O Despertar Cósmico - Capítulo 21
Os corredores do hospital sempre são frios e passam um sentimento de vazio. Os seus passos ecoavam por toda parte enquanto ele avançava em silêncio.
Pela janela conseguiu ver um médico que saiu para o quintal e estava fumando um cigarro. Ao passar na porta de um dos quartos viu uma família reunida ao redor de uma criança deitada na cama, e um palhaço pulando e dançando de um lado para o outro pelo quarto.
“Tudo sempre parece tão triste em um hospital”, Zen pensou enquanto seus passos e seus pensamentos eram as únicas coisas que ouvia. “Talvez por isso eu não me sinta tão desconfortável aqui. Um lugar frio e vazio, é como se eu estivesse em casa de novo.”
Quando chegou na sala que estava procurando, parou ao lado da porta por um segundo.
Sabia exatamente o que iria ver, mas ainda assim temia encontrar algum ferimento grave ou, por mais ridículo que pudesse parecer, uma cicatriz muito feia.
Zen Snyder respirou fundo, se repreendendo por esses pensamentos idiotas, e então entrou no quarto.
Um homem de cabelo branco e olhos verdes estava parado ao lado da cama do hospital, com um sorriso alegre no rosto.
“Sempre um maldito sorriso no rosto”, pensou Zen.
Na cama do hospital estava Elena, com faixas ao redor dos braços e alguns arranhões e cortes pelo rosto.
Os olhos dele analisaram cada centímetros dela, tentando encontrar algo fora do lugar, algum ferimento ou qualquer coisa. Mas então ele perdeu completamente o foco ao ouvir a risada dela.
Elena estava rindo. Rindo de um jeito que não ria a muito tempo. O homem de cabelo branco parecia ter contado algo engraçado para ela, e Elena estava quase chorando de tanto rir.
Uma risada tão calorosa que era reconfortante, e fez todo o desconforto que o Zen estava sentido desaparecer como se nunca tivesse existido.
O garoto ficou parado na porta do quarto, escorado com o ombro no batente enquanto observava ela rindo e conversando com o homem.
Via os lábios dela se moverem quando falava algo e se curvarem frequentemente em um sorriso, mas não prestava atenção no que eles conversavam.
Ela estava rindo novamente, e isso era tudo que importava.
Mas então tudo acabou quando os olhos azuis e brilhantes do homem se desviaram na direção do garoto, e Zen se pegou pensando que preferia não ter sido notado.
Preferiria que ela tivesse continuado rindo como antes.
“Porque eu não consigo fazer ela rir assim” ele pensou com pesar.
— Zen, que bom que decidiu se juntar a nós. — O homem de cabelo branco sorriu — Eu já estava começando a achar que não iria visitar sua namorada.
— Como ela está? — o garoto perguntou enquanto avançava na direção da cama, olhando diretamente para Elena, que também o olhava de volta com o rosto vermelho como um tomate.
— Vai sobreviver. Os arranhões foram muito sérios, quase sangraram — Niveis falou sarcasticamente enquanto ria.
Zen parou ao lado dele, o encarnado com olhos frios e intensos, enquanto questionava:
— E ele?
Nesse momento o sorriso do herói vacilou por um momento, e então desapareceu.
Um semblante triste tomou conta do rosto dele, e quando respondeu seu um tom era tão frio quanto o gelo que conseguia criar e manipular à vontade.
— Morto.
— Ótimo. — As palavras saíram da boca de Zen de forma automática, e só depois de falar e ver a forma como olharam para ele que percebeu que aquela talvez não fosse a melhor coisa a se dizer nessa situação.
Mas ele também não fez questão de corrigir.
— O que cê tá fazendo aqui? — Elena perguntou, olhando curiosa do Zen pro Lorde do Gelo.
— Eu chamei — o Lorde respondeu, como se fosse óbvio. — Você não tem ideia do interrogatório que ele me faria quando eu contasse o que aconteceu com você. Achei melhor chamar ele aqui pra ele ver, com os próprios olhos, que você está bem.
