O Despertar Cósmico - Capítulo 33
Mikey agitou suas asas de gelo para frente e uma dúzia de afiadas penas de gelo se soltaram e dispararam contra o vilão, que agitou o braço envolto por energia, em uma tentativa de destruir as penas.
Mas no último instante elas se dissiparam, espalhando-se no ar enquanto voavam em volta do alvo.
Gama começou a efetuar disparos de energia enquanto se afastava, voando por todo o terraço enquanto destruía, com precisão, todas as penas de gelo que se aproximavam.
Porém sempre surgia uma nova pena, o gelo se formando em pleno ar — e exatamente nos seus pontos cego, sempre em alta velocidade.
Quando estava ocupado destruindo três pernas de gelo que se aproximavam como facas afiadas, Gama não notou a aproximação de Mikey por trás, que acabava de disparar uma de suas asas de gelo.
As últimas penas foram destruídas bem a tempo de Gama virar e ver a asa se aproximando em alta velocidade.
Uma explosão de energia impulsionou os braços do vilão, que se moveram como um borrão verde no ar e agarraram a asa de gelo antes que fosse atingido.
Mas mesmo bloqueando o ataque ele não conseguiu conter completamente o avanço da asa e foi empurrado para trás. Entretanto, o gelo derretia em conta com a mão do vilão e logo seria destruído.
O ataque não foi completamente em vão, a ponta da asa havia atingido a barriga do vilão, abrindo uma ferida superficial — mas que sangrou.
Uma mancha carmesim se formou lentamente em seu terno, e começou a aumentar conforme o sangue fluía, como uma flor desabrochando.
Um aumento repentino na energia concentrada nas mãos do vilão fez uma rachadura se espalhar por toda a asa de gelo — com um brilho verde sendo emanado do seu interior.
Mikey, que estava pairando no ar a alguns metros de distância do homem, viu que a asa estava prestes a ser destruída e começou a criar outra asa em suas costas enquanto descrevia um arco no ar e se afastava.
Seu voo estava instável, a falta de uma asa prejudicava na velocidade e a nova — que ainda estava se formando — não tinha tamanho suficiente para contribuir com a outra.
Por isso ele mal havia começado a se afastar e quando viu, de relance, o clarão verde que iluminou o terraço quando Gama destruiu a asa de gelo, e em seguida outro clarão acompanhou o primeiro.
A segunda asa de gelo se formou nas costas de Mikey e ele sentiu seu voo estabilizar. No mesmo instante se impulsionou para baixo com toda velocidade.
Ele não estava voando alto, por isso quando bateu com os pés no chão e efetuou um rolamento para amortecer a queda, ainda teve tempo de ver uma esfera verde passar voando onde estava um segundo atrás.
Também ouviu quando sua asa esquerda quebrou ao rolar no chão, então começou a trabalhar para refazê-la.
Infelizmente ele não teve tempo para isso.
Viu a esfera de energia da qual tinha acabado de se esquivar fazer uma curva quando estava na beirada do terraço e disparar em sua direção novamente.
O herói parou de correr e se virou.
Gama estava criando outra esfera de energia a vários metros dele, mas dessa vez as chamas verdes dançavam entre suas duas mãos, concentrando seu poder em um ataque que parecia ser mais poderoso do que os anteriores.
Mikey respirou fundo e fechou os olhos por um segundo.
A esfera que se aproximava possuía mais de quatrocentos graus celsius, mas o verdadeiro problema era a energia que o vilão estava manipulando naquele momento, que ultrapassa os novecentos graus celsius facilmente.
Todos os ataques eram mortais.
Mikey inspirou e expirou profundamente, deixando uma aura de gelo cair sobre o terraço.
Seu raio de alcance era de cinco metros, por isso Gama, que estava a quatro metros e meio de distância, e a esfera de energia — que já estava perigosamente perto — estavam dentro do seu Domínio De Gelo.
Abriu os olhos, que brilhavam com uma intensidade muito maior do que o normal, e disse:
— Calma lá, Gama. Acho melhor tu esfriar a cabeça um pouco.
O estalar e ranger do gelo se formando repercutiu pelo terraço, ecoando nos céus como um trovão em uma tempestade, mas durou apenas alguns segundos.
Suficientemente rápido para passar despercebido, se não fossem as enormes estalactites e colunas de gelo que se espalharam pelo topo do hospital naquele momento.
Era noite de lua cheia, as estrelas brilhavam no céu noturno, e todo esse brilho era refletido pelo gelo. O epicentro daquele mar de gelo era Mikey, que não havia sequer se movido.
