O Conselheiro da Rainha - Ato 7
Caminhando pelas areias do deserto, Nhomuhcsiah já havia conseguido controlar o seu corpo melhormente e andava de maneira fraca, suas pernas tremiam e suas costas estavam vermelhas e, aparentavam ter bolhas geradas pelo calor do sol — foi muito tempo andando nesse lugar escaldante.
Em um momento o menino cede a fraqueza das pernas e cai por chão por não aguentar mais, e rola de uma grande duna á baixo, e daquele lugar ele não se levanta mais e se mantém deitado com a cara na areia, procurando respirar melhor.
“Está muito quente, não bebo água há muito tempo, minha garganta está muito mais seca e minha visão já está turva, não queria viver para fazer isso… maldito demônio” Nhomuhcsiah serrava os punhos, esses eram seus últimos pensamentos antes de tudo ficar escuro, e as dunas sumirem com o fechar dos olhos.
— Se ele pudesse ficar dormindo desta forma para sempre, seria tão fofo, mas isso não pode acontecer, quanto mais isso se repete, mais perto eu fico e Ele sempre vai gostar disso, se já não bastasse o Gamma no futuro, ainda tem esse cara no passado — dizia Cain surgindo ao lado do menino, vestindo uma capa marrom que junto tinha um capuz.
Ele retira a capa e a joga em cima de Nhomuhcsiah que logo se encolheu para ficar embaixo do pano. Cain colocou a mão sobre as areias da duna que logo começou a fluir uma magia pixelada nos tons de azul, as areias se mexiam e faziam blocos de pedras, fechando um ambiente ao redor dos dois.
A noite chega, e naquela mesma duna, havia uma construção para dentro dela, sem a desmontar, feita de pedras amareladas com uma entrada com duas tochas presas na entrada.
De pé, e olhando para o céu, Cain estava do lado de fora e de braços cruzados, o céu estava estrelado e a lua iluminava bem, o frio era quase de congelar mas a temperatura não entrava dentro daquele lugar.
— Humph, mesmo tudo isso daqui sendo falso, ele realmente se esforçou em fazer algo bonito e “épico”, claramente o resto nunca vai imaginar o que tem aqui, e o que vai ter, afinal eles preferem imagens do que texto — falava Cain conectando as estrelas com sua imaginação — pena que essa história só tem movimento na imaginação dele… tantas cores, tantos brilhos, muitas vozes, agora aqui… presos em letras, palavras e frases que constituem todo esse lugar — olhava para trás.
E lá estava Nhomuhcsiah, bem acordado e de cara num balde bebendo a água que havia nele, tudo isso de uma maneira louca e rápida, após todo o líquido acabar, o menino se senta encostado na parede, respirando fundo e segurando a cabeça enquanto o desespero começou a aparecer, ele gritou, tossiu e até mesmo vomitou por tanta água bebida de uma vez.
Deitando ao chão, perto do vômito, Nhomuhcsiah se acalmava aos poucos controlando a respiração e limpando com dificuldade os pensamentos de sua cabeça, após conseguir, o mesmo se senta e olha para Cain que alí estava parado com um olhar neutro o observando.
— Finalmente apareceu uma última vez, o que quer demônio? — perguntou ele com um sorriso de nervoso e com o cabelo bagunçado, sua voz estava fraca e muito exalada — vai me matar? Finalmente! Tava esperando isso acontecer!
— Não, se eu quisesse te matar, teria feito isso a 4 anos atrás, e não esperaria esse mesmo tempo para fugir do castelo levando você — olhando para o vômito, os olhos de Cain brilham na cor azul e o tal líquido nojento some rapidamente — e sobre o que eu quero, eu quero você vivo por mais que seu irmão vá te matar no fim de tudo, por isso seu coração ainda bate falsamente.
— Você não me parece um demônio, deverias me matar, me absorver ou me comer para te fortalecer, mas pelo visto vai vir algo de muito ruim para mim mais pra frente; por que não mata!? Ainda insiste em me torturar!? Eu ví meu irmão tentando me matar, ou aquele leque passou a centimentros do meu pescoço por acaso!? — Nhomuhcisah estava enfurecido naquele momento, ele fechava os punhos e tremia pelo sentimento furioso, balançava os braços e as lágrimas escorriam em seu rosto.