— Bem é relativo — Zen falou, encarando Elena com tanta intensidade que a garota prendeu a respiração. — Mas você fez bem em me chamar, Diebus.
— Diebus? — Um pequeno sorriso se formou no rosto da Elena. — Ele é o Diebus? Aquele Diebus? Que cê falou que era como um irmão para tu?
O Lorde do Gelo, ou Diebus, riu alto e passou o braço em volta do pescoço do Zen, puxando ele para um abraço apertado — praticamente estrangulando o garoto — enquanto ria e dizia;
— Que fofo, Zen. Não sabia que você pensava assim de mim. Estou comovido.
— Vai te foder. — Zen se desvencilhou do abraço do Diebus e empurrou ele para longe, mas estava sorrindo quando fez isso.
Por um momento Elena pensou que ele estivesse até mesmo um pouco envergonhado, mas Zen Snyder não ficava envergonhado.
Elena observou aquela cena com um misto de divertimento e surpresa. Nunca tinha visto o Zen agindo daquele jeito. Ele parecia um garoto normal quando estava conversando com Diebus.
“Ele parece feliz”, ela pensou. “Acho que é a primeira vez que eu vejo ele tão feliz assim.”
— Mas é isso aí, Elena. Eu e o Zen somos como irmãos, unidos pelo amor à telepatas — Diebus falou, sorrindo de forma brincalhona.
Zen riu e acertou o soco no braço do Diebus, que começou a esfregar o local atingido, para aliviar a dor, enquanto ria sem parar.
— Você é muito babaca — Zen falou, em seguida se virou para a Elena e acrescentou: — Não dá muita moral pra ele não. O Diebus é o cara mais otário que você vai conhecer. Vai por mim, eu sou o segundo.
Elena, que estava observando os dois com um sorriso bobo no rosto, não conseguiu se conter e começou a rir enquanto dizia;
— Eu gostei dele… — Ela fez uma pausa para rir mais um pouco e acrescentou: — Ele consegue te provocar, tenho que aprender isso com ele.
— É isso aí garota, esse é o espírito! Vamos atormentar o Zen juntos. Eu tenho muitos segredos sobre ele que eu posso te contar. — Diebus sorriu, parecendo animado, e ofereceu a mão para um toque de comemoração.
— Ah, pode apostar que eu vou querer saber de cada um deles. — Ela sorriu e bateu com a mão na mão do Diebus, que pareceu ficar ainda mais animado depois do toque.
— Se vocês dois me dão licença, eu vim aqui por um motivo. — Zen olhou sério do Diebus para Elena, e os dois pararam de rir no mesmo instante, embora Elena não tenha conseguido esconder o sorriso divertido no rosto.
— Você tem razão, vou deixar vocês dois conversarem — o herói disse, fez uma pausa e, olhando para a Elena enquanto acenava em despedida, ele concluiu: — Até mais, Elena. Espero que tenhamos a chance de conversar melhor numa próxima vez.
— Espero que sim, Diebus. Tenho muitas perguntas para te fazer.
Diebus já estava caminhando em direção a porta quando parou, se virou para trás e, com um sorriso no rosto, disse:
— Aqui vai um fato muito interessante, só para você não ficar na vontade; O Zen tinha medo de aranha quando criança.
Disbus mandou uma piscadela para a Elena e saiu do quarto, fechando a porta quando passou por ela.
Um enorme sorriso se formou no rosto da garota enquanto ela olhava para Zen, tentando conter a risada.
— Então… Aranhas, né?
— Há, nem começa, Elena. Quem é que não tem medo de aranhas? Aquelas coisinhas esquisitas com um monte de patas são assustadoras — Zen falou, enquanto encenava com os dedos das mãos as patinhas de uma aranha de movendo.
Elena riu enquanto se ajeitava na cama, se sentando com as costas encostada na cabeceira, e disse;
— Não estou discordando docê, as aranhas são assustadoras. Mas logo você ter medo delas? Achei que cê não tinha medo de nada.
— Eu tinha quando criança, uma amiga me ajudou a superar esse medo — Zen suspirou profundamente e, quando se sentou na beirada da cama, fitou a Elena com um olhar sério.
