O Despertar Cósmico - Capítulo 35
Gama encarou o Zen em um silêncio sufocante por muito tempo. Pareciam duas feras se encarando. De um lado os intensos olhos verdes do vilão, e do outro os frios olhos preto e amarelo do… outro vilão.
Quando Gama começou a tirar o seu terno e a dobrá-lo cuidadosamente, Zen dispensou a pessoa que estava curando ele.
— Peço desculpas, Senhorita Elena, mas terei que levá-la comigo.
Gama se virou para a garota depois de colocar o terno no chão e começar a dobrar as mangas da camiseta preta que estava usando por baixo.
— Como pôde ver, Zen e eu entramos em um consenso. Guerra é Guerra, e em uma sempre haverá mortes inocentes. Por isso preciso levá-la comigo, para que o Deus da Verdade possa agir livremente. Para que não exista ninguém que possa se opor a ele.
Quando terminou de dobrar as duas mangas da camiseta até ficar três dedos abaixo do cotovelo, ele começou a caminhar para o lado, tomando um pouco de distância da Elena.
As pessoas de manto negro passaram correndo por Gama, se dirigindo ao beco onde Amanda e os outros estavam, mas vilão pareceu não se importar.
Elena, por outro lado, se sentiu profundamente aliviada por isso.
— O Anjo da Justiça que sobrou pode curá-lo. — Gama gesticulou na direção do Alan. — Só acertei um soco nele, não causou grandes ferimentos.
Elena não tinha percebido, mas realmente sobrou um homem de manto negro, e no mesmo instante ele começou a se aproximar do Alan.
Quando se aproximou, se abaixou ao lado do Alan e levou a mão até o seu rosto. Mas nada aconteceu.
Elena soube no mesmo instante que o Anjo não estava curando o Alan. Provavelmente nem tinha poderes curativos.
Quando a garota ficou encarando a máscara metálica, o Anjo ergueu o rosto e olhou para ela através das lentes.
— Tá tudo bem, vadia. Vamo te proteger, vadia. — A voz era robótica, como de todos os membros da Justice Angels quando usavam suas máscaras, mas deu para notar a raiva em seu tom de voz.
Gama parou de andar e se virou para o Zen com uma postura séria e intimidadora. Zen girou a espada na mão, sentindo o peso dela.
Fazia algum tempo que não usava a Emperor Gladio.
Assumindo uma postura defensiva ele olhou para o Gama com atenção redobrada.
Elena prendeu a respiração.
Eles estavam a uma distância de seis metros um do outro, mas se encaravam como dois animais selvagens.
Uma pantera feroz e uma serpente ardilosa.
Uma luz verde iluminou o corpo do Gama e ele disparou para frente.
Elena não viu quando ele se aproximou do Zen, nem quando ele desferiu o soco, apenas presenciou quando o garoto se recompôs da esquiva que acabara de executar e desferiu um contra-ataque.
A espada zuniu no ar, a lâmina prateada brilhou com a luz da lua, e Gama se curvou para trás, deixando que ela passasse sem atingi-lo.
Seu punho esquerdo brilhava verde enquanto desviava, e assim que viu a chance desferiu um golpe.
Dessa vez tudo aconteceu tão rápido que Elena não viu quase nada.
Um borrão, o som de pancada, o reflexo da espada, dois clarões — um verde e um roxo — mais borrões em alta velocidade e um último clarão verde.
Zen saiu voando para trás e atingiu um carro que estava estacionado do outro lado da rua. O carro capotou e ele sumiu atrás do veículo amassado.
Entretanto Gama não relaxou, manteve o punho esquerdo completamente envolto por uma energia verde intensa.
Quando Zen se ergueu voando e pousou sobre o carro capotado, Gama não expressou nenhuma surpresa e única diferença nele, era que o seu manto negro estava levemente queimado agora.
O Imperador apertou o cabo da espada com a mão direita e a bainha dela com a mão esquerda. Saltou de cima do carro e quando seus pés tocaram o chão ele arremessou a espada para frente.
Gama deu um passo para o lado e a espada passou por ele sem oferecer perigo.
Quando o garoto trocou de lugar com a espada, aparecendo atrás do Gama, o vilão estava preparado e desferiu um chute naquela direção, porém tudo que acertou foi o cabo da bainha.
Gama se virou para o lado a tempo de ver o Zen surgir, novamente, na frente do carro capotado. Mas assim que colocou seus olhos nele, a Troca Equivalente foi ativada novamente e a bainha da espada voltou a surgir no seu lugar.
