O Despertar Cósmico - Capítulo 20
A escola parecia especialmente movimentada naquele dia. Os alunos pareciam agitados, assustados. Alguma coisa havia acontecido.
Alan já conseguia reconhecer quando algo muito importante aconteceu, aquela agitação era de pessoas passando informação.
A última vez que os alunos ficaram tão agitados assim foi quando Elena se tornou a Rainha derrotando a Sam.
“Ou quando Elena foi atacada por vilões”, ele pensou, enquanto caminhava pelo corredor.
Sentiu alguns olhares o seguindo, mas não sabia dizer se era o alvo das fofocas. Não que ele se importasse se estivessem falando sobre ele, mas estava curioso.
Por fim decidiu procurar por Amanda e perguntar se ela sabia o que tinha deixado os alunos tão agitados.
Só foi encontrar a amiga quando chegou na sala de aula. A garota estava sentada no mesmo lugar de costume — na última mesa do canto da sala — e estava acompanhada de três pessoas.
Reconheceu as duas garotas sendo Ana Clara e Daniela, duas Classes Baixas, e o garoto era Sans, um Classe Média. Todos os três costumavam ajudar o Conselho Estudantil em suas tarefas diárias.
— E aí está o nosso Rei. — Sans sinalizou com a mão na direção de Alan quando ele se aproximou. — O nosso salvador. Ninguém precisa temer, ele nos manterá seguros.
— Alan, que bom que tu chegou. Tu tem que ver isso! — Amanda falou, enquanto pegava um tablet com Ana Clara com urgência.
— Bom dia para vocês também. Eu estou bem, obrigado por perguntar — falou Alan, pegando o tablet com Amanda.
No tablet estava aberto um site de notícias, e lá relatava um ataque que havia acontecido na manhã de hoje. Um ataque na maior escola de heróis do Brasil, que ficava localizada em Brasília.
O grupo de Vilões A Mão atacou a escola com força total. Dizem que ao todo eram mais de dez vilões com poderes de Classe Alta ou Superior.
A lista de feridos não tinha sido divulgada, mas a lista de mortes sim, cento e trinta e cinco mortos, contando Professores, Alunos e até mesmo Heróis.
Nas imagens divulgadas mostrava a escola toda destruída e pessoas feridas por toda parte.
No meio de todo aquele caos os vilões sequestraram uma garota chamada Ágata, de dezenove anos. Sobre a garota tudo que foi divulgado foi seu nome e seu poder, Desenvolvimento Acelerado de células.
Quando Alan terminou de ler a notícia ele colocou o tablet sobre a mesa, sentindo um grande desconforto que não sabia explicar.
“Por que um grupo de vilões atacaria uma escola só para sequestrar uma garota? Isso não faz sentido”, pensou o garoto.
— Não faz sentido — Amanda falou abruptamente. — Por que eles iriam atacar uma escola só para sequestrar uma garota?
— Pensei isso também… — Alan disse, pensativo, enquanto observava as imagens no tablet.
— Não seria tão estranho assim, afinal, eles atacaram uma floricultura só para sequestrar uma garota — Sans comentou de forma distraída.
Amanda fuzilou o garoto com um olhar furioso que fez Sans se arrepender do que disse no mesmo instante, ou pelo menos se arrepender de ter dito em voz alta.
— Foi mal, só falei a verdade. — Ele ergueu as mãos em forma de rendição.
— Mas ele tá certo, Amanda. Esse grupo atacou até a Elena, não é tão estranho eles atacarem essa garota da notícia também… — a garota chamada Daniela falou.
— A Elena é uma telepata, Dani — Amanda falou, como se aquilo explicasse tudo.
— E daí? — a garota perguntou.
— E daí que esse é o poder mais raro de todos. Obviamente eles a atacaram por causa disso.
— Aposto que desenvolvimento de células é mais — ela retrucou, com um sorrisinho debochado no rosto.
— Tá, cêis não precisam discutir por causa disso. Vamos nos acalmar — Alan falou, enquanto colocava gentilmente a mão sobre o ombro da Amanda, que estava prestes a dizer mais algo.
A garota olhou para ele e Alan soube no mesmo instante que ela estava irritada. Amanda odiava que ficassem falando sobre o incidente que ocorreu com a Elena — provavelmente odiava mais isso do que a própria amiga.
Por sorte as duas garotas não começaram aquela pequena discussão de propósito, então não insistiram no assunto e foram cada uma para seu lugar, assim como Sans.
Alan, por outro lado, aproveitou que tinha ficado a sós com Amanda e decidiu que aquele era o momento ideal para contar para a amiga o que tinha acontecido naquela manhã.
Puxou uma cadeira e se sentou ao lado da mesa dela. Quando terminou de falar, Amanda, obviamente, tinha um olhar surpreso e preocupado no rosto.
— Eles invadiram tua casa!? Como?! Digo, o teu pai é um dos maiores heróis do mundo! Como eles podem ter tanta coragem assim!?
— Não acho que o título do meu pai signifique alguma coisa para eles.
— Mesmo assim! Isso é… Isso é uma afronta à segurança que os heróis lutam pra proteger.
— A segurança, né…? E que segurança seria essa?
— Quê que cê tá falando? Cê sabe muito bem que segurança. Tu visita a UDH quase toda semana. Se tem um de nós que devia saber como funciona o sistema de segurança deles — Amanda falou, olhando confusa para o amigo.
— Eu tô ligado, é que… Há, sei lá… — Ele suspirou, fazendo uma pequena pausa, depois disse: — Eu não tenho me sentido seguro ultimamente. Tu tem?
Amanda abriu a boca para responder, mas hesitou.
