O Despertar Cósmico - Capítulo 16
Quando acordou Alan estava suando, mas ainda se lembrava vividamente do seu pesadelo.
“Parecia tão real”, ele pensou, se lembrando de como os sonhos eram sempre os mesmos.
Sempre com o Imperador, todos com pessoas inocentes morrendo em suas tentativas de enfrentar o vilão, e sempre acabavam com ele morrendo também.
“Mas é claro que acaba assim, de que outra forma poderia ser? Eu nunca o derrotaria”, Alan pensou, enquanto se levantava da cama e caminhava até a janela do seu quarto.
Percebeu que a janela estava aberta e aproveitou para se refrescar com a brisa da tarde. Parou em frente a janela e observou a Praia de Copacabana no horizonte.
A vista era linda. Mas só lhe proporcionou uma vontade de estar na praia naquele momento.
Quando se sentava na areia e observava o mar na sua frente, as ondas indo e vindo, a espuma branca e a água se estendendo até o horizonte, isso sempre lhe trazia uma paz incomparável.
Ainda que em um dia frio, como aquele, valia a pena ir à praia só pela vista.
Depois que seu pai e sua mãe se separaram, Alan mudou para aquele apartamento — um ano depois, para ser exato, quando completou dezoito anos — justamente por causa daquela vista.
Mas recentemente nem mesmo aquilo podia acalmá-lo.
O garoto deixou escapar um suspiro e se virou, dando as costas para a janela, e estava prestes a ir até o banheiro quando aqueles olhos vermelhos e o rosto de caveira metálico surgiram na sua frente.
Os olhos do Alan brilharam na cor azul quando a energia Cósmica se formou na sua mão, mas no mesmo instante o homem na sua frente agarrou seu pulso.
Mantendo a esfera apontada para baixo ele agarrou o pescoço de Alan e o jogou contra a janela. O vidro trincou com o impacto das costas do garoto, e por um momento ele perdeu o ar.
— Alan Dias, océ tá sendo convocado para uma Reunião com o Imperador… — a voz soou robótica, mas ainda foi possível reconhecer o tom feminino por trás da máscara.
Alan olhou para as lentes vermelhas da máscara, que pareciam brilhar ainda mais intensas, e aqueles olhos vermelhos o encararam de volta.
Encarou o abismo, e o abismo o encarou de volta. Ele se viu naqueles olhos. Viu sua vida inteira refletir naquelas lentes vermelhas.
Uma nuvem de vapor escapou pela boca da máscara, vazando entre os dentes metálicos, como se a mulher por trás da máscara estivesse suspirando profundamente.
— Se ponha no seu lugar. — A voz fria e robótica da mulher ecoou no quarto silencioso.
Quando viu outra pessoa passar pela porta de seu quarto, o medo e o horror que sentiu naquele dia voltaram à tona.
Ele estava usando o mesmo manto negro e a mesma máscara metálica que a mulher na sua frente.
Contudo, se aqueles olhos vermelhos da mulher representavam o vazio de um abismo sem fim, o amarelo do olho esquerdo do Imperador representava a crueldade e a maldade presente no mundo.
A mulher soltou Alan e deu um passo para trás, no mesmo instante as pernas do garoto o traíram, perdendo as forças e o fazendo desabar de joelhos no chão.
A esfera de energia em sua mão se desfez em várias partículas que se dissiparam de forma brilhante no ar.
Os olhos do garoto não ousaram se virar para a mulher ou para o Imperador, apenas ficaram encarando o chão, assustado demais para fazer qualquer coisa, além disso.
— Agradeça, venere, seja grato. O Imperador te julga importante o suficiente para que esteja em sua presença — a mulher falou, e em seguida se ajoelhou, abaixando a cabeça em sinal de respeito, como se estivesse na presença da realeza.
Os passos do Imperador se aproximando ecoaram por todo o quarto, até que cessaram e Alan observou as suas botas pretas parando na sua frente.
Por um instante o silêncio se estendeu, por segundos que pareceram horas, até que finalmente o vilão falou:
— Olhe para mim. — E o garoto ergueu a cabeça, assustado demais para ir contra a vontade dele. — Sabe por que estamos aqui?
As palavras falharam quando Alan tentou responder, e isso já respondeu muita coisa. Lentamente o Imperador se virou para trás, olhando para a mulher atrás dele, e ordenou:
— Witcher, nos leve a um lugar mais tranquilo.
Assim que ele terminou de falar todo o ambiente em volta de Alan mudou abruptamente, como se, em um piscar de olhos, os três tivessem se teleportado para a praia.
Agora o garoto estava ajoelhado na areia quente, e atrás dele era possível ouvir o som das ondas do mar e as gaivotas voando em algum lugar próximo.
