O Despertar Cósmico - Capítulo 14
A luz amarela brilhou repentinamente no escuro de um longo túnel, no mesmo instante um feixe de luz roxa passou a centímetros do rosto de Alan, sem que ele tivesse a menor chance de reagir.
Lentamente ele se virou para trás, o suor escorrendo em seu rosto, as pernas quase sem força para mantê-lo de pé e as mãos tremendo sem parar.
Não conseguia conter o medo que crescia em seu peito.
E então ele viu, caído a apenas alguns metros dele, dezenas de corpos espalhados pelo chão. O sangue se acumulava e escorria na direção de seus pés. O vermelho era hipnotizante.
Alan se sentia atraído por aquilo, era seu futuro iminente. Não havia como desviar o olhar.
Até aquela presença surgir bem atrás dele.
Ele nem precisou se virar para sentir aquele olho amarelo o observando a apenas alguns centímetros de distância.
Uma vez Alan ouviu falar que o amarelo representa a fome. Nesse caso seria a fome de matar, que se mistura com o vermelho do sangue dos seus inimigos e o roxo da mais poderosa energia cósmica.
Esse era o Imperador, o vilão absoluto.
Um raio de energia roxo atravessou a perna esquerda de Alan e ele caiu ajoelhado no chão, no mesmo instante o homem apareceu na sua frente.
O manto negro cobria todo o corpo e um capuz caia sobre a sua cabeça, no rosto ele usava uma máscara de caveira e por trás da lente esquerda da máscara estava o desespero.
O terror na cor amarela.
— Isso é tudo que pode fazer, garoto? — As palavras do Imperador ecoaram pelo túnel escuro.
Ele não respondeu, não encontrou palavras para dizer. Sentiu sua boca ficar repentinamente seca.
— Sabe quantas pessoas morreram na sua tentativa infantil de bancar o herói? Sabe quantas pessoas morreram por suas explosões de energia por quê você agiu de forma imprudente? Não, você não sabe. E é isso que te torna tão patético.
A luz roxa brilhou mais uma vez e Alan sabia que era seu fim. O raio atravessou seu pescoço e ele sentiu o sangue subir por sua garganta e esguichar pelo buraco.
Quando tentou gritar mais sangue passou por sua garganta e ele se viu sufocando com o próprio sangue.
Mas não havia dor, apenas o desespero.
O Imperador continuava parado diante dele, sem sequer olhar na sua direção. Tudo que Alan conseguia ver era o brilho de seu olho amarelo.
Conseguia sentir a indiferença dele naquele momento. A morte de Alan não significava nada.
“E por que significaria?”, ele pensou.
Ele se virou para os outros corpos no chão, arrastando o rosto em uma mistura de sujeira e do seu próprio sangue.
“Não há diferença para ele entre matar eles e me matar”, Alan pensou. “É simplesmente matar. Como se todos fossem tão fracos que não importasse se vivem ou morrem. Nossas vidas não têm peso algum.”
— Agora, garoto… acorde — o Imperador ordenou.
Alan abriu os olhos instantaneamente.
O suor escorria em seu rosto, encharcando o lençol e travesseiro da sua cama. Ainda estava tremendo, e quando se deu conta suas mãos agarravam com força o lençol da cama.
Ele reconheceu o ventilador de teto do seu quarto e a janela com vista para a praia, mas ainda se sentia naquele beco escuro. Por mais que tivesse sido um sonho, o medo ainda era real. O desespero era real.
Aos poucos Alan foi se acalmando e se sentou na beirada da cama.
O quarto estava tão silencioso que o incomodava. O som de sua respiração era a única coisa que ele ouvia, e conforme ela se normalizava nem isso ele escutou mais.
“Não consigo parar de pensar naquele dia”, Alan refletiu, enquanto soltava o levou da cama e olhava para as próprias mãos, que ainda tremiam levemente.
Aquilo o deixava irritado. Nunca havia me sentido tão impotente antes. Ou tão assustado.
O garoto deixou escapar um suspiro e se levantou. Se moveu pelo quarto de forma automática, separando sua roupa e material escolar e em seguida foi tomar seu banho.
