O Despertar Cósmico - Capítulo 19
Elena se esquivou com facilidade do primeiro tijolo que se aproximou, o segundo quase a atingiu e, por medo, ela voou quase um metro para o lado só para desviar dos outros tijolos.
Entretanto, quando mais tijolos começaram a disparar para onde estava agora, ela usou a telecinése, e eles começaram a explodir conforme se aproximavam. A poeira deles flutuava no ar.
Um novo estrondo ecoou por toda parte, e quando o último tijolo foi destruído o homem surgiu voando em meio a nuvem de poeira, avançando na direção da Elena em alta velocidade.
O susto fez Elena hesitar, e ela demorou um segundo a mais para se defender. Isso foi o suficiente para o homem atingir um golpe em cheio o rosto dela.
Dessa vez quando foi atingida seu corpo parecia muito mais leve que o comum.
Ela voou para longe se sentindo tão leve que parecia estar sendo carregada pelo vento. Mas tudo que ela sentia era a terrível dor e o sangue que fluía por sua boca.
Quando a leveza em seu corpo desapareceu ela caiu, ralando todo o seu corpo conforme rolava pelo asfalto, e quando finalmente parou de rolar havia deixado um rastro de sangue pelo chão.
A dor que ela sentia fez lágrimas brotarem em seus olhos, contudo, ela se forçou a ignorá-las.
“Não vou chorar como uma criancinha. Não na frente dele!”, ela pensou.
Ao erguer o rosto ela viu o homem se aproximando.
Agora que não estava usando seus poderes, seu cabelo castanho caía até chegar nos ombros, e Elena pôde notar que os olhos dele eram castanhos.
Entretanto, o que mais irritava a garota era a expressão triste no rosto dele. O olhar de arrependimento.
— Me desculpe, garota. Mas se não fosse eu, seria outro. Todos estão de olho em você agora. Era só questão de tempo até alguém te encontrar, acho que eu só dei sorte, e seria estupidez não aproveitá-la.
— Eu nem sei do que cê está falando! — Elena gritou para ele, a raiva e o medo impedindo-a de filtrar suas palavras. — Por que isso está acontecendo comigo? Eu nunca fiz nada para ninguém, isso não é justo!
A garota acertou um soco no chão, descarregando toda sua frustração e fazendo o asfalto rachar. As lágrimas escorreram de seus olhos e ela não pode mais segurá-las.
— Nunca foi questão de justiça, garota. Você só teve azar, ou algo do tipo. Seus poderes são perigosos demais, eles não podem correr o risco de ter você como inimiga — o homem falou.
— Mas eu não sou ninguém! — ela gritou, como se quanto mais alto falasse, maior seria a chance de tornar aquilo realidade. — Cê não tem motivo para vir atrás de mim! Eu nem sei usar os meus poderes. Nunca nem pensei em ser uma heroína!
Contudo, o homem apenas riu dela, como se tivesse ouvido a garota falar alguma besteira sem sentido.
— Você já é uma heroína, Elena. Salvou todas aquelas pessoas, não lembra? Já faz parte do seu cerne, e quando o Deus deles começar a agir você não conseguiria ficar parada — ele comentou. — É tarde demais. Todos os vilões já conhecem a Elena, A Princesa Pathykinese.
Quando terminou de falar apenas dois metros separava ele da Elena, então ele ergueu a mão na direção dela e usou seus poderes.
A pressão envolveu o corpo da Elena muito mais forte do que antes. Um chiado insuportável surgiu na sua cabeça, e crescia conforme a dor e a pressão aumentavam.
A garota sentia como se estivesse no fundo do oceano, não que já tivesse estado lá alguma vez, simplesmente essa era a única coisa que se aproximava da sensação horrível que estava sentindo naquele momento.
— Não é que eu não entenda sua situação, de verdade. Você me lembra um pouco o meu filho. Talvez eu até faça uma denúncia anônima aos heróis quando eu te entregar, mas eu não posso simplesmente te dei…
Mas, antes que o homem terminasse de falar uma estalactite de gelo atingiu seu ombro, atravessando tanto ele quanto o chão, para só depois começar a derreter. O sangue não escorreu, ao invés disso uma pequena nuvem de vapor subia da ferida.
O homem gemeu de dor, e foi tudo que ele teve tempo antes de uma segunda estalactite atravessar sua perna esquerda, o derrubando no chão.
A terceira estalactite explodiu no ar a trinta centímetros do rosto dele, a quarta e a quinta também explodiram, dessa vez mais longe.
A pressão que envolvia Elena desapareceu, e no mesmo instante o homem saiu voando para longe, parando a mais de dez metros de distância, com um olhar assustado no rosto.
Um vulto negro caiu na frente da Elena abruptamente. O ar se tornando mais frio repentinamente. Primeiro ela observou o cabelo branco esvoaçando com o vento, depois viu os olhos azuis e então um sorriso alegre.
