O Despertar Cósmico - Capítulo 29
Assim que Zen saltou para o corredor um raio azul foi disparado na sua direção, mas ele desviou e devolveu o ataque com um raio de energia, se guiando apenas com a direção da qual o raio azul tinha vindo.
Foi obrigado a desviar de um segundo raio, dessa vez preto, antes de poder dar uma olhada no corredor.
Oito pessoas, todas espalhadas estrategicamente pelo corredor, deixando espaço suficiente para uma luta entre cada um deles.
Um deles foi atingido pelo raio de energia do Zen e caiu no chão, com um buraco fumegante no estômago. Outro estava criando uma esfera de energia amarela na mão.
Mas o verdadeiro perigo vinha do último deles, o mais afastado no corredor, que manipulava uma esfera negra entre as mãos.
“Antimatéria”, Zen concluiu, e mentalmente torceu para que Alan mirasse nele.
Olhou de canto de olho para o garoto dentro do quarto e meneou positivamente com a cabeça. Alan entendeu o sinal e criou uma esfera de energia na sua mão.
Zen desviou de uma esfera de energia disparada por um dos vilões e disparou uma de volta, dessa vez não acertou.
Alan passou pela porta de uma vez e se preparou para disparar. Avaliou os vilões no corredor. Eram sete. O último segurava uma esfera negra nas mãos.
O garoto nunca tinha enfrentado alguém com aquele poder, mas o reconheceu simplesmente por saber o quão perigoso ele era.
A energia destrutiva mais poderosa de todas.
Disparou a esfera de energia nele.
Zen saiu voando ao mesmo tempo, avançando logo atrás da esfera de energia azul. Se esquivou de um soco e revidou com um chute. O homem atingido bateu com as costas na parede e quando se recompôs Zen já estava no alvo seguinte.
Derrubou dois deles tão rápido que Alan mal pode ver quais golpes tinha usado, apenas viu os corpos inconscientes caindo no chão. O garoto estava prestes a voar para os próximos vilões quando a esfera de energia azul atingiu seu alvo, ou quase isso.
A esfera de energia disparada por Alan atingiu em cheio a esfera negra na mão do homem, causando uma reação inesperada.
Uma pequena explosão de partículas de energia azuis se espalhou pelo ar, sem emitir som algum, e um instante depois uma aura negra engoliu todo o corredor.
Uma escuridão completa e absoluta dominou o corredor por um instante, e logo em seguida tudo desapareceu.
A energia e a aura negra se comprimiam em minúsculo ponto de luz ofuscante, sugando todo o ar junto com elas e emitindo um chiado agudo e penetrante. Quando acabou, tudo desapareceu sem deixar rastros.
O grito do vilão ecoou pelo corredor. Um grito horripilante. Seus braços, até a altura do cotovelo, haviam sido desintegrados. Tudo que sobraram foram os ossos e os músculos retorcidos que se grudaram neles.
A carne e a pele se grudaram nos músculos como se tivessem sido puxadas e arrancadas dos braços, e não queimadas por um ataque de energia. Era grotesco.
Elena saiu para o corredor a tempo de ver aquela cena horrenda acontecer. Sentiu seu estômago revirar, mas viu Zen cercado pelos quatro vilões restantes e se obrigou a voar ao seu auxílio.
Quando se aproximou do primeiro vilão ele tentou acertá-la um soco. Travou o corpo do alvo com sua telecinése, deixando fácil para ela acertar um golpe nele.
O punho dela atingiu o homem e fez um estrondo ecoou pelo corredor. O vilão bateu contra a parede e abriu um buraco para o outro quarto.
Todos, sem exceção, se viraram para a Elena. Zen franziu as sobrancelhas. Elena sabia que ele estava pensando que ela não deveria se esforçar.
Mas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, os vilões começaram a agir, e o que se seguiu depois foi uma confusão desenfreada.
Zen estava lutando contra dois vilões ao mesmo tempo e Alan enfrentava o outro quando mais pessoas apareceram nas várias portas dos quartos espalhados pelo corredor.