— Primeiramente demônios não matam, eles torturam, mas só os escolhidos podem fazer tal tortura, mas eu disse e ainda digo, não quero fazer você morrer, mas te torturar psicologicamente é um meio de te fazer ficar vivo, não é o que eu quero… é o que o roteiro quer, é uma coisa que o público adora e chega a venerar — dizia andando pelo lugar, que era baixo, o teto era só um pouco mais alto que Cain.
Com as paredes lembrando um simples quarto, tinha uma cadeira em um outro canto, nela uma toalha em que Cain pega e joga para o menino que rapidamente pegou.
— Pegue isso, vá e tome um banho, vista a roupa que sua irmã lhe deu, ela te ajudará em combates futuros, por mais que sejam poucos.
— E se eu não fizer isso? — retrucava de maneira provocativa.
— Daí, terei de tomar o controle de seu corpo inteiro para fazer isso, e você não vai gostar muito — o encarou, olhando no fundo dos olhos fazendo Nhomuhcsiah sentir um arrepio.
Nesse momento o menino parece ter sentido medo e se encolheu, após um tempo ele se levanta tremendo, o mesmo pega a tal toalha e segue para alguma porta que ali tivesse. Para ajudar, Cain aponta para uma porta tampada por uma cortina florida, Nhomuhcsiah segue para lá e depois a água caindo é ouvida.
“Ele sempre foi um medroso, uma simples ordem ou pressão de alguém superior e ele se enche de medo, esse tempo era difícil para ele mesmo, mas essa sensação de saudade no meu peito… eu odeio isso”.
Nhomuhcsiah demorava no banho, a água caía sem parar e Cain apenas relaxava com o barulho delas. Os pingos caindo no chão com uma fina camada de água, trazia para o “demônio” essa sensação, e logo na forma de agradar o seu semelhante, ele compartilha isso com o menino.
“Hum… isso é bom, mas eu não estava sentindo antes, será que ele ta compartilhando esta sensação comigo? Por que? Está tentando me amolecer para o lado dele? Estranho”.
Nhomuhcsiah ficou debaixo daquela pequena chuva gerada por aquela pedra por mais tempo. Estava nu, vulnerável, ele sabia disso mas de alguma forma o mesmo não sentia medo, e olhando ao redor, o menino percebe o quão simples aquilo é. Pedra por pedra, e mais nada, dava para perceber que ambos não ficariam ali por muito tempo, mas a breve decoração daquele lugar parecia que iriam demorar mais.
Com um simples comando com a mão, a pedra para de gerar aquela chuva, o jovem sai dali e segue para pegar a toalha, logo se secando, e depois se vestindo lentamente. Algo se passava em sua mente em relação a tudo aquilo, tudo parecia tão lento…
Saindo do banheiro após vestir a roupa que sua irmã Csisál lhe fez, notava-se que sua pele estava mais escura, os tempos andando debaixo do sol pelas dunas de areia, queimou a pele, alimentando mais a melanina.
Ele dobrou a toalha e entregou para Cain, que apenas pegou e olhou para Nhomuhcsiah jogando a sua antiga roupa no chão, ele fez a toalha sumir e depois cruzou os braços atrás das costas.
Nhomuhcsiah se olhou e percebeu sua nova aparência, o colar de panos azuis parecia entregar mais contraste a sua pele, agora, mais escura que antes, a calça branca parecia mais justa.
— Minha pele, ela está escura, minha pele não é essa… — falou de maneira confusa enquanto se tocava, sentindo a pele para ver a diferença de agora.
— Pode não ser a sua pele de cor original, mas é a cor que adquirimos enquanto andávamos sob o sol, agora estás mais resistente a ele, você não vai mais sentir tanto calor e será resistente ao fogo, as bolhas que estavam nas costas sumiram, e isso é bom, menos algo para se preocupar — disse se aproximando, fazendo a antiga roupa no chão sumir, logo ele copia a roupa que o menino usava.
