O Conselheiro da Rainha - Ato 2
De manhã a rainha estava em seu quarto, o mesmo para Nhomuhcsiah que agora estava se arrumando para ir ao quarto dela.
— Olha que bonitinho, agora sim você vai ser bem respeitado, menino! — disse Csisál, que vestiu a roupa dele, que era a mesma de Muhtidis, seu pai.
— Eu gostei mais quando ele estava despido, he he — respondeu a irmã mais nova, que estava deitada na cama vendo toda a troca de roupa do menino.
— Irmã, um dia você pode acabar sendo presa ou morta se em um momento você fizer alguma coisa com uma criança — disse Csisál bem séria olhando para a Cecília; ela claramente não gostou do comentário.
— Calma irmã, eu só falei isso aqui entre nós, não quer dizer que eu vá falar tais coisas em meio ao povo, claramente eu seria morta em meio a eles, decapitada, queimada ou empalada — disse a mais nova calmamente.
— O jeito que você fala é um pouco perturbador, está deixando até Muhimoketsu bem pensativo.
Enquanto Nhomuhcsiah se via com as roupas novas e as duas irmãs discutiam sobre o assunto, Muhimoketsu apenas estava sentado na beira de sua cama em uma posição de pensador.
— Hum… irmão, o que tanto pensas? — perguntou Nhomuhcsiah se aproximando do irmão, sentou-se ao lado deixando um pequeno espaço entre ambos.
— Você se tornou o conselheiro da rainha… agora estou pensando no que poderei ser, talvez um soldado? Possuo boas habilidades de vento — disse, não saindo da pose e da expressão.
— Um soldado é bom, lutar com outros em nome do reino, o mais importante trabalho dentro do reino, ha ha, uma boa ideia irmão, seja um soldado, e será o mais importante para a coroa! — dizia sorrindo.
O menino balançava os braços de um lado ao outro para fazer cenas e levantar um sorriso em seu irmão que, logo teve um brilho nos olhos ouvindo o que ele havia dito.
— Sim, um soldado é mais do que um Conselheiro, vocês treinam, lutam e morre em nome do rei, protege o povo e faz as pessoas alegres — disse Csisál passando a mão nos cabelos lisos de Nhomuhcsiah e, logo após nos de Muhimoketsu.
Os dois meninos riram, após essa boa conversa cada irmão seguiu seu caminho, e Nhomuhcsiah foi até o quarto da rainha, bateu na porta e esperou resposta.
A voz da mulher saiu de dentro, pedindo-o para entrar; no quarto a rainha pede para que lhe entregasse uma bandeja de chá. Ele se curvou e logo saiu do quarto, em passos lentos porém largos, o menino logo chega a cozinha.
— Cozinheira? A zhumuhcsiahmit pede chá; Ferva a água — na porta manteve o olhar neutro e o tom de voz meio baixo.
Havia uma mulher na cozinha que mexia algo em uma grande panela, ouvindo a voz do menino ela olha atentamente e ouve o que disse.
— Oh minha nossa, pra já senhor!
A cozinheira em tom meio assustado acelera as coisas, em uma pequena chaleira ela põe água que saiu de uma pedra azul, pequena e oval; não durou muito tempo e a água já fervia.
— Só mais um pouquinho jovem, prepararei as ervas.
Em um pilão de pedra foi colocado algumas folhas ao qual ela esmagou com outra pedra mais longa e arredondada.
Durante esse tempo, Nhomuhcsiah ficou olhando a cozinha agora com mais foco do que antes por causa das brincadeiras junto do irmão.
O cheiro da cozinha era bem típico do lugar, os temperos a serem usados nas comidas, as frutas que começaram apodrecer e que mesmo assim o cheiro delas ainda é bom.
Nos armários, as portas velhas e descascando, algumas caindo e outras sem puxadores.
A mesa estava no mesmo estado em que aquelas portas, as pernas dela estavam um pouco porosas devido os cupim. Nhomuhcsiah abre um sorriso vendo que a mesa estava quase para despencar, mas continuava em pé.
“E a cozinheira?”
Olhando melhor para ela viu-se que era jovem, aparentemente lembrava um pouco Csisál em idade, já que a cozinheira era loira e sua irmã era morena.
— Aqui está jovem, a bandeja com o bule e as xicara com os pires, a colherzinha para pôr o açúcar, e o saquinho com a erva do chá preferido da rainha — entregava a bandeja de prata reluzente com tudo o que ela disse para o menino.