— Você ficou lento, Grave. Te acertei duas vezes antes de você reagir. Deve ser por estar lutando contra crianças agora — o homem falou, da forma mais debochada que alguém podia falar.
— O Lorde do Gelo em pessoa veio me prender? Que honra. — o homem, aparentemente chamado Grave, gritou escandalosamente, ignorando a dor, como se tivesse que responder a altura. — Ops! É assim que devo chamá-lo? Sempre me confundi com esse lance de identidade secreta.
Elena olhou mais uma vez para o homem na sua frente, a fim de prestar mais atenção nele de verdade.
Ele usava um sobretudo na cor preta, assim como sua calça e sapato, o que dava ainda mais destaque ao cabelo branco e os olhos azuis.
A única coisa que Elena conseguia pensar era que ele era mesmo marcante, como sua irmã descrevia. Transmitia segurança, conforto.
Pois, quando ele se virou para Elena, sorrindo gentilmente para ela, a garota sentiu estar a salvo.
— Desculpe, me atrasei. Vou levar uma bronca por causa disso — Ele riu e caminhou na direção dela, parando na sua frente e oferecendo a mão para ajudá-la. — Mas você se saiu bem, não é? Uma civíl quase derrotar um vilão de Classe Alta sozinha? Impressionante.
— Eu sou a Rainha da minha escola… — foi tudo que Elena pensou em falar, e se sentiu uma idiota por isso. Aceitou a ajuda dele e ficou de pé.
— Mas é claro que você é. — Ele riu, como se isso fosse óbvio, mas fosse algo engraçado de se comentar, o que deixou Elena se sentindo mais idiota ainda. — Por isso é um prazer conhecê-la, Elena. Eu sou Niveis, o Lorde do Gelo.
Ele fez uma pausa e olhou para trás por cima do ombro, quando voltou a olhar para a Elena estava um pouco mais sério.
— Agora, se não se importa… — Os olhos do Lorde do Gelo começaram a brilhar, assumindo uma coloração azul intensa e hipnotizante. — … tenho que fazer a parte suja, ela sempre sobra pra mim.
Uma rocha de quase um metro se aproximava em alta velocidade, contudo, quando estava a cinco metros deles, Niveis se virou para trás novamente e ela congelou, caindo no chão e se partindo em fragmentos de gelo instantaneamente.
A segunda e a terceira rocha, que também se aproximavam logo atrás daquela primeira, congelaram exatamente como a outra.
— Desista, Grave. Sabe que não pode vencer — O Lorde do Gelo avisou seriamente
— E o meu filho, hein? Conhece o histórico dele, vai ser preso junto comigo. Prefiro morrer sem ligações com ele. — O vilão sorriu, mas Elena conseguiu sentir a hesitação e o medo dele.
— Vai ser o que vai acontecer. — A frieza na voz do Lorde do Gelo foi tão surpreendente que deixou até Elena com medo. Mas logo a gentileza voltou a sua voz quando acrescentou: — E eu cuido dele quando tudo acabar, prometo.
Por um momento o homem não disse nada, Elena olhou de um para o outro sentindo a seriedade no ar, e percebeu que Grave estava realmente considerando aquilo.
Não conseguia acreditar, entretanto, o Lorde estava realmente propondo cuidar do filho de um vilão caso ele se entregasse, e Grave estava considerando de verdade.
Mas por fim Grave suspirou e balançou a cabeça negativamente, parecendo tomar alguma decisão mentalmente.
Por fim, várias rochas e pedregulhos se ergueram do chão, os carros à sua volta amassaram, transformando-se em uma bola de metal e também flutuando no ar.
— Não. Do que adiantaria isso tudo então? Acha que eu tô fazendo isso por quê eu quero? Não, é só para manter ele longe disso. O sangue é o mesmo, que diferença faz, não é?
Ele olhou tristemente para Niveis, e Elena sentiu um aperto no coração ao sentir a tristeza do homem.
Mesmo daquela distância ela sabia dizer que ele estava a ponto de chorar.
Sua telepatia lhe permitia captar os sentimentos dele, e naquele dia, mais do que em qualquer outro, isso era mais um fardo do que uma benção.
— Quero que ele seja livre, entende? Que cometa seus erros. É uma criança, deixe aprender com isso… Ele se parece um pouco com você, garota.
Elena se assustou ao ouvi-lo falar com ela, contudo, não precisou falar nada em resposta, pois Grave deu continuidade ao que dizia:
— Shin é muito cabeça dura, decidiu que nunca mais vai usar seus poderes, e nada fará ele mudar de ideia. É um bom garoto.
— Vou cuidar dele — Niveis falou, sem emoção alguma, mas Elena sabia o que ele sentia. — Se eu sobreviver, é claro. Caso me mate e consiga levar a garota, faça com que ela veja a mãe uma última vez.