Automaticamente ele olhou para os cortes e arranhões no rosto dela, em seguida segurou a mão dela e começou a tocar, suavemente, as faixas em seu braço.
— Mas eu não vim aqui falar sobre a minha aracnofobia, vim para ver como você está. — Ele ergueu o rosto e seus olhos se encontraram com os da garota. — Então? Como você está?
— Bem… — ela respondeu, sentindo seu rosto esquentar e se amaldiçoando por um simples toque do Zen deixar ela tão envergonhada assim. — Como cê mesmo pode ver, só sofri alguns arranhões, nada muito sério. Eu acho que poss…
— Elena — Zen interrompeu, e quando olhou para o garoto Elena se surpreendeu com a seriedade no olhar dele. — Você quebrou uma costela e deslocou o pé. Eu sei dos seus ferimentos, não precisa fingir que tudo que aconteceu foram esses cortes superficiais.
— Desculpa… — Ela murmurou sem graça. — Eu não queria que cê ficasse preocupado atoa… A médica daqui já me curou. O poder dela é muito bom. Eu já tô bem.
— Me preocupar? Me preocupar com o que? Você só se tornou alvo do maior grupo de vilões do mundo. Não há nada com o que se preocu…
Zen parou de falar no meio da frase, percebendo que estava se deixando alterar, respirou fundo e só depois que sentiu que estava mais calmo continuou;
— Foi mal, não vim aqui pra te falar coisas que você já sabe. Vim perguntar como você está, e não estou falando fisicamente.
Elena hesitou em responder, ficou passando a mão que o Zen não estava segurando no lençol da cama tentando prolongar aquele silêncio ao máximo para não ter que responder àquela pergunta.
Mas a forma como o Zen olhava para ela a fez perceber que ele não desistiria até ter uma resposta, então, por fim, ela disse;
— Eu fiquei apavorada. Aquele homem, acho que o Lor…o Diebus chamou ele de Crave, eu acho. Ele não era muito mais forte que eu, mas mesmo assim… eu não sabia o que fazer.
As lágrimas iluminaram seus olhos, fazendo o verde brilhar e refletindo a luz da sala. Zen gentilmente ajeitou uma mecha do cabelo dela, tomando cuidado para não interrompê-la.
— Estava tremendo de medo o tempo todo. Tinha um ônibus cheio de passageiros perto de mim quando ele atacou, eu tentei proteger eles usando a minha telecinése, mas… Eles… Eu… — A voz da Elena falhou e lágrimas ameaçavam escorrer de seus olhos.
Zen percebeu a garota hesitando, os lábios trêmulos, tentando conter um choro que insistia em se libertar, e então se aproximou, passando a mão pelo rosto dela e a acariciando de leve enquanto dizia:
— Tá tudo bem. Tudo vai ficar bem agora, Elena.
— Não, não vai não. — Ela negou com a cabeça, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto sem que ela conseguisse conte-las. — Eles morreram, Zen. Eu os vi morrerem e… e não pude fazer nada. Eu me sinto um lixo, Zen.
A garota praticamente se jogou em cima do Zen e o abraçou. Ele ficou surpreso, mas a abraçou de volta tentando confortá-la o melhor que podia.
— Eu tô com medo, Zen. Tenho medo do que eles vão fazer com a minha mãe, tenho medo deles virem atrás de mim novamente ou pior, irem atrás da Amanda e do Alan para tentar me atingir… Eu tô com muito medo. Queria ser forte como tu, mas eu não consigo….
— Eu não sou forte, Elena.
— É sim… Cê tá sempre com a cabeça erguida, não importa o que aconteça. Eu queria ser assim… Queria ser inabalável como tu…
— Elena
Zen se afastou e segurou o rosto da garota com as mãos, fazendo ela olhá-lo nos olhos.
— Você é forte sim. Você é a garota mais incrível e forte que eu já conheci. Ninguém teria reagido bem no seu lugar. Você foi atacada por um herói de Classe Superior, um homem experiente em combate, responsável por diversos ataques em todo o País. Nem o Estrelinha Dourada, pai do seu amigo, derrotaria ele.
