O Desejo Depois Da Morte - Capítulo 5
Lupus apreciava a vista do Monte Dourado, as luzes da cidade cintilando iguas estrelas distantes abaixo dele. Seus cabelos brancos cuidadosamente penteados para trás, barba grisalha e camisa social preta justa realçaram sua imagem sinistra. Um relógio de ouro reluzia em seu pulso.
Lupus parecia estranhamente maior do que se lembrava, mas não se importou.
O topo da montanha era um espaço íngreme e amplo, cheio de rochas e poucas árvores espalhadas pelo lugar.
— Essa sede de sangue está bem forte, sabia? — O mafioso se virou, um sorriso traiçoeiro nos lábios, os olhos analisando Hazan. — O que achou da surpresa?
Antes que aquele homem pudesse concluir sua provocação, Hazan avançou, disparando como uma fera sedenta por sangue, seu punho buscando o rosto do mafioso.
No entanto, aquele homem era rápido. Segurou o punho de Hazan e soltou uma baforada de fumaça de charuto que perfurou os olhos do rapaz, fazendo-os lacrimejar. Então, respondeu a investida, um soco brutal, atingindo o estômago do jovem.
Bam!
O impacto fez o lutador cerrar os dentes, mas não se deixou abater. Em um movimento pesado, rebateu com um golpe preciso no flanco dele, atingindo o fígado.
Bam!
O grisalho se contorceu de dor, cambaleando para trás, a postura quebrando por um curto período de tempo. Foi a oportunidade de Hazan.
Avançou, executando um chute alto em direção ao queixo de Lupus, que tentou se proteger erguendo a guarda. Ainda no ar, o chute imitou uma serpente dando o bote, mudando sua trajetória e encontrando o rosto daquele homem.
Bam!
O mafioso cambaleou, sua expressão de superioridade substituída por uma máscara de choque. Seu charuto caiu, inerte, enquanto o sangue começava a escorrer de seu nariz.
— Como esperado de você, ainda está cheio de energia! — Lupus abriu os braços numa postura animada.
Dessa vez, foi ele quem avançou, e Hazan manteve sua guarda firme, protegendo as costelas.
Mas Lupus não era um oponente a ser subestimado. Seu punho se projetou, atingindo o braço do rapaz com um estalo doloroso.
Crack!
O jovem lutador vacilou por um instante. Foi o que Lupus precisava.
Bam!
O punho cerrado do grisalho acertou em cheio o rosto de Hazan. O rapaz cambaleou, perdendo o equilíbrio e apoiando as costas em um tronco de árvore.
Lupus sorriu, revelando um soco inglês no punho esquerdo. — Você nem viu eu pegando isso, não é?
Os olhos do jovem faiscaram, ardendo de ódio.
O que eu tô fazendo!? Recuando por causa da dor!? Isso não existe, isso não pode existir! Ele tá bem na sua frente, Hazan! Mate o desgraçado! Acabe com ele!
— Não me olhe assim — zombou. — Já passei dos 50, preciso tornar as coisas justas, você entende?
Hazan sentiu a visão ficando turva e a respiração ofegante. O silêncio naquela clareira era rompido apenas pelo som de suas arfadas.
Meu corpo não se move como eu quero…
— Finalmente cansado, garoto? Aposto que sim. Enchi esse monte com homens treinados, e você acabou com todos eles! Realmente impressionante, mas do que adianta quando sequer tem forças para lutar agora?
Hazan não tinha cabeça para contar quantos homens enfrentou e matou em sua busca por Lupus. Eram apenas números em uma equação de violência que não tinha escolhido. Suas mãos trêmulas se agarraram à árvore atrás dele, tentando recuperar o fôlego.
Lupus avançou lentamente, sua expressão sádica iluminada pela luz fraca da lua. O jovem se afastou da árvore, erguendo a guarda com dificuldade, seus braços tremiam na tentativa de se manterem firmes. O braço que tinha sido atingido pelo soco inglês estava inchado e latejante.
— Mexa-se, garoto! — zombou novamente, desferindo um golpe poderoso diretamente no estômago do rapaz.
Não satisfeito, agarrou o pescoço de Hazan, entregando uma joelhada no mesmo ponto dolorido.
Bam!
O jovem lutador caiu de joelhos, cuspindo sangue que se misturou na terra úmida. Seus músculos estavam em farrapos, a exaustão e os ferimentos eram evidentes. Cortes feitos por tiros que o acertaram de raspão, arranhões e hematomas espalhados pelo seu corpo, o sangue escorrendo das feridas.