Ao olhar para trás, o herói viu, aliviado, uma coluna de gelo que havia sido parcialmente derretida pela esfera de energia que bloqueou.
Olhou para cima em seguida e seu alívio desapareceu.
Uma coluna de gelo se estendia por pouco mais de cinco metros de altura. No topo, ofuscada no interior do gelo, uma luz verde brilhava.
Gama tentou voar para escapar, e quase conseguiu, mas foi congelado quando estava saindo do raio de alcance do Mikey.
Porém, infelizmente, aquilo não o seguraria por muito tempo, e o herói sabia disso.
Foi nesse momento que o Zen decidiu fazer contato novamente. Dessa vez não pelo celular, mas pela escuta que ele usava para se comunicar com os membros da Justice Angels.
— Diebus, como vão as coisas aí? — a voz do Zen soava mais fria do que o normal.
— Ainda tô vivo. E aí? — Mikey perguntou.
— Da pior forma possível — Zen nunca foi tão sincero em sua vida, e Mikey sabia disso pelo seu tom de voz.
Estava falando baixo, como se estivesse se escondendo, mas não chegava a sussurrar. Eram palavras que pareciam difíceis demais para serem pronunciadas.
— Consegue manter o Gama parado por um momento? Vou efetuar a Troca Equivalente, mas estou muito distante dele e há vinte pessoas no meu caminho, vou ter que me concentrar.
Mikey olhou para cima antes de responder, para onde Gama estava preso.
A luz verde brilhava mais forte agora. O gelo ao redor dele estava derretendo rapidamente, não demoraria para que ele se libertasse.
— Tá brincando? Eu só preciso falar da honra dele e vou ouvir um longo discurso. Já viu como esse cara gosta de falar?
“Apesar de estar mais sério do que o normal hoje”, Mikey pensou, mas achou melhor não falar nada.
— Onde cê tá? Ainda tá no prédio?
— Por enquanto, mas vou descer para o beco à sua esquerda. Vamos acertar o rosto, lembre-se disso. — Zen respondeu.
E desligou.
Mikey começou a caminhar pelo terraço e a derreter o gelo para abrir espaço para a luta que estava por vir, gastando o que ele sabia ser as últimas ações com o poder dos seus olhos, antes de ter que desativá-lo.
“O desgraçado me manda lutar com alguém que nem ele consegue vencer e ainda desliga na minha cara. Nada elegante da parte dele”, ele pensou enquanto derretia o gelo espalhado pelo terraço.
O gelo estalou e rangeu. As chamas de energia brilharam no interior do gelo. A luz verde se tornou ofuscante. E em meio a um brilho verde o gelo implodiu.
Blocos de gelo foram arremessados para os lados e se espatifaram no chão do terraço. Uma luz verde ofuscante tomou conta do céu estrelado por um momento, emanando poder e um brilho forte, até que o brilho diminui, revelando que o vilão estava livre.
Gama primeiro passou a mão pelo termo, desamarrotando-o e retirando os fragmentos de gelo, em seguida ajeitou a sua gravata e só depois começou a voar em direção a Mikey, diminuindo rapidamente os cinco metros da altura onde estava.
Quando seus pés tocaram no chão ele podia muito bem fingir que o golpe não o tinha afetado — mesmo sabendo que não era verdade — e Mikey acreditaria.
Quando o vilão falou seu tom era de admiração e, mesmo que com a transformação de energia fosse impossível ver os lábios do vilão, Mikey podia apostar que ele estava sorrindo:
— Você sempre me impressiona com sua capacidade, Mikey. Por um segundo eu pensei que fosse morrer, e se não tivesse com a minha Corpus Energy ativada eu realmente teria.
— Vou guardar essa informação para mais tarde, na próxima vez eu uso quando cê não estiver preparado. — Mikey sorriu, mas sabia que isso não aconteceria. Gama estava sempre preparado.
— Eu adoraria continuar aqui lutando com você, mas infelizmente tenho que pôr um fim nisso rápido.
— Digo o mesmo. — Mikey ergueu os braços, se colocando em uma posição defensiva. — Então por que não resolvemos as coisas na moda antiga? Uma troca de golpes corpo-a-corpo, onde não apenas o mais forte vence, mas também o mais rápido e mais habilidoso.
