O Despertar Cósmico - Capítulo 32
Durante alguns segundos o silêncio entre os dois se estendeu de forma tensa, pouco tempo antes do Gama agir.
A energia na mão do vilão fluiu para fora da pele como chamas verdes em um incêndio e depois se juntou, formando uma espécie de esfera de fogo verde.
A esfera percorreu a distância entre os dois em segundos, mas Mikey saltou para trás no último instante, virando um mortal no ar enquanto caía atrás do Pilar de gelo.
Gama criou outra esfera de energia na mão, mas não disparou. Havia perdido Mikey de vista atrás dos pilares.
O vilão estava começando a voar em volta do pilar para procurá-lo quando viu as asas de gelo se abrindo atrás do pilar, a menos de um metro e meio para baixo.
Gama arremessou a energia e a esfera descreveu um longo arco, dando a volta pelo pilar e atingindo em cheio as asas. O clarão verde iluminou o terraço. A explosão fez o pilar rachar.
Mas não houve som algum além dos das asas de gelo sendo destruídas e caindo no chão.
O pilar de gelo começou a ranger e estalar, perdendo o equilíbrio e balançando levemente.
Gama criou outra esfera de energia da mão e contornou o pilar, sabendo muito bem que Mikey não morreria com aquele ataque simples.
Mas quando terminou de dar a volta e olhou para o chão não viu nada além de pedaços de gelo destruídos. Foi nesse momento que o pilar de gelo começou a desabar.
Blocos de gelo começaram a se desprender do pilar principal e despencar em direção ao chão.
Gama estava tão próximo naquele momento que acabou sendo atingido por um dos blocos maiores e teve que usar a energia das suas mãos para derreter o bloco de gelo e passar por dentro dele.
Assim que atravessou o bloco ele viu, de canto de olho, Mikey parado dentro do pilar de gelo — que agora estava com a metade superior despencando em direção ao chão.
Antes que o vilão pudesse fazer qualquer coisa, estalactites de gelo dispararam até ele vindo de todas as direções possíveis.
Gama se esquivou de várias estalactites que se aproximaram perigosamente e disparou um raio de energia que destruiu completamente outras que estavam prestes a atingi-lo.
E foi nesse momento que ele percebeu que todo o interior do pilar era formado por armas de gelo.
Percebeu também que Mikey não havia só saltado para trás do pilar, havia feito isso e usado as asas de gelo como distração enquanto entrava dentro do pilar de gelo e preparava as armas para serem usadas.
Sabia que Mikey podia mover o gelo criado por ele a livre e espontânea vontade, e mesmo sabendo disso caiu naquele truque do herói.
Gama praguejou mentalmente e voou para longe de uma dezena de adagas de gelo que tentavam acertar. Criou outra esfera de energia e se virou para o pilar de gelo, com intenção de atacar o herói.
Mas Mikey já não estava lá mais.
O vilão não teve tempo de procurar pelo herói, pois teve que desviar de um punhado de espadas que quase o acertou. E quando voou para longe disparou um raio verde em direção ao pilar.
A energia engoliu o gelo, o pilar balançou, estremecendo e crepitando com labaredas gigantes ou línguas de fogo incandescentes na cor verde da energia.
Mas uma grande quantidade de armas de gelo já haviam se soltado do pilar, evitando o ataque, e agora disparavam pelo ar em direções, aparentemente, aleatórias.
Uma espada de gelo que disparou na sua direção foi agarrada pela mão do vilão, que estava envolta em chamas verdes de energia, e logo derreteu e evaporou no ar.
Quando uma lança se aproximou ele também agarrou, mas essa ele envolveu com sua energia e arremessou na direção algumas dezenas de flechas que se aproximavam.
Ao se aproximar das flechas de gelo, a energia envolta da lança se expandiu, como se fossem os espinhos de um porco-espinho, e atingiu todas as flechas ao redor.
Todas se incendiaram e explodiram em um clarão verde — e sem som — ao mesmo tempo.
Foi só quando se virou, se preparando para um próximo golpe, que ele viu de relance o herói se aproximando.
Mikey possuía um par de asas de gelo em suas costas, que se moviam com flexibilidade, como se fossem de verdade, e quando se aproximou do vilão ele descreveu um arco com o punho para golpeá-lo.
Mas sabia que não o atingiria, e assim que Gama bloqueou o golpe com o seu antebraço, Mikey envolveu deu punho esquerdo com uma grossa camada de gelo e — aproveitando da abertura criada — atingiu um golpe certeiro no rosto do homem.
