nem sequer eram de sua vila. Mas não tinha outra escolha, ainda era muito fraco para fazer alguma coisa e seu avô tinha razão: ir lá poderia piorar as coisas.
Quando de repente um som fraco e agudo ecoou na floresta, quase inaudível, mas ao mesmo tempo difícil de passar desapercebido. A direção que ele vinha era sem dúvida alguma da ponte, o que causou calafrios a ambos.
— Ajuda! — gritou a voz. Era fraca, sem forças, a garganta fazendo os últimos esforços para ser ouvida.
— Mas o quê?… Ei, Inari, não corra! Volte aqui!
Mas o garoto o ignorou, seguiu correndo, sem sequer olhar para trás, até chegar no início da grande ponte. O mar se sentia por ambos os lados e a ponte em construção chegava até certo ponto, para logo ter um longo vazio entre as duas pontas que impedia a passagem para o outro lado.
Deste lado a visão foi horrível: mais de cento e cinquenta cadáveres estavam espalhados pela ponte. Membros faltando, ossos, sangue e órgãos pintavam o chão. O medo cresceu quando viu um deles se aproximando.
— Socorro… — disse ele. Inari permaneceu parado, estupefato. O homem se rastejava com o que havia sobrado de seu corpo até o garoto, e vendo que não poderia chegar a tempo desabou no chão e morreu. Nos seus olhos não sobrou a esperança e sim o pânico.
— Inari… — O velho veio até ele contemplar a vista. Não sabia o que dizer, apenas observou junto do seu neto o massacre.
O garoto caiu de joelhos, a cabeça ficou tonta e o seu vômito ajudou a finalizar a arte que havia sido pintada no chão daquele lugar. O artista, entretanto, não poderia estar muito longe.
Havia amontoados de pedras espalhados pelo local que Tazuna deduziu serem de jutsus, artes capazes de controlar aspectos da natureza. O que o velho não sabia é que havia sido com a própria força bruta que danificou o chão da ponte.
O velho caminhou entre os mortos, buscando reconhecer os ninjas de Konoha. Quando viu rostos familiares, rostos dos mesmo ninjas malfeitores que o haviam atacado, Zabuza Momochi, com o estômago aberto e sua grande espada partida ao seu lado.
Não muito longe dele seu companheiro Haku, que Tazuna só reconheceu pelas roupas, já que o rosto havia ficado irreconhecível e o crânio quebrado pelos socos que levou. Inclusive o solo ao redor de si estava com uma pequena cratera onde sua cabeça foi estourada.
Seguiu caminhando. Era irônico, tudo aquilo que via era uma prova da vitória dos ninjas de Konoha, que também era sua vitória, e ainda assim, tudo o que sentia era medo e espanto.
Quando estava quase chegando no final, ouviu um grito abafado e se virou. Era Inari, a um metro do chão, sendo erguido pelas mãos vermelhas do que parecia ser um humanóide demônio. O ser que o segurava usava roupas que ele reconheceu, embora parecesse muito grande para elas agora.
— Inari! – gritou o velho. Tazuna começou a correr em sua direção, gritando seu nome inúmeras vezes, cada vez mais perto daquela cena diabólica.
Quando o demônio olhou para trás, suas feições demonstravam o mais puro ódio. O velho se deixou cair perante o pânico, todos os seus sentidos o mandavam dar meia volta e correr.
— Não o mate. — Se ouviu dizer, mal tinha tido tempo para perceber que o demônio apenas segurava seu neto enquanto ele se debatia.
— Por favor, não o mate! — ouviu o grito, embora desta vez não fosse do velho. Quando Tazuna ergueu a visão viu uma garota correndo em direção do monstro.
Uma garota de cabelos e roupas rosas. O demônio também ouviu o grito e se virou para observar, largou Inari quando viu a pequena e aparentemente indefesa figura se aproximando. O monstro preparou um golpe, cerrou seus punhos e pegou impulso.
Mas seus punhos nunca chegaram nela. Não por ser lento, mas sim por parar na metade do caminho. A feição do monstro mudou completamente quando recebeu um abraço da garota. Ela o prendeu em seus braços e juntou todo o seu fôlego.
— NARUTO, VOLTE! — gritou. Junto com o grito veio o choro, e junto com o choro o garoto.
Seus cabelos voltaram a ser loiros, bagunçados e sujos de sangue. Seus olhos vermelhos se tornaram azuis, e seu corpo diminuiu o tamanho, deixando a cor vibrante para o seu tom natural. Naruto voltou a ser ele mesmo, e o demônio voltou para dentro de si, esperando a próxima oportunidade de sair.