Lupus não parou. Acertou as costelas de Hazan com o soco inglês, e continuou o acertando com diversos socos pesados no mesmo lugar.
Crack!
— Acho que quebrei suas costelas! — anunciou, um sorriso sádico iluminando seu rosto.
O mafioso desferiu um chute frontal acertando a boca do estômago de Hazan, o rapaz sendo arremessado pelo solo, sua dignidade abandonada na terra poeirenta daquela montanha.
Teimoso, o rapaz se recusava a desistir. Arrastou os braços, tentando se levantar, mas isso não estava nos planos de Lupus. Outro chute o fez colidir dolorosamente contra o chão.
A humilhação, a exaustão e as dores constantes teriam quebrado o espírito de muitas pessoas. Mesmo que seu rosto estivesse marcado pelo cansaço, chamas indomáveis brilhavam em seus olhos.
— Você é persistente, isso tenho que admitir! — ironizou Lupus, enfiando as mãos nos bolsos e observando o garoto a se levantar.
Tenho que encontrar uma brecha. Não tenho muita força restante…
Hazan estudou Lupus com olhos atentos, mantendo-se calmo apesar do ódio profundo que esteve tendo controle de suas ações.
Seu olhar se deteve em um volume suspeito no canto direito da cintura do mafioso, algo que parecia ser a coronha de uma pistola se projetando para fora.
Ele está armado, sem dúvida. Mas se quisesse me matar, já o teria feito. Ele está brincando comigo. E é por isso que eu tenho uma chance.
Mais uma vez, tentou se levantar, e mais uma vez, Lupus o impediu. Empurrou seu peito com força contra o chão, usando seu sapato social.
— Por que recusou o dinheiro naquela época? Hein? Você tinha tudo para ser o melhor. — O questionamento de Lupus veio de repente, e sua voz trazia uma mistura de tristeza e decepção.
Retirou um charuto do bolso e o acendeu com um isqueiro. Tragou profundamente e soltou uma nuvem de fumaça no ar antes de continuar.
— Enviou tantos lutadores para o inferno, se tornou campeão de uma arena cheia de assassinos e pessoas sem escrúpulos, afiou suas artes marciais ao máximo, apenas para desistir dessa posição privilegiada? Você poderia ter quitado suas dívidas e proporcionado à sua tia a vida que ela merecia. Em vez disso, optou por recusar uma quantia exorbitante de dinheiro e denunciar nosso esquema. Por quê?
Hazan ainda estava ofegante, preparando seu corpo para superar temporariamente a fatiga muscular.
Preciso ganhar tempo.
— Fiz o que fiz porque não tive escolha, mas nunca quis matar aquelas pessoas. — Seus olhos estreitaram, encarando ele de baixo. — Era eles ou eu.
— E você optou por si mesmo… — O sorriso de Lupus aumentou. — Ou melhor, optou pela sua tia, não é? Isso é puro egoísmo, você sabe.
Hazan sorriu, não acreditando no que estava ouvindo. — Há! Vocês brincam com as vidas de criminosos desesperados, fazem eles arriscarem suas vidas por uns trocados em dólar e acham que eu sou egoísta?
— Hehe, sim, você é, e eu também. É assim que o mundo funciona, e você sabe muito bem porque matei a sua tia, e porque te trouxe pra cá. — Seus olhos retraíram e o sorriso alargou, as mãos gesticulando no ar. — Poder, Hazan! Poder é tudo o que importa! Haviam pessoas no Túmulo que nunca gostaram de você. Estou fazendo o que é necessário para subir na hierarquia!
— Não me compare com você, somos totalmente diferentes!
— Claro, garoto. Por que não nos despedimos agora? — Lupus levou a mão até a cintura, tirando a pistola de lá.
Agora!
O lutador agarrou o tornozelo do grisalho, derrubando-o no chão junto com sua arma. Exibindo uma técnica impressionante, posicionou o pé de Lupus entre suas pernas, mantendo a tensão na perna de seu oponente.
Seus músculos se destacavam sob a tensão da luta, aplicando a chave de calcanhar com os dentes cerrados de tanta força.
Cada músculo de Hazan parecia esculpido com a pressão. Sua face, forjada entre a dor e a raiva ao aplicar a chave de calcanhar. Os tendões e articulações de Lupus estavam sob uma pressão extrema, e ele lutava para não sucumbir à dor excruciante.
Lupus, por sua vez, não era apenas um homem astuto; era um homem experiente em combate. Recusou-se a ceder, apesar da agonia crescente. Arqueou a coluna, tendo posição para desferir um soco poderoso na lateral do rosto de Hazan.
