O Despertar Cósmico - Capítulo 27
A nuvem de poeira abaixou e revelou as quatro pessoas no corredor. Zen observou cada um deles com olhos afiados e atentos.
Dois homens atrás deles, um ruivo usando uma camiseta azul-marinho e um loiro com o cabelo cacheado e uma barba por fazer.
E mais dois na frente, um homem velho todo vestido de preto com uma bengala na mão e um homem com um longo cabelo preto caindo sobre seus ombros.
Zen encarou, de forma fria, o homem mais velho, dono da voz rouca que ordenou que não atacassem.
O homem vestia um sobretudo preto, cujo comprimento chegava pouco acima dos joelhos, e usava luvas, também pretas.
O cabelo preto do homem estava penteado elegantemente para trás, mas a pele era marcada pela idade, o que deixava nítido que ele possuía mais de cinquenta anos.
Em sua mão direita o homem segurava uma bengala de um metro, cujo o cabo era ornamentado por uma serpente dourada enrolada no cabo, e na outra extremidade havia uma brilhante lâmina dourada de quase trinta centímetros.
— Majestade. — O homem, segurando a bengala, mas sem realmente se apoiar nela, fez uma elegante reverência, quando voltou a se erguer fitou Zen com seriedade. — Que situação mais desagradável á que nos encontramos agora, não é mesmo?
— Desagradável? Talvez. Mas para você. — Quando Zen terminou de falar, Alan e Amanda saltaram pelo buraco no teto e aterrissaram no chão logo abaixo dele.
— Quem é o tiozinho? — Alan olhou ao redor, notando os outros dois homens atrás deles. — E os amigos dele?
— Ele chama César, mas é conhecido como Fumus — Zen respondeu, descendo lentamente até seus pés tocarem o chão, onde ele soltou a Elena. — Não vou conseguir enfrentar todos sozinhos e proteger as duas, posso contar com a sua ajuda?
Alan se posicionou ao lado de Zen, se virando para os dois homens atrás deles, e assumindo uma postura defensiva. Observava atentamente os dois homens.
Um deles, o loiro de cabelo cacheado, tinha por volta de um metro e noventa, e parecia bloquear o corredor como uma muralha de músculos.
O ruivo tinha os olhos repletos pela Energia Cósmica laranja dele. Alan sentiu que não estava sendo precipitado ao concluir que sabia quais eram os poderes deles.
Aquele ruivo, obviamente, manipulava a Energia Cósmica, já o Muralha, muito provavelmente, tinha uma super-força e, mais provável ainda, muito mais forte do que a herança de força que Elena herdou do pai.
— Não vai ser fácil — foi o que Alan respondeu.
— Nunca disse que seria. — Zen olhou de canto de olho para ele. — E aí? O que me diz?
— Tô dentro. — Um sorriso perigosamente animado surgiu no rosto do garoto. — Eu pego o Ruivinho e o Muralha.
Zen sorriu discretamente e concordou, no mesmo instante cada um saiu voando para um lado do corredor.
Alan não pode prestar atenção na luta do Zen pois assim que saiu voando pelo corredor o Ruivo também voou ao seu encontro.
O avanço do garoto foi interrompido por um esfera de energia quando estava a apenas um metro do Muralha, e Alan foi obrigado a interromper seu voo e disparar para cima, parando apenas quando suas costas estavam prestes a bater no teto.
A esfera atingiu o chão e explodiu, fazendo um buraco no chão que levava para o corredor do andar de baixo.
Nesse momento ele teve um vislumbre da luta do Zen, apenas porque o som da janela se quebrando quando o garoto arremessou um homem pela janela chamou sua atenção.
“Puta merda! Ele é muito mais rápido do que eu, e sem dúvida mais habilidoso. Derrotou um deles antes mesmo que eu me aproximasse desse dois”, ele pensou, mas algo em movimento se aproximando repentinamente chamou sua atenção.
O punho enorme do Muralha atingiu seu braços com tanta força que fez ele voar, de forma desgovernada, para trás até cair no chão.
Se não tivesse conseguido bloquear no último instante estaria, no melhor dos casos, desorientado pelo golpe na cabeça.
Antes que tivesse a chance de se erguer do chão o Ruivo já estava se aproximando, voando a apenas alguns centímetros do chão.
Dessa vez ele não parecia pretender usar esfera de energia, estava planejando lutar no corpo-a-corpo, e Alan comemorou consigo mesmo por isso.
Quando o Ruivo se aproximou, projetando um chute de baixo para cima, com a intenção de atingi-lo ainda no chão, o garoto rolou para o lado, deixando o ataque atingir apenas o vento.
