O Despertar Cósmico - Capítulo 24
— Tu só pode estar brincando, Elena! — disparou Alan, assim que Zen saiu do quarto — “Sei que cê não mentiria pra mim”?! Isso é ridículo! Tu não pode acreditar nele mesmo!
— E por que não? Cê desconfia dele sem motivo algum!
— Sem motivos não, Elena — Amanda interveio. — É no mínimo um pouco estranho a ex-namorada dele ser uma vilã, até mesmo tu tem que admitir isso.
— Tá, mas e daí? Ele foi sincero quando disse que terminou quando ela foi recrutada pelo grupo de vilões, eu pude sentir isso com a minha telepatia.
— Tá, mesmo se ele não tiver mentido sobre isso…
— Ele não faria isso.
— Tudo bem. Ele não faria isso — Alan repetiu, sem esconder o fato de não acreditar nem um pouco naquilo. — mas tu não acha estranho eles saberem exatamente onde eu moro? Ou o fato de que eles estavam na floricultura quando tu foi atacada?
— Eles podem ter descoberto isso de outra forma. Além disso, o Zen não…
— Não faria isso, né? — Alan interrompeu a amiga, já imaginando o que ela diria — Não é simples assim, Elena. Se o Imperador quisesse pegar essa informação dele, nem toda a arrogância que aquele garoto tem impediria ele de revelar tudo.
Alan fez uma pausa, sentindo calafrios ao relembrar aquela cena dele se ajoelhando diante da ordem do Imperador sem poder fazer nada.
— Basta o Imperador ordenar e pronto, ele diria tudo, de joelhos no chão e tremendo de medo… eu falo isso por experiência própria. Não tem como ir contra as ordens daquele cara. Os poderes dele são como os do Iluminus, então, até onde eu sei, ele pode muito bem ter se aproximado docê a mando dele.
— Os poderes dele são como os do Iluminus?! — Amanda olhou para o amigo assustada. — Tu tá exagerando… Não tem… Não tem como isso ser verdade…
Alan olhou para a amiga, vendo o medo em seus olhos e hesitou por um momento.
Mas as lembranças do Imperador vieram em sua mente. Aquele olho amarelo, o medo que ele sentiu ao vê-lo. Alan fechou os punhos, engoliu seco e olhou para a Elena.
— Tu sentiu também, não sentiu? Um medo indescritível. Não consegui dizer não quando ele mandou eu me ajoelhar, não consegui…
Sua voz falhou por um momento, sentiu seus lábios tremerem, mas foi justamente por isso que ele se obrigou a concluir o que estava dizendo:
— Eu não consegui fazer nada. Simplesmente dobrei meus joelhos e obedeci. Eu estava em pânico, teria obedecido não importa o que ele pedisse. Então não diga que é impossível ele estar usando o seu querido Zen… porque cê sabe muito bem que é possível.
Quando Alan terminou de falar, nem Elena e nem Amanda souberam o que dizer, apenas deixaram aquele silêncio desconfortável entre eles crescer cada vez mais enquanto imaginavam a assustadora possibilidade do Imperador está controlando a mente do Zen para que ele vazasse informações sobre eles.
Elena se sentou na cama, sem saber o que pensar naquele momento. Sabia que Alan estava certo. Ela mesmo tinha sentido o medo e a obediência diante das ordens do Imperador. Mas não conseguia acreditar naquela possibilidade. Não podia acreditar.
Conhecia o Zen a pouco mais de meio ano, no começo o garoto agia com indiferença a ela, sempre frio e distante, mas aos poucos foi se aproximando dela e quando menos percebeu eles já eram amigos.
Ela não conseguia atribuir aquilo a uma ordem que ele seguia cegamente, mas também não conseguia descartar a possibilidade.
Sentiu uma raiva indescritível ao imaginar Zen sendo ordenado pelo Imperador que se aproximasse dela e sua família, mas não pelo garoto ter vazado informações que, muito provavelmente, facilitou o ataque deles. Ela sentiu raiva por imaginar o medo constante que ele deve estar sentindo.
Um desespero incontrolável que te obrigava a obedecer, sem questionar, tudo que ele dizia.
A garota apertou com força o colchão da cama, as molas rangeram em baixo dela, e ela prometeu a si mesma que se Zen Snyder estivesse sendo controlado ela daria um jeito de ajudar ele, mesmo que isso significasse que ele perderia o interesse nela.
Mesmo que isso significasse que o Zen que ela conheceu era apenas uma mentira, uma marionete criada pelo Imperador para obter informações. Ela iria ajudar ele.
Ela iria salvá-lo.
Amanda escorou com as costas na parede, as memórias do Dia da Libertação voltando em sua mente.
Se lembrou do Iluminus adentrando o apartamento deles e mandando que todos saíssem e se posicionassem nos corredores, junto com todos os outros moradores do prédio, esperando pelo ex-herói chamando Mental.
Se lembrou de como não conseguia se mexer naquele dia, de como seus pais não conseguiam se mexer, e de como, em seu âmago, ela não queria se mexer. Lembrou-se do desejo incontrolável de obedecer aquele homem, não importasse o que ele pedisse.
E por último se lembrou de como tudo aquilo desapareceu quando a heroína Classe Deusa, Maria Helena, apareceu e com sua telepatia tirou eles daquele transe, como uma mãe sacudindo gentilmente seu bebê para acordá-lo.
Mas seus pais não foram embora, não fugiram como todos faziam. Eles se abaixaram perto dela e, tentando esconder as lágrimas em seus olhos, disseram que iriam ajudar a heroína, que iriam lutar contra o vilão e salvar o dia.
Ela lembrava perfeitamente das palavras doces que eles usavam, da confiança que eles tentavam passar.
Mas o que a realmente atormentou, e ainda atormenta, é a lembrança de como ela não discutiu. Se lembra de encher o peito de orgulho dos pais, e, principalmente, de pegar suas irmãzinhas nos braços e dizer que tudo ficaria bem, que os pais iriam salvar vidas e logo voltariam.
Ela pegou a sua irmã e correu para longe do prédio enquanto seus pais corriam na direção oposta. Eles nunca voltaram. Amanda foi chamada mais tarde para reconhecer os corpos, mas reconheceu apenas as roupas que eles usavam naquele dia.