— Tudo bem, entregarei a ela, obrigado — pegando a bandeja ele se retirava da cozinha.
Em passos cautelosos e com um bom equilíbrio, ele andava com a bandeja até o quarto da rainha.
— Senhora, eis o seu chá mas estou com as mãos ocupadas, poderia abrir a porta por favor?
— Claro jovem, não faz mal — nisso a velha mulher abre a porta, e o menino entra com a bandeja.
Lá dentro, de pé em um canto daquele quarto apertado, porém bem arrumado e detalhado, o menino apenas observava a rainha se servir com o chá, após contar 3 goles ele então começa a olhar ao redor daquele quarto.
Vendo os maiores detalhes que quase tudo era ouro, o esqueleto da cama, o suporte do espelho, o cabo da escova, a colher do chá, os detalhes nas cortinas da janela, os tecidos que cobrem a cama, as gravuras desenhadas na madeira, tudo era pintado ou feito com ouro.
“Por que… tudo tem que ter ouro, o que uma pedra amarela brilhante é tão… apreciada, por que tudo tem que ter essa coisa, é um metal barato sem muita utilidade, macia e bem desgastável, pessoas morrem por essas pedras e matam por ela; será uma pedra mais útil e valorizada do que uma vida? Tudo me faz pensar”.
Nhomuhcsiah pensava enquanto via tudo ao teu redor, tudo muito vermelho, amarelo e ele só aguardava alguma coisa acontecer.
— Meu jovem… será que posso te contar um segredo? Só não contarás, claro, para meu marido, tudo bem? — perguntou a rainha calmamente sentada na cama, ela pegou a escova de cabelo e ficou escovando os fios.
— Hum? Claro minha rainha, pode contar para mim tal segredo, não contarei a ninguém.
— Sabe, há muito tempo eu ando me sentindo assim, ando sentindo uma leve tristeza e algumas dores no meu peito, uma respiração pesada e uma fraqueza constante — falava após um suspiro — Me diga menino, você sabe amarrar o cabelo? Meu antigo conselheiro sabia.
— Oh, tudo bem, eu sei como se amarra um cabelo, afinal possuo duas irmãs e em algum momento elas iriam me ensinam tais coisas — se aproximando da rainha e sentando na cama com cautela, com suas pequenas mãos foi mexendo nos cabelos da velha mulher, fazendo algumas tranças.
— He he, parece que você é um garoto que tem bastante contato com o mundo das mulheres.
— Digamos que sim, tenho bastante contato com o mundo feminino, falando mais de mim: sei dos cuidados das peles, o trato das unhas e dos cabelos, sei costurar e até mesmo cozinhar, tudo o que muitas pessoas fazem eu consigo fazer e tenho potencial para muitas coisas, como sentes minhas mãos, são macias mas aptas para um árduo combate.
Dizia tudo isso com muita calmaria, um tom de voz que acalmava e, uma serenidade que fez a rainha até mesmo lacrimejar.
— Você é um menino prendado… — enxugava as lágrimas — sua mãe, Eva, era uma boa mulher, agora sabendo disso acredito que ela deva estar muito orgulhosa.
Ela dizia isso agora se olhando no espelho, olhando o penteado que o menino fez nela, a mistura do trançado com o liso, um pouco amarrado para o cabelo não arrastar ao chão.
A rainha lembrava de como a mãe dele foi morta, cabelos longos e negros, os olhos eram vermelhos como o sangue. Morreu empalada por uma espada por um homem que tentava matar a rainha.
— Minha mãe, não me lembro de nada, ela deve ter morrido antes de eu criar lembranças.
— Eu me lembro de como ela morreu… tão bela, tão corajosa — puxou uma cadeira, se levantou para sentar-se perto da penteadeira.
— Poderia me contar sobre como ela morreu? — se levantava da cama.
— Ela morreu empalada por um homem que tentava me matar; ela me protegeu, e até hoje sinto culpa por isso… — fez uma expressão triste, olhava no espelho e secava as lágrimas de tristeza que molhavam a madeira da penteadeira.
— Ela foi forte, ela fez isso por que gostava de você, te manter viva deveria ter sido o maior feito dela, e não se culpe — se aproximava da rainha, pegava nos ombros dela e sorria — os invejosos são os culpados.
— Como você não se abalou com isso? — perguntou ela.
— Do pó nós surgimos e para o pó voltaremos; é um pensamento básico, não é algo a se temer.
Falando isso, a rainha sorri para ele.