O Conselheiro da Rainha - Ato 2
Pela parte da tarde, barulhos de tempestades eram ouvidos por todos do castelo e por parte das pessoas do lado de fora também, depois do almoço real a rainha voltou para seu quarto, nisso Nhomuhcsiah estava agora sem nada para fazer, sem ordens a receber; nisso ele resolve checar o que causava tais barulhos amedrontadores.
— Hum… vem da arena, como é vento deve ser Muhimoketsu treinando — falou isso após uma longa busca pela origem do som.
A arena foi o último lugar checado, quando percebeu isso ele sorriu. Chegando na arena, viu seu irmão utilizando de seus poderes de vento para treinar, ele usava socos e chutes, todos imbuídos pelos ventos que se misturavam com a areia mágica da arena. Muita poeira subia com tais golpes.
— Irmão? Está treinando, né? — gritou da pequena parede da arquibancada.
— Nhomuhcsiah? Haha, estou sim, claro, ser soldado agora me parece ser uma boa opção! — respondeu Muhimoketsu parando de lutar e com o fluxo da ventania sumindo.
— Por que não lutamos um pouco? — saltava a pequena parede e descia até a arena — assim eu treino um pouco para proteger a rainha.
Em passos calmos ele se aproximou de seu irmão.
— Como assim mano, você nunca lutou sériamente, tem certeza disso? — disse o de cabelo curto um pouco ofegante.
— Claramente que sim, eu aposto que posso te bater facilmente — faz uma expressão risonha e desafiadora enquanto se encaminha para o outro lado da arena.
— Ah malvadinho, então irei te derrubar com um só golpe! — posicionou-se em pose de luta.
Com um punho fechado na cintura, e a palma aberta apontada para seu irmão, a luta a se inicia, Muhimoketsu dobra seus dedos e com um golpe, aparentemente de garras, ele fez uma onda de poeira bem forte direcionada ao de cabelo longo. Que por sua vez apenas desviou para o lado, manteve o pé no chão e começou a correr, ele era muito rápido.
Os dois então colidiram punhos, porém de alguma forma o impacto mais forte foi o de Nhomuhcsiah, seu soco estava secretamente imbuído por uma energia eletrica, o que causou a quebra da integridade de Muhimoketsu, o jogando ao chão.
Seu irmão após isso se afastou em um salto para longe.
— Minha nossa, irmão, que força é essa!? — riu alto — tem um rostinho bonito e um corpo macio, mas uma força nos punhos que meu Deus — se levantando tentando mexer melhor o braço acertado, no caso, o direito.
— Na realidade, esse é o meu poder — levantando uma de suas mãos nela surgia eletricidade corrente, linhas trêmulas com imenso brilho mesmo pequenas — eu consigo controlar os raios dos céus, incrível né? — sorria abertamente.
— Nossa, conseguir controlar os raios é algo tremendamente assustador Nhomuhcsiah — recuperava o braço da leve dormência por conta do impacto elétrico — e como deves saber, eu controlo os ventos, então tecnicamente controlo todo o deserto! — gritava para o alto — bem irmão… sem mais conversa pois vejo que está apto para lutar, agora vamos sem hesito — após um suspiro, se posicionou novamente para lutar.
Nhomuhcsiah por sua vez não disse nada e apenas sorriu enquanto de seu corpo emanava seu semblante mágico, uma aura; energia estática e bem brilhante, e seu irmão se imbuia com seu poder que fez a poeira da arena circular como um turbilhão. Nisso, avançam um no outro.
Do lado de fora as pessoas ficaram um pouco assustadas pelos barulhos dos ventos e dos trovões, que no caso eram utilizados pelos irmãos, muitos moradores e comerciantes colocaram suas cabeças nas janelas para ver o que ocorria, olhavam para o céu e apenas viam o azul, logo todos ficaram curiosos para saber de onde vinham tais sons assustadores.