Por um momento ela se lembrou do ataque que sua melhor amiga tinha sofrido, lembrou que a mãe dessa mesma amiga tinha sido sequestrada, e se lembrou da notícia que tinha acabo de ler no tablet da Daniela.
“Um grupo de vilões invadindo uma escola cheia de Professores altamente treinados, um local que, em teoria, só é menos seguro que a sede da União dos Heróis”, Amanda refletiu por um momento, e sentiu como se tudo em que ela acreditou a vida inteira não fizesse sentido.
— Eu não sei… Talvez tu tenha razão… A verdade é que heróis não me passam segurança desde que eu perdi os meus pais… Mas nesse caso cÊ não deveria falar com seu pai? Ou só contar para algum herói, sei lá. Isso é perigoso Alan, tu tem que contar pra alguém.
— Eu tô ligado, mas não vou ir correndo pedir a ajuda dele. Pode ficar deboa, eu vou ficar bem. Cê sabe que eu sou forte.
— Não aja como uma criancinha, tu tá parecendo a minha irmã. Estamos falando de um grupo de vilões, Alan. Quando eles enfrentam alguém não é para roubar um título bobo de Rei, é para matar.
— Eu boto fé, Amanda. Mas eu também não sou só um título bobo de Rei, deveria saber disso. Não passo meu tempo na UDH só lutando contra heróis e robôs, eu tenho aulas para me preparar para ser um herói, aulas com profissionais.
— Tá, entendo. Mas mesmo assim, Alan. Sabe quantos heróis a Justice Angels já matou? Eles não são brincadeira, tu tem que contar para alguém. Isso é sério.
Alan suspirou desanimado, pois sabia que Amanda só iria ficar satisfeita depois que ele concordasse com ela, e gentilmente pegou a mão dela sobre a mesa enquanto dizia:
— Olha, bora fazer assim, eu vou conversar com meu pai sobre isso. — Ele começou a acariciar a mão dela, enquanto, com sua outra mão, passava a mão na cabeça dela. — Mas nem fodendo que vou pedir uma equipe de segurança vinte e quatro horas lá em casa, se é nisso que tu está pensando.
Amanda suspirou enquanto revirava os olhos e disse;
— Claro que eu não espero algo desse tipo. Orgulhoso como tu é, eu tenho sorte de tu concordar em falar com teu pai. — Ela fez uma pausa, e, olhando nos olhos do Alan, ela concluiu: — Mas cê também não pode esperar que eu não fique preocupada.
— Há, cê tá preocupada comigo? Que fofo.
Alan sorriu ao ver Amanda franzir as sobrancelhas, enquanto tentava esconder o sorriso, diante da provocação dele. Se empolgando, ele apoiou os braços na mesa dela e se inclinou um pouco mais para perto enquanto dizia:
— Não tem como eu não ficar orgulhoso desse jeito.
— Para de ser bobo. — Ela riu. — Sabe que eu não tô falando disso.
— Eu sei, mas se eu não posso te impedir de ficar preocupada, tu não pode me impedir de ser um pouco bobo com estou contigo — ele praticamente sussurrou cada palavra, os olhos analisando cada extremidade do rosto da Amanda.
Um sorriso travesso se formou no rosto dela ao notar a insinuação oculta, e isso fez o sorriso de Alan se alargar, os olhos brilhando de expectativa.
— Meio bobo como? Tipo quando tu ficou com ciúmes do Zen, lá na floricultura? — Ela perguntou, e gargalhou ao ver a expressão desconcertada do Alan.
— Eu? Com ciúmes? Daquele cara? Claro que não, isso nem faz sentido. Cê ta doida? Tipo, eu teria ciúmes de que? Do quão babaca ele é? — Ele se recostou na cadeira novamente e cruzou os braços, como sempre fazia quadra tentava fingir que não estava irritado.
“Ele nunca consegue ficar irritado comigo, mas é péssimo em esconder isso”, ela pensou enquanto ria.
— Foi o que pareceu — ela falou, quando finalmente conseguiu parar de rir, e só porquê Alan a encarava franzindo o cenho. — Tu chegou batendo a mão no balcão tão dunada que eu achei que cê ia pular nele naquela hora.
Alan grunhiu enquanto revirava os olhos e Amanda riu, acertando um tapinha brincalhão no braço dele.
— Tô zoando, não fica puto — Alan abriu a boca para falar algo, mas Amanda ergueu a mão para silenciá-lo. — Mas cê devia dar uma chance pra ele.
— Se acha? — O sorriso no rosto do Alan foi um indício mais do que suficiente para a garota ver que não viria coisa boa pela frente — Não ficaria com ciúmes? Eu não curto homens, mas se quiser chamar ele pra cama com a gente podemos tentar.
Amanda gargalhou tanto que se inclinou sobre a mesa, sentindo a barriga doer de tanto rir. Quando conseguiu uma brecha para respirar ergueu o rosto para o Alan e disse:
— Acho que ele toparia, mas e tu? Daria uns pegas no Snyder? Ele é um gato hein.
Alan abriu a boca para responder, já começando a rir da própria piada que faria, mas foi interrompido quando seu celular tocou em seu bolso.
Alan deixou escapar um suspiro, parecendo decepcionado, como se tivessem interrompido algo importante, e então pegou o celular no bolso.
Assim que viu o número de quem estava ligando ele congelou.
— O que foi, Alan? Quem é? — Amanda questionou, cessando instante sua crise de riso ao ver a expressão no rosto dele.
— É o meu pai… — ele respondeu, parecendo um pouco descrente. — Ele nunca me liga… Alguma coisa aconteceu…