O Despertar Cósmico - Capítulo 28
Uma fraqueza inesperada atingiu suas pernas e Alan cambaleou até se chocar contra a parede. Estava ofegante, como se tivesse corrido uma maratona.
Suas mãos suavam e tremiam sem parar. Uma frieza desconcertante parecia ter tomado conta do seu corpo. O gosto de bile chegou a sua boca, mas ele conseguiu conter a náusea.
— …bem? — Amanda murmurou algo que Alan não conseguiu discernir ao seu lado.
Tentou respirar fundo para se acalmar e lentamente olhou na direção dela. Amanda o encarava preocupada, parecia não ter notado a carnificina do outro lado do corredor.
“Melhor assim, ela não precisa ver aquilo”, ele pensou. Mas foi preciso muito esforço para não olhar para aquela cena mais uma vez.
— Bora continuar… — Ele segurou a mão da Amanda e saiu correndo sem olhar para trás.
Os dois começaram a correr freneticamente. Alan pensava que se focasse cem por cento em correr o mais rápido que conseguisse, aquela cena horripilante sairia da sua mente.
Pensou errado.
Aqueles corpos mutilados e queimados voltavam à sua mente o tempo todo. Quando fechava os olhos o sangue manchava sua imaginação.
Uma explosão de chamas iluminou o corredor na frente deles, despertando Alan de seus pensamentos.
O garoto parou de correr no mesmo instante, segurando com mais força a mão da Amanda, e ficou atento. Observou as chamas dançando pelo corredor e tocando o teto e as paredes, as labaredas se lançando por toda parte.
Uma segunda explosão ecoou do outro lado das chamas, e então Zen Snyder saiu voando de dentro daquele mar de chamas, caindo no chão e rolando pelo corredor.
Elena gritou do outro lado.
Alan se preparou para correr naquela direção, mas Zen agiu mais rápido.
Assim que se recompôs e se levantou, saiu voando. Um estrondo ecoou pelo corredor, as janelas se quebraram e uma rajada vento forte se espalhou pelo corredor.
Alan e Amanda cambalearam um passo para trás e as chamas praticamente se abriram para Zen passar por elas, se fechando logo em seguida e encobrindo o corredor mais uma vez.
Outras explosões soaram do outro lado das chamas. O brilho da energia roxa do Zen surgiu em vários pontos dentre as chamas.
“Ele é rápido!”, Alan pensou, olhando assustado, e impressionado, para os cacos de vidros das janelas espalhados pelo chão. “Ele é ridiculamente rápido”
As chamas já começavam a se apagar quando alguém passou voando por elas e caiu no chão.
O homem tinha um cabelo loiro todo bagunçado e usava uma roupa preta. Começou a se levantar, apoiando-se nos cotovelos, enquanto praguejava e falava o que parecia ser um repertório completo com os piores palavrões.
Mas antes que ele terminasse de se levantar Zen passou caminhando pelo o que havia restado das chamas, parou perto do homem e pisou no pulso esquerdo dele.
O homem gemeu de dor e uma pequena explosão foi expelida da palma da mão esquerda dele. Zen se abaixou e socou o rosto do homem com tanta força que ele bateu com a cabeça no chão e ficou completamente imóvel.
Ao se erguer novamente, ele olhou para Alan e Amanda. A frieza no olhar dele era desconfortável.
— Se recomponha — ele falou diretamente para Alan, ao ver o rosto pálido e o olhar abalado do garoto. — O que você viu lá atrás é só uma amostra do que está acontecendo por todo o hospital. O jeito mais fácil de ajudar as pessoas aqui, é tirando o alvo dos vilões do prédio.
Alan assentiu em silêncio, ignorando Amanda que perguntava do que ele estava falando. Não sabia como Zen conseguia manter a calma em uma situação dessa, mas sabia que ele estava certo.
Precisavam tirar a Elena dali o mais rápido possível.
Os três saíram andando pelo corredor até onde Elena estava, e assim que se aproximaram a garota o bombardeou com dezenas de perguntas.
Queria saber o que estava acontecendo, porque os heróis ainda não haviam chegado, como eles iriam sair dali.
Mas antes de responder suas perguntas Zen pegou na mão dela e continuou correndo em direção ao que Alan imaginava ser a saída.
— Os heróis devem chegar a qualquer momento, mas isso não é necessariamente uma coisa boa. Quando eles chegarem isso daqui vai virar uma bagunça, alguns vilões vão tentar se passar por civis enquanto outros vão tentar lutar para fugir.