Na arena, os irmãos ferozmente trocavam golpes e parcelas de seus poderes de vento e trovão. Na entrada para a arena, o rei, a rainha e Muhtidis apareceram para ver o que estava acontecendo e o motivo de tanto barulho.
O homem vendo seus filhos lutando entre si com sorrisos nos rostos, o fez sorrir também como motivo de alegria.
— Nhomuhcsiah, Muhimoketsu? Eles estão treinando!? — disse o pai com um largo sorriso no rosto, logo após ele desce as escadas da arquibancada rapidamente para chegar na parede que separava a arena.
— Que belo, as crianças estão treinando, um deles é justo o meu conselheiro — disse a rainha sorridente e um pouco cansada.
— Claro minha rainha, ele vai ser um dos melhores que você já teve, irá te manter segura — disse o rei sério que puxa a rainha para perto, logo afagando levemente seus cabelos ruivos.
— Eu espero — respondeu ela fechando os olhos.
A luta entre os irmãos se estendeu até ambos caírem no chão após um soco trocado no rosto, os dois riram da situação em que terminaram a luta, Muhimoketsu sorriu e elogiou Nhomuhcsiah, que não respondeu direito, ele apenas riu e depois ficou em silêncio com um sorriso vago no rosto.
Muhtidis apareceu na visão dos dois e disse estar alegre por eles, nisso os pega nos braços e pede licença ao rei e a rainha, já que iria levar os dois “moleques” para o quarto descansar, uma luta desta realmente cansaria qualquer um de qualquer idade — não creio muito.
Após serem colocados por seu pai em suas camas, os irmãos depois da saída do pai, se sentam em suas respectivas camas e se entreolharam, sorrindo em seguida.
— Sabe irmão, mesmo se tornando um conselheiro, você daria um bom soldado, francamente — falou Muhimoketsu.
— Obrigado irmão, e você agora trilhando o caminho dos guerreiros, mesmo assim daria para ser um bom conselheiro, com certeza! — disse Nhomuhcsiah mais calmo e respirando para diminuir o cansaço.
— Me diga maninho, por que você… é assim? — deitou na cama que logo rangiu.
— Assim como?
— Quieto e muito “misterioso”.
— Quer mesmo saber irmão? — deitou na cama.
— Claro, me conte!
— Eu sou desse jeito porque penso demais, eu aprecio cada parte deste castelo, os céus, as nuvens, sempre estou pensando algo, fazendo perguntas para mim mesmo, sabendo que não receberia resposta alguma, apenas o silêncio.
O menino de cabelo longo se embrulhou com os lençois mesmo no calor que estava fazendo. O sol passava bem brilhante pela pequena janela do quarto, o feixe da luz ficava entre as duas camas, com o círculo partido em quatro parte mostrado no chão.
— Então você é aqueles que chamam de pensadores, como é que era o nome mesmo? Lovósifo?
— Filósofo? Os pensadores que mudam a sociedade ao nosso redor? Não, eu não sou isso, eu não me expresso tanto quanto como eles — se sentava — veja irmão, no teto existe aquela portinhola, não sei como vocês ainda não viram ela, tá tão bem marcada — apontou para o teto, onde não havia nenhuma marcação, mas um relevo redondo.
— Hmm? Portinhola? Não vejo onde está — perplexo enquanto buscava pela tal portinhola no teto.
— Foque mais irmão, naquela parte você vai ver!
Olhando melhor pelo teto, Muhimoketsu viu o relevo e pensou o mesmo que o irmão na primeira vez; “uma portinhola?”
Antes de falar algo, suas irmãs entram no quarto, os meninos se deitam rapidamente para que elas pensem que estão dormindo, ambas comentam sobre algumas coisas de seus trabalhos, alguns garotos que elas estão interessadas e por aí vai, os irmão davam sussurros de risadas pelos assuntos das irmãs que após um tempo saem do quarto levando algumas coisas.
Após a saída delas, eles rapidamente se levantam e pegam alguns bancos e cadeiras para poderem alcançar o teto pelo menos, mas não conseguem por ser bem alto — pensem melhor.