Elena não conseguiu contar quantos, pois teve que usar sua telecinése para interromper o avanço de um homem com supervelocidade, que avançava com um soco na sua direção.
Mas teve azar — ele não era o único que avançava sobre ela. Amanda gritou um aviso, mas Elena não ouviu. Foi atingida por um soco nas costelas sem sequer ver o rosto da pessoa atrás dela.
Ela urrou de dor e foi jogada contra a parede. Assim que bateu contra a parede outro golpe atingiu seu rosto em uma velocidade absurda, seguido por outro na barriga e mais um na região das costelas.
O velocista estava livre, e não dava tempo para Elena reagir. A garota fechou os olhos e cerrou os dentes. Tentou erguer os braços em defesa, mas a dor a deixava mais lenta.
Os socos a atingiam antes mesmo que pudesse vê-los. Sentiu o gosto de sangue na boca, como se seus ossos estivessem sendo esmagados um por um em seu interior, esmagando seus órgãos no processo.
Porém sentia tanta dor que não conseguia sequer distinguir onde estava sendo atingida. Estava completamente à mercê dos golpes do velocista.
Mas de repente um líquido morno espirrou no seu rosto e os golpes pararam. Um grito de dor ecoou em seus ouvidos, mas foi interrompido na metade.
Elena arriscou abrir os olhos novamente.
Zen estava parado na sua frente agora. Estava com a respiração pesada e, além da ferida no lábio inferior, mais sangue manchava seu rosto. Porém esse não era dele.
Aos pés do garoto haviam dois corpos. O homem que tinha atacado ela por trás e o velocista. Ambos mortos.
— Pra mim já chega — Zen falou.
Sua voz soava muito mais fria do que o normal. Mais cruel também, e principalmente mais cansada.
Elena sentiu um calafrio percorrer seu corpo.
— Essa foi a gota d’água. Cansei de ser bonzinho. Cansei de usar máscaras. Cansei de me esconder e cansei de mentir.
Ele respirou fundo algumas vezes, estabilizando sua respiração, e ergueu a cabeça. Seu olho esquerdo estava amarelo.
Elena prendeu a respiração, sentindo seu coração bater acelerado em seu peito. Recuou um passo para trás e bateu com as costas na parede.
Zen avançou alguns passos para frente e levou a mão até a camiseta, começando a desabotoar os dois primeiros botões dela enquanto dizia:
— Vocês são livres para continuar a lutar se quiserem, mas sabem o que vai acontecer com aqueles que tentarem.
O silêncio tomou conta de todo o corredor. Nem os vilões se mexiam.
Elena abriu a boca e voltou a fechá-la, sem saber o que dizer. Sentia o peito apertado, a respiração acelerada e pesada, e não conseguia olhar para outro lugar se não o olho esquerdo do Zen.
Ele, por outro lado, nem olhava na direção dela.
— Caralho! É o Imperador! — Algum dos vilões falou.
— Mas que porra o Imperador tá fazendo aqui?! — outro questionou. Dava para sentir o medo na voz tremula e hesitante dele.
— Ninguém avisou que eu teria que lutar com o Imperador, porra!
— Cala a boca, imbecil! Ou ele vai matar a gente!
Quando Elena conseguiu desviar o olhar para os vilões amontoados no corredor, se surpreendeu com a cena que se seguiu.
Cada um dos vilões, um por um, começaram a se ajoelhar e a abaixar a cabeça. Alguns se curvaram tanto que tocaram com as testas no chão. Outros apenas se ajoelharam com às duas pernas e abaixaram a cabeça.
O que todos tinham em comum, eram os olhares assustados e o fato de ninguém ousar olhar para Zen. Todos, exceto um jovem de cabelo castanho, que olhava para os companheiros de forma confusa.
— O que tão fazendo? É só um moleque! Vão desistir só porque o olhinho dele acende? O Gama vai matar cêis tudo! — Ele olhava para os lados, procurando alguém que concordasse com ele.
Ninguém ousou fazer isso.
— Se ajoelhe, garoto. — Um homem ao lado do jovem puxou o braço dele, tentando, sem êxito, fazer ele se ajoelhar. — Se ajoelhe logo, droga!
