O Despertar Cósmico - Capítulo 22
Apesar da entrada abrupta da Amanda no quarto, foi só quando a Doutora que os acompanhava começou a rir que Elena e Zen perceberam que alguém tinha entrado no quarto.
Elena deixou escapar um gritinho surpreso e, com um misto de vergonha e desespero, a garota empurrou Zen, em uma tentativa de tirar o garoto de cima dela.
Até que funcionou, funcionou bem até demais. O garoto foi jogado de cima da cama, sem conseguir reagir a tempo, e caiu sentado no chão.
A Doutora não conseguiu se segurar e começou a rir ainda mais, gargalhando de forma desenfreada, ao ponto de chamar toda a atenção para si.
Alan e Amanda, que estavam ao lado dela, se viraram para ela achando aquela reação extremamente estranha.
Elena fazia o possível para esconder o rosto, que estava vermelho como um tomate, embaixo dos lençóis.
E Zen estava se levantando do chão, dirigindo a Doutora, que ainda ria sem parar, um olhar frio e intimidador.
— Ai, Meu Deus… Eu… Eu vou morrer… De rir…. — a Doutora conseguiu falar em meio a risadas, os olhos dela se enchendo de lágrimas e a barriga começando a doer de tanto rir.
— Aline, já chega — o garoto falou, em um tom tão sério que fez todos olharem para ele, inclusive a doutora, que continuava rindo, mas parecia se esforçar para interromper sua crise.
— Desculpa, Zen, mas isso foi demais… Eu não tô aguentando…
A mulher voltou a rir quando olhou para a Elena e a imagem da garota derrubando o Zen no chão veio à sua mente.
— Eu preciso contar isso pro Alex… Ou pro Diebus. Aí caralho, eu preciso contar isso pra alguém… Eles vão te zoar tanto.
Zen deixou escapar um longo suspiro enquanto passava a mão no rosto, pois sabia que era exatamente isso que iria acontecer.
Aline respirou fundo, em uma tentativa de parar de rir, e caminhou em direção a cama, ainda com um sorriso no rosto. A médica tinha um longo cabelo loiro e olhos — extremamente — azuis.
Conforme ela se aproximava da cama, Elena não conseguia evitar de pensar o quão linda a mulher era e se perguntar como ela e o Zen se conheciam.
— Você parece estar bem melhor agora, Elena — Aline fez uma pausa para olhar pro Zen e então acrescentou: — Acho que o horário de visita lhe fez bem. — Ela voltou a olhar para a Elena. — Mas você sabe que isso vai contra as políticas do hospital, não é?
— Ai Meu Deus, desculpa. Eu não sei porque fiz isso. Desculpa mesmo. Eu…
— Ela só está te provocando, Elena. Não ligue pra isso. — Zen se virou para a Elena e, por um momento, pareceu que ele iria levar a mão até o rosto dela, mas mudou de ideia no meio do caminho.
— Não, não tô não. É realmente contra as políticas do hospital, mas eu não vou falar pra ninguém, relaxa. — Aline sorriu amigavelmente para a Elena.
— Claro que não vai, Aline. Eu sou o maior investidor desse hospital, se eu quisesse eu beijaria ela na sua sala — Zen falou, enquanto olhava para Aline daquele jeito arrogante que só ele possuía.
Aline abriu um sorriso no rosto e parecia estar prestes a dizer algo, assim como Elena, que olhou surpresa para Zen e parecia querer perguntar algo, mas ambas foram interrompidas pela Amanda, que bateu palma, chamando a atenção para ela, e questionou com impaciência;
— Alguém pode me explicar que merda tá rolando aqui?! O pai do Alan ligou para ele avisando que tu tinha sido atacada por um vilão e a gente veio correndo pra cá. Eu fiquei preocupada, Elena! Mas que merda! O vilão que tava te atacando era o Zen?!