— Então está me dizendo que quanto mais escura minha pele for, eu vou ser mais resistente ao calor e ao fogo? — se virou e olhou para Cain em confusão — realmente isso é bom.
— Igualmente aos lagartos e as serpentes, nós humanos também trocamos de pele, mas não fica grudado na gente igual a eles, a nossa sai nos lençóis da cama e no banho — explicou se virando e seguindo caminho para a porta — descanse mais um pouco, amanhã, não tão cedo iremos sair.
Após dizer isso, Nhomuhcsiah apenas se manteve em silêncio, e balançou a cabeça em afirmação. O menino foi fazer alguma outra coisa, e então pensou em explorar o tal lugar, ao qual ele sentia magia em tudo.
“Engraçado, tudo aqui é feito de magia, inclusive a minha roupa, ele realmente tem tudo isso de poder, e se Cain disse que eu e ele, somos a mesma pessoa… então essa é a minha capacidade ou só a dele? Não sei se ele compartilha ou a magia dele é independente” disse olhando para as suas mãos, e entrando em um estado de pensativo enquanto voltava o olhar para Cain.
“Hum? Pensando nisso? É, ele realmente é curioso sobre coisas estranhas, nunca parei para ler os pensamentos dele, ele é um fofo, e eu odeio isso, o trabalho Dele é realmente irritante” pensava Cain se sentando perto da entrada daquele lugarzinho.
No reino abandonado por Cain, Muhimoketsu andava a passos rápidos até a rainha, e pede a ela, a soltura da irmã, dizendo que a mesma era inocente durante todos esses anos, e quem aprontou tal coisa com ela, foi um demônio, que agora reside no corpo de seu irmão gêmeo Nhomuhcsiah, que fugiu do reino no dia anterior após matar o rei e tentar matar a própria rainha.
Ao libertar Cecília, seu irmão acompanhou todo o processo da soltura dela, logo ficando pasmo ao ver uma criança em seus braços, — ele não esperava isso — tão pequena, branca de cabelos grisalhos mesmo tão novo, o olhar inocente, os olhos eram estranhos mas bonitos. Ao invés de uma simples cor na íris e uma pupila preta, os olhos do garoto parecia o céu da manhã, o azul claro com manchas brancas sendo as nuvens e a pupila branca que parecia iluminar a íris como um sol; estranhamente aquilo parecia se mexer.
— Sálmuhaketsu, esse é o nome dele, tem três aninhos, filho de um estranho, mas mesmo assim saudável — dizia a menina, sentada numa cama num novo quarto onde Muhimoketsu dormia.
Seu filho estava em seus braços, sonolento, ela colocou seu seio para fora, deitou com o menino e ele começou a mamar para logo dormir.
— Hum… É um belo nome, ele é uma fofura, e sobre o pai, bem, eu sei quem é ele — disse perdendo o sorriso após olhar para sua irmã — o pai desse menino se chama Cain, e ele é um demônio, que agora possui o corpo do nosso irmão, e mesmo sem tomar conta dele possui a mesma aparência que Nhomuhcsiah, mas com o adicional das orelhas e da cauda de gato — ele se sentou ao lado de Cecília.
— Espera, meu filho é fruto de um demônio? — disse pasma, e sem falar muito alto para não atrapalhar a criança — que loucura, e que tristeza, meu menino não vai ser poupado pelas mãos do criador… ele não fez nada de errado…
— Calma minha irmã, mesmo sendo uma boa pessoa, ele pode ser perdoado por ter nascido assim, ou ao menos eu acho que ele vá, Sálmuhaketsu provavelmente será mais do que um demônio, um demônio bom — disse Muhimoketsu acalmando sua irmã o máximo que pôde;
Ela apenas abaixa a cabeça e se mantém em silêncio com um olhar triste, a mesma logo começa a alisar os cabelos brancos do menino;
— Bem, peço que descanse bastante por agora, pegue o tempo que for possível, seu corpo realmente vai precisar, depois de anos num lugar tão inconfortável por uma injustiça.