— Vai se foder porra! Não vou me ajoelhar pra um moleque. Pode chamar ele do que quiser… Depois que eu descer o cacete nele! — O jovem retrucou, em seguida se impulsionou para frente e saiu voando.
Zen nem ao menos picou. Havia terminado de desabotoar os dois primeiros botões da sua blusa, e agora apenas observava o jovem voando em sua direção.
Quando o jovem se aproximou, golpeando com um soco, o Imperador se esquivou com facilidade e o olhou com indiferença, como se fosse ignorar o ocorrido e dar outra chance ao jovem.
Isso apenas aumentou a raiva que ele colocou no segundo soco — o que também fez o golpe ser completamente mal-executado.
Zen se moveu com fluidez e agilidade. Esquivou para o lado, agarrou o punho do jovem e torceu.
Quando caiu de joelhos no chão, o jovem gritou de dor. Sangue pingava no chão enquanto o osso quebrado contorcia-se no interior de sua pele.
Zen abaixou o olhar — e apenas o olhar — na direção do jovem, que agora estava ajoelhado na sua frente gritando de dor.
— Calado — ele ordenou. O jovem se calou. — Quem você pensa que é, garoto? Se ponha no seu lugar.
A voz fria dele fez Elena, e provavelmente todos na sala, estremecer.
O garoto apontou o dedo indicador para a testa do vilão, e lá se formou uma pequena esfera de energia roxa. O feixe de luz atravessou o crânio do jovem e ele caiu morto no chão.
Sem cerimônia alguma.
Zen olhou para os vilões ajoelhados pelo corredor, depois olhou para a Elena. Sua expressão se suavizou um pouco, mas o olho esquerdo continuou amarelo.
— Você… Você… — As palavras não se formaram direito, talvez a surpresa tivesse sido tão grande que Elena não conseguia mais raciocinar.
— Eu sou. — Ele soava como se estivesse confessando um crime. — Mas não podemos discutir isso agora. Temos que continuar avançando. Diebus precisa da minha ajuda.
Zen parou e virou-se para trás abruptamente. Seu olho esquerdo acompanhou o punho do Alan se aproximando, e na sua percepção aquilo parecia extremamente lento.
Como um verme rastejando pelo chão em sua direção.
Mas mesmo assim ele não moveu nenhum músculo.
O primeiro soco que atingiu seu rosto foi o que mais doeu, os outros foram mais fortes, mas ele já havia desligado a dor do seu cérebro. Deixou que Alan o acertasse mais três vezes.
Cada soco era mais forte que o outro, e Zen sabia isso pela quantidade de Energia Cósmica no corpo do Alan.
Mas quando sentiu suas costas batendo contra a parede ele segurou punho do Alan, interrompido sua sequência.
Essa foi a primeira vez que Zen se surpreendeu com a capacidade do garoto, pois quando direcionou toda a sua energia para seu olho e encarou Alan, o garoto permaneceu inabalável.
Encarava ele de volta com convicção. Como se acima da raiva ele tivesse um propósito para estar dando aqueles socos.
— Esse tempo todo! — ele esbravejou, um soco armado em seu punho livre. — Tu era ele o tempo todo! Arrombado de merda! Mentiu pra gente esse tempo todo!
— Se acalme — Zen ordenou.
Alan instantaneamente ficou visivelmente mais calmo, e, apesar de não ter demonstrado, Zen ficou um pouco desapontado ao constatar aquilo.
— Agora pense, essa é mesmo a melhor situação para se discutir isso? Temos que tirar a Elena daqui.
A voz do Zen soava calma e serena.
“A voz daquele desgraçado sempre soava calma e serena”, Alan pensou, mas não com raiva. “Ele nunca esboçou reação nenhuma além de frieza e arrogância… enquanto mentia para a gente. Enquanto mentia…”
— Você mentiu para ela esse tempo todo — Alan falou calmamente. — Ela tem medo do Imperador também, sabia? Mal vejo a hora de descobrir o que ela vai pensar de você agora.