— Uma disputa honrada…
Gama fez uma pausa, como se estivesse considerando aquilo, mas quando voltou a falar a seriedade em sua voz fez Mikey estremecer:
— Ou é o que você gostaria que eu pensasse. O que está tramando, Lorde do Gelo? Nós dois sabemos muito bem que você não é capaz de me derrotar em uma luta de perto.
— Cê não acha que está me subestimando demais, Gama?
Os pés de Mikey se arrastavam no chão. O herói prestava atenção em cada movimento do vilão, atento para um possível ataque.
— Eu não sou um Classe Média que só consegue atacar de longe, Gama. Eu sou um Classe Superior, o Lorde do Gelo. Me subestimar é o mesmo que aceitar a morte, vilão.
Dessa vez ele riu, em alto e bom som. Sacudiu os braços, se aquecendo, e disse:
— Muito bem, vamos fazer como você quer, Mikey. Vamos jogar conforme os seus jogos. Quer elaborar um plano para me derrotar? Talvez o C4 esteja chegando e você queira me enrolar. Ou então o Imperador está voando na minha direção. Não importa. Vou lidar com o futuro quando for presente, e então o receberei de bom grado.
O homem começou a avançar e Mikey recuou um passo para trás instintivamente.
— Mas, por enquanto, me permita fazer uma demonstração vulgar de como meu argumento anterior está correto… Você não pode me derrotar no corpo-a-corpo.
Um cachorro uivou para a lua em algum lugar da cidade. Os pássaros que estavam no terraço da construção ao lado levantaram voo.
Mikey conseguiu ver um clarão verde e instintivamente se esquivou para o lado. O punho do Gama zuniu perto da orelha do herói, e um corte superficial se abriu na sua bochecha.
O segundo punho não o atingiu pois Mikey já tinha notado a movimentação do vilão, e executou uma finta no momento em que desviou do primeiro golpe.
Dessa vez Gama errou por muito o golpe, mas, assim como antes, a velocidade era alta demais para que Mikey conseguisse acompanhar.
“Mas não importa. Desde que eu consiga prever suas intenções e preparar um contra-ataque”, ele pensou.
Gama viu o golpe do Mikey se aproximando, mas não teve tempo de desviar. Ao invés disso, se preparou para contra-atacar.
O que não esperava era a grossa camada de gelo que se formou na mão dele no último instante.
A energia verde de sua pele oscilou por um instante onde o punho o atingiu. A dor invadiu seu rosto por um breve momento.
Mas ele logo se recompôs e se virou para Mikey, bem a tempo de receber o segundo golpe, também com uma camada de gelo em volta do punho.
A energia oscilou e um terceiro golpe o atingiu, e só quando o quarto golpe o acertou que ele percebeu os olhos azuis e brilhantes no rosto de Mikey.
Uma sequência de golpes poderosos explodiu no rosto do vilão, fazendo-o recuar para trás enquanto era golpeado.
Cada soco era mais forte, mais rápido e mais potente. O gelo se formava ao redor do punho só para ser destruído contra o vilão e se reformar logo em seguida.
Mas ainda assim não podiam ser comprados com os ataques do vilão.
A sequência acabou abruptamente quando o punho do Mikey se projetou para frente, no que seria mais um golpe esmagador, e o Gama se abaixou, esquivando do golpe, e o atingiu com um soco na barriga.
Uma explosão de energia ressoou do punho do vilão e Mikey foi jogado para trás com tanta força que provavelmente teria atravessado a coluna de gelo da qual se aproximava.
Mas antes que isso acontecesse, Gama saiu voando na direção do herói, como um borrão verde no terraço iluminado pela lua cheia, e o alcançou na metade do caminho.
Estava armando um soco que jogaria Mikey contra o chão quando uma coluna de gelo se ergueu do chão em seu caminho. O vilão não conseguiu reagir a tempo e trombou com força contra o gelo.
A coluna de gelo se partiu em vários pedaços e Gama caiu rolando no chão, e mais a frente foi possível ouvir o som de Mikey colidindo com uma das paredes de gelo que cercavam as beiradas do prédio.
Gama se recuperou primeiro. As costas doíam um pouco por bater contra a coluna de gelo, mas não se comprava com a cabeça pulsando de dor devido aos golpes diretos que havia recebido.
Quando olhou para onde Mikey estava, viu um buraco na parede de gelo. Ele ainda não parecia ter se recuperado, mas Gama não avançou.
Um segundo se passou até as pedras de gelo começarem a deslizar e Mikey surgir no buraco na parede, cambaleando e com o sobretudo manchado de sangue.
Gama não se surpreendeu com sua condição.
