O Conselheiro da Rainha - Ato 4
Ainda era de noite, todos dormiam no quarto calmamente com seus cobertores quentes pois fazia frio a noite.
Muhimoketsu ainda estava abraçado a Nhomuhcsiah que não parecia estar dormindo bem ali.
Ele suava bastante, estava ofegante e não parava de se mexer, acordando seu irmão.
— hm, mano, Irmão? Hey! Acorde! — levantou o tom de sua voz para acordar o irmão.
Ele estava em desespero sabendo que seu irmão estava tendo uma espécie de pesadelo, o que não era comum.
As duas irmãs acordaram com a voz de Muhimoketsu, elas ficaram um pouco perplexas mas ouvindo melhor elas entenderam o que estava acontecendo.
Fazendo-as levantar rapidamente e indo para a cama de Nhomuhcsiah.
Com os três agora tentando acordar, finalmente aconteceu alguma coisa.
O menino então para de se mexer, abrindo os olhos que brilhavam em azul, sua pupila tinha um desenho estranho que saia dela um azul bem mais claro.
O mesmo gritou fortemente um “não” após abrir os olhos, se erguendo rapidamente, um pulso mágico acontecendo em seguida, jogando seus irmãos para longe.
— Irmãs, irmão, me desculpem, vocês estão bem? — estava bem preocupado com o que acabou de acontecer.
— Está tudo bem — disse o de cabelo curto após um gemido.
Em um salto, Muhimoketsu se levantava do chão e em passos rápidos se aproximava do seu irmão na cama.
— O importante é que você está bem, mas, estava tendo um pesadelo e isso não é normal, você realmente está bem? — perguntou se sentando na cama e segurando o ombro dele.
— Estou melhor agora acordado com vocês aqui — falou enquanto olhava para suas irmãs se aproximando.
Csisál o abraça e o faz um carinho.
— Ainda bem maninho, é bom estar longe de pesadelos como esses — abraçou mais fortemente, e pressionando sua cabeça sobre seus seios.
— Irmã? — disse Cecília com um olhar um pouco malicioso.
— Sim? — respondeu Csisál de um jeito ingênuo.
— A senhorita está pressionando a cabeça de vosso irmão contra seus seios, você pode ser presa, igualmente morta.
— Ah, nem venha irmã, você que disse que gostou mais do nosso irmão despido; você é que vai presa, não eu!
E assim a briga das duas se inicia, contando partes do passado dos irmãozinhos, em diversas situações que deixam ambos na cama bem constrangidos.
As mulheres se levantam da cama e continuam a briga um pouco longe dos irmãos.
Eles olham para aquilo pasmos com os assunto mais imbecis em que ambas poderiam ser presas ou mortas.
— Aé? Olha esses peitos, menina é claro que meu irmão adoraria se afogar nos meus peitos do que nos seus que são pequenos! — dizia Csisál mexendo nos seios da irmã como uma provocação.
— Já chega! Agora você pegou pesado, vamos ver quem tem os seios maiores agora!? — ela se preparou para retirar as suas roupas.
— Vamos lá então! — respondeu aceitando o desafio.
Nisso as duas rapidamente tiraram suas roupas, ficando desta vez bem despidas.
Antes de pudessem ver alguma coisa a mais, Muhimoketsu tampam os próprios olhos e os olhos do irmão.
— Não irmão, melhor não olharmos para tal pouca vergonha de nossas irmãs.
Nhomuhcsiah concordou com a ideia do irmão, ele estava corado e um pouco nervoso devido às ações de suas irmãs.
— Vamos pro jardim? Lá é melhor que aqui.
— Sim, vamos, assim nós poupamos nossa inocência visual!
— Ha ha ha, vamos, eu sei o caminho até a porta — Nhomuhcsiah então se levanta da cama.
Segurando a mão do irmão que tampava seus olhos, assim se guiando sem erro até a porta do quarto; saindo.
Após saírem e fecharem a porta com sorriso pela graça das irmãs brigando mais uma vez com seus corpos, Muhimoketsu segura o pulso de Nhomuhcsiah e sai correndo puxando o irmão.
Chegando ao jardim, o lugar tinha grama, flores e lagos, o que é uma raridade naquele lugar cheio de areia e de ambiente quente.
A grama era macia e bem verdinha e fazia cócegas aos pés de quem pisava, as flores eram bem coloridas e tinham um cheiro muito bom que estava espalhado pelo ar.
Lá também havia lagos, calmos e bem fundos, até mesmo os pequenos eram profundos.
Muhimoketsu então guiou seu irmão até um banco de pedra perto do maior lago.
Nhomuhcsiah respirou fundo quando sentou no banco, nisso olhou para a água do lago que refletia a imagem e a luz da lua; agora tudo se acalmou.
— Por agora se acalmou, longe delas.
— Digamos que sim, mas ainda me preocupo com você e seu pesadelo; não me pareceu certo ou fora do seu padrão.
