O Despertar Cósmico - Capítulo 26
O silêncio entre os três amigos continuou por muito tempo, se tornando cada vez mais tenso e desconfortável.
Para Amanda aquele assunto era muito delicado, a garota nunca conseguiu superar o que Iluminus fez aos seus pais, e sempre que o vilão era mencionado ela ficava abalada.
Mas nada se compara ao medo que sentiu ao se deparar com a possibilidade de outro vilão ter o mesmo poder que ele.
Elena, por outro lado, estava mais preocupada com o Zen do que com medo do Imperador.
Sentia-se enfurecida com a possibilidade do Zen estar sendo controlado pelo Imperador, mas sentia ainda mais raiva ao pensar na possibilidade de Zen ter se envolvido com ela apenas porque o vilão ordenou.
Ela não saberia como reagir se descobrisse que nada do que ela viveu com o garoto era real.
Alan percebeu o quanto o assunto mencionado por ele abalou as amigas, e por isso não dizia nada.
Mas o silêncio já havia se estendido tanto, e se tornado tão desconfortável, que ele não aguentava mais e tentou puxar assunto sobre alguma coisa aleatória.
Começou contando para a Elena que a visita do Lorde do Gelo à escola tinha sido cancelada, mas foi ele quem ficou surpreso quando a garota, com indiferença, disse que não se importava pois tinha conhecido o herói naquele mesmo dia.
Tentou mudar de assunto, mencionando que Sam, uma garota da escola deles, estava procurando por Elena e queria desafiá-la para uma Disputa de Classes valendo a posição dela como Rainha.
— Desculpa, Alan, mas eu não tô no clima para ficar falando daquela vadia agora — Elena respondeu, com o habitual linguajar, e raiva, com o qual sempre se referia a garota.
Alan suspirou aliviado por saber que pelo menos a isso ela não reagiu com indiferença.
— Deboa, só mencionei porque talvez tu queira se preparar. Não queremos que tu perca seu título para ela, saca?
— Eu nunca perderia para alguém que chama a si mesma de Aqua, a Deusa da Água. — Elena bufou e revirou os olhos, como se aquilo fosse óbvio.
— Cuidado, Alan. Tu está pisando em território perigoso mencionando a Samantha — Amanda riu, pois era a única ali que sabia o motivo da Elena não gostar da garota.
— Tô ligado. — Ele sorriu e ergueu as mãos em sinal de rendição. — Prefiro não me meter na briga de vo…
Mas antes que ele terminasse de falar, uma explosão sacudiu todo o hospital.
Alan caiu bruscamente no chão quando a explosão o fez perder o equilíbrio. Amanda cambaleou alguns passos para frente e conseguiu chegar até a cama, onde Elena pode ajudá-la a se estabilizar.
Os gritos começaram a ecoar pelos corredores do hospital antes mesmo que Alan terminasse de se levantar. Pela janela do quarto foi possível ver um pilar de fumaça negra saindo do primeiro andar.
Elena saltou de cima da cama e, assim como Alan, estava prestes a correr em direção a janela para saber o que estava acontecendo quando a porta foi aberta.
— Désolé de déranger votre repos, Elena
Elena começou a tremer só de ouvir a frase em francês. Quando o homem com longos cabelos loiros passou pela porta ela travou no lugar em que estava.
— Mais ç’est super de pouvoir le revoir.
Dante Esposito, O Floricultor, usava uma camisa branca de gola polo e uma calça preta, tinha alguns curativos no rosto, provavelmente de ferimentos resultados do último encontro deles, e fumava um cigarro.
Aqueles olhos verdes ainda eram assustadores, assim como o sorriso que ele tinha no rosto.
— Oh, vejo que você está acompanhada hoje. — Ele olhou surpreso para Alan, mas sem tirar o sorriso do rosto. — Alan, não é? Notei que se recuperou bem do nosso último encontro.
Alan fez menção de se mover, mas isso já foi o suficiente para Dante agir.
O Floricultor colocou a mão no bolso e retirou várias sementes verdes do bolso, só para logo em seguida arremessá-las para frente.
As sementes se contorceram no ar, de algumas brotaram galhos que formaram pequenas estacas de três centímetros, e dispararam para frente, focando no Alan e na Amanda.
