O Despertar Cósmico - Capítulo 17
O dia amanheceu nublado. O inverno estava chegando, e com a sua chegada o clima se tornava cada vez mais frio. Para Elena aquela já foi a sua estação preferida do ano.
Mas agora ela já não conseguia ficar animada mais. Tudo que o inverno trazia consigo era um frio solitário.
Isso e as lembranças de quando sua mãe fazia chocolate quente nas noites frias e todos se reuniam na sala para assistir algum filme bobo, do qual sua mãe sempre reclamava da falta de lógica, mesmo ela sendo sempre a que mais se divertia. A que mais fazia questão daquelas noites em família.
Agora Elena estava sentada no sofá de um hotel, olhando para a janela e vendo o centro da cidade.
O quarto estava silencioso, seu pai tinha saído para fazer alguma coisa — ele quase não parava em casa ultimamente — e sua irmã estava trabalhando, ela aparecia em casa menos ainda e, quando aparece, fica apenas algumas horas antes de voltar para o trabalho.
Ester vive dizendo que esta fazendo progresso, que logo encontrará a mãe delas.
Mas Elena não consegue manter a confiança que irmã tem e, por algum motivo, sentia que aquilo era uma espécie de traição com sua mãe.
Desbloqueou a tela do seu celular para ver as horas e descobriu que estava atrasada para a aula.
Cogitou não ir, mas seria a segunda vez seguida, logo depois que ela tinha conseguido manter um ritmo bom e não estava faltando mais, e Amanda não iria ficar nem um pouco contente com isso.
Até o ato de se arrumar para a escola parecia sem sentido, vazio.
Sempre que não encontrava algo que estava procurando, pensava em chamar a mãe, mas então se lembrava de que ela não estava mais ali, e as lágrimas vinham aos seus olhos.
O caminho até a escola também não era nada fácil.
O hotel em que estava morando ficava longe de todos os seus amigos, o mais perto talvez fosse o Alan, mas apesar de morar no centro, ele morava literalmente do outro lado do centro da cidade e se atrasaria muito se esperasse por ela.
Apesar de que era bom ter um tempo para colocar seus pensamentos em ordens. Ou pelo menos ela queria pensar assim.
Mas na verdade quanto mais tempo para pensar ela tinha, mais pensava em sua mãe.
Ultimamente seus únicos pensamentos que não são sobre a mãe tem haver com o que Zen havia lhe dito, ou melhor dizendo, lhe proposto — mas no fim, até isso era relacionado a ela.
Um pouco mais de uma semana havia se passado desde que sua mãe foi sequestrada e sua casa — sua vida — foi destruída.
Desde então, ela tem morado em um hotel providenciado pela União Dos Heróis, que também ofereciam vigilância e proteção vinte e quatro horas — desde que você ficasse no prédio.
Elena sentia que aquela semana tinha sido um ponto de divergência. Dali para frente sua vida nunca mais seria como antes, e ela tinha que tomar alguma decisão.
Fazer alguma coisa ou… aceitar a morte da sua mãe.
“Essas são as minhas únicas opções?”, ela se questionou, esperando em vão que de alguma forma a resposta surgisse em sua mente.
Estava tão distraída que não viu o homem na sua frente até trombar com ele.
A garota cambaleou para fora da calçada, já começando a pedir desculpa, até que o homem agarrou o seu braço e a puxou de volta. Quase que no mesmo instante um carro passou em alta velocidade na rua, quase a atropelando.
— Olhe por onde anda, idiota! Tá igual ao meu filho, coloca essa merda na orelha e não presta atenção em mais nada — o homem falou, enquanto soltava o braço da garota.
— Valeu… — Elena murmurou enquanto retirava seus fones e observava, ainda um pouco confusa e surpresa, o carro que quase a atropelou se afastando na avenida. — E me desculpe… Eu vou prestar mais atenção por onde eu ando. Sinto muito, de verdade mesmo.
— Há, claro que vai. Vai fazer isso por pelo menos uma esquina, e então colocar o fone de novo. Só cai fora daqui, eu estou ocupado — o homem resmungou, e nem sequer olhava para ela, parecia procurar alguém em meio às várias pessoas que passavam por ali.
Elena se desculpou mais uma vez, e então se retirou. Enquanto se afastava, ela fez questão de brigar consigo mesma por ser tão imprudente, mas sabia que o homem tinha razão.
Ela provavelmente não demoraria para se distrair novamente, com fone ou sem.
“A minha mãe sempre dizia que eu sou muito avoada”, ela pensou, inevitavelmente lembrando da sua mãe, e ao mesmo tempo se culpando por sempre pensar nela como se já tivesse partido.
— …rota! Garota, espera um pouco! — A voz de um homem se sobrepôs às outras ao seu redor.
Abruptamente uma mão agarrou seu braço e a forçou a parar.
Elena se virou para trás no mesmo instante, mas já tinha reconhecido, pelo tom de voz, que esse era o homem com quem ela havia tombado antes.