Muhimoketsu então teve uma ideia, compartilhando com o irmão que logo concordou.
Depois de um tempo, Nhomuhcsiah era levado pelos ventos do irmão até aquele relevo onde com algumas batidas ele conseguiu quebrar uma fina casca de pedra, fazendo o puxador cair — bom menino.
O menino puxa aquilo e revela a porta para uma parte superior do cômodo, o chão agora estava sujo pois com a abertura da portinhola, as cascas de pedras caíram. Logo Nhomuhcsiah era colocado para dentro do tal cômodo com o poder do irmão, nisso o mesmo usa o vento para se elevar ao quartinho.
“Quanta poeira… realmente antigo?” pensou Nhomuhcsiah.
Olhando ao redor, o lugar era baixo, cerca de um metro de altura ao qual os dois irmãos tinham de engatinhar para se locomoverem melhor pelo lugar totalmente empoeirado.
“A rinite chega a atacar…” falou aquela voz estranha, o menino resolve ignorar.
Nhomuhcsiah olhava atentamente cada ponto daquele quartinho, a madeira que serviu de sustento agora praticamente deteriorada pelos cupins e podres pelo tempo, mas de alguma forma o lugar não cedeu, as paredes eram de pedras e o verdadeiro teto também.
— Estranho, como podem ter feito esses suportes de madeira sendo que o teto é feito de pedra e que não cairia? — disse Muhimoketsu fungando por causa da poeira.
“Estética garoto, agora na janelinha…”
— Talvez seja de enfeite… olhe.
O de cabelo curto então aponta para uma pequena janela quadrangular com madeiras em cruz no meio, estranhamente eram pintados com desenhos azuis. Os irmãos curiosos se aproximam da janela, abaixo dela havia uma caixa, tal caixa era pequena como no tamanho de um livro.
Ela tinha uma fivela, mas sem cadeado, a caixa era de madeira, que por sinal, o tempo não parecia ter a afetado, muito menos as bordas de ouro que brilhavam intensamente.
— Erm… abrimos? — Nhomuhcsiah estava um pouco receoso.
“Claramente garoto, abra”.
Ele se sentia estranho, seu coração batia forte e sua respiração estava pesada, cada vez mais perto da caixa ele sentia isso mais forte, chegava a incomodar e causar um recuo.
— Acho melhor sim, já chegamos aqui, então vamos abrir — respondeu o irmão.
Estendendo a mão, receoso, puxava a fivela abrindo a caixa, após abri-la, viu-se um livro, era fino, tinha uma capa preta e sem nenhuma inscrição nela, apenas um quadrado no centro, era de um azul bem claro, desse quadrado se partia linhas retas, como um labirinto, pela frente e verso.
O pequeno livro era mole, o de cabelo curto pegava enquanto olhava para seu irmão que parecia sentir bastante medo.
“Abra!”
Sem dizer mais nada, ele abriu o livro e começou a ler.
Muhimoketsu ficou surpreso, mas também assustado com as informações que tinham ali, que o ajudaria bastante em questão de combate, também o alertava sobre coisas estranhamente “futuras”.
Nhomuhcsiah então se aproxima do irmão para ver o livro também, e em uma das páginas, se vê a forma de um garoto, que possuía a mesma roupa que eles dois, o cabelo longo do menino, porém a expressão era de seriedade, com o braço esquerdo levantado.
Havia uma coisa estranha em uma das inscrição que dizia ser uma lâmina feita de trovões, tal lâmina não estava em nenhum canto da folha, mas se dizia ser algo cortante de diversas formas — estranho não?
— Irmão, eu to com medo… — Nhomucsiah tinha uma voz fraca, ele tremia e suava bastante — vamos sair daqui mano, esse livro me traz arrepios, vamos! — choramingando ele puxava a camisa do irmão.
— Oh hey, calma, calma maninho, vamos sair então… — disse o consolando.
