O Despertar Cósmico - Capítulo 23
Elena mandou o amigo soltar Zen enquanto Amanda, por sua vez, desistiu de persuadir Alan e agora dirigia ao Zen um olhar pensativo.
Mas Zen era, dos quatro, o mais calmo de todos. Agia como se Alan não estivesse com o braço posicionado perigosamente em seu pescoço.
A calma no rosto dele diante daquela situação era desconcertante. Mas assim que ouviu o que Alan disse, um sorriso lentamente se formou no seu rosto.
— E você concluiu que só existe uma Jesse no mundo inteiro? — ele perguntou.
Mas Alan apenas o empurrou com mais força, fazendo ele bater a cabeça contra a parede, e apertando ainda mais forte o pescoço dele com seu antebraço.
Zen arfou, se engasgando por um momento, e dessa vez teve de levar as mãos até o braço do Alan, mas não fez menção de tentar impedi-lo ou empurrá-lo para longe.
— Cala a porra da boca, menó, que eu ainda não falei com tu! — Os olhos do Alan foram dominados pela energia azul.
Zen sorriu, mas não disse nada.
Talvez a ameaça de Alan tenha funcionado e ele temeu o que o garoto faria se fosse desafiado, ou talvez ele simplesmente queria observar o desenrolar das coisas.
— Do que cê tá falando, Alan?! A Justice Angels foi até a sua casa?! — Elena questionou com urgência na voz. — Alguém me explica que merda tá acontecendo aqui!!
Mas Alan não respondeu, e, ignorando completamente o que a amiga tinha perguntado, foi a vez da Amanda dizer;
— Ele meio que tem razão, Alan… não podemos concluir nada precipitadamente.
— Pro inferno com isso! — Alan retrucou, deixando a raiva subir à cabeça. Seus olhos brilhando mais intensamente. — Eu vou surrar esse idiota até ele falar a verdade!
— Eu perguntei…! — Elena fez uma pausa e a sua telecinese envolveu o corpo do Alan e os braços do garoto se abriram, como se puxado por cordas, ao mesmo tempo em que ele era arrastado para longe do Zen.
E só então ela voltou a concluir sua pergunta:
— Que merda tá acontecendo aqui?!!!
Alan tentou usar a força para se mover, mas sentiu seus ossos rangerem de dor quando a força invisível da telecinése o forçou na direção contrária.
Seus pés estavam a dez centímetros do chão, os dentes trincados de dor. Amanda correu até o amigo, e disparou um olhar furioso para Elena.
— O que cê tá fazendo, Elena?! Solta ele!
— O que eu tô fazendo?! Eu que deveria perguntar isso! — Elena retrucou, envolvendo o próprio corpo com o manto invisível de poder para se apoiar enquanto se levantava.
Mas antes mesmo que Elena tocasse com os pés no chão o Zen já estava parado ao seu lado, repousando as mãos em seu ombro e segurando ela, a impedindo de se levantar e a encarando com um olhar sério.
— Aline disse para não fazer nenhum esforço físico ou pode prejudicar sua recuperação, então fique quietinha aí, mocinha.
— Não. — Ela empurrou os braços do Zen para o lado e se levantou, encarando ele furiosa. — Cês vão me explicar exatamente o que tá acontecendo! Que merda! Eu tenho direito de, pelo menos, saber o motivo de vocês estarem brigando!
Zen recuou um passo para trás, olhando surpreso para a garota. Nunca tinha visto a Elena irritada daquele jeito, e descobriu que gostava daquilo.
Não pelo fato de ela estar irritada com ele, e, muito provavelmente, a ponto de bater nele a qualquer momento, mas gostava da seriedade dela, da autoridade que ela impunha.
Afinal, ela era a mais forte ali, e, naquele momento, era a pessoa que ninguém iria querer desafiar.
Elena se virou para Alan e, no mesmo instante, a força telecinética que o envolvia desapareceu, deixando ele cair de joelhos, apoiando com as mãos no chão.
Ao ver aquela cena o sorriso no rosto de Zen aumentou ainda mais.
— Alan, cê pode me explicar o que tá acontecendo ou só consegue fazer isso com os punhos? — Elena perguntou.
“Se for…”, Zen pensou, com um sorriso divertido no rosto. “você está perdido, Alan. Não terá a menor chance”.
Alan se levantou e disparou um olhar ameaçador para o Zen, que respondeu com uma piscadela provocativa.
Mas dessa vez Alan não se deixou levar pela raiva, sabia que era isso que o garoto queria e só por esse motivo não voou na direção dele e quebrou seu nariz com um soco.
Ao invés disso, ele olhou para a amiga e explicou tudo o que aconteceu.
Falou da aparição repentina da Justice Angels na sua casa naquela manhã. Disse que o Imperador em pessoas foi até ele. Contou tudo que o vilão disse, e como se sentiu impotente na sua presença. Explicou sobre a ilusão em que a garota o colocou, e de como aquilo parecia real.
Quando terminou de falar um silêncio absoluto dominou o quarto. Ninguém dizia nada, mas quase dava para ouvir a mente de todos trabalhando, fazendo teorias incabíveis e pouco prováveis, tentando arrumar respostas para a pergunta que todos se faziam:
Por que um dos maiores grupos de vilões iria atrás do filho do maior herói do país?
