O Despertar Cósmico - Capítulo 34
O punho da Elena atingiu a pele verde do homem que surgiu na sua frente antes que ela percebesse o que tinha acontecido.
Um estrondo ecoou por todo o beco, como uma manifestação de toda a sua força e raiva.
O segundo estrondo foi bem menor que o primeiro e ocorreu quando o corpo do homem atingiu a parede do hospital, atravessando para o seu interior em alta velocidade.
Por um momento um silêncio absoluto recaiu sobre o beco. O som dos pés da Elena se arrastando de forma hesitante no chão pareciam muito mais altos do que o normal diante daquele silêncio.
A garota ficou olhando para o próprio punho, cujo a pele estava levemente vermelha e queimada. Estava doendo, queimando como se estivesse socado uma fogueira.
Mas quando voltou a olhar para o buraco na parede do hospital só se preocupava em como estava o homem que ela havia atingido.
Quando começou a avançar na direção do buraco na parede, uma mão repousou em seu ombro com firmeza.
A garota parou e olhou para trás, esperando ver Alan, mas quem a estava segurando era o membro da Justice Angels — aquele que chamavam de C4.
O homem que sempre estava com um largo sorriso no rosto, agora estava com um semblante sério.
— Não era o Zen — ele avisou.
— Eu sei…
— Então não vai lá, porra! Cê é igualzinha à tua irmã. Só pensa em ajudar as pessoas, não importa quem for. O Zen trocou de lugar com ele por um motivo. Bora marcar o Zen voltar e perguntar a ele qual é esse motivo e com quem ele trocou.
— Mas…
Ela estava prestes a dizer que o homem poderia estar gravemente ferido, pois tinha usado toda a sua força naquele soco, pensando que o Zen desviaria.
Mas antes que formulasse sua frase, ela se deu conta de que não era a primeira vez que aquele homem citava sua irmã.
— Cê conhece a minha irmã?!
— Ah, ainda não fomos apresentados, não é, cunhada? — Ele riu de forma descontraída. — Meu nome é Alexander Rivera, Alex para os íntimos e C4 para quem tiver coragem de me chamar assim.
— Cunhada?
Elena recuou um passo atrás, olhando incrédula para o homem na sua frente.
Ele vestia o manto negro de um dos maiores grupo de terrorista do mundo inteiro. Um vilão. Um genocida. E ela não conseguia acreditar no que ele estava insinuando.
— Cê… Cê é o namorado da minha irmã…? Aquele Alex…?
— Eu sou. Mas não sei se quando cê diz “Aquele Alex” é um algo bom ou não. — C4 franziu as sobrancelhas, mas sem tirar o sorriso do rosto. — Falaram mal de mim pra tu, Cunhada?
Elena não respondeu nada. Não sabia o que dizer.
A mãe dela já tinha falado do namorado da irmã mais velha diversas vezes, e em nenhuma delas Maria demonstrou ser a favor do relacionamento deles.
E sempre que Elena perguntava o motivo ela dizia que era porque o garoto seguiu pelo mal caminho.
“Isso é o mal caminho?”, Elena perguntou-se. “Eles são vilões! Como a Ester foi se envolver com um deles?! Ela é uma heroína profissional! Devia manter distância de pessoas como ele!”
Por sorte ela não precisou dizer alguma coisa ou lidar com um silêncio desconfortável, pois Zen e Mikey desceram voando em direção ao beco bem nesse momento.
Mikey possuía um par de enormes asas de gelo nas costas, mas isso era o que menos chamava atenção no herói. Havia sangue manchando todo o seu sobretudo — assim como no seu rosto.
Ele parecia cansado e uma camada de gelo envolvia seu peito, que também estava manchado de sangue. Mas seus olhos azuis brilhavam intensamente.
Zen também estava diferente, voava lentamente em direção ao chão, o manto negro que estava vestindo esvoaçando com o vento.
“Eu não sei de onde ele arrumou essa roupa e nem como se trocou, mas tá aí o Zen de verdade. O Imperador. Aquele manto negro combina perfeitamente com ele”, Elena pensou, enquanto o observava pousar lentamente próximo a ela.
— Ele não vai ficar assim por muito tempo — Zen falou, olhando para o buraco na parede do hospital.