Zen fez uma pausa ao virar em um corredor e ver um homem saindo de um quarto. Os dois se olharam por apenas meio segundo, em seguida o raio roxo cruzou o corredor e atingiu o homem, jogando ele para dentro do quarto novamente.
Alan ficou parado por um momento, congelado pela surpresa. Mas quando Zen e os outros começaram a andar, ele os seguiu.
Quando passou correndo pelo quarto, Zen verificou se o homem estava caído e se não tinha mais ninguém lá, quando ficou satisfeito voltou a correr e a dizer:
— Aqueles que se sentirem inspirados pelos heróis vão entrar na luta, tentando ajudar, mas só vão piorar as coisas. Dante e os outros membros principais vão aproveitar da confusão para escapar e, no melhor dos casos, os heróis prenderão alguns vilões de Classe Média e Alta.
Todos ouviram atentamente a explicação do Zen, enquanto o seguiam, fazendo curvas pelo corredor e correndo a toda velocidade.
Alan achava que Zen não sabia para onde estava indo e simplesmente corria às cegas, mas por algum motivo sentia que devia confiar na liderança dele, e foi isso que fez.
Elena, por outro lado, não se contentou em continuar correndo sem saber para onde iria.
— E para onde nós estamos indo? Temos que sair daqui, então por que não saímos por uma dessas janelas e voamos para longe?
— Diebus está no terraço nesse momento — ele respondeu. — Ele está enfrentando um homem chamado Gama, mas eu não acho que ele possa derrotá-lo sozinho. Se a gente sair voando daqui e o Gama nos notar, vai mudar seu alvo e focar em você, Elena. Não vou conseguir te proteger se isso acontecer.
— O que vamo fazer então?! — Amanda perguntou com urgência.
— Vamos subir para o terraço — ele respondeu enquanto parava ao lado de uma janela, no final do corredor.
— Subir!? — Amanda e Elena questionaram ao mesmo tempo.
Zen abriu a janela e passou a cabeça por ela, olhou primeiro para baixo e depois para cima. Quando voltou para trás olhou para Alan e disse:
— Eu e você vamos ajudar ele a derrotar Gama e então vamos fugir. Se nos juntamos à luta sem que ele perceba a nossa aproximação podemos derrotá-lo, ou pelo menos criar uma abertura para podermos fugir.
— Essa é a forma mais segura? — Alan perguntou, sem esconder sua preocupação.
— Não — Zen respondeu.
Ele fez uma pausa e olhou para a Elena. Em seu olhar havia um pesar, uma tristeza, que ninguém sabia dizer o motivo. Quando voltou a olhar para Alan estava sério e decidido.
— Mas peço que perdoem a minha imprudência e que façam exatamente o que eu pedir mesmo assim.
Por um momento todos ficaram em silêncio. Esperavam ouvir que aquela era a forma mais segura e rápida de sair dali, mas a sinceridade com a qual Zen respondeu fez com que nenhum deles perguntasse qual seria a forma mais segura.
Por fim Alan concordou, e Zen explicou que eles subiriam pela escada de incêndio até o penúltimo andar onde entrariam mais uma vez no prédio e subiriam até o terraço pelas escadas.
Todos concordaram, em seguida eles passaram pela janela e começaram a subir.
As escadas de incêndio rangiam a cada passo que eles davam, mas nenhum deles diminuiu o ritmo enquanto subiam. Elena não conseguiu evitar de olhar para baixo e a primeira coisa que reparou foi o quão alto estavam.
Sentiu o seu coração bater mais acelerado, mas não diminuiu o passo, não queria atrasar os outros por causa do seu medo bobo de altura.
Mas a segunda coisa que ela viu quase a fez travar no lugar. Ao lado deles havia um prédio em construção, cujo o tamanho era quase o mesmo do hospital, e no beco entre o hospital e a construção estava acontecendo uma batalha brutal.
Haviam dezenas de pessoas correndo pelo beco, golpeando de todas as formas possíveis uns aos outros.
A garota viu um homem ser atingido por um raio azul e sair voando para longe ao mesmo tempo em que outro homem era atravessado por longas barras de metal.
— Elena. — A voz de Zen chamou a atenção da Elena, fazendo com que olhasse para ele instantaneamente, e se surpreendeu ao ver naqueles olhos frios transmitindo-lhe conforto. — Temos que continuar andando. Não podemos perder tempo.
O garoto estendeu a mão para ela, e só então Elena percebeu que tinha parado.
Alan e Amanda estavam parados alguns degraus abaixo, e os dois olhavam para baixo, para aquela luta brutal e que, provavelmente, possuía menos pessoas vivas agora.