Um pequeno sorriso se formou no rosto da garota ao ouvir a forma como ele falava do Edgar. Achava engraçado a rivalidade que se formou entre o Alan e o Zen assim que eles se conheceram.
— E você não só lutou de igual para igual contra ele, como também salvou pessoas enquanto fazia isso. Você foi foda pra caralho, Elena. Tem que entender que existe um limite do que uma pessoa consegue fazer sozinha, e você foi além desse limite, se superou nesse quesito, mas continua se martirizando por coisas que estavam longe do seu alcance. Você tem que parar com isso.
— Mas…
— Sem mas, Elena. Repete comigo; Eu sou foda pra caralho. — Zen tinha um sorriso no rosto, mas estava falando com seriedade.
— Eu não vou falar isso… é constrangedor. — Ela esboçou um sorriso vacilante no rosto, as bochechas assumindo um tom rosado.
Mas Zen não se deu por satisfeito, e, enquanto apertava as bochechas da garota até que ela fizesse um biquinho com os lábios, ele disse;
— Vamos Repete. Eu. Sou. Foda. Pra. Caralho! — Ele sorriu enquanto pressionava as bochechas dela, fazendo ela abrir e fechar os lábios como se estivesse falando, mas tudo que Elena conseguia fazer era murmurar coisas inaudíveis.
Elena começou a rir e acertou um soco de brincadeira no Zen, fazendo o garoto soltá-la e se desequilibrar na cama por um momento e, quando ele se recompôs, ela apoiou a cabeça no seu peito.
Zen passou a mão na cabeça dela, acariciando o seu cabelo gentilmente, se sentindo privilegiado por poder ouvir aquela risada.
Quando parou de rir a garota levantou o rosto, tocando suavemente seus lábios no dele e, com um sorrisinho no rosto, ela sussurrou;
— Obrigada…. Por vir até aqui — ela fez uma pequena pausa para beijar ele e depois acrescentou: — De verdade.
Zen sorriu e beijou a garota de volta, dessa vez com mais intensidade, uma de suas mãos tocando a cintura da garota enquanto a outra passeava gentilmente pelo rosto dela.
— Se esse é o meu prêmio… Então eu preciso fazer essas visitas mais vezes — ele falou, com seus lábios ainda se tocando.
— Com certeza precisa. Cê não foi me visitar nenhuma vez. Acha que pode só aparecer do nada e conseguir um beijo meu? Pois saiba que consegue sim, mas eu preferiria que cê me visitasse mais.
Elena riu e o beijou de novo, envolvendo os braços no pescoço dele e se deitando na cama, levando o garoto junto.
Zen, apesar de surpreso, não perdeu tempo em acompanhar a garota, precisando subir na cama e se posicionar sobre Elena para continuar beijando-a.
A garota desceu a mão pelo ombro do Zen e deslizou os dedos pelo braço dele, se surpreendendo com o quão musculoso ele era, e gostando muito disso.
A mão do Zen passeava provocantemente pela cintura dela, com uma mistura de firmeza e gentileza que deixou Elena sem ar, e os beijos dele começaram a passear pelo rosto dela, descendo até o pescoço.
Elena passou a mão pelo cabelo do garoto, sentindo sua respiração ficando ofegante. Mas então, abruptamente, a porta do quarto foi aberta.
— Elena! — Amanda entrou no quarto de uma vez, e com Alan logo atrás dela.
Os dois tinham saído correndo da escola assim que receberam a ligação do pai do Alan avisando que Elena tinha sido atacada por um vilão no caminho até a escola.
Não dá para saber quem ficou mais preocupado, se foi Alan, que já sabia como um ataque de vilões podia ser perigoso por ter presenciado isso com os próprios olhos.
Ou se foi Amanda, que justamente por só ter ouvido os amigos falarem da noite que foram atacados ficou imaginando tudo de pior que podia ter acontecido.
Mas quando entraram no quarto e viram Elena e Zen agarrados aos beijos na cama do hospital, os dois se sentiram igualmente idiotas por terem ficado preocupados sem motivos.