— Desculpa, não ouvi o senhor chamando — Elena falou, envergonhada por ter que admitir aquilo. — Precisa de alguma coisa?
— Se distraindo novamente, hein? Parece que eu me enganei, não levou nem uma esquina — o homem falou, com um sorriso simpático no rosto.
— Desculpa… É que muita coisa tem acontecido ultimamente — ela murmurou.
— Imagino… Já vou deixar você seguir seu caminho, não quero atrapalhá-la. Mas antes disso, poderia me dizer seu nome?
— hummm… Claro, meu nome é Elena — Elena respondeu.
Os olhos do homem de arregalaram por um momento, e então ele questionou:
— Com E ou com H?
— Com E….
— Sobrenome. Sobrenome também — o homem pediu.
A garota sentiu a mão dele apertando mais forte seu braço e automaticamente recuou para trás um pouco, mas o homem também deu passo para frente.
Elena hesitou, até ele pedir o sobrenome dela novamente e ela responder, com medo da urgência na voz dele:
— Rodrigues. Elena Rodrigues.
Uma expressão de choque surgiu no rosto do homem no mesmo instante. Seus lábios estremeceram em um sorriso hesitante que se formou.
— Parece que os Deuses realmente estão do meu lado… Mas é você quem terá de rezar… Elena.
Os dedos do homem se abriram, soltando o braço da Elena, e ele abaixou a sua mão até tocar a barriga dela.
A garota instintivamente se preparou para tirar a mão dele dali com um tapa, mas então uma vibração abruptamente a atingiu.
Elena abriu a boca de dor, mas não teve voz para gritar, a vibração parecia aumentar cada vez mais, assim como a dor, até que seu corpo foi arremessado para trás.
A dor em sua barriga só desapareceu quando ela atingiu com as costas em um ônibus, afundando completamente a lataria dele, e transferindo toda para as suas costas.
Por um tempo Elena só conseguia sentir dor. Sua visão se tornou embaçada com as lágrimas que brotaram em seus olhos.
Quando começou a se recuperar o sangue em sua boca foi a primeira coisa que percebeu.
Ao começar a se levantar uma pontada de dor quase a fez cair novamente, mas de alguma forma ela sabia que não tinha quebrado nada, então se obrigou a ficar de pé.
Foi só quando levantou que ela percebeu que estava em cima do ônibus com o qual havia colidido.
O veículo tinha tombado na rua, e os passageiros dentro dele estavam gravemente feridos — alguns presos na lataria amassada do ônibus — com ferimentos expostos devido ao impacto, todos clamando de dor.
Na rua os carros, que estavam na frente do ônibus quando Elena colidiu com ele, tinham sido jogados por toda parte, nas calçadas, uns sobre os outros, e alguns atingiram os pedestres na rua.
A garota viu, e ouviu, as pessoas correndo e gritando ao longe, algumas usando seus poderes para fugir mais rápido, sem se importar com quem ficava para trás.
A respiração dela começou a ficar cada vez mais ofegante enquanto olhava à sua volta, como se seus pulmões rejeitasse o ar que ela tentava puxar.
Começou a sentir suas mãos e pernas tremendo na lataria do o ônibus.
Quando seu estômago revirou ela pensou que vomitaria, mas Elena não teve tempo de fazer nada, pois abruptamente ela sentiu uma força gravitacional intensa se espalhar por tudo em sua volta.
O ar parecia ter se tornado mais pesado. Seus ferimentos começaram a doer ainda mais, e então tudo ficou mais leve, a ponto de ela não sentir mais seu corpo, e então tudo começou a flutuar.
Lentamente o ônibus, os carros ao redor, um poste que tinha sido derrubado e vários pedestres que não tinham conseguido correr para longe começaram a flutuar no ar.
Tudo em um raio de dez metros voava em direção ao céu, ganhando cada vez mais altitude.
A garota viu os passageiros no ônibus flutuando no interior do veículo, como se a gravidade tivesse desaparecido.
O sangue voava em câmera lenta no interior do ônibus. Aqueles que estavam feridos não conseguiam evitar de bater na lataria ou em outras pessoas e acabavam se machucando ainda mais.
E tudo isso ficou pior quando eles atingiram vinte metros de altura e a força gravitacional se inverteu e os puxou para baixo.
O vento batia no rosto da Elena tão rápido e forte que era difícil de ver ou ouvir direito, mas ainda assim os gritos das pessoas à sua volta não podiam ser ignorados mesmo que ela quisesse.
Elena se forçou a abrir os olhos, mas ao ver a altura seu coração acelerou, o medo a pressionou a fechar os olhos novamente.
Até que viu o ônibus cheio de passageiros, um carro com o motorista e uma criança pequena no banco de trás, e mais cinco perdestes que haviam sido capturados no ataque.
Uma onda telecinética foi emitida por Elena e, como um manto invisível, esse poder cobriu todos.
A telecinése envolve as cinco pessoas no ar, se encaixando aos seus corpos, cobrindo o carro com o motorista e sua filha, e a parte mais difícil, envolvendo o ônibus e todos os seus passageiros, tomando o máximo de cuidado com os feridos.