O jovem foi pego de surpresa, mas sua resiliência prevaleceu. Virou um pouco o rosto para trás, sentindo o soco inglês contra seu rosto, e dispersando parte do impacto. A pancada foi forte o suficiente para fazer sua visão embaçar, mas não caiu.
Bam!
Se mantenha firme, tá quase quebrando!
No entanto, o mafioso não estava disposto a dar trégua. Seu punho golpeou novamente, mirando implacavelmente o rosto do rapaz. O lutador conseguiu esquivar por pouco, sentindo o vento do soco passar rente à sua bochecha.
Lupus fingiu outro soco, mas, em vez disso, desferiu uma cotovelada devastadora, atingindo o maxilar do Hazan.
Bam!
O impacto violento fez suas forças esvaírem. A visão escureceu gradualmente, e suas mãos relaxaram sem o seu controle. Lupus se desvencilhou, buscando se levantar e descansar da dor em seu tornozelo.
No limiar da inconsciência, o rapaz tomou uma decisão desesperada. Num ato de puro instinto, abriu a boca e mordeu a própria língua. A força aplicada fez seu sangue jorrar, mas também liberou uma descarga de adrenalina em suas veias.
Eu me recuso!
O mafioso mal havia conseguido se levantar quando foi atingido por uma súbita e brutal sequência de ataques do lutador. Uma torrente furiosa de ataques destinados a desestabilizar seu oponente a qualquer custo, mesmo que sua guarda estivesse fechada.
Como esse garoto ainda tem tanta força!?
Tão rápido quanto começou, a enxurrada de golpes parou. Lupus abriu a guarda, perplexo, em busca de seu jovem oponente.
Onde ele foi? Preciso pegar a arma e recuperar minha vantagem!
Mas antes que pudesse se mover, algo agarrou seu pescoço com uma força implacável. Os braços de Hazan envolveram o pescoço de Lupus como uma cobra num estrangulamento mortal, a garganta do grisalho sendo esmagada pouco a pouco.
Eufórico, o mafioso agarrou a blusa de Hazan, abaixou seu centro de gravidade e o lançou por cima do ombro. O jovem impactou com suas costas no chão.
Bam!
O mafioso tentou acertar o estômago do garoto, mas Hazan rolou pelo chão, o soco inglês atingindo o chão duro.
Bang!
Um impacto bruto contra seu estômago, Lupus caiu. Ele sentou, os olhos fitando Hazan, que agora segurava a arma, a fumaça escapando do cano quente.
Ofegante, o rapaz avançou na direção do grisalho, apontando a arma para ele.
Um sorriso adornou os lábios do grisalho em meio ao suor escorrendo pela testa. — Hehe, parece que o jogo viro-
Bang!
Um segundo disparo, ainda mais perigoso devido à curta distância. Os olhos de Hazan irradiavam um ódio profundo, capaz de perfurar o sorriso convencido de Lupus, que rapidamente cedeu lugar ao medo.
Finalmente, aquele que havia arruinado sua vida, levando-o a cometer atrocidades e a abandonar seus princípios morais, agora jazia caído diante dele.
No entanto, não estava satisfeito. Talvez nunca ficaria. Era algo que só descobriria depois de puxar o gatilho.
Apontou a arma para a cabeça do mafioso.
Bang!
Um terceiro disparo, mas desta vez, o joelho de Hazan foi destruído por um tiro vindo de longe. O lutador gritou, deixando a arma cair no chão, agarrando seu joelho agonizante, onde ossos e ligamentos foram completamente despedaçados.
— Hahaha! — Lupus gargalhou histérico, seu riso ecoando pela montanha. Se levantou com dificuldade, limpando a terra de suas roupas. — Realmente achou que tinha acabado com todos os meus subordinados? Sabe por que isso está acontecendo, garoto? É porque você não tem ninguém, absolutamente ninguém!
Hazan estava atordoado.
Tenho certeza de que acertei os dois disparos, então como…!?
Lupus desabotoou sua camisa, revelando um colete à prova de balas.
— Sabe, garoto, acho que talvez eu tenha fraturado algumas costelas. Nunca imaginei que você fosse capaz de me desarmar e usar minha arma contra mim, sabia? — Ele se aproximou de Hazan, desferindo um chute brutal em seu estômago. — Você é como uma estrela, brilhando com teimosia.
