O Despertar Cósmico - Capítulo 18
Outros pedregulhos dispararam na direção da garota, e ela rapidamente se recompôs e se preparou.
Elena conseguiu desviar o primeiro deles com sua telecinése, mas percebeu quando desviou o segundo que a velocidade deles estava aumentando e sua telecinése estava perdendo o efeito.
Estava tentando ao máximo conter a força com a qual os jogava para os lados, tentando não destruir nenhum prédio no processo, mas isso estava fazendo ela ficar ainda mais exausta.
A garota estava tão focada em desviar, cuidadosamente, os pedregulhos para os lados que não percebeu a armadilha feita pelo homem.
Quando um dos pedregulhos vinha na sua direção, parecendo muito mais rápido e pesado que os anteriores, ela usou toda a sua concentração para mudar sua rota, mas quando isso aconteceu a garota foi pega de surpresa pelo segundo pedregulho, que vinha logo atrás daquele.
Elena foi atingida, contudo, mal tendo tempo de colocar os braços na frente para se proteger, e o impacto jogou ela para longe, a dor ofuscando a sua mente momentaneamente.
Mas ela se recuperou antes que o pedregulho a esmagasse contra o chão, e, usando a sua telecinése, Elena inverteu a situação, girando o pedregulho até parar em cima dele e o usando para amortecer o impacto da queda.
O pedregulho se arrastou pelo chão por dois metros, com a garota se equilibrando em cima dele e usando sua telecinése para freá-lo, até que o pedregulho parasse, quase encostando no ônibus caído.
Ela sentia uma dor latejante e o sangue escorrendo do ferimento em sua cabeça. Passou a mão no rosto, limpando o sangue antes que ele caísse em seu olho, prejudicando sua visão.
Quando saltou de cima do pedregulho e usou sua telecinése para lentamente descer até o chão, a garota estava determinada.
Conseguia sentir a dor e a agonia a sua volta. O sofrimento. E também sentia quando tudo isso parava. Quando uma mente parava de funcionar. Quando alguém morria.
E uma raiva imensurável floresceu dentro dela.
Quando olhou para frente não viu quase ninguém. A maioria das pessoas tinha fugido quando aquela confusão começou, alguns abandonaram os próprios carros para fugir.
Porém ainda havia aqueles cuja a curiosidade era maior que o medo, e se escondiam em um lugar que desse para ver o que estava acontecendo.
Elena queria gritar que fugissem o mais rápido possível dali, mas tinha um problema mais urgente.
A garota começou a olhar a sua volta, sentindo o coração bater tão acelerado que parecia que iria saltar para fora do seu peito a qualquer momento.
Mas as únicas pessoas que ela encontrou foram as que haviam sido pegas no raio de ataque daquele homem, os passageiros que desciam do ônibus ajudando uns aos eram os mais próximos dela agora.
O silêncio dominou as ruas e o tempo parecia correr de forma mais lenta.
Os sons ecoavam na mente da Elena, os passageiros do ônibus desesperados tentando retirar os feridos das ferragens, as pessoas escondidas a sua volta cochichando baixinho demais para que pudesse ser discernido daquela distância.
E o que mais fazia barulho, os seus próprios passos enquanto caminhava pela rua, sempre atenta e procurando pelo homem.
Elena sentiu o suor escorrendo pelo seu rosto e uma mecha do seu cabelo havia grudado naquela mistura nojenta de sangue e suor que era seu rosto próximo a ferida. Ela sentia a respiração densa, os passos pesados.
“Estou cansada”, ela pensou. “Tenho que sair daqui, mas…”
Quando se virou para o ônibus viu que ainda haviam cinco pessoas presas, por sorte os ferimentos não eram graves. Mas ninguém estava conseguindo tirar elas de lá.
A garota olhou uma última vez à sua volta, mas não encontrou o homem em lugar algum.
“Atacar e fugir não faz sentido algum. Ele deve estar por aqui em algum lugar”, ela pensou, se virando para o ônibus e caminhando na direção dele. “Mas eu não posso simplesmente fugir e deixar essas pessoas aqui, tenho que salvá-las antes!”
Uma mulher no grupo perto do ônibus foi a primeira a ver a Elena se aproximando e suspirou profundamente aliviada. Os outros logo a viram chegar e rapidamente abriram espaço gritando coisas como:
— Saiam da frente.
— Deixem ela passar.
— A heroína chegou, vai ficar tudo bem.
— Finalmente os heróis vieram ajudar.
Elena não teve coragem de dizer que não era uma heroína. As pessoas pareciam tão aliviadas com a presença dela ali que sentiu que era melhor que elas pensassem daquela forma.
Quando olhava à sua volta via os rostos felizes por vê-la. Rostos de pessoas que, apesar de feridas, sabiam que estava tudo bem, porque os heróis tinham vindo salvá-los.
Percebeu, em seu âmago, que queria proteger aquelas pessoas. Proteger aqueles sorrisos.
“Mas eu não sou uma heroína… Eu consigo mesmo fazer isso?”, ela se perguntou, parando em frente ao ônibus e observando as pessoas presas nas ferragens do ônibus.
Ela se sentia impotente. Mas obrigou esse sentimento a ir embora. Tinha que fazer alguma coisa, e ficar hesitando não iria ajudar.
— CUIDADO! É ELE!! — uma voz gritou do outro lado da rua.
Elena ergueu os braços, em guarda, no mesmo instante. Seu coração parecia que ia sair pela boca.