O bloco de gelo explodiu na cara do vilão e o impacto foi tão grande que fez ele girar no ar, parecendo que iria perder o equilíbrio do seu voo e cair.
Mas no último instante os pés do Gama emitiram uma explosão de energia que o girou na direção contrária em alta velocidade, completando o giro com um chute na barriga de Mikey.
O herói disparou para baixo até bater com as costas no chão do terraço, que não aguentou e cedeu.
Quando caiu no que parecia ser uma sala de reunião do último andar do hospital, suas costas queimavam de dor. Seus órgãos pareciam terem sido esmagados com o golpe e ele tinha grande dificuldade de respirar.
Mikey cuspiu um punhado de sangue no chão e olhou para o buraco no teto.
Ainda era possível ver Gama voando a vários metros de altura, ajeitando seu elegante terno preto, como se essa fosse sua única preocupação; se manter elegante.
Mas dava para ver, naquele rosto monstruoso e verde de energia, um pequeno fragmento de gelo que não desgrudava nem derretia. Como um sinal do golpe que tinha recebido.
Mikey sorriu e fechou os olhos. Respirou fundo por um momento e quando abriu os olhos eles estavam mais azuis e intensos.
Geralmente seria difícil mover muitos pedaços de gelo com um tamanho grande ao mesmo tempo, principalmente por ele não conseguir direcionar, precisamente, o gelo por onde quer.
Mas usando seus olhos ele podia mover qualquer bloco de gelo, independente do tamanho ou quantidade, para um lugar onde já tivesse algum pedaço de gelo seu, por mais pequeno que fosse esse pedaço de gelo.
Bastou estalar os dedos e todas as paredes de gelo que ele tinha construído antes se desgrudaram da beirada do prédio e dispararam voando pelo terraço.
O alvo delas? Um pequeno fragmento de gelo grudado no rosto do Gama.
Os estrondos dos blocos de gelo colidindo uns nos outros ecoaram no terraço acima do Mikey.
Fragmentos de gelo voaram por todos os lados, clarões verdes iluminavam o terraço até que esses desaparecessem e só restaram os sons de destruição.
Quando esses sons também cessaram a calmaria tomou conta do terraço.
O herói aguçou os seus sentidos, tentando ouvir alguma movimentação lá em cima. Não ouviu nada. Nenhum movimento.
Não conseguia sentir nenhuma temperatura elevada no terraço também, mas sabia que Gama podia esfriar a sua própria temperatura corporal e, quando fazia isso sem sua transformação, conseguia abaixa-la a ponto de ficar invisível aos olhos do herói.
Asas de gelo se formaram nas costas do Mikey, e ele começou a voar lentamente para cima, passando pelo buraco no teto e se elevando acima do terraço.
Blocos de gelo estavam espalhados por toda parte, quebrados em tamanhos disformes e irregulares. Algumas estavam parcialmente derretidas e formavam poças d’água.
O chão do terraço estava rachando em vários pontos onde as paredes de gelo haviam atingido.
Mas até então nenhum sinal do vilão.
Mikey descreveu um arco no céu, rodeando o prédio e observando o terraço atentamente à procura do Gama.
A fumaça continuava se erguendo em um pilar negro da explosão no primeiro andar, a gritaria e confusão continuava no interior do prédio.
Mas até então nenhum sinal do vilão.
O herói desceu voando em direção às antenas de televisão do prédio e apoiou com os pés em sua estrutura. As asas de gelo se contrariam em suas costas.
O silêncio se estendeu por um instante. Um silêncio tão estranho que era desconfortável. Mikey ajeitou a gola do seu sobretudo com o indicador.
Mas até então nenhum sinal do vilão.
Começou a olhar em volta mais uma vez, e foi por pura sorte que ele viu a silhueta escondida embaixo de um amontoado de pedras de gelo criar uma esfera de energia verde e dispara-la na sua direção.
O herói saltou para trás e as asas de gelo em suas costas o puxaram para baixo, bem quando a esfera estava prestes a atingi-lo.
A esfera passaria a centímetros de atingi-lo, mas no último instante em ela se expandiu, como lanças, para várias direções. A energia verde investiu na direção do herói em quatro pontas.
Mas, no último instante, Mikey conseguiu criar uma barreira de gelo na frente da barriga.
Três, das quatro extremidades de energia, atingiram a barreira de gelo, a última atravessou sua carne pouco abaixo do ombro. A energia perfurou a carne, queimando e pulverizando os músculos no caminho.
O herói gritou de dor, mas fez com que as asas de gelo o carregassem para longe daquelas chamas verdes, deixando a placa de gelo que usou ao se defender para trás — ela logo foi completamente destruída pela energia.