Hazan rolou pelo chão, virando-se para encarar a floresta. Uma gangue de mafiosos armados emergiu dos arbustos, um deles carregando um galão de gasolina.
Porra… falhei em manter minhas promessas, não consegui proteger quem amava, e agora… não consigo fazer… nada…! Levante-se, seu idiota…! Levanta, caralho!
A adrenalina tinha ido embora. A fadiga muscular continuava presente, cada músculo latejando. E os ferimentos voltaram a doer com o dobro de intensidade.
Lupus pressionou o joelho de Hazan com o pé, causando uma dor insuportável que o fez gritar. — Pensei bastante sobre como deveria acabar com você. Um final apropriado, entende? — Sinalizou para que um dos capangas abrisse o galão de gasolina e começasse a derramá-lo sobre o jovem.
— E então, enxerguei você como uma estrela. Pensei… “Por que não deixá-lo brilhar até o fim?” — Lupus tirou um isqueiro do bolso, um charuto de outro e acendeu-o, inalando profundamente. — Foi bom enquanto durou, Hazan. — Os olhos do mafioso refletiam uma frieza profunda. — Envie minhas saudações a Rafaela.
Ele deixou o isqueiro cair.
Whoosh!
As chamas rapidamente consumiram o corpo de Hazan, que gritava de agonia, sua carne sendo consumida pelo fogo.
Lupus observou a cena imperturbável. — Isso não foi tão divertido quanto eu esperava. Acabe com isso — disse, virando-se de costas.
Um dos homens assentiu, sacando a pistola do coldre e apontando-a para Hazan.
Slash!
Um som cortante reverberou pelo local, o segurança caindo de joelhos com a sua mão decepada. O ar ficou mais pesado, tremendo com uma pressão indomável que abateu sobre todos ali presentes, prendendo-os em uma teia de medo.
A voz de Hazan, pesada e penetrante, perfurou o silêncio que envolvia o monte.
— Lupus… — Hazan começou, sua voz transmitindo uma calmaria antes da tempestade. — Você errou em uma coisa.
A respiração do mafioso congelou, seus músculos endurecerem, os olhos arregalando. Se virou com dificuldade, encarando Hazan.
— Eu nunca estive sozinho.
A mente de Lupus parecia traí-lo, pois não queria aceitar a realidade diante de seus próprios olhos incrédulos.
Hazan estava de pé, uma postura imponente, seu corpo envolto por pequenas chamas que ainda o queimavam. Seus olhos emitiam um brilho laranja, incandescente ao ponto de brilhar naquela noite violenta.
E, por um breve instante, seu ceticismo foi abalado com que estava atrás de Hazan: O semblante de Rafaela, quando estava em seu auge, jovem e destemida, em uma postura de combate intimidante, seu olhar o esmagando com tamanha determinação.
Os seguranças lutaram contra aquela paralisia, sacando suas pistolas com um estampido quase ensurdecedor.
Bang! Bang! Bang!
Os disparos dançaram pelo espaço, trovões em uma tempestade iminente, mas Hazan se moveu em uma velocidade sobrenatural. Surgiu diante de um dos homens, pegando-o desprevenido.
Grab!
Ergueu seu oponente no ar, suas pernas balançando desesperadamente enquanto a pressão aumentava, esmagando implacavelmente seu crânio até que foi destruído num estalo grotesco.
Os mafiosos, momentaneamente atônitos, finalmente pararam para recarregar suas armas, mas o tempo não estava do lado deles.
O lutador apareceu diante de um grupo de homens desprevenidos, cerrando o punho e socando o primeiro deles. O impacto foi poderoso o suficiente para produzir uma pressão de vento que fez os homens voarem como bonecos de pano pelo ar, caindo montanha abaixo.
Bam! Whoosh!
— Senhor Lupus, vou tentar ganhar algum tempo! Por favor, corr-
Crack!
Um de seus subordinados gritou em meio àquele caos, até ser atingido por uma rocha que o fez capotar, seu corpo esmagado pelo impacto.
Lupus sequer conseguia correr, suas pernas bambearam ao observar aquele massacre diante dos seus olhos.
Quando a luta acabou, o monte tinha se tornado um cemitério para cada um deles, um mar de corpos espalhados por todo o campo de batalha. Hazan estava segurando um capanga pelo pescoço.
— N-não, por favor, e-eu tenho e-esposa e filh-
Crack!
Quebrou o pescoço com extrema facilidade e encarou Lupus fixamente. Jogou o corpo no chão e avançou.
— Você é um monstr-
Scrash!