Mikey estava apoiado com o ombro na coluna de gelo, sangue escorria do seu rosto e sua roupa estava rasgada em vários lugares. Mas ele encarava o vilão com seriedade.
O herói praguejou e cuspiu, manchando o gelo com sangue. Tocou, de forma hesitante, a região onde tinha sido golpeado. Sentiu uma onda de dor proveniente do que parecia ser de duas ou mais costelas quebradas.
Quando tentou andar uma pontada de dor o obrigou a criar um pilar de gelo para se escorar. Estava no seu limite.
“Um golpe”, Mikey cuspiu mais sangue no gelo. O sangue não parava de fluir em sua boca. “Um maldito golpe! Ele me inutilizou com um único golpe!”
— Como pode ver, Mikey, é inútil continuarmos com essa batalha — Gama falou alto o suficiente para que Mieky escutasse, mas sem alterar o tom de voz.
O herói não falou nada, apenas se concentrou em criar uma camada de gelo em volta das costelas. Mikey gemeu, se curvando de dor. O sangue voltou a inundar sua boca.
Mas a camada de gelo serviu para voltar às costelas quebradas para o lugar e impedir que elas se movessem.
Ele cuspiu sangue novamente e quando ergueu o olhar viu Gama avançando na sua direção, sem dar tempo para ele se recompor.
Não que fizesse diferença. Ele não estava em condições de lutar contra o vilão mesmo se quisesse.
No momento Mikey mal estava conseguindo manter seus olhos ativados, e sabia que forçar os olhos além do seu limite também cobraria um preço. Ele já estava começando a sentir esse preço em forma de exaustão.
— É uma pena que isso tenha que acabar assim, Mikey. Você segue a pessoa errada, mas isso não é culpa sua. Está seguindo um ótimo líder, mas ele está preso em uma vingança infantil e sem sentido.
Gama fez uma pausa, como se realmente estivesse sentido. As palavras pareciam realmente carregar um pesar sincero.
— Mas você é um bom homem, Mikey, e um amigo melhor ainda. Sei que é inútil tentar lhe trazer para o nosso lado. Mas saiba que Edward aprecia o que está fazendo e agradece por ter cuidado do Zen até agora.
— Cê fala como se eu estivesse prestes a morrer… Já não disse para não me subestimar, Gama? — Mikey sorriu. Sangue escorria pelos seus lábios e ele mal conseguia se manter de pé, mas quando falou estava confiante.
— Eu prometi que levaria a garota e vou levá-la, Mikey. Sei que você não pode permitir que eu faça isso, então terei que te matar para cumprir a minha promessa, e isso é uma pena.
Não havia nenhum tipo de prazer no tom de voz do homem.
— Mas um homem que não cumpre com uma promessa deve estar disposto a pagar com a honra, e a honra é como uma pedra preciosa, cujo a menor imperfeição pode diminuir, e muito, o seu valor.
Ele passou a mão pelo rosto, tirando uma fina camada de gelo presa ali, e depois acrescentou:
— Mas não há dinheiro que compre a minha honra e nem troco o suficiente para que possam compensar o que eu perderia.
O vilão parou a um metro e meio do Mikey, as chamas verdes de energia dançaram por sua pele e formaram uma esfera de energia na palma de sua mão esquerda. Ele apontou a esfera para o herói.
— Quero que saiba que tem o meu respeito, herói. Você acredita no seu Imperador. Mesmo ele seguindo pelo caminho errado e agindo contra a lógica.
— Claro, porque o caminho certo é o seu, né?
— Não necessariamente. O ideal de vocês é infantil, mas não deixa de ser nobre, e não existe pessoa mais honrada do que alguém que segue, com afinco, seus ideais. Por isso, Lorde do Gelo, me cau…
Gama desapareceu no meio da frase e Zen Snyder surgiu no lugar dele, fitando Mikey com aqueles olhos frios e o olho esquerdo amarelo.
Um estrondo ensurdecedor ecoou no beco ao lado, o hospital inteiro estremeceu, como se tivesse acontecido outra explosão no primeiro andar.
O silêncio recaiu sobre o terraço. Por um momento a expressão do garoto foi de surpresa e incredulidade, mas logo a máscara de inexpressividade voltou a camuflar suas emoções.
— Você tá horrível.
— Obrigado. — Mikey sorriu com os lábios ensanguentados. — Para onde mandou ele?
Dessa vez foi o Zen que sorriu. Um sorriso perverso e diabólico.
— Diretamente para o punho furioso da Elena.