— Não quero contar em detalhes sobre o meu pesadelo, foi horrível, e o que eu mais vi foi aquele livro que encontramos naquele quartinho no teto — disse se abraçando para esquentar os braços.
Lágrimas caíam de seus olhos.
— O livro? Mas é só um livrinho que contém uma profecia estranha que nunca vimos, acho que eu posso ler ele — falou pensativo.
Ele iria continuar a falar, mas seu irmão o interrompe.
— Por favor, não leia o livro, ele é ruim, ele transmite algo ruim!
Nhomuhcsiah segurou os ombros do irmão com muita força e, olhou nos olhos dele com um puro desespero.
— Ai ai, tá bom, eu não leio! — seu irmão o solta — nossa, tanto desespero por um livrinho qualquer estranho.
Ele fez uma leve massagem no próprio ombro devido aos apertos de seu gêmeo.
— Não é só um simples livro, tem mais alguma coisa nele, eu sinto e não é bom — chorando em silêncio.
Só o que se via era a tremedeira e as lágrimas.
— Falando desse jeito e conhecendo você, eu posso saber que é verdade, afinal, isso é muito novo — disse em um leve tom de aceitação.
O silêncio então surgiu, fazendo o meio da noite mais calmo, um pouco dos gemidos de Nhomuhcsiah eram ouvidos devido ao choro. O mesmo olhava ao redor, mas principalmente para o chão, ele procurava uma distração mas em um momento olhando para o lago, algo o deixa paralisado de medo e a expressão em seu rosto se moldou.
Em seus olhos algo surgiu.
Estava no lago, pairando sobre ela um humano com certas características de um animal, aparentava ser um gato.
Ele tinha a mesma roupa, mesma cor de pele, mesmos olhos, cabelo e estrutura física do Nhomuhcsiah, só que ao redor dos olhos a tinta preta estava mais grossa.
O cabelo mais cheio e bagunçado, fora as orelhas de gato em sua cabeça, pretas como o cabelo, e por trás o rabo também escuro, balançava.
O desespero tomou conta do corpo que agora estava paralizado, Nhomuhcsiah não sabia o que fazer, apenas olhava para aquele ser extremamente semelhante que flutuava sobre as águas calmas do lago.
Muhimoketsu também estava olhando ao redor mas demorou para que ele olhasse o irmão, achando estranho a expressão dele também decide olhar para o lugar: mas não viu nada.
Aquele ser então se mexe dando um passo a frente, fazendo Nhomuhcsiah começar a se afastar lentamente.
Seu irmão tentava olhar o que irmão tanto via com medo, mas só viu águas e plantas, e pro jardim só tinha uma porta ao qual estava do outro lado.
Começando a sentir medo também ele começa a perguntar pro irmão o que ele estava vendo, mas não obteve resposta.
Cada passo que aquele ser dava o menino se afastava cada vez sem dizer nada, só expressando o medo.
— Irmão, que você está vendo? Eu mesmo não vejo nada! — Muhimoketsu agora ficou assustado pelas ações do irmão.
— Mano, me dê a mão… vamos sair daqui — estendeu a mão para o irmão.
Ele logo a pegou e, assim, saíram correndo do jardim.
Por onde corriam, Nhomuhcsiah olhava sempre ao redor, principalmente para trás, ele tava com medo e com bastante receio daquele tal ser extremamente semelhante.
Em todo lugar se via o reflexo, como espelhos ou o piso encerado, ele via a própria imagem e depois a do ser o deixando mais assustado com tudo isso.
Chegando ao quarto, as duas irmãs estavam em suas camas e o pai estava na cama de um dos irmãos.
As meninas já estavam vestidas.
Os dois irmãos entram no quarto e vê a situação, ficando aliviados pelas irmãs não estarem mais despidas.
— Garotos, vocês estão bem, o que houve, eu ouvi um grito e uma baderna, quando cheguei aqui suas irmãs estavam nuas e vocês não estavam aqui; onde estavam? — falava preocupado e avaliando o estado físico dos dois.
— O grito foi meu, estava tendo um pesadelo e foi horrível, acordei gritando e machucando meus irmãos um pouco com meu poder e a baderna era dessas duas brigando por quem seria presa.
O olhar de tristeza de Nhomuhcsiah foi sumindo quando o assunto se voltou para as duas irmãs, o fazendo abrir um sorriso constrangido.
— É, e a gente saiu quando elas arrancaram as roupas para ver quem tinham os maiores peitos; saímos para preservar nossos olhos infantis das impurezas das nossas irmãs! — um tom de vitimismo, fazendo cena como se fosse heroico.
— Fizeram certo garotos, bem, vou avisar o rei e a rainha sobre o ocorrido, e vocês quatro vão dormir; ainda estamos no meio da noite, e amanhã o pequenino aqui tem serviço.
O pai deles avisava e fazia um leve cafuné na cabeça de Nhomuhcsiah.