Nisso ambos saem daquele cômodo, o primeiro era o irmão aterrorizado, depois Muhimoketsu que fechou a portinhola.
Os dois foram para a mesma cama, se deitaram, o assustado se aconchegou bem perto ao peito do irmão, que o fez carinho para acalmá-lo, assim dormindo, com dificuldade.
“Finalmente… era isso que me impedia? Um maldito livrinho? Que falta de criatividade…”
Durante a noite, todos dormiam no quarto calmamente com seus cobertores quentes pois fazia frio durante aquela noite. Muhimoketsu ainda estava abraçado a Nhomuhcsiah que parecia não estar dormindo muito bem naquele lugar.
Ele suava bastante, estava ofegante e não parava de se mexer, consequentemente acordando seu irmão com os movimentos.
— hum, mano, irmão? Hey! Acorde! — levantou o tom de sua voz para acordar o irmão, e que também acordou as irmãs.
O mesmo estava em desespero sabendo que ele estava tendo um pesadelo, o que não era comum, nem um pouco, pois em nenhum momento da vivência dos dois aquilo aconteceu.
As duas irmãs claramente acordaram com a voz do irmão preocupado, elas ficaram um pouco perplexas mas ouvindo melhor ambas entenderam o que estava acontecendo, se levantando rapidamente e se aproximando da cama em que Nhomuhcsiah estava, elas ajudaram o menino a acordar. Com os três agora tentando acordá-lo, finalmente aconteceu alguma coisa, e não parecia ser bom; o menino então para de se mexer, abriu os olhos que estava brilhando em um azul vibrante, sua pupila tinha um desenho estranho, e o que saia dela era um azul bem mais claro mas não tão ofuscante, parecia uma espécie de divisão sinuosa.
Nhomuhcsiah gritou fortemente um; “não” após abrir os olhos, se levantando rapidamente e um pulso mágico aconteceu em seguida, jogando seus irmãos para longe com energia elétrica sendo emanada.
— Irmãs, irmão, me desculpem, vocês estão bem!? — o mesmo demonstrou uma forte preocupação com o que acabou de acontecer, ele estava suando e seu batimento estava rápido.
— Está tudo bem — disse o de cabelo curto após um gemido, e em um salto Muhimoketsu se levantava do chão, em passos rápidos se aproximava do irmão na cama — o importante é que você está bem, mas, estava tendo um pesadelo e isso não é normal, aliás é a primeira vez, você realmente está bem? — perguntou segurando o ombro dele.
— Estou melhor agora, acordado e com vocês aqui — falou enquanto olhava para suas irmãs se aproximando.
Csisál o abraça e faz um carinho leve nos cabelos de Nhomuhcsiah, o mesmo parecia gostar e… ronronar?
— Ainda bem maninho, é bom estar longe de pesadelos como esses — abraçou mais forte, pressionando sua cabeça sobre seus seios.
— Irmã? — disse Cecília com um olhar um pouco malicioso.
— Sim? — respondeu Csisál de um jeito ingênuo.
— A senhorita está pressionando a cabeça de vosso irmão contra seus seios, você pode ser presa, igualmente morta por isso.
— Ah, nem venha irmã, a situação aqui é outra, nem venha com este assunto de novo, não é hora… — voltava a abraçar o irmão.
— Hehe, tudo bem, o importante é que ele está bem — se sentava do outro lado, e também começou a fazer um carinho nele.
Os irmão ficaram ali por um tempo, até que finalmente, o suspiro do sono vindo por parte de Nhomuhcsiah era ouvido, o mesmo dormiu depois de tudo aquilo e agora a noite parecia voltar ao normal, ao silêncio.
O pai deles apareceu no quarto, fazendo barulho, mas depois parou quando foi avisado sobre o menino dormindo, tudo foi explicado sobre o ocorrido, Muhtidis então apenas pediu para todos dormirem, dando um beijo na testa de cada um e se retirando em seguida.