Desviou o olhar para a Elena e em seguida para a mão dela. Começou a caminhar na direção dela sem hesitar enquanto falava:
— Me desculpa. Não considerei a Corpus Energy. Fui imprudente. É claro que ele ativaria sua transformação, é o único jeito de evitar de ser congelado diretamente pelo Diebus. Você se machucou?
A garota só percebeu o que ele estava fazendo quando ele já estava segurando a sua mão. Ela recuou a mão no mesmo instante.
Zen olhou para ela surpreso e franziu as sobrancelhas. Mas apenas por um momento, antes da máscara de inexpressividade voltar ao seu rosto.
— Eu consigo aliviar a dor da energia gama — ele explicou, e gesticulou na direção da mão dela.
Elena hesitou por um momento, mas sua mão estava queimando tanto, que para se livrar daquela dor ela aceitaria a ajuda de qualquer um.
Zen segurou a mão dela com delicadeza, quase como se estivesse segurando um objeto frágil e sensível, e instantaneamente uma luz roxa e ofuscante envolveu as mãos deles.
Partículas brancas brilhavam em meio a luz roxa, que esvoaçava como se fossem chamas de poder. Era como aura cósmica, com suas próprias estrelas e constelações.
“É incrível! Nunca vi a energia cósmica ser usada desse jeito . É… lindo”, ela pensou, observando a luz roxa brilhante com partículas brancas que lhe lembravam o céu noturno estrelado.
Mas ao erguer o olhar e ver o sorriso presunçoso no rosto do Zen, toda a admiração que sentia por aquele poder desapareceu.
A garota desviou o olhar para Mikey, observando as feridas no rosto e o sangue na roupa do herói.
— Você tá um caco, Mikey. O que rolou? — Alex fez a pergunta que Elena estava prestes a fazer. — Tinha uma ex sua no hospital?
— Vai te foder — Mikey apontou o dedo do meio para o Alex rindo, apesar de que isso parecia lhe proporcionar dor. — Foi o Gama. O Gama aconteceu.
— Espera…
Alex olhou para o buraco na parede, em seguida para o Zen e depois para a Elena. Refletiu por um instante e depois voltou a olhar para o Zen.
— Aquele era o Gama? O que levou o socão? Caralho! Tu fez a Troca Equivalente com ele?
Zen meneou positivamente com a cabeça, mas parecia concentrado demais em emanar aquela aura de energia.
Alex assobiou baixinho, e deu dois tapinhas no ombro da garota como se estivesse lhe dando os parabéns.
— Aquele foi o soco mais sincero que eu já vi, Cunhada. Impressionante, real. Cê tá desmontou o Gama.
Elena abaixou o rosto sem saber o que dizer e se sentindo um pouco envergonhada.
Realmente tinha sido um soco sincero. Ainda conseguia sentir a raiva queimando em seu peito por causa das coisas que o Zen falou.
Não conseguia evitar de ficar repetindo elas em sua mente, dizendo a si mesma, no final de tudo, que aquilo que eles tinham, a relação deles, não era real e que ela tinha que superar isso.
— O que tu tá fazendo? — Alan perguntou parado ao lado do Zen. Elena não tinha visto o garoto se aproximar.
Mas não deixou que Zen respondesse, pois após um segundo de reflexão ele logo acrescentou;
— Na real, fiz uma pergunta idiota. O que tu tá fazendo eu já sei, cê mesmo falou. Mas eu nunca vi alguém usar a energia cósmica desse jeito. Então a pergunta certa seria: Como tu tá fazendo?
Zen sorriu. Um sorriso vitorioso, presunçoso e arrogante como só ele sabia fazer.
— Se aceitar o meu convite talvez eu lhe conte, Alan.
Alan não respondeu, ficou encarando o garoto com seriedade, como se esperasse que ele fosse retirar o que disse a qualquer momento.
Zen desviou o olhar para a mão da Elena, a luz ficou mais forte, e em seguida ele olhou para Mikey.
— Consegue voar carregando ela?
— Vai pro inferno, Zen. Cê acha que eu fiquei paralítico? Claro que eu consigo — Mikey fez uma pausa, trocando olhares sérios com o amigo , e então acrescentou: — Não, não faz sentido. Cê é muito mais rápido.