O Ruivo tentou se recompor a tempo de contra-atacar, mas Alan se ergueu primeiro — ignorando a dor que seus ferimentos lhe proporcionava — e o atingiu com um soco na costela, o homem se curvou de dor e Alan projetou outro soco em direção ao rosto dele.
Mas no momento em que o punho do Alan atingiu seu inimigo, um jato de chamas irrompeu em sua direção.
Um grito de dor e uma risada ecoaram pelo corredor.
Alan voou para trás, emergindo em meio às chamas e parando a apenas meio metro da Amanda e da Elena e se amaldiçoando por ter sido forçado a recuar tanto.
Mas as queimaduras em seu braço, abdômen e pescoço ardiam de forma insuportável, e sua pele queimada ainda expelia um pouco de fumaça.
Quando as chamas se extinguiram, o garoto viu o Ruivo encostado na parede do corredor, o lado esquerdo do rosto completamente queimado, a ponto de não conseguir abrir os olhos e grunhindo de dor.
Porém ainda tinha um sorriso insano no rosto.
Olhou para o Muralha e se surpreendeu mais ainda ao perceber que a origem das chamas eram as mãos do homem musculoso.
“O poder dele não é força, é fogo!”, ele percebeu, sentindo a dor de suas queimaduras confirmando sua hipótese. “E ele queimou o próprio companheiro para me atingir. Poderia ter matado ele! Droga, poderia ter me matado!”
— Alan! — Elena repentinamente se aproximou, flutuando ao lado do garoto. — Eu vou te ajudar.
— Não, tu tá ferida. Fique para trás.
— O Zen disse a mesma coisa. Vou só te dar suporte com a Telecinése, não vou sair daqui.
Alan olhou para a amiga hesitante, mas viu o olhar determinado no rosto dela e percebeu que, por mais que tentasse, não conseguiria convencê-la do contrário.
Voltou a olhar para os dois homens, viu o Ruivo passar a mão pelo que restava do seu cabelo queimado enquanto insultava de todas as maneiras o amigo por ter atingido ele com o ataque.
Mas o Muralha abanava com a mão para ele, dizendo que não poderia ter perdido a oportunidade e rindo despreocupadamente.
— Demoro. Bora usar a tática que usamos contra a Samantha e o Jhonny, só que, no caso, o Jhonny vai ser o Ruivo — Alan falou, sem tirar os olhos dos homens.
— Beleza. — Elena uniu as mãos e estalou os dedos. — Mas tome cuidado com o grandão, ele é peri..
Uma esfera de energia roxa passou em alta velocidade entre Alan e Elena e, em instantes, percorreu o corredor que os separava dos vilões.
A esfera de energia se aproximou do Muralha e estava prestes a atingi-lo em cheio no peito quando ele levou o braço esquerdo na frente do corpo e tentou saltar para o lado.
Tentou um pouco tarde demais.
A explosão de energia roxa cobriu metade do corredor. O Muralha caiu rolando no chão, urrando de dor, seu braço esquerdo completamente pulverizado pouco acima do cotovelo.
Apenas algumas gotas de sangue manchava o chão embaixo dele, o resto do sangue e da carne tinha sido queimado até vaporizar.
— Isso não é uma Disputa de Classes! — a voz do Zen soou com urgência, vindo do outro lado do corredor. — Não fiquem parados planejando, façam alguma coisa!
— Merda, ele tem razão! Mudanças de planos, bora improvisar! — Alan falou, em seguida saiu voando.
Percorreu o corredor em alta velocidade, sentindo o vento agitar seus cabelos castanhos. O piso do corredor se tornou um borrão conforme ele avançava.
Viu o Ruivo desviar o olhar do seu companheiro ferido para ele e se preparar para o confronto, fazendo uma esfera de energia laranja na mão direita.
O homem apontou a esfera de energia para Alan mas, quando estava prestes a disparar a esfera de energia, o seu braço abruptamente se ergueu para cima.
A esfera foi disparada e atingiu o teto, abrindo um buraco e fazendo os escombros caírem pelo corredor.
Alan soube no mesmo instante que aquilo era efeito da telecinése da Elena e aumentou a velocidade, sem a menor intenção de desperdiçar a chance criada pela amiga.
Os escombros que caíram sobre o homem paralisaram no ar quando Alan se aproximou, e o garoto teve liberdade para atacar sem preocupações. Infelizmente o Ruivo também teve essa liberdade.
A velocidade com a que os dois atacaram foi surpreendente, mas Alan conseguiu se mover de forma ainda mais impressionante e conseguiu defender o golpe do Ruivo ao mesmo tempo em que acertava o seu.