— Não deixa de ser verdade… mas em minha defesa eu quero dizer que eu quem fui atacado aqui — Zen comentou, erguendo as mãos como se estivesse se rendendo.
— Cala a boca, idiota. — Elena acertou um tapa no garoto, com um sorriso divertido no rosto, e depois olhou para a amiga. — Eu tô bem, Amanda. De verdade. Desculpa te preocupar….
Houve uma pequena pausa, e um flashback do ataque do Grave veio à mente da Elena. A garota estava com um semblante triste quando voltou a falar.
— Um vilão realmente me atacou quando eu estava indo para a escola… Parece que eu virei um alvo deles agora — Ela tentou esboçar um sorriso brincalhão, mas não transmitiu muita confiança nisso. — Mas o Diebus me salvou… quer dizer, o Lorde do Gelo.
— O que tu quer dizer com se tornou um alvo deles? — Alan perguntou, enquanto ele e Amanda se aproximavam da cama onde Elena estava deitada.
Zen deixou escapar uma risadinha, que Elena percebeu que era forçada, e disse, olhando para Alan com arrogância;
— Você é mesmo ingênuo, não é, garoto? O que você acha que ela quer dizer com isso?
— Não lembro de ter falado com tu. — Alan parou em frente ao Zen, encarando o garoto de forma ameaçadora.
— Que engraçado. Você acha que eu preciso que você fale comigo para eu ter permissão pra falar o quão idiota é a sua pergunta? — o Zen perguntou, encarando Alan de volta.
E apesar de Zen ser apenas um pouco mais alto que Alan, ele parecia encarar o garoto de cima, como se ele estivesse abaixo dele em uma hierarquia inexistente.
— Parem de brigar entre si. — Elena olhou irritada para os dois. — Parecem duas crianças.
Mas Zen e Alan continuaram se encarando, como se nem tivessem escutado o que a garota falou.
A tensão entre os dois era tão densa que parecia tornar o ar rarefeito, mas foi Aline quem quebrou aquele momento de tensão ao passar o braço em volta do pescoço do Zen, o puxando para o lado, enquanto dizia;
— Arrogante como sempre, Zen. Mas não fique irritado com o garoto, ele é filho do Star, você não quer comprar uma briga com ele.
— E por que eu não iria querer isso? Como seria diferente das outras vezes? — Zen olhou para Aline sério, enquanto se desvencilhava do braço da mulher.
— A diferença é que agora sua namoradinha é amiga do filho do Estrelinha, Zen. A garota pode ficar irritada se você bater no pai do amigo dela. Ela não é a Jesse, que aceitava tudo que você fazia sem questionar.
— Jesse? Quem é Jesse? — Elena perguntou curiosa.
— Ah, vocês ainda não tiveram a conversa sobre os Ex? — O sorriso no rosto da Aline foi lentamente desaparecendo e ela olhou preocupada para o Zen. — Acho melhor eu parar de falar então, antes que eu fale algo que não devia.
— Você já falou, Aline — Zen soou mais frio que o normal. — Acho que você deveria conferir seus outros pacientes, eles podem estar precisando de você.
— É claro, eu vou, mas antes… — Aline se virou para a Elena novamente. — Preciso verificar como o corpo dela está reagindo ao meu poder.
Quando terminou de falar, os olhos azuis de Aline brilharam intensamente, o azul se tornando mais vívido e brilhante.
A médica encarou Elena, olhando minuciosamente para cada parte do corpo da garota, e reservando um segundo a mais para as costelas, e quando finalmente se deu por satisfeita o brilho de seus olhos começou a diminuir.
— Está tudo perfeito. Fiquei com medo de que sua telepatia tentasse impedir meus poderes de cura de agir, mas não aconteceu.
Os olhos azuis da mulher perderam o brilho, mas não a intensidade daqueles azul vivo.
— Sua costela quebrada já está quase curada, desde que não faça nenhum esforço físico nas próximas trinta e duas horas elas vão se curar como previsto. Se sentir um gosto amargo na boca quero que me ligue…
Ela pegou um cartão no bolso e entregou para a Elena.