— Eu preciso ficar. Ainda há vilões aqui e não tem nenhum sinal de que os Grandes estão chegando. Pode ser que demore uma hora pra isso, e nesse caso todos já estariam mortos. Se a gente nã…
O garoto parou de falar repentinamente, sentindo seus sentidos apurados gritando pelo perigo, e com movimentos rápidos ele saltou sobre a Elena, envolvendo ele em seus braços e se colocando na sua frente.
A explosão verde não emitiu som algum, mas foi tão forte que empurrou todos para trás.
Mikey cambaleou e só conseguiu se manter de pé porque Alex o segurou, usando uma areia que surgiu do nada para criar um apoio que os segurou.
Alan caiu rolando, mas logo se recompôs, e Amanda bateu com as costas contra a parede da construção.
O único que não foi afetado pela explosão de energia foi o outro membro da Justice Angels, que estava mais afastado.
Ao contrário da Elena e do Zen, que foram os mais afetados, sendo jogados com tanta força para longe que saíram do beco e caíram na rua de trás do hospital.
Elena ainda conseguia ver, e principalmente sentir, a luz verde da energia mesmo com as pálpebras fechadas.
Quando abriu os olhos e percebeu que estavam na rua, rapidamente começou a se desvencilhar dos braços do Zen e a levantar.
Mas parou ao ouvir Zen grunhindo de dor.
Quando olhou para ele com atenção, entendeu o motivo.
As costas dele estavam em carne viva, o sangue escorrendo pelo manto negro queimado e pingando no asfalto.
— Puta merda! Ai Meu Deus! Suas costas!
Elena se apressou em ajudá-lo, mas Zen recusou apenas erguendo a mão e em seguida começou a se levantar.
A ferida em suas costas começou a sangrar mais quando a pele se contorceu com o movimento, mas o garoto cerrou os dentes e, com muito esforço, fingiu indiferença à dor.
— Eles não podem me ver precisando de ajuda — ele murmurou, tão baixo que Elena quase não conseguiu ouvir.
A garota se levantou também, pronta para ajudar o garoto se necessário.
Mas não foi necessário.
Zen se ergueu lentamente, mas quando se endireitou parecia estar bem e — se não fossem as feridas e o sangue em suas costas — poderia muito bem fingir que nada tinha acontecido.
— Shadow, Sword! — ele falou.
A sombra embaixo dos seus pés oscilou, vibrou e sacolejou, e então, abruptamente, uma espada saiu voando do chão e subiu até que o Zen a pegasse pelo cabo com a mão esquerda.
Elena ficou tão surpresa com aquilo que não viu o momento em que os homens de capa preta se aproximaram.
Só foi notá-los quando o primeiro se ajoelhou a um metro deles, chamando o Zen de senhor e abaixando sua cabeça, aguardando ouvir suas ordens.
Mais sete pessoas vestindo o manto negro da Justice Angels acompanhavam a primeira, surgindo cada uma de um lugar diferente, e se ajoelharam ao seu lado.
Zen não respondeu, estava olhando fixamente para o beco entre o hospital e a construção. Elena olhou naquela direção também, preocupada com os amigos.
Mas a garota não conseguia ver nada além das sombras que recaem sobre o beco. Olhou para o Zen novamente, se perguntando o que aquele olho amarelo podia ver.
E ironicamente a resposta veio logo em seguida.
Um clarão verde repentinamente iluminou o beco escuro, seguindo por dois clarões azuis e duas explosões. Os sons da batalha chegaram aos ouvidos deles logo depois.
Elena disparou correndo na direção do beco, ou é o que ela teria feito se o Zen não a tivesse segurado pelo braço.
Antes que a garota tivesse a chance de protestar, o clarão verde iluminou o beco escuro, seguido por um grito de dor que Elena reconheceu instantaneamente.
Alan saiu voando do beco com chamas verdes de energia brilhando no seu rosto. Quando caiu na rua rolou por vários metros, ralando todo o seu corpo, antes de parar.
Só então o Zen soltou a mão da Elena e a garota saiu correndo, instantaneamente, na direção de Alan.
Mas quando Elena estava se aproximando do amigo, um segundo clarão foi emitido do beco escuro.