O vilão foi obrigado a saltar para trás ao tentar se esquivar da lâmina da espada, e mesmo assim sua camiseta e sua gravata foram cortadas na horizontal.
Zen não se abalou por ter errado o corte e saltou por cima do vilão, efetuando uma pirueta elegante no ar. Os dois trocaram olhares por um breve instante quando o Imperador ainda estava no ar.
Mas apenas por um instante, antes do carro aparecer no lugar do garoto.
O carro despencou sobre Gama, amassando o vilão contra o chão e estourando os amortecedores no processo. As poucas janelas que não haviam se quebrado quando Zen se chocou contra o veículo, se quebraram quando ele caiu sobre Gama.
Mas Zen não perdeu tempo em ver se aquilo tinha o ferido, efetuou um giro sobre os calcanhares e criou uma esfera de energia, e completando o giro ele disparou um raio.
O raio roxo de energia vibrou no ar, atravessando a distância entre o garoto e o veículo e perfurando o capô do carro.
A luz roxa brilhou dentro do carro e pelas frestas da lataria do veículo. Quando explodiu o fogo era uma mistura de vermelho intenso e de um roxo brilhante.
As chamas dançaram sobre a lataria carbonizada e um pilar de fumaça negra se ergueu em direção ao céu estrelado.
Mas Zen não relaxou nem por um segundo, começou a correr assim que o carro explodiu, dando a volta nos destroços incandescentes do veículo.
Ainda estava na metade do caminho quando as chamas verdes de energia surgiram em meio ao fogo.
Uma onda de energia foi disparada em meio às chamas do carro e teria atingido o garoto em cheio se ele não tivesse interrompido sua corrida e saltado para trás.
Mas quando os pés do Zen tocaram o chão uma esfera de energia irrompeu de dentro das chamas.
O garoto rebateu a esfera para cima usando a lâmina da sua espada bem a tempo de ver as outras duas esferas verdes emergirem das chamas.
Zen se esquivou da segunda esfera de energia e rebateu a terceira com a espada, executou um giro sobre os calcanhares e saltou, fazendo uma pirueta no exato momento em que a primeira esfera de energia descreveu um arco no céu e disparou na sua direção novamente.
A esfera passou por baixo dele sem oferecer perigo. E assim que Zen aterrissou ele foi obrigado a rebater outra esfera de energia que se aproximava.
Foi nesse momento que ele percebeu que estava preso em uma armadilha.
As três esferas de energia gama continuavam rondando o garoto, e não importava o quanto se esquivasse ou as rebate-se para longe, elas sempre voltavam.
Descreviam longos arcos no céu ou realizavam uma curva a centímetros do chão para logo em seguida disparar na direção do Zen novamente.
O Imperador era rápido e seu olho esquerdo conseguia perceber qualquer movimento ao seu redor por menor que fosse. Para ele não era difícil calcular as trajetórias das esferas.
Mas toda vez que desviava do que seria um golpe perigoso o próximo se tornava mais difícil de evitar.
A espada dançava no ar, refletindo tanto a luz verde das esferas de energia quanto o brilho da lua cheia. Os pés do garoto se moviam e trocavam de posições em alta velocidade.
Ele era como um borrão negro no meio da rua, seu manto esvoaçando a cada movimento, desviando das esferas gama que se projetavam contra ele uma atrás da outra.
— HUNTER!! — Zen gritou ao rebater uma perigosa esfera de energia que quase atingiu o seu rosto.
Alguém gritou de forma animalesca e o som ecoou dentro do beco escuro. Uma esfera de energia foi bloqueada pela lâmina, que refletiu verde e intenso.
Elena piscou por um momento e quando voltou a abrir os olhos um homem de manto negro estava parado no lugar onde antes o Zen estava antes.
As três esferas de energia se projetaram na direção dele ao mesmo tempo, mas o homem apenas abriu os braços e gritou em êxtase, se deixando ser atingido em diversas partes do corpo, causando explosões que iluminaram toda a rua.
Quando o corpo do homem saiu voando, ele atingiu a parede de uma casa do outro lado da rua e a deixou completamente manchada de sangue.
Um de seus braços e uma de suas pernas haviam sido completamente destruídos na explosão, assim como parte do peito, que estava com um ferimento profundo de onde um sangue denso escorria sem parar.
Seus órgãos pendiam para fora do peito, queimados pela energia gama. As pontas dos ossos destruídos estavam completamente carbonizadas.