Lupus sentiu o seu peitoral atravessado, e Hazan levantou ele no alto, deixando o sangue jorrar em seu rosto.
Alcançou a coluna vertebral do mafioso com a mão que o erguia e a puxou para fora. O corpo foi estraçalhado, os ossos cortando e deformando o cadáver em um ponto irreversível.
Estava feito.
Largou o corpo no chão e encarou aquele lugar. Não sentia o peso na consciência pelo que tinha feito, tampouco algum alívio. Era apenas uma sensação sufocante de estar mergulhado em um mar de sangue.
Caminhou até a ponta do monte, a força incrível que ganhou se esvaindo lentamente. As chamas que envolviam seu corpo aos poucos foram dissipando, cedendo espaço a queimaduras cruéis.
Não sei o que foi isso, me senti tão leve, tão forte, e é como se minha tia estivesse aqui… Se eu tivesse essa força antes… Não, não importa mais.
Sentou na ponta do monte, seus olhos fixados em uma estupa budista de ouro ao longe.
Parando pra pensar, não éramos muito religiosos, então nunca visitamos esse lugar.
Não lhe restava mais nada. Sua única família estava morta. Seu corpo estava colapsando sob os ferimentos que o dilaceravam, e não parava de sangrar. Os olhos, outrora vibrantes em laranja intenso, não apenas perderam seu brilho, mas também exibiam desolação, um vazio profundo e uma completa falta de interesse em continuar vivendo.
No entanto, as estrelas no céu e o brilho da cidade continuavam a dançar em uma exibição deslumbrante de cores, uma beleza indiferente ao seu sofrimento.
— Rápido, escutei disparos por aqui! — gritou uma voz feminina.
A polícia? Vocês estão um pouco atrasados… Eu não deixei ninguém vivo, mas espero que eles consigam reunir pistas suficientes para acabar com o túmulo…
Durante toda aquela batalha, uma palpitação incessante martelava impiedosamente dentro do peito de Hazan. Relembrando a sensação agonizante, mergulhou a mão sob a blusa, retirando dali um colar.
Era um cordão adornado por uma pedra de cor alaranjada profundo, abrigando em seu centro uma minúscula folha de carvalho. As bordas arredondadas brilhavam com a prata maciça.
Não poderei cumprir minha promessa, mãe. Fui um fracasso.
O cordão representava o único presente que recebera de sua mãe em vida. Uma semana depois, no dia do seu aniversário de sete anos, ela partiu, e no mesmo dia, fez uma promessa da qual jurou cumprir a qualquer custo. Um presente que agora era uma dolorosa lembrança da promessa não cumprida.
Gradualmente, sua visão se tornou pesada. Finalmente, permitiu que seu corpo tombasse da colina.
Lutava contra o peso que insistia em forçar suas pálpebras a se fecharem.
A brisa gelada balançava as roupas enquanto a distância entre ele e o céu continuava a aumentar.
Estava caindo em direção ao fim da própria história.
Então essa é a sensação de morrer? Que relaxante…
Os anos de esforço, os sacrifícios, os objetivos alcançados e os sonhos que nunca se concretizariam, tudo parecia agora em vão.
Lutou sem descanso por um único desejo durante toda a sua vida, e, após perder tudo o que tinha conquistado com tanto esforço, sequer tinha tempo para refletir sobre isso.
Aceitar o destino. Isso nunca foi do seu feitio, mas algumas coisas simplesmente não mudam, não importa quanto se lute contra elas.
Mesmo em sua morte iminente, o mundo continuaria a girar, e seu tormento se tornaria apenas uma nota de rodapé na vastidão da existência.
Mesmo que buscasse o caminho correto, sempre pagava o preço por viver em um mundo impiedoso. Aos poucos seu caráter mudou.
Sabia, no fundo, que seria cobrado pelos pecados que cometeu em vida.
Trilhou um caminho de constante luta, sufocado pelo egoísmo dos outros e, eventualmente, forçado a sufocar os outros por causa de seu próprio egoísmo. Por quem amava.
Era hora de desistir.
Sou um péssimo filho e um péssimo sobrinho… Esse fim miserável, completamente sozinho, é perfeito para alguém como eu.
Sua consciência estava desaparecendo lentamente à medida que se aproximava do solo.
Pouco a pouco, a visão das estrelas cedia lugar à crescente escuridão. A última centelha de luz se extinguiu ao se tornar parte das sombras que envolviam o jovem.
Ao mesmo tempo, o impacto do seu corpo no solo sólido ressoou como um baque oco, semelhante ao som de uma melancia sendo esmagada.