Uma ferida se abriu no lábio inferior do Ruivo e o sangue escorreu pelo seu queixo. As queimaduras recentes estão se abrindo e sangrando ainda mais.
Antes que o vilão se recuperasse, Alan girou sobre os calcanhares e completou o movimento atingindo um chute pesado no peito do homem.
Ao ser atingido sentiu como se todo o ar dos seus pulmões fosse expelido de uma vez, a dor era desnorteante, e a força foi tão grande que o teria feito voar até o final do corredor.
Mas uma força invisível tinha envolvido seu corpo e travado seu avanço a poucos metros do Alan.
Assim que percebeu que a telecinése de Elena havia segurado o vilão, Alan voou para cima dele, pegando impulso e acumulando muito mais força no ataque.
O golpe foi certeiro e derradeiro. O punho do Alan atingiu o estômago do Ruivo no mesmo instante em que a telecinése o soltou.
O Ruivo revirou os olhos até ficar branco, abriu a boca para emitir um grito de dor, mas foi jogado contra o chão antes disso.
O piso cedeu e o vilão despencou pro andar de baixo — o que teria acontecido com o Alan também, se ele não tivesse voando para cima no último instante.
E ele não perdeu tempo verificando a situação do inimigo, olhou para frente e focou toda a sua atenção no Muralha, que acabava de se levantar do chão naquele instante.
Ainda estava ficando de pé quando disparou um jato de fogo na direção do garoto, mas as chamas abriram no meio e passaram por ele sem lhe oferecer perigo.
Quando finalmente ficou de pé, olhando confuso para o garoto, a força invisível envolveu o seu corpo, apertando suas pernas e o único braço restante.
O homem tentou resistir, apoiando os pés no chão com toda a sua força, mas de nada serviu e ele continuou sendo arrastado na direção de Alan.
Não havia porque hesitar quando Elena lhe entregava um inimigo naquele estado, então Alan simplesmente saiu voando de encontro ao Muralha.
Um jato de chamas foi disparado pelo vilão, em uma tentativa desesperada de se soltar, e quase atingiu Alan, mas ele voou para cima e parou próximo ao teto, criando uma esfera de energia e se preparando para disparar.
Mas ele hesitou.
O braço pulverizado pelo ataque do Zen terminava em uma grotesca mistura de sangue e carne queimada. Ele tentava ignorar o cheiro que pairava pelo corredor, mas era impossível.
Era o cheiro da morte.
Então ele abaixou a densidade de energia em sua esfera, e só depois disparou. A esfera percorreu a pouca distância entre eles em um piscar de olhos e o atingiu no rosto.
A explosão de energia foi pequena e controlada. As partículas azuis se espalharam pelo ar junto da fumaça, e então o homem despencou no chão inconsciente, a barba, o cabelo e o rosto parcialmente queimados pela energia.
Alan aterrissou ao lado do homem e olhou para ele por um segundo, apenas o suficiente para verificar se ele estava inconsciente ou morto.
Concluiu que estava inconsciente, então se virou para trás, voando de volta para onde Elena estava.
Elena, percebendo que a luta do Alan tinha se encerrado, rapidamente se virou para trás, com intenção de ajudar o Zen.
Mas a luta que estava acontecendo daquele lado do corredor estava em um nível completamente diferente do dela.
O homem cujo o nome de vilão — Fumus — ela já tinha ouvido falar diversas vezes, possuía o mesmo poder da Amanda, transformar seu corpo em fumaça.
Mas só isso não o tornaria tão perigoso quanto os boatos diziam. O que o realmente o tornava perigoso era esse poder combinado com a incrível habilidade de luta do homem.
Zen projetava golpe atrás de golpe, mas o vilão defendia e se esquivava da maioria, e quando um golpe era rápido demais para conseguir defender, ele transformava seu corpo em fumaça e simplesmente deixava o ataque passar direto por ele.
Cada golpe, tanto do Fumus quanto do próprio Zen, parecia perigosamente calculado, e o ritmo e a velocidade não diminuía nem um pouco, pelo contrário, apenas aumentava.
Fumus disparava golpes com a bengala e com os punhos contra o Zen, mas o mesmo desviava-se delas com movimentos ágeis e fluidos. Parecia dançar pelo corredor, esquivando e defendendo os golpes com graça.
Seus olhos frios e inexpressivos acompanhavam cada movimento do vilão, por menor que fosse, esperando por uma brecha que poderia ser usada, mas não encontrava nenhuma.