Alan conseguiu se esquivar da maioria delas, sendo atingido apenas por duas, na coxa esquerda e outra no abdômen. As estacas perfuram profundamente a carne dele e lá ficaram presas.
Amanda, por outro lado, teve mais sorte que o garoto. Seu corpo oscilou por um momento, sua pele se tornou negra como a noite e quando foi atingida seu corpo se transformou em fumaça.
As estacas atravessaram a fumaça negra e se cravaram na parede, e logo em seguida a fumaça se condensou e ela voltou ao normal e sem nenhum ferimento.
As outras sementes que não se transformaram em projéteis de madeira também dispararam no ar, mas dessa vez na direção da Elena.
Ela também tentou se defender, usando sua telecinése em uma tentativa de parar as sementes em pleno ar, mas, para o seu azar, das sementes brotaram cipós verdes que se projetaram para frente, deixando apenas as casquinhas da semente para trás.
Os cipós atingiram em cheio o rosto da garota, se enrolando em sua cabeça e a jogando contra a parede. Uma dor insuportável penetrou seu corpo quando o impacto com a parede pressionou sua costela quebrada.
— Olha só, mas que surpresa encontrar alguém com o mesmo poder do Fumus — Dante começou a caminhar na direção da Amanda.
Alan se ergueu do chão, forçando a perna ferida a obedecer. Mas assim que ficou de pé e se preparou para avançar contra Dante ele sentiu a madeira raspando os músculos e o osso da sua perna.
Viu, e sentiu, quando grossos espinhos se projetaram para fora da sua perna e do seu abdômen — dilacerando a carne e o músculo no caminho. Uma dor indescritível se espalhou por sua perna e aumentou ainda mais quando ele caiu de joelhos no chão.
Dante continuou avançando na direção da Amanda com tranquilidade, e a garota, assustada demais, parecia não saber o que fazer.
Viu Alan cair no chão e Elena agarrar os cipós que prendiam seu rosto tentando em vão se soltar. Não sabia quem ajudar, então foi na Elena que estava mais perto.
Mas ela não conseguiu libertar a amiga. Os cipós se agarravam com tanta força em seu rosto que deixavam marcas vermelhas em sua pele, tornando impossível encontrar um apoio para segurar e puxar os cipós.
— Não perca tempo com isso, petite fille. — Dante falou, há apenas dois metros das garotas. — Se prepare para lutar comigo…
Mas o Floricultor foi interrompido quando a parede ao lado dele repentinamente explodiu abrindo um buraco para o corredor.
Os blocos com cimento seco e tijolos voaram na direção do Dante, a energia roxa ainda visível no ar mesmo após a explosão, e, escondido em meio a nuvem de poeira que se ergueu e os destroços, Zen passou voando.
O garoto parou na frente do Floricultor e, ainda no ar, efetuou um giro com o corpo, atingindo dois destroços com chutes.
Os pequenos tijolos voaram na direção de Dante em alta velocidade, e só não acertaram seu rosto pois o homem conseguiu se esquivar no último segundo.
Mas o movimento o fez ver tarde demais quando Zen pousou no chão e projetou a mão direita, que segurava uma esfera de energia roxa, em sua direção.
Fragmentos de madeira voaram por toda parte quando a esfera explodiu, arremessando Dante para trás e fazendo com que ele atravessasse a parede e sumisse para dentro do quarto vizinho.
Zen amaldiçoou baixinho ao ver o tronco de árvore que tinha brotado do chão, defendendo o vilão de um golpe certeiro.
— Zen! — Foi Amanda que o reconheceu primeiro.
O garoto percorreu com os olhos toda a sala, observando tudo que estava acontecendo, parou por um instante observando a perna do Alan, em seguida saiu andando em direção a Elena enquanto dizia com indiferença;
— Pare de fluir energia cósmica para resistir a dor, é isso que está fazendo os espinhos crescerem.
Quando se aproximou das garotas, Zen acenou para Amanda que estava tudo bem e podia se afastar. A garota obedeceu.