Tudo parecia vago, sem sentido. Desde aquele dia tem sido assim.
No banho as memórias se repetiam em sua mente sem parar. O medo que ele sentiu ao ver aquele olho amarelo ainda estava presente.
Se fechava os olhos, as imagens dos clientes da floricultura sendo esmagados pelos escombros vinham em sua mente. O sentimento de culpa era a única coisa que podia superar seu medo.
Quando terminou de tomar banho e se trocou, saiu do quarto e foi até a cozinha. Seu pai estava sentado na mesa de jantar almoçando.
O homem tinha o cabelo castanho, como o do Alan, mas diferente do filho ele mantinha sempre o cabelo curto, em um corte militar para se lembrar da época que serviu no exército.
Ele ainda estava usando um uniforme preto da UDH, provavelmente estava apenas almoçando em casa para depois voltar para o serviço e sumir por mais alguns dias em uma missão — como sempre.
Edgar, ou como era conhecido mundialmente, o Herói Star, levantou o rosto e olhou para Alan assim que ele entrou na cozinha, mas rapidamente voltou a sua atenção novamente para o seu prato enquanto dizia em um tom sério:
— A comida está na mesa. Coma antes que esfrie.
Alan não disse nada, apenas encarou em silêncio o prato de comida do seu pai. Seus olhos foram atraídos para o ovo no prato automaticamente, mais especificamente para a gema do ovo.
“Amarelo de novo”, ele pensou. “Por que isso me assusta tanto?”
— Não tô com fome — respondeu Alan, enquanto pegava uma maçã na fruteira sobre a mesa.
Estava prestes a sair andando quando Edgar disse:
— Alan, espere um pouco. Quero conversar com você.
Alan deixou escapar um suspiro desanimado e, a contragosto, se virou para encarar Edgar. Seu pai ainda mantinha o olhar em seu prato, e por algum motivo aquilo irritou Alan ainda mais.
— Que foi? — ele quis saber.
— Ainda não tivemos a oportunidade de conversar sobre aquele dia — Edgar falou, e só então olhou para o seu filho. — Como a sua amiga está? Deve ter sido um choque e tanto para ela.
— Como tu acha que ela tá? — Alan perguntou sem paciência. — Como tu acha que ela ficaria depois de tudo que rolou?
— Abalada — Edgar respondeu com indiferença.
— Pode crê… — Alan concordou, tentando conter a sua raiva.
— Diga a ela que vamos precisar recolher o depoimento dela o quanto antes. Assim que ela se recuperar precisa ir até a UDH para conversar com alguém do setor de Atendimento.
E furioso, Alan pensou: “É só com isso que tu se preocupa, não é? Sempre com seu maldito trabalho?”
Alan concordou com a cabeça, mas não disse nada. Em partes ele sabia que o pai estava certo, a polícia havia coletado o depoimento do próprio Alan, do Victor, o pai da Elena, e da Ester.
Mas Elena mal saia do apartamento onde estava ficando desde o ocorrido, e só agora voltou à escola. Alan não queria ficar pressionando a amiga a ter que falar daquele dia horrível, mesmo que fosse com os heróis.
Um silêncio constrangedor tomou conta do ambiente quando nem Edgar e nem Alan falaram mais nada.
O tipo de silêncio constrangedor que não devia existir entre pai e filho. Mas lá estava ele.
Nenhum dos dois sabia o que dizer. Ou talvez não quisessem dizer nada.
Quando Alan estava se virando para ir embora novamente, Edgar finalmente falou:
— Tem visto a sua mãe recentemente?
Alan parou onde estava, de costas para o seu pai, e apertou com força a maçã em sua mão. A fruta estourou na mão do garoto, a polpa escorrendo entres os seus dedos.
— Porra, agora tu deu pra fingir que se importa? Se foder com sua falsidade — ele murmurou entredentes.
Antes que seu pai falasse mais alguma coisa, Alan soltou a maçã amassada, deixando ela cair no chão onde estava, e saiu andando.