Ataques de energia iluminaram a escuridão do terraço enquanto Mikey voava agilmente pelo ar, desviando dos ataques, usando das paredes de gelo no chão e criando escudos de gelo para se defender no último instante.
Seu ombro gritava de dor, o sangue que escorria do ferimento manchava seu sobretudo e deixava uma trilha carmesim por onde ele passava voando.
Mikey descreveu um arco perto do chão, evitando, por pouco, um raio de energia que atravessou o chão do terraço a menos de um metro dele.
“Maldita Energia Gama, se fosse a Energia Cósmica o sangramento teria sido cauterizado pela alta temperatura. Seria mais fácil assim. O sangramento desse ferimento no ombro ainda pode ser um probleminha”, ele pensou, olhando para o ferimento no ombro e vendo o sangue escorrer.
Depois de desviar do raio de energia Mikey pode ver Gama sair do seu esconderijo. Sua pele havia voltado ao normal, não era mais verde e feita inteiramente de energia gama.
O homem era negro, tinha o cabelo penteado elegantemente para trás e usava um terno preto. Ajeitou sua gravata, sempre com aquela postura orgulhosa e elegante, enquanto fitava o herói com seus afiados, e penetrantes, olhos verdes.
Mikey subiu mais de seis metros no ar e parou, se virando para o vilão, e o observando atentamente.
Não haviam ferimentos visíveis, e Mikey praguejou ao notar isso. Sempre que Gama saía em seu modo energia — que o vilão havia nomeado de Corpus Energy — os ferimentos em seu corpo eram quase que completamente curados.
Mas ele esperava pelo menos ver um sangramento ou, pelo menos, um arranhão.
— Seus poderes são realmente perigosos, Mikey. Não é atoa que lhe chamam de Anjo da Morte no submundo. Acredito que não seja necessário afirmar isso, mas a sua fama é justificada.
A voz do Gama soava penetrante agora que havia desativado sua transformação. O homem era imponente em todos os sentidos.
— Você fala isso mas não teve dificuldades em lidar com o meu ataque. Dessa forma eu sinto que está debochando do meu poder, Gama. — Mikey estava sério e atento, não podia perder, mesmo que por um instante, nem mesmo o menor dos movimentos do vilão.
— Longe de mim cometer tal afronta ao servo mais leal do Imperador. Não, Mikey. Eu estou sendo sincero.
A seriedade na voz do vilão não era ameaçadora, mas Mikey se sentiu intimidado mesmo assim. Era como se ele estivesse falando; você é forte o suficiente para eu lutar com tudo o que eu tenho.
— Queira me perdoar se passei uma impressão diferente, mas não foi uma tarefa fácil. O problema, herói, é que seu adversário sou eu. Mas isso não diminuiu seus feitos. De fato, não diminui nem um pouco. Das pessoas que enfrentei você com certeza é uma das mais fortes.
— Não sei se esse seu Ranking está atualizado, Gama. Acha mesmo que eu perco para o Zen? — Mikey sorriu de forma divertida, mas estava tenso como um bastão Omea recém forjado.
— Isso não vem ao caso — Gama respondeu com seriedade e educação. — Vocês lutam de formas diferentes. Seu querido Imperador é uma pessoa única, deve ser avaliada como tal.
— E eu devo imaginar que eu seja apenas o terceiro, e o meu querido Imperador esteja em segundo, certo? — Mikey esboçou um sorriso presunçoso. — E que seu louvado Deus da Mentira esteja em primeiro lugar?
Gama avançou alguns passos para frente e chamas verdes de energia começaram a dançar por seu corpo, fluindo por debaixo de sua pele e sobrepondo-a.
O homem começou a voar lentamente conforme se transformava.
Seu terno era de um material muito resistente, e caro, o que era evidente devido ao fato de que não se destruía ao entrar em contato com a energia que, em termos de temperatura, perdia apenas para a energia Cósmica e alguns, poucos, usuários de fogo.
— Você está errado em duas coisas, Mikey.
Gama desabotoava as abotoaduras douradas do seu terno enquanto voava até o herói. Parecia despreocupado. Seu rosto estava sereno, e ainda não havia se transformado.
— A pessoa mais forte que eu enfrentei não foi Edward, mas sim a Rainha Pathykinese, Maria Helena Rodrigues. A mãe da garota que seu Imperador tanto protege. E segundo; é errado ficar supondo coisas sobre os outros sem saber dos fatos. É rude, e nada elegante da sua parte.