Zen se abaixou perto da Elena, fez uma pequena esfera de energia surgir na ponta do seu dedo indicador e, com um único movimento e sem a menor hesitação, passou a esfera pelo cipó, pulverizando tudo em que tocava.
Em um instante Elena já estava livre do cipó e, assim que reconheceu o Zen, se jogou sobre o garoto e o abraçou, agradecendo pela ajuda.
Zen se levantou e ajudou a Elena a se levantar também. Olhou para o buraco na parede por onde Dante tinha passado. Não havia sinal do vilão ainda, então voltou seu olhar para o Alan.
O garoto tinha seguido seu conselho, o que resultou nas estacas de madeira retraindo os espinhos que de projetavam para fora do seu corpo, e agora estava arrancando as estacas do corpo em meio a um gemido contido de dor.
— Temos que sair daqui. Isso não vai derrubar ele — Zen olhou para a Elena com seriedade. — Seus ferimentos pioraram? A cura foi interrompida?
— Não… — Elena respondeu, olhando o tempo todo para o buraco na parede. — Doeu um pouco, mas eu estou bem… — A garota fez uma pausa pensativa e, de alguma forma, soube instantaneamente que a cura da Aline ainda estava fazendo efeito. — A cura não foi interrompida…
— Ótimo, vamos… — Zen parou de falar e olhou para frente. Ergueu a mão abruptamente e agarrou um espinho de madeira quando ele estava a apenas alguns centímetros de atingir o seu rosto.
Primeiro eles ouviram as palmas ecoando no interior do outro quarto, em seguida o rosto do Dante surgiu no buraco na parede.
Um novo corte tinha aparecido em sua testa, o sangue escorria por seu rosto, mas o sorriso ainda estava inabalado.
— Mais qu’est-ce que ma malchance. Não esperava que você chegasse tão rápido, Zen.
— Eu estava contando com isso. Pena que eu perdi a oportunidade de te matar, Dante.
Uma esfera de energia se formou na mão direita do Zen, enquanto, com a esquerda, ele segurava a mão da Elena.
— Mas isso não vai acontecer novamente.
Assim que terminou de falar Zen disparou a esfera de energia na direção do Floricultor, mas sem esperar para ver se tinha atingido o alvo ele saiu correndo, puxando Elena pela mão, em direção ao buraco que ele usou para entrar no quarto.
Elena não relutou em seguir o Zen, apenas se preocupou em gritar para Alan e Amanda os seguirem. O som da explosão tornou impossível entender o que a garota disse, mas os dois os seguiram mesmo assim.
Os três passaram pelo buraco na parede — Alan com dificuldade devido aos machucados — e não perderam tempo em sair correndo pelo corredor, que por sorte estava vazio.
Quando estavam virando para a direita, em uma bifurcação do corredor, várias plantas emergiram do chão por onde estavam vindo, se espalhando pelas paredes e avançando, mantendo sempre uma distância de um metro de Dante, que também avançava pelo corredor.
— É assim que você trata seu tio, Zen? — A voz de Dante ecoou atrás dele, mas nenhum deles parou para ouvi-lo e continuaram correndo pelo corredor.
— Tio?! Ele disse que é o teu tio?! — Elena questionou surpresa, mas Amanda parecia prestes a fazer a mesma pergunta.
— Padrinho — Zen respondeu com, aparente, indiferença. — Mas isso não vem ao caso, continuem correndo. Vamos descer para o andar de baixo e…
Uma explosão de energia laranja abriu um buraco no chão do corredor, e Zen não teve tempo de interromper o avanço. Segurou Elena em seus braços enquanto caíam pelo buraco e, a poucos menos de um metro do chão, começou a flutuar.
A nuvem de poeira ocultava parcialmente a visão do corredor em que estavam agora, mas o garoto conseguiu distinguir as silhuetas à sua volta.
Zen girou no ar, segurando com mais força a Elena, que deixou escapar um gritinho assustada, e conseguiu se esquivar com facilidade de uma esfera de energia, que atingiu a parede e explodiu ao errar o alvo.
— Esperem! — Uma voz rouca e severa ordenou. Zen reconheceu a voz instantaneamente. — Não ataquem as cegas, imbecis, podem acabar atingindo a Telepata.