O chão se aproximava rapidamente, Elena sentia seu coração batendo cada vez mais forte em seu peito.
O desespero tomou conta da garota, até que, a um metro e meio do chão, tudo parou. O ônibus parou abruptamente, mas os passageiros desceram lentamente até repousarem na lataria, como se fossem segurados por uma rede invisível.
A queda dos pedestres foi retardada como se eles caíssem em um enorme colchão, que lentamente esvaziou até que eles tocassem no chão.
Mas o carro demorou um pouco mais para ser afetado pelo poder, e isso fez a garota se desesperar.
Forçou seus poderes, e por causa disso quando sua telecinése parou o carro a lataria amassou, o motorista voou contra o pára-brisa — e teria atravessado o vidro se ela não o tivesse reforçado com a telecinése.
Com calma e lentidão ela os desceu até o chão, os aterrissando sem perigo e com todos a salvo.
Uma última onda telecinética fez o corpo da Elena girar no ar pouco antes de atingir o chão, e a garota posou com leveza no solo.
Ao liberar seus poderes, os veículos e pessoas foram soltos, e ela pode ouvir alguns gritos de dor vindo do ônibus — mas acreditava que tinha salvado a todos da melhor forma que podia.
Mas quando se virou para trás para checar, um estrondo ecoou por toda parte e um tremor percorreu o chão. Elena voltou a olhar para frente e viu o homem que a estava atacando, desta vez o vendo como a ameaça que ele realmente era.
O homem tinha um cabelo castanho, que flutuava no ar, como se a gravidade não existisse ao redor dele. Os olhos dele brilhavam com uma luz intensa, que lembrava vagamente a luz da energia cósmica que brilhava nos olhos do Alan.
Mas as verdadeiras ameaças voavam ao lado dele. Pedregulhos gigantes se desprendiam do chão, se erguendo no ar conforme ele também erguia a mão.
Um desses pedregulhos repentinamente disparou na direção da Elena, deixando a garota assustada por um momento.
Porém, quando a enorme rocha se aproximou, Elena conseguiu quebra-lo com um único soco, transformando-o em vários fragmentos.
A garota sentiu seu punho formigar e viu alguns cortes superficiais deixados ao destruir o pedregulho, mas ainda assim sentiu que podia destruí-los.
Podia derrotar aquele homem.
Mas esse pensamento durou só até ela ouvir os fragmentos dos pedregulhos atingindo o ônibus e o carro atrás dela.
Quando se virou viu uma rocha atravessada parcialmente na lateral do ônibus, que havia sido empurrado um pouco mais para longe.
Um dos pedaços do pedregulho também havia atingido o capô do carro, e se ele fosse um pouquinho maior teria amassado completamente o motorista e sua filha lá dentro.
Alguns dos pedestres que ainda estavam ali — aqueles pegos pelo último ataque do homem — foram atingidos pelos fragmentos dos pedregulhos e estavam caídos no chão, alguns deles inconscientes e sangrando, e Elena não saberia dizer se estavam vivos ou não.
Ela começava a caminhar na direção dos feridos quando outro estrondo ecoou atrás dela, a força gravitacional se tornando pesada no ar.
Quando se virou viu outro pedregulho disparando na sua direção.
Por um momento ela se preparou para quebrá-lo no soco, mas as imagens do ônibus e carro amassados e das pessoas feridas pelos fragmentos vieram em sua mente, então ela hesitou.
O pedregulho continuava se aproximando em alta velocidade, destruindo um pedaço da rua toda vez que atingia o chão. Então ela decidiu agir. Esticou uma das mãos para frente e envolveu o pedregulho com sua telecinése.
A garota viu o momento exato em que o pedregulho freou no ar, reduzindo, quase imperceptivelmente, a velocidade com que avançava.
Mas ele não parou. Era pesado demais.
Elena ergueu a outra mão na direção do pedregulho e se concentrou ainda mais, jogando todo seu poder telecinético contra a rocha, e novamente ele freou no ar, reduzindo consideravelmente sua velocidade.
Mas ainda assim não parou.
“É pesado demais! Não vou conseguir pará-lo! “, ela percebeu, assustada com a força que aquilo estava exigindo dela.
Quando o pedregulho estava a menos de três metros dela, a garota mudou a tática.
Ao invés de usar sua telecinése para bater de frente e parar o objeto, ela usou toda a sua força para joga-lo pro lado, e no último instante o pedregulho disparou para o lado e atingiu a parede de um prédio
Elena soltou um pesado suspiro, a respiração ofegante de tanto se esforçar, e apoiou as mãos nos joelhos, tentando recuperar o fôlego.
Mas então ouviu a voz do homem, e se obrigou a olhar para ele.
— Não é nada pessoal, garota. É você ou eu, e eu tenho um filho para cuidar. Não que eu não tenha simpatia, mas sabe… Meu filho é prioridade — O homem falou, enquanto mais pedregulhos se desprendiam do chão e se erguiam no ar.