Zen foi obrigado a interromper um dos seus golpes para desviar da bengala, que projetava-se perigosamente com a lâmina em direção ao seu rosto.
A ponta da lâmina passou a centímetros do seu nariz, porém assim que errou o primeiro ataque, Fumus deslizou o cabo da bengala pela mão e armou um chute contra o garoto.
Zen girou sobre os calcanhares e deixou o chute passar na sua frente sem atingi-lo, e antes que o vilão recolhesse a perna, ele projetou uma chute também.
A velocidade de reação pegou o vilão completamente despreparado, e quando percebeu a intenção do garoto, o pé dele estava atingindo sua coxa com uma força explosiva.
Fumus grunhiu de dor quando pisou no chão e sua perna vacilou por um momento, mas ignorando a dor ele se forçou a ficar de pé e golpeou, com o punho livre, em direção ao rosto do Zen.
O golpe não foi bem planejado e saiu pior ainda em sua execução, com certeza iria errar o golpe, mas então Elena viu Zen se mover.
Viu ele colocar o rosto na frente do punho do homem.
Zen foi atingindo com força o suficiente para arrancar sangue da sua boca, mas assim que foi atingido suas mãos agarraram o antebraço do vilão
Os olhos do vilão se arregalaram, e no mesmo instante Zen fez um giro, se posicionando atrás do homem e pressionando seu braço em suas costas, e depois disso Zen não hesitou nem por um segundo.
O estalo ecoou por todo o corredor. Gotas de sangue espirraram no chão do corredor. A ponta do osso se projetou para fora do braço quebrado do vilão e ele urrou de dor. O grito foi interrompido por um chute bem colocado na mandíbula.
Fumus foi jogado para trás e caiu no chão, batendo as costas na parede, completamente inconsciente. Do braço quebrado escorria tanto sangue que uma poça logo se formou em baixo dele.
Zen apontou a mão para o homem, encenando uma pistola com os dedos, e uma pequena esfera de energia roxa se formou na ponta do seu dedo.
Ele apontou a esfera para a cabeça do vilão, seu rosto e suas expressões mais frias do que nunca.
Esse foi o primeiro sinal que Elena viu, se ela tivesse prestado atenção teria notado os outros também. Mas no calor do momento ela não conseguiu pensar, apenas agiu por impulso.
Uma onda telecinética foi enviada para frente e atingiu o braço do garoto.
Quando Zen disparou o raio de energia seu braço foi bruscamente empurrado para o lado, o raio desviou levemente e atravessou a parede a apenas um centímetro da cabeça do vilão.
O rosto do garoto estava tomado por um olhar de raiva assustador quando se virou para o lado, mas se suavizou instantaneamente quando viu Elena se aproximando, junto de Alan e Amanda.
— Cara, odeio admitir, mas você luta muito bem — Alan admitiu, olhando para o vilão inconsciente.
— Cê… Você ia atirar nele…? — Elena perguntou de forma hesitante, evitando propositalmente a palavra “matar”.
— Eu ia… — Ele respondeu com frieza.
Mas antes que alguém pudesse dizer algo sobre aquilo Zen pegou a mão da Elena e saiu correndo pelo corredor novamente. Alan olhou uma última vez para Muralha e para o Ruivo, depois chamou pela Amanda e os dois correram atrás do Zen.
Alan viu Zen virar em uma bifurcação e parar abruptamente. Um olhar estranho surgiu no rosto de Elena, em seguida Zen virou para a direção contrária e continuou correndo.
No começo Alan não entendeu o motivo daquilo e ficou com medo de algum vilão ter bloqueado o caminho deles. Mas conforme se aproximava do corredor ele sentiu o cheiro.
A morte pairava no ar.
Seu estômago se revirou com o cheiro putrefato no ar, como se seu corpo já soubesse o que veria lá na frente.
Quando viraram no corredor, seguindo na mesma direção que Zen e Elena, Alan arriscou uma olhada por cima dos ombros.
O corredor que Zen havia evitado estava coberto de sangue nas paredes e no chão, havia até mesmo alguns respingos no teto. Espalhados pelos corredores estavam dezenas de corpos.
As enfermeiras na tentativa de fuga foram pulverizadas por ataques de energia ou queimaduras por chamas intensas, que deixavam para trás apenas um corpo completamente carbonizado para trás.
Alguns médicos apresentavam cortes profundos em pontos vitais, como pescoço ou na artérias, e sangraram até morrer.
Haviam homens e mulheres, idosos e jovens, e em comum eles tinham uma morte horrível e uma expressão de desespero congelada em seus rostos.