Elena era a mais intrigada de todos. Era inevitável perguntar se o interesse da Justice Angels no Alan tinha alguma coisa a ver com A Mão estar colocando vilões à procura dela.
Se os dois grupos de vilões estivessem agindo separadamente, mas com ambições parecidas, deveria existir algum padrão nos ataques deles que explicasse o porquê dos dois terem sido escolhidos.
Mas ela não conseguia enxergar tal padrão, não importava o quanto tentasse.
Zen observava Elena e aguardava, pacientemente, a conclusão que a garota teria. Seus olhos pareciam os de um lobo observando ovelhas vagando pelo pasto.
“As peças estão todas em seu devido lugar. O tabuleiro está montado”, ele pensou. “Agora vamos, Rainha, mova sua peça para que eu possa reposicionar as minhas”.
— Então… — Elena se virou para o Zen, colocando um fim naquele silêncio interminável. — essa Jesse que foi na casa do Alan não é a sua ex… certo?
Mas Zen não respondeu de imediato, tirou uns longos segundos apenas para observar Elena em silêncio.
Em sua mente centenas de respostas vieram à tona, mas cada uma delas era pior do que a outra.
Cada uma das mentiras que ele pensou era mais difícil que a outra, não por ele não conseguir fazer soar convincente, mas porque já estava cansado de mentir.
“Mas ainda não é a hora certa”, Zen pensou, sentindo um estranho sentimento de culpa. “Ainda não estou pronto para perdê-la, Elena”
— Cabelo branco, curtinho, os olhos vermelhos com pupilas verticais, como as de um gato? —Zen perguntou, olhando para Alan com curiosidade.
— É… Achei que tu tinha dito que não conhecia ela…
— Então pensou errado, pois eu nunca disse, especificamente, isso.
Zen se virou para a Elena, como se não devesse explicações para o Alan, mas não se importasse em explicar isso para ela.
— Jesse e eu namoramos por pouco tempo, um relacionamento nada saudável, se quer saber. Quando já estávamos com pensamentos de pôr um fim em nosso relacionamento… eles surgiram.
— A Justice Angels — Elena adivinhou.
— Isso. Eles tentaram nos recrutar, mas, como na época eu ainda era uma criança, eu recusei. Se bem que eu acho que o motivo verdadeiro é que eu nunca me ajoelharia para alguém que se auto proclama Imperador. Mas Jesse… Ela aceitou, e foi então que terminamos de vez.
Todos ficaram em silêncio por um momento quando Zen terminou de falar.
Os três amigos trocaram olhares significativos. Zen quase podia sentir a desconfiança crescendo dentro de cada um ali, e pela primeira vez na vida se sentiu apreensivo por isso.
— Então cê já foi recrutado pela Justice Angels… e recusou? — Elena perguntou.
Zen hesitou ao responder quando sentiu a desconfiança no tom de voz dela.
Havia um misto de desconfiança e espanto na voz dela para o qual o garoto não estava preparado, e a sensação que isso causou nele foi ainda mais inesperada.
“Você sabia que esse momento chegaria, Zen”, ele se advertiu. “Sabia que esses olhares seriam lançados sobre você uma hora ou outra. Então se recomponha”
— Por que você faz isso soar tão surpreendente, Elena? — Ele sorriu de forma convencida. — Eles foram atrás até do Alan.
— Não foi o que eu quis dizer — Elena falou, o tom de voz tão sério que fez o sorriso do Zen se desfazer. — Cê foi recrutado por um grupo de vilões… Isso é estranho.
— Estranho pra caraí — Alan concordou, sem fazer esforço algum para esconder sua satisfação por ver a desconfiança da amiga.
— Infelizmente eu não consigo controlar as conclusões que vocês vão tirar disso, e, para ser sincero, eu não me importo. — Zen caminhou lentamente na direção da Elena e parou na frente dela. — Só a sua opinião me importa.
Ele fez uma pausa, esperando ver Elena enrubescendo, mas isso não aconteceu.
— Mas eu preciso fazer uma coisa agora, então… eu posso passar aqui quando você for embora? Podemos conversar e eu respondo qualquer dúvida que você tiver.
Elena hesitou em responder, por apenas um segundo, mas o suficiente para Zen perceber.
— Claro, mas eu vou ser liberada apenas à noite.
— Se não for um problema para você, por mim tudo bem esperar um pouco. Eu tenho que conversar com a Aline, então vou estar aqui de qualquer jeito.
Elena sorriu e pegou as mãos do garoto, segurando-as com carinho, enquanto dizia:
— Eu não estou desconfiado de tu, Zen. Sei que você não mentiria pra mim. É só que… tem muita coisa acontecendo, e ainda estou tentando entender tudo isso.
— Eu entendo. Você passou por muita coisa, mas tente não pensar demais. Às vezes quanto mais você pensa em uma coisa, menos você enxerga a verdade.
— Vou seguir seu conselho. Então siga o meu também… — Elena se inclinou para frente e deu um selinho nos lábios dele. — É bom cê voltar mesmo, se não eu vou ficar brava contigo.
— Claro que eu volto. Eu não teria coragem de te deixar brava. — Zen sorriu, mas em seu âmago sabia que ela ficaria brava justamente porque ele voltaria.