— Às vezes o meu poder não reage bem ao organismo da pessoa, mas não se preocupe, o máximo que pode acontecer nesses casos é um gosto amargo surgir na sua boca ou diarreia. Caso apresente algum desses sintomas me ligue, tudo bem?
— Tá… eu ligo seu eu tiver… os sintomas…. — a garota respondeu, seu rosto enrubescendo levemente.
Aline ofereceu um sorriso simpático para a garota e se despediu de todos, mas quando estava prestes a sair da sala, Zen a chamou:
— Aline. — A mulher parou na porta e se virou para trás. Zen nem chegou a olhar para ela quando perguntou; — Como está a Alice?
— Como você acha? Com saudades. Você prometeu que a levaria no parque aquático? — Aline perguntou, e, quando Zen acenou afirmativamente, um sorriso surgiu no rosto da médica. — Que fofo, Zen. Mas uma promessa não é nada se você não a cumprir. Leve a criança ao parque aquático, não custa nada.
Ao terminar de falar Alice girou sobre os calcanhares e saiu pela porta, fechando-a assim que saiu.
No mesmo instante os olhos curiosos de todos recaíram sobre Zen, exceto por Alan, que não olhava para o garoto com curiosidade, mas sim desconfiança.
Elena foi a primeira que fez uma das perguntas que todos queriam fazer.
— Quem é Alice?
— Uma garotinha que eu conheci há alguns anos atrás….
Ele se virou para a Elena, e a garota percebeu instantaneamente, pela expressão no rosto dele, que esse era um assunto do qual ele não gostava de falar. Mas mesmo assim o garoto continuou a falar:
— A mãe dela morreu em um acidente nas Indústrias Caeli, e depois disso Aline começou a cuidar dela. Ela pode manipular a Energia Cósmica, assim como eu, então tenho ajudado ela a treinar esse poder.
— Ah… — Elena abaixou o olhar, constrangida e sem graça por tocar nesse assunto.
— Então tu pode manipular a Energia Cósmica… assim como eu — Alan murmurou, com seriedade. Como se, de tudo que Zen disse, ele só tivesse escutado aquela parte.
Zen olhou para o garoto com um sorriso arrogante. Estava, praticamente, escrito na sua cara o que ele queria dizer.
“Não como você, muito melhor”
Mas ele não colocou em palavras, apenas encarou Alan com o máximo de arrogância que alguém poderia demonstrar.
— E quem é Jesse? — Foi Alan quem perguntou, mas Elena também queria saber, então olhou para Zen, prestando bastante atenção ao que ele diria.
Mas Zen Snyder nem hesitou quando respondeu, em tom de indiferença:
— A minha ex-namorada. Terminamos há alguns anos, mas Aline gosta dela e não perde uma oportunidade para mencioná-la. Nada com o que você precise se importar.
Mas apesar do tom de indiferença algo no que ele disse fez o Alan agir.
O garoto repentinamente avançou, agarrando o Zen pela gola da blusa e o jogando contra a parede.
Assim que Zen bateu com as costas na parede, o antebraço direito do Alan se alojou no pescoço dele, o empurrando — e pressionando — contra a parede e o impedindo de se mover.
No rosto do Zen havia uma máscara de inexpressividade, e ele encarava Alan com calma e serenidade, quase como se esperasse por aquilo.
Alan, por outro lado, tinha apenas raiva e fúria tomando conta da sua expressão facial, e, ignorando completamente os protestos e questionamento da Elena e da Amanda, o garoto pressionou ainda mais forte o pescoço do garoto.
Quando falou, não foi ao garoto que se dirigiu, mas a Amanda, que havia perguntado — pela décima vez — o que ele estava fazendo:
— Jesse é o nome da mina da Justice Angels que foi na minha casa hoje de manhã! Ele conhece ela, Amanda! Isso é muito suspeito!