— Tudo bem, vou fazer isso maninho, agora vai lá, que Vritra me perdoe mas desejo que você mate o nosso irmão — disse sorrindo e se ajeitando na cama, ao qual rapidamente ela lacrimeja pela maciez que não sentia a anos.
— Eu vou sim, ele vai pagar por todos os seus pecados, esperei por tempo demais, agora tudo vai começar a dar certo — dizia Muhimoketsu se levantando e seguindo para a porta do quarto.
Abrindo-a e passando, olhando para dentro ele sorria vendo sua irmã e seu sobrinho prontos para dormir, finalmente em conforto, uma cama macia, um lençol, um travesseiro…
Seguindo pelos velhos corredores marcados pela luta passada contra seu irmão, ele apenas sentia uma raiva pelo que ele deixou ficar sendo cultivado nesses quatro anos. Seus treinos e seu cansaço ajudaram bastante nisso, seus treinos ficaram mais árduos, e seu cansaço também ficou mais pesado, passando muito pouco tempo dormindo para na manhã seguinte, voltar a treinar, enquanto isso, o demônio ficou se apossando de seu irmão. Ele agradece pelo treino mas se culpa por não ficar de olho.
As paredes marcadas, o chão destruído e com algumas crateras, ainda repletas de sentimentos de ódio e uma marca que o jovem iria levar pelo resto de sua vida até sua vingança se completar…
Muhimoketsu seguia pelos corredores até uma enorme porta dupla feita de ferro, com dois guardas na frente. Durante esse pouco tempo de reinado solo da rainha, a mesma mudou muita coisa para um tempo tão curto, agora a sala do trono é privada dos cidadãos, com paredes fechando tudo e uma porta de chumbo, ambas bem grandes e grossas.
— Minha rainha? — dizia após passar pela grande porta — estou aqui para repassar uma ideia que ajudará não só nosso reino, mas todas as pessoas desse mundo — disse seriamente se aproximando da rainha e se ajoelhando, mantendo a cabeça baixa.
— Guardas, fechem as portas, e as tranquem pelo lado de fora — falando isso, os guardas que ali dentro estavam, se curvaram, saíram para fora, e as fechando com um mecanismo de engrenagens — hum, diga-me então, soldado, qual seria sua ideia, caçar e matar seu irmão o mais rápido possível?
— Seria uma boa senhora, mas digo que não é o suficiente, eu e ele temos a mesma fisionomia, a mesma face e os mesmos cabelos, mas há a capacidade dele cortar o cabelo e mudar de roupa também, a mais provável seria a que nossa falecida irmã costureira fez para ele nos 4 anos anteriores, uma roupa especial e que poucas pessoas o viu usando, então, faremos cartazes de procurados, vivo ou morto de meu irmão; contrataremos um artista para desenhar meu rosto, e enfim colocar em papeis e espalhar não só pelas nossas áreas, mas sim por todo o continente de Aska.
Ele ficou de pé dunrante toda a explicação.
— Hum, entendível meu servo, por isso peguei apreço em você, você não é só músculos como os outros, você pensa e isso me cativa, bem, para que esse reino se mantenha em pé devemos voltar um pouco no tempo em que certas épocas eram os machos mais fortes que podiam copular, seu irmão matou meu marido que me dava mais atenção do que o antigo, me trazia o café da manhã e não deixava de ainda sim, agir como o tal. Agora quero que você seja meu guarda pessoal, e pai de meu filho, jovem.
— O quê, minha rainha tem certeza disso? Não sei se estou preparado para algo do tipo, bem guarda pessoal é fácil… agora, pai?— disse genuinamente corado e bem tímido, fora com uma vergonha estampada em seu rosto, cuidar de criança não era pra ele — talvez eu não seja um pai presente ou um bom pai, ainda mais um rei se assim dizer por tabela.
— Está tudo bem menino, eu posso cuidar do nosso filho sozinha, não tenho e você também não tem o que temer, afinal, deixar um herdeiro, mesmo morrendo no processo, é a melhor opção — aproximava o rosto de Muhimoketsu.
— Sim minha alteza, irei cumprir tal missão… — suspirava, a encarando com um sorriso.