O homem vomitou sangue fazendo a máscara cair — revelando seu rosto completamente enfaixado e coberto de sangue — e soltou um gemido horrendo, se contorceu com as costas escoradas na parede manchada de sangue e escorregou até bater com a cabeça no chão.
Uma explosão de energia dissipou as chamas e mandou o carro carbonizado para longe, fazendo-o rolar pela rua vazia.
O terno preto estava queimado em várias partes e havia perdido toda a elegância que transmitia, mas Gama, por outro lado, não apresentava nenhum ferimento.
Sua pele brilhava com a energia verde. Ele era a própria energia, caminhando lentamente a passos para frente.
A personificação da própria Energia da Destruição que manipulava.
Gama fluiu a energia para a palma da mão esquerda, moldando uma esfera de energia, e apontou ela para o homem ferido.
Elena achava impossível aquele homem ainda estar vivo, mas aparentemente Gama decidiu que não queria arriscar.
Porém, quando Gama mirou no homem a espada do Zen foi arremessada de dentro do beco, atravessando a distância entre ele e o Gama e atingindo em cheio a esfera de energia em sua mão.
A lâmina começou a ficar vermelha incandescente, para logo em seguida uma tonalidade verde surgir em meio ao vermelho vivo e intenso.
Qualquer outra lâmina de qualquer outra espada teria derretido ou se quebrado, mas aquela era a espada do Imperador, feita de uma liga de aço que era o mais próximo de indestrutível existente no mundo, Omea.
A esfera de energia oscilou por um momento, como o mar se agitando quando alguém mergulha, e então explodiu em um clarão verde.
Gama foi jogado para trás com tanta força que Elena não o viu fazer o trajeto até a parede da casa do outro lado da rua, só viu a parede sendo quebrada e a nuvem de poeira se erguendo.
Olhou para a espada novamente e ela estava no mesmo lugar, cravada por volta de quinze a vinte centímetros no chão.
Zen saiu caminhando do beco escuro com serenidade, exalando arrogância até no modo de andar. O olho esquerdo brilhava intensamente, por isso foi impossível não perceber quando ele desviou o olhar.
Elena olhou para aquela direção também e viu que ele olhava para o homem morto.
O manto negro da Justice Angels estava todo rasgado, revelando que o corpo do homem realmente era todo enfaixado.
Pelo menos era quando estava vivo.
Agora as faixas também estavam rasgadas e cobertas pelo sangue. Mas o corpo todo queimado e desmembrado do homem não foi a única coisa que a perturbou.
A indiferença no rosto do Zen era mais chocante do que qualquer coisa. Ele parecia alheio à toda aquela situação.
O garoto desviou o olhar do corpo e fitou Elena.
A garota ficou tão surpresa que não desviou o olhar, ficou encarando-o e pensando em que cara estava fazendo agora.
Soube que não era um olhar amigável quando viu a expressão estranha que surgiu no rosto dele em resposta.
Por um momento eles se encararam sem dizer e nem fazer nada, até que o garoto gesticulou com a cabeça para o lado.
Elena soube instantaneamente que ele estava sinalizando para ela olhar o corpo do homem mais uma vez. Por isso não obedeceu a princípio, mas então ela ouviu um gemido estranho.
Quando olhou para o homem morto, Elena sentiu seu estômago revirar.
O corpo dele começou a tremer e se contorcer por um momento e em seguida cessou. Ele gemeu novamente e cuspiu sangue.
— Merda — ele falou, ao abrir os olhos e ver seus ferimentos. Sua voz soava estranha. Com um tom animalesco.
Mas o mais estranho era a forma sufocada que ela soava, como se ele não conseguisse respirar enquanto falava.
O que — apesar de um homem nas condições dele falar ser completamente ilógico — até fazia sentido. Ele olhou para o Zen e falou:
— Vai demorar um pouco. Sem órgãos não dá.
A garota não teve tempo de fazer qualquer pergunta em relação àquela bizarrice, pois a resposta foi jogada em sua cara de forma tão impactante que ele congelou.
Ouviu, primeiro que viu, o som dos ossos rangendo e a parte destruída crescendo novamente.
As fibras musculares dos membros destruídos começaram a se regenerar, e quando prestou atenção Elena pôde ver os órgãos se refazendo dentro do peito destruído do homem.
Quando conseguiu ver as veias e o pulmão se reconstruindo, não aguentou, começou a vomitar tanto que sentiu que estava colocando todos os seus órgãos para fora.