Elena se virou bem a tempo de ver Zen rebater a esfera de energia para o lado com a sua espada.
A energia atingiu o chão a um metro de distância e explodiu, sem emitir som algum, destruindo o asfalto em vários fragmentos que foram arremessados por toda parte.
O garoto pareceu não se importar com os fragmentos do asfalto que voavam pelo ar — mesmo que alguns estivessem atingindo ele.
No momento Zen estava totalmente focada no beco, e Elena só entendeu isso quando se abaixou perto do Alan e viu um homem de terno sair caminhando com firmeza do beco entre o hospital e a construção.
— Zen Snyder…
O homem parou e fez uma reverência sútil, abaixando a cabeça de forma respeitosa. Quando ergueu o rosto e falou, olhando diretamente nos olhos do Imperador , realmente havia respeito em seu tom de voz:
— É sempre uma honra lutar contra o Imperador em pessoa, mesmo em uma situação tão deplorável. Coisas como essas que estamos fazendo não deviam acontecer, mas saiba que o Iluminus vai corrigir tudo isso quando for solto.
Ele fez uma pausa, quase como se estivesse refletindo, respirou fundo e então completo:
— Odeio dizer isso, como qualquer genocida diria, mas isso é um mal necessário. Um sacrifício que devemos estar dispostos a pagar.
— Mas cêis não pagam… — Quando percebeu o que estava fazendo Elena já tinha falado.
Tudo que podia fazer era parar antes que falasse mais alguma coisa que pudesse lhe matar. Por sorte falou tão baixinho que provavelmente foi inaudível.
Mas ela sentiu um tremor percorrer seu corpo mesmo assim, como se fosse um mal presságio.
A garota estava agachada ao lado de Alan, que estava com uma queimadura pequena na bochecha, e sentiu suas mãos tremerem sobre o peito do amigo.
Desviou o olhar, bem lentamente, na direção do vilão chamado Gama. Encontrou aqueles olhos verdes e afiados a encarando e ficou paralisada.
Sentiu a garganta ficar seca e um calafrio percorreu seu corpo.
Aqueles olhos eram assustadores de uma forma diferente do olho esquerdo do Zen. Era um olho lindo e elegante, porém cruel e frio. De um verde escuro penetrante e intenso.
E quando olhava para alguém diretamente, como estava fazendo com a Elena naquele momento, parecia-se com um olhar de uma pantera.
— Elena Rodrigues, a Princesa Pathykinese. Filha da Deusa da Mente e Rainha Pathykinese, a Rainha das Rainhas, Maria Helena.
O homem, para surpresa da garota, também lhe prestou uma reverência, e quando se ergueu novamente a fitou com seriedade.
— É uma honra. Meu nome é Lúcio Vidal de Andrade.
Elena sentiu que deveria cumprimentá-lo também, mas tudo que conseguiu fazer, paralisada de medo como estava, foi menear com a cabeça.
— Parece que eu ouvi você dizer algo interessante, poderia repetir, por favor? — ele pediu educadamente.
Elena hesitou, olhou para o Zen e viu que o garoto também olhava para ela.
Ele estava parado a alguns metros dela, trajado com o manto negro como se fosse sua segunda pele e com sua postura arrogante e olhar inexpressivo de sempre.
Elena não sabia quando, mas uma das pessoas de manto negro havia se aproximado do garoto por trás e usava o poder de cura nas costas dele.
Se Gama tinha percebido aquilo não demonstrou.
Quando ele assentiu Elena se virou de volta para o vilão e percebeu, a contragosto, que se sentia um pouco mais segura.
Os boatos sobre o Imperador ainda eram reais, não importa se ele é o Zen, se ele disser que você vai ficar bem, você vai. Ele é o Imperador.
“Ele vai me proteger”, ela pensou.
— Vocês não pagam esse preço — ele falou, descobrindo que mesmo se sentindo mais confiante não conseguia ignorar o medo que aquele homem lhe provocava.
Ele parecia ter uma aura intimidadora em volta dele. Mas mesmo assim Elena deu continuidade, colocando tudo o que pensava em palavras:
— Fica dizendo que é um sacrifício, um mal necessário, mas cêis não pagam esse sacrifício, não são afetados por esse mal necessário, vocês são eles. Vocês que cobram o sacrifício, mas é porque vocês são o mal necessário…
O silêncio que se seguiu só era interrompido pelos gritos e explosões que soavam dentro do hospital.