— Sente-se melhor agora? Vim ter uma conversa, mas se ficar assustado e travado aí, não vai me servir de nada.
O Imperador voltou a se virar para Alan.
— Vamos, levante-se. Lute. Eu sei que você quer revidar, então vamos, faça alguma coisa. A intenção sem ação é ilusão. Ouse fazer e o poder lhe será dado. Então lute! LUTE PARA SUPERAR SEU MEDO!
Logo após o Imperador gritar a última palavra, Alan gritou de volta, liberando toda a sua raiva, e principalmente medo, em um grito ensurdecedor.
Foi necessário toda sua força de vontade, e um espírito de luta que ele nem sabia possuir, para se levantar. E, aproveitando o movimento de se erguer, ele projetou o punho na direção do rosto metálico do vilão.
O punho do Alan atingiu a máscara metálica com uma força e velocidade que resultariam em um impacto esmagador.
Mas assim que o punho do garoto entrou em contato com a máscara, a mão dele começou a se desfazer, como areia sendo soprada pelo vento.
Primeiro o punho se desfez, depois o pulso, o antebraço e só parou quando apenas o ombro do garoto havia restado.
Não houve nenhuma dor, desconforto ou mesmo um formigamento. Tudo parecia tão irreal que Alan nem ao menos ficou assustado, apenas surpreso.
— Bom, muito bom. Lutar mesmo diante de um inimigo que você sabe não ser capaz de derrotar, só pode ser descrito como tolice, mas não deixa de ser um ato de coragem — o Imperador falou, abrindo os braços, como se para enfatizar que não fora atingido.
Não podia ser atingido.
— O que… O que vocês querem? — Alan gaguejou a pergunta, dando alguns passos para trás, enquanto olhava do Imperador para a mulher chamada Witcher.
— Isso não lhe diz respeito, Alan. Eu estou aqui para saber o que você quer. Vim lhe oferecer a oportunidade de lutar pela liberdade. Pelo livre arbítrio, pelo direito de fazer as próprias escolhas. Lutar contra o Deus da Verdade. Lutar para trazer a mãe da sua amiga de volta.
— O que você quer dizer com isso? — Alan questionou, com desconfiança.
— O que eu quero dizer? Eu quero dizer que lutar é viver. A vida é uma luta constante, e aquele que não luta pelas pessoas que ama não vive de verdade. Não ama de verdade. Não luta de verdade.
Ele deu um passo para frente, e, nesse meio tempo, Alan teve a impressão de que por trás daquelas lentes da máscara os olhos do Imperador encaravam fixamente os dele.
— Você é um lutador, Alan. Está no seu sangue. A questão é: Pelo que você luta? A mãe da sua amiga foi sequestrada pelo maior grupo de vilões do mundo, e os heróis não podem fazer nada a respeito. Então me diga, Alan: Você, o Rei da escola, que luta contra vários alunos por motivos fúteis, não vai lutar dessa vez?
Assim que o Imperador terminou de falar o mundo inteiro começou a rodar.
Alan sentiu um formigamento insuportável se espalhar pelos seus olhos, fechou eles e voltou a abri-los repetidas vezes na tentativa de conter aquela sensação agonizante. Lágrimas começaram a escorrer por seu rosto e a sensação ficava cada vez pior.
Até que, tudo desapareceu.
O formigamento nos olhos sumiu como se nunca tivesse existido, e quando voltou a abrir os olhos, percebeu estar deitada na sua cama, olhando para o ventilador de teto do seu quarto.
O suor havia encharcado seus lençóis completamente.
“Um sonho… Foi um sonho… Apenas um sonho…”, ele repetiu para si mesmo, contudo, quando se sentou na cama, percebeu o quão errado estava.
Sentada em uma cadeira em frente a cama do Alan estava uma garota de cabelo branco e olhos vermelhos. O cabelo era curto, na altura dos ombros, e os olhos de um vermelho intenso possuíam pupilas verticais, como as de um gato.
A garota virou um pouco o rosto de lado, como um felino observando com curiosidade sua presa, e um sorriso se formou em seus lábios.
— Bom dia.
Alan não respondeu, então a garota se levantou, e instintivamente o garoto recuou até bater com as costas na cabeceira da cama.
A garota deixou escapar uma risadinha, caminhou até a cama e colocou algo sobre o colchão.
— Eu sou a Jessie, foi um prazer.
A garota se virou e saiu andando, sem parar mesmo quando Alan gritou que ela esperasse.
Quando ela passou pela porta, o garoto se viu sozinho no seu quarto, olhando em volta, vendo suas coisas — a escrivaninha onde seus materiais escolares estavam, o guarda-roupa e a janela com a vista para a praia.
Ele engoliu seco, sentindo um nó se formando na sua garganta e um sentimento imensurável de insegurança crescer dentro dele.