Elena olhou para Zen novamente e segurou sua mão. Ele apertou um pouquinho mais forte e a puxou, fazendo-a subir os dois degraus que o separavam.
Os dois começaram a subir aos degraus lado a lado enquanto ele dizia:
— Preciso que você lute também — ele fez uma pausa e em seguida esclareceu: — Com a telecinése, é claro. Não precisa atacar ninguém, só parar eles no lugar.
— Eu não consigo parar muitos ao mesmo tempo — Elena respondeu, mas sentiu um mal estar e, principalmente, se sentiu mal por pensar que não queria se envolver na luta.
— Só um por vez vai ser o suficiente. — Ele olhou para ela e sorriu. — Mas quando te fizerem uma pergunta desse tipo comece sempre falando o que você pode fazer.
Voltou a olhar para cima e continuou avançando. Elena sorriu de forma discreta.
“Como consegue soar tão arrogante mesmo em uma situação dessas”, ela pensou.
As escadas rangeram e eles avançaram. Os gritos ecoavam tanto do lado de fora quanto do lado de dentro do hospital.
Ocasionalmente uma explosão sacudiu o prédio e eles tinham que se segurar no corrimão da escada. Às vezes Zen olhava para cima, parecendo preocupado.
Elena sabia que o amigo dele estava tendo uma batalha lá em cima, mas era o Lorde do Gelo, e ela não conseguia imaginar como ele poderia perder.
Às vezes era possível ver chamas verdes surgindo nas bordas dos pedidos ou então fragmentos de gelo. Mas Zen não aumentava o ritmo, continuava subindo os degraus com aparente calma.
Mas quando estavam se aproximando do penúltimo andar do prédio Alan foi envolvido por uma força invisível e puxado para dentro do prédio por uma janela.
O som da janela se partindo fez com que todos parassem.
Amanda gritou e saiu correndo na direção da janela. Elena se virou e começou a descer em direção a janela também, mas se deteve quando Zen, que ainda segurava sua mão, não se moveu.
A garota olhou para trás e viu que ele olhava diretamente para ela, sem dar atenção para o que aconteceu com Alan, e parecendo preocupado.
Ela franziu as sobrancelhas e apertou a mão dele mais firmemente. Zen suspirou, soltou a mão dela e, depois de se apoiar no corrimão, ele pulou. Simples assim.
Mas mal começou a cair e saiu voando em direção a janela.
Zen passou voando para dentro do prédio, quase se cortando nos cacos de vidros, e subiu até bater com os pés no teto, ficando parado lá como se os pés estivessem grudados.
Ao olhar ao redor se viu em um quarto de hospital como o que Elena estava, mas nesse a cama estava virada no chão e os armários revirados.
Haviam cinco pessoas no quarto, uma delas segurava Alan pelo pescoço, apertando tanto que o garoto se contorcia e se contorcia tentando sem êxito se soltar.
Do lado desse homem se encontrava uma mulher com um volumoso cabelo ruivo e cacheado, ela olhava para Alan se contorcendo com um sorriso perverso no rosto.
Outros dois estavam na porta do quarto, vigiando a entrada. E para sorte do Zen, e azar do vilão, o último deles estava bem embaixo do Zen, no centro do quarto, e parecia ser o único que tinha notado o garoto até então.
O primeiro foi derrubado apenas com o peso do Zen caindo sobre ele, e com um único golpe ele o deixou inconsciente. Em seguida, o garoto disparou dois raios de energia. Os dois que estavam perto da porta caíram quase ao mesmo tempo.
Zen se levantou e saiu voando na direção da mulher assim que ela se virou para ele. A energia telecinética travou seu corpo no ar.
A surpresa transpareceu mesmo através da inexpressividade do seu rosto, mas só por um segundo, antes do punho do homem que estava ao lado da mulher atingir sua barriga.
A força fez ele expelir todo o ar dos seus pulmões. Ele sentiu o gosto de sangue impregnado em sua boca. A força esmagando suas tripas.
Alan ainda estava sendo segurado pelo pescoço, seu rosto assumindo uma tonalidade roxa, quando se contorceu e desferiu um chute na direção do rosto do homem.
Mas ele nem se esforçou para esquivar.
O chute atingiu o rosto do homem, mas foi fraco e desesperado demais. A bochecha do homem quase não ficou vermelha.
O vilão gargalhou e empurrou o garoto contra a parede com força suficiente para rachar-lá. Alan gemeu de dor.
— Os garotos são teimosos. Ainda não sabem que vão morrer. — O homem gargalhou novamente.
Antes que a mulher pudesse responder, Elena passou pela janela.