Olhou para os lados mas não distinguiu ele em meio aos passageiros, então olhou para cima. Mas não havia nada também.
Estava começando a se acalmar quando ela viu alguém se aproximando abruptamente pela sua direita — empurrando uma mulher que estava na sua frente.
Antes que ela pudesse esboçar alguma reação diante daquele movimento repentino, um punho atingiu a lateral do seu corpo.
A força do golpe fez com que uma costela se quebrasse, mas surpreendentemente ela não foi jogada para longe, ao invés disso caiu no chão com tanta força que o asfalto rachou debaixo dela, como se seu corpo pesasse centenas de toneladas.
Elena gritou de dor, ou pelo menos tentou, pois tudo que conseguiu foi se engasgar com o sangue em sua boca. Antes que ela pudesse se recompor algo caiu sobre suas costas.
O peso imenso a fez afundar no chão. Ela tentou fazer força para se levantar, mas seus braços fraquejavam.
Sua mente estava desorientada pela dor, por isso demorou para perceber que o homem agora estava parado na frente dela.
Elena tentou mover sua mão na direção dele, mas não conseguiu afastá-la mais que dez centímetros do chão. Foi então que ela percebeu que não havia nada em cima dela, alguma força invisível estava empurrando ela contra o chão.
“O poder dele é telecinése? Não, é diferente. Ele só consegue puxar e empurrar”, ela percebeu, mas isso não ajudava em nada na sua situação atual.
— Não resista, Elena. Assim vai ser mais fácil para todos — o homem falou.
Seu tom de voz não era ameaçador, ele até parecia um pouco amargurado — quem sabe arrependido — mas a ameaça estava lá também, de forma implícita, quase que um aviso não dado.
“Ele realmente vai me matar se eu resistir”, pensou a garota, ficando cada vez mais apavorada.
— Aposto que para tu seria, mas não para mim — Elena falou, forçando um sorriso no rosto, os dentes sujos de sangue. Um sorriso vermelho brilhante.
— Não estou falando apenas de você, garota — o homem falou,
A pressão invisível que empurrava Elena contra o chão aumentou repentinamente, e ao mesmo tempo a garota ouviu o som do ônibus sendo amassado.
— Ou você acha que essas pessoas conseguem resistir tanto quanto você?
Elena ergueu o olhar e congelou ao ver, atrás do homem, as pessoas em volta do ônibus sendo empurradas contra o chão, gritando de dor.
O próprio ônibus havia amassado como uma latinha de alumínio, e em meio às ferragens a garota viu os corpos e o sangue. As ferragens se entrelaçaram onde os passageiros estavam presos, e agora apenas o sangue escorria.
Uma explosão telecinética foi expelida do corpo da Elena na direção do homem ao mesmo tempo em que ela soltava um grito enraivecido.
O vilão foi atingido pela força invisível da telecinése e foi arremessado na direção do ônibus, batendo em sua lataria e depois voando por vários metros até afundar na parede de um prédio na outra extremidade da rua.
A força gravitacional sobre ela desapareceu, mas ela não sabia dizer se era por causa da telecinése dela ou por causa da distância.
Por via das dúvidas, ela envolveu seu corpo com uma barreira telecinética, que também usou para se manter de pé sem ter que forçar a perna — o que faria sua costela quebrada doer ainda mais.
Olhou em volta, viu as pessoas se levantando, machucadas e assustadas, e depois olhou para o ônibus. Sentiu um nó se formar na sua garganta ao notar que não sentia nenhuma mente nas ferragens dos ônibus.
“Eles morreram… Morreram por… por minha culpa”, o pensamento veio acompanhado de um tremor nas pernas que a teria derrubado se a Telecinése não estivesse segurando-a.
A garota ouviu as pessoas conversando entre si e foi despertada do seu transe, desviou o olhar das ferragens ensanguentadas e se virou para as pessoas que ainda estavam vivas.
Contou cinco deles.
Olhou para o carro, que estava um pouco mais afastado, e viu o motorista pegando sua filha no banco de trás e se preparando para fugir.
Em meio ao terror e desespero que sentia, o alívio que vê-los lhe proporcionou foi bem vindo.
— Saiam, rápido — ela falou, se virando para os cincos mais pertos, e percebeu que até isso lhe exigia muito esforço. — Por favor, ajudem quem não conseguir se mover.
Elena ficou observando e esperou até que todos corressem para longe, e só então usou sua telecinése para voar poucos metros acima do chão e avançar na direção do prédio para onde o homem havia sido arremessado.
Mas então ela repentinamente parou.
Percebeu o quão estava cansada. Sua respiração estava irregular e ela não conseguia se acalmar. Seu corpo estava cheio de ferimentos e a dor era quase insuportável.
Isso não era como as lutas da escola. Era a segunda vez que algo assim acontecia com ela, e a situação não mudou nem um pouco.
“Eu vou morrer se lutar com ele. Talvez eu devesse fugir”, ela pensou enquanto olhava para trás.
Não havia mais ninguém na rua. Olhou para o prédio e viu que havia um buraco na parede, onde o homem tinha atingido. Ela tocou a região da sua costela e sentiu uma pontada de dor.
“É isso. Eu tenho que fugir”, ela concluiu.
Então um tremor sacudiu todo o prédio e a rua, um estrondo ecoou por todo o bairro, e em meio a uma nuvem de fumaça no buraco do prédio dezenas de tijolos dispararam na direção da Elena.