A rua estava parcialmente escura, iluminada apenas pela lua cheia que brilhava intensamente no céu, mas ainda foi possível ver um grupo de pessoas passando correndo na rua em que eles estavam, provavelmente saindo correndo do hospital.
Os olhos verdes de Lúcio encaravam Elena com intensidade, e ela sentia como se não pudesse desviar o olhar. Como se isso pudesse lhe custar a vida.
Por fim o homem esboçou um leve sorriso, abaixou o rosto e então riu. Uma risada grossa e rígida, como se até sua risada fosse formal.
Quando parou de rir, ele olhou para o Zen por um instante, em seguida se virou para a Elena novamente.
— Você tem um bom ponto. É por isso que eu disse que não queria usar esses termos, me faz parecer um genocida. Permita-me explicar como nós, seguidores do Iluminus, trabalhamos.
Gama começou a caminhar na direção da garota e Elena olhou para o Zen assustada. Mas ele parecia despreocupado, olhando para o vilão com tranquilidade, então ela tentou não se preocupar também.
— A ganância e a prepotência das pessoas com poderes está deixando a nossa sociedade cada vez mais corrupta. Esse é o mal, que parece ser necessário para se viver nesse mundo cruel — Gama falou, sua voz ecoando de forma poderosa na rua silenciosa.
Seus olhos pareciam brilhar, com um verde-oliva que cintilava com convicção a cada palavra e paço.
— Pessoas inocentes são mortas e violentadas enquanto Edward poderia cuidar de tudo, e esse é o preço que pagamos por não termos acreditado nele.
Os passos do vilão mantinham um ritmo calmo e formal, assim como seu tom de voz, mas sua convicção parecia refletir tanto nas suas palavras quanto no menor de seus movimentos, que eram sempre decididos e meticulosos.
— Estupradores ou assassinos, pedófilos e racistas, e até meros ladrões, nada disso existirá no mundo criado pelo Deus da Verdade. As pessoas viverão em paz, e aqueles cujo o pecado é pesado demais para viver em sociedade, serão usados para proteger, sendo controlados pelos ideais do Iluminus.
— E vocês, mesmo sendo exatamente iguais as pessoas citadas, serão aqueles que vão criar esse mundo, matando todos que se opuserem.
Gama parou a dois metros da garota, ergueu a mão até a altura do peito e a fechou com força. Seu punho emitiu um brilho verde quase imperceptível, assim como seus olhos que se tornaram mais brilhantes.
— Nós somos aqueles dispostos a matar pela causa, é claro — ele falou com convicção. — mas não é só isso. O sacrifício não é unilateral, como você supõem. As mortes não são apenas do seu lado.
Ele fez uma pequena pausa e lançou um olhar afiado para o Imperador, só para logo em seguida voltar a olhar para a garota.
— O Zen sabe muito bem disso, tem anos que estamos nessa batalha, matando os amigos um do outro. Essa é a Guerra mais irônica de todas, mas ainda é Guerra. A Guerra pela Paz e Liberdade.
Ele meneou positivamente com a cabeça em silêncio por um segundo, como se estivesse concordando com o próprio ideal, e parecendo satisfeito ele acrescentou:
— Um homem deve estar disposto a morrer pelo seu ideal, se quiser matar em nome dele. Esse é o sacrifício que todos pagamos, a diferença é que vocês não conseguem entender que é por algo maior que estão morrendo.
— Você se enganou em uma coisa, Gama — Zen falou, chamando a atenção para ele. — Essa Guerra não é pela paz e liberdade, é pela paz ou liberdade. Vocês lutam por uma paz deturpada enquanto eu prezo pela liberdade.
— E no fim Guerra continua sendo Guerra — Gama falou sem hesitar. Como se aquilo fosse uma discussão cotidiana entre eles e o vilão já estivesse acostumado a dar aquela resposta.
— Precisamente, Gama. — Zen sorriu de forma convencida. — No fim Guerra é Guerra. Uma Guerra sem nenhuma justificativa ou mal maior envolvido. Não algo bom ou ruim, apenas Guerra.