— Isso é ridículo, esse diálogo começou porque eu não consigo te vence…
— Eu estou falando sério, Grave! — Os olhos do Lorde do Gelo brilharam mais intensamente e o ar ficou repentinamente frio. Ele se virou para Elena, hesitou por um instante, e então perguntou: — Sei que é pedir muito, mas pode concordar com isso?
— Sim… Tudo bem… — Elena concordou, porque sentia que ele queria que ela fizesse isso.
Niveis se virou para Grave novamente e aguardou uma resposta. O vilão tinha um olhar desolado, mas abriu um sorriso que fez com que lágrimas escorressem de seus olhos.
Porém, essa foi a única resposta que ele deu antes de um enorme pedregulho voar na sua direção.
Quando estava a seis metros deles, o pedregulho esbarrou no chão, se partindo em dezenas de pedaços que continuaram avançando a toda velocidade.
Uma nuvem de poeira subiu no ar, mas Elena pode ver Grave avançando logo atrás dos fragmentos do pedregulho, com dezenas de rochas e objetos voando e girando perigosamente à sua volta.
— Por mim pode ser, Lorde do Gelo. Mas jure em nome de sua majestade que não vai deixar que o matem! E jure que você não matará ele! — Grave gritou enquanto avançava, lançando mais um carro amassado para frente, para se juntar ao ataque.
Nesse momento Niveis sorriu, abriu a palma de sua mão e criou uma nuvem branca e gelada que começou a girar em alta velocidade, aumentando sua massa aos poucos.
O frio que aquilo emanava parecia vir de todos os lados, e não da nuvem. Emanava de cada esquina e beco da cidade. Como se fosse onipresente. E era tão forte que queimava.
— Eu prometo, não pela minha majestade ou pelo meu líder, mas por mim mesmo e, se isso te confortar, pelo meu amigo — ele falou, quase que para si mesmo, como se no fim fosse isso que importasse.
Niveis apontou a mão para frente e a nuvem de gelo foi disparada, se expandindo rapidamente e congelando literalmente tudo no seu caminho, o chão, os postes, os carros e as árvores na rua.
A primeira coisa que a nuvem encobriu foi o pedregulho em pedaços, antes de tudo se transformar em um amontoado de gelo.
Depois disso a nuvem assumiu proporções inacreditáveis, uma verdadeira nevasca, congelando até mesmo os prédios mais próximos.
Elena não conseguiu ver mais nada, pois o frio feria seus olhos, o vento jogava o cabelo em sua cara e seu corpo todo estava dormente e tremendo.
Contudo, quando sentiu uma mão repousar em seu ombro, o frio diminuiu drasticamente, até não passar de algo próximo a um dia comum de inverno.
Por alguns segundos — que pareceram intermináveis — uma confusão de neve se espalhou por toda parte. Estrondos ecoavam de todos os lados, então, abruptamente, tudo cessou.
O silêncio predominou por um longo tempo, assim como o frio permaneceu. A neve começou a abaixar lentamente revelando a devastação deixada por ela.
Tudo estava congelado, estalagmites se erguiam gigantescamente do chão. Amontoados de neve dominavam o ambiente. E em meio disso tudo havia uma silhueta humana, uma estátua de gelo. Elena sabia que aquele era o Grave mesmo sem que ninguém lhe contasse.
— Não olhe, — A voz do Niveis soou ao lado dele, de forma tão terrivelmente triste que fez Elena se virar para ele imediatamente. — Não é nada agradável de se ver… nem de se fazer.
Elena concordou com a cabeça, mas, ainda assim, involuntariamente olhou mais uma vez para o Grave congelado.
Assim que seus olhos pousaram na estátua de gelo ela virou de volta para o herói se sentindo culpada. Ele sorriu, mas parecia um pouco forçado.
— Desculpe ter que te submeter a isso logo depois de toda essa confusão, mas os outros heróis estão chegando, todos recebemos o alerta, e para poder te ajudar e para podermos descobrir o motivo desse ataque você vai precisar…
— Depoimento, claro… — Elena murmurou, se lembrando do último ataque que sofreu.
Se virou para a estátua de gelo mais uma vez.
“Poderia ter sido eu”, ela pensou. “Essa é a segunda vez, e novamente eu não pude fazer nada.”
O medo ainda estava presente nela, entretanto a raiva e a frustração eram maiores.
“Quando vão me deixar em paz! Já não basta terem levado a minha mãe, droga?!”
Ela olhou para o herói ao seu lado, furiosa, e abriu a boca para dizer algo, talvez gritar, mas se interrompeu no mesmo instante.
Por algum motivo pensou no Zen e no que o garoto diria.
“Eles não podem me ajudar. Nem sabem o porquê deles terem me atacado.”
Ela percebeu, amargurada, que Zen Snyder tinha razão.
Se os heróis não conseguiam lidar com as coisas que A Mão fazia, então, certamente, nunca conseguirão encontrar sua mãe.
“Eu estou sozinha. Completamente sozinha enquanto todos os vilões do mundo tentam me capturar”, ela se deu conta, sentindo seu estômago embrulhar.