— Obrigado pai — Nhomuhcsiah abraçou seu pai.
Com um sorriso no rosto e se sentindo mais calmo.
Após a saída dele todos foram para suas camas, mas após um tempo os irmãos se juntaram em uma cama; a de Nhomuhcsiah. Ele abre um sorriso por todos estarem preocupados com ele.
E assim, o menino que teve pesadelo pôde dormir alegremente sem temor.
Amanheceu e todos se arrumaram, logo foram para seus trabalhos, Csisál como costureira, Cecília como um pequena comerciante, Nhomuhcsiah como o conselheiro da rainha.
Já Muhimoketsu resolveu apenas treinar, já que não tinha um trabalho real.
Seu pai arrumou um jeito de ajudá-lo, chamou o capitão da guarda real para treinar ele, e assim poder entrar na guarda.
Indo para o quarto da rainha, a mesma pede para Nhomuhcsiah trazer o café da manhã dela na cama; a mesma disse que estava meio adoentada.
O menino então segue para a cozinha e pede o café da rainha, voltando com a bandeja que tinha pão, vinho, café e chá para a rainha escolher.
Durante a ausência do conselheiro, a rainha pediu para um de seus criados que colocasse uma corda pregada na parte de cima da maçaneta, com um apoio pro pé na parte de baixo, para que seu conselheiro pudesse abrir a porta caso estivesse carregando coisas.
— Rainha? Trouxe seu café da manhã — disse enquanto entrava no quarto, empurrando a porta com o ombro.
Após entrar ele se arrepia, sua pupila se dilata e sua mais forte reação foi deixar a bandeja cair no chão, o sujando com as bebidas.
O menino havia visto aquele ser de antes, de pé parado e olhando para a rainha e apontando uma coisa curvada feita de energia que se estendia pelo braço dele.
Em um piscar o ser some.
— Garoto, o que houve? — a rainha se levanta assustada.
Indo para perto de Nhomuhcsiah, que logo parecia ter voltado ao normal.
— Perdão, perdão vossa alteza, perdão; eu vi algo e me assustei… — começando a chorar.
Com as lágrimas caindo de seus olhos, a velha mulher as enxugava sorrindo para ele.
— Não se preocupe, tá perdoado menino — usava um paninho vermelho e macio.
— Tudo bem mas, eu estraguei o café da manhã da senhora, derrubei as bebidas e molhei o pão, fora que o chão agora está uma bagunça; vou limpar tudo, não se preocupe alteza.
— Calma, escute, você vai voltar e vai pedir para a cozinheira um vinho e um chá de camomila, o vinho você trás para mim e o chá você bebe; depois vá descansar, seu pai nos contou que você teve um pesadelo na noite passada, ainda deve estar apavorado então beba o chá e vai descansar: é uma ordem.
Ela tinha uma voz suave, calma e bem confortante.
As pupilas do menino voltam ao normal.
Ele saiu e agora estava a caminho de relaxar o corpo.
— Tudo bem senhora… obedecerei — respirando pesado.
O mesmo estava abalado visualmente, apenas olhava para o chão vendo seus passos e andar lento.
A rainha chama uma de suas criadas para limpar os vidros e os líquidos do chão, enquanto ela comia calmamente aquele pão molhado das bebidas.
Nhomuhcsiah chegava à cozinha e pedia mais uma vez as bebidas, especificando apenas o chá e o vinho.
A cozinheira perguntou o porquê e ele respondeu que por um erro acabou derrubando a bandeja no chão. Após pegar as bebidas ele voltou ao quarto da rainha entregando o vinho.
Ele bebeu o chá enquanto a rainha o vinho, após terminarem, Nhomuhcsiah levou os copos para a cozinha e de lá ele foi ao quarto ter o descanso que a rainha o deu.
Passando pela porta a fechando em seguida, em um suspiro ele se vira e segue para a cama, porém ele vê o ser mais uma vez agora parado e em pé no meio do quarto, olhando para ele que volta a ficar com medo.
— Quem… quem é você, por que me persegues, por que és tão igual a mim !? — O ser não respondeu.
Nhomuhcsiah apenas suspirou.
— O que você é?
— Eu não sou nada, além de você — o ser finalmente responde.
A voz dele era bem grave e adulta, claramente amedrontadora.
— De você não quero nada, e eu te persigo para que você me perceba, que eu existo; que eu sou você.
— Você ser eu? Não, você não é eu, e nunca seria, você deve ser um demônio, usas da minha minha imagem para me perturbar, e como assim você não quer nada!?
Nhomuhcsiah estava serrando os punhos, ele rangia os dentes e sua expressão virava uma de raiva.
O ser então começa a ficar transparente, ele estava sumindo.
Nhomuhcsiah não moveu um músculo, não disse nada, e quando o ser some o garoto finalmente relaxa o corpo.
Cansado com toda essa situação ele se joga na cama e tenta dormir, mas antes fica encarando o puxador daquela portinha para o quarto do teto.