As duas se encararam, e depois Elena viu o Zen travado no ar. Uma onda telecinética dominou a sala, se espalhando de ambas as direções.
A pressão aumentou absurdamente.
O homem que segurava Alan se curvou levemente sobre os joelhos, praguejava baixinho. Zen sentiu a força invisível que o segurava no ar diminuir um pouco, mas não o suficiente para que pudesse se mover.
Ele tinha experiência o suficiente para saber o que aconteceria agora. Por isso reforçou seu corpo com energia cósmica.
A mulher empurrava com sua telecinése e Elena empurrava de volta. O homem soltou Alan e se abaixou, já sabendo o que aconteceria também e se preparando.
Alan não chegou a tocar o chão pois a força telecinética foi liberada no mesmo instante quando um dos lados que empurrava se sobressaiu.
E esse lado foi a Elena.
Uma explosão invisível jogou tudo e todos que estavam no quarto para os fundos.
A mulher foi a primeira a atingir a parede, e provavelmente bateu a cabeça, pois caiu inconsciente no chão. Zen teve que se esquivar da cama e do armário para não ser atingido, mas não conseguiu evitar bater com as costas na parede.
Um zumbido desconfortável soava em seus ouvidos, deixando o parcialmente surdo e desorientado. O garoto ergueu a cabeça a tempo de ver Alan cair a apenas um metro ao seu lado.
O homem mal tinha se movido, o que era um feito e tanto, pois por muito pouco o quarto inteiro não foi pelos ares, o que só era ressaltado pelas rachaduras que se espalharam por todo o quarto.
— Vadia idiota! — O homem praguejou olhando de relance para sua parceira inconsciente. — Vocês quase me deixaram surdo nessa…
Zen saiu voando antes que ele terminasse de falar.
— … brincadeira… — Ele viu o garoto se aproximando quando estava terminando de falar.
Tarde demais.
O punho do Zen atingiu em cheio o rosto do homem. Ele cambaleou uns passos para o lado, o Zen girou no ar e voou na direção dele novamente, dessa vez atingindo uma joelhada em seu rosto.
Antes de ver qual seria o efeito dos dois golpes diretos, Zen posou em frente ao homem e atingiu o joelho dele com um chute. O osso estalou e o homem gritou.
Quando começou a tombar em direção ao chão, a queda foi interceptada por uma esfera de energia roxa, que o atingiu em cheio na barriga.
A explosão o arremessou para trás e ele atravessou as paredes do quarto e do corredor como se fossem papéis.
Quando acabou, Zen se apoiou nos joelhos, ofegante.
“Droga. Ofegante”, ele pensou. “Eu estou ofegante. Que merda. Isso está demorando demais”
O grito da Amanda fez ele erguer o rosto e disparar correndo na direção da janela, esquecendo por um momento o quão cansado estava.
Quando se aproximou da janela, Amanda tinha transformado seu corpo em fumaça para passar pela janela, e agora estava ficando sólida novamente.
Zen não perdeu tempo perguntando o que tinha acontecido, correu até a janela e se inclinou para fora. Praguejou alto ao ver o homem musculoso a qual tinha arrancado um braço fora subindo as escadas de incêndio.
“Eu estou sendo otimista”, ele pensou.Quando voltou para dentro do quarto e olhou para todos lá dentro, Alan já estava se recompondo e Elena e Amanda corriam até. “Essas crianças nunca conseguiriam me ajudar a derrotar o Gama”
— O que aconteceu? — Elena perguntou.
— O grandão acordou, e não parece satisfeito. Talvez venha me cobrar o braço que eu pulverizei — Zen respondeu, mesmo sabendo que a pergunta tinha sido dirigida a Amanda.
Parou ao lado deles e olhou para Alan, o garoto já estava de pé, mas ainda arfava um pouco.
— Temos que ir. Não podemos voltar para as escadas, vamos ter que enfrentar os vilões que aparecerem pelo caminho.
Zen não colocou em palavras, mas deixou a pergunta subentendida: Você consegue continuar?
Alan massageou o pescoço uma última vez e meneou positivamente a cabeça.
— Eu vou na frente — Zen falou.
Ele começou a caminhar na direção da porta. Seus passos eram lentos e confiantes, a cabeça estava sempre erguida.
— Com certeza teremos uma surpresa nos esperando no corredor. Assim que eu der um sinal quero que você passe pela porta, Alan, e dispare uma esfera de energia no que julgar ser o mais forte deles. Depois você aparece, Elena, e deixa eles travados no lugar com sua beleza.
Antes que alguém tivesse a chance de comentar o quão inoportuno era fazer uma piada naquela situação, Zen saltou para fora do corredor.