Pensar daquela forma fez ela vomitar mais ainda.
— Que nojento. — Ouviu a voz do Alan ao seu lado.
Quando finalmente conseguiu parar de vomitar, ela limpou a boca e olhou para o amigo.
Ele estava apoiado sobre os cotovelos e a cabeça levantada olhando na direção do corpo se regenerando do homem. Alan parecia prestes a vomitar também.
— Cê acordou — Elena falou, só para chamar a atenção do amigo.
Alan se virou para ela e sorriu, de uma forma fraca — e que parecia lhe causar muita dor. Quando viu a poça de vômito ao lado da Elena, o seu sorriso aumentou.
— Tu não vomitou em mim não, né?
— Não… — Elena se surpreendeu com o quão fraca sua voz soou.
Os passos do Zen ecoaram por toda parte, por isso tanto Elena quanto Alan fizeram silêncio quando ele se aproximou.
O garoto caminhava lentamente na direção deles, mas abruptamente ele parou e desviou o olhar para trás.
No mesmo instante uma luz verde surgiu na frente do Zen, e Elena levou um segundo para perceber a silhueta por trás da luz, e demorou um instante a mais para se tocar que aquele era o Gama.
Gama projetou um gancho na direção do Zen, mas o garoto se esquivou e voou para trás.
Os dois repentinamente se tornaram um borrão de movimento.
Zen voava para trás, se movendo em alta velocidade e desviando de golpes que Elena nem conseguia ver, pois o Gama avançava sem dar tempo para o garoto, se mantendo sempre colado nele.
Elena não conseguia ver o golpe ou sequer eles em si. Não conseguia ver nada. Zen por outro lado podia ver tudo.
Cada golpe era mais rápido que o anterior. Cada soco mais perigoso que o outro, com mais energia e mais força. E sempre que desviava de um soco que passou perto demais, o seguinte passava mais perto ainda.
Mas ele via tudo.
Conseguia ver, como se estivesse assistindo uma gravação em câmera-lenta, os punhos do Gama brilhando intensamente e se projetando na direção dele.
Assim como também percebia quando ele pisava no chão para impulsionar com mais força seus golpes. O vilão não estava voando, parecia estar saltando na direção do garoto a cada golpe.
Os sentidos do Zen estavam todos apurados ao extremo, por isso sentia vividamente o vento batendo contra as suas costas enquanto voava e sentia a pressão da energia que passava perto do seu rosto a cada golpe do Gama.
Sentia também a energia Cósmica que fluía pelo seu corpo, bombardeando-o com adrenalina.
E também sentiu, com muito mais intensidade do que o normal, a dor de quando um golpe o atingiu em cheio na têmpora.
O seu mundo chacoalhou e quando seus pés tocaram o chão teve um instante — e somente por causa da percepção extraordinária que seu olho esquerdo lhe proporciona — para perceber que não estava conseguindo voar e perdera o equilíbrio.
O segundo soco o atingiu na lateral do abdômen, sentiu uma dor tão profunda que parecia que seu pâncreas estava ardendo em chamas.
Mas só teve tempo de registrar a dor no seu cérebro antes do terceiro soco, subindo de baixo para cima, o atingindo na boca.
Tinha desligado a dor do seu cérebro, mas ainda assim a dor arrancou lágrimas dos seus olhos.
Seus pés se afastaram do chão e sua boca se inundou de sangue.
Os outros golpes o atingiram em uma velocidade tão grande que ele decidiu se concentrar apenas em desligar a dor do seu cérebro e fluir energia cósmica pelo corpo para aumentar sua resistência.
Mas cada vez que o punho do vilão atingia seu alvo, mais energia e mais força eram colocadas nos golpes. Uma chuva de socos caía sobre o Zen, e parecia que não pararia até que o garoto estivesse morto.
Entretanto, a sequência de golpes foi abruptamente interrompida por uma estalactite de gelo, que atravessou a perna do Gama e o fez cair ajoelhado no chão.
O garoto continuou voando para trás até cair rolando no asfalto e ralando todo o seu corpo.
Sangue se acumulava na sua boca, mas principalmente na lateral do rosto, onde recebera o golpe mais poderoso.
Zen se revirou no chão, sentindo seu corpo protestar de dor, e deitou com o rosto na calçada onde tinha caído. Tocou com a língua nos dentes da boca e sentiu alguns deles soltos.
Quando começou a se levantar, sentiu seu corpo inteiro gritando de dor.
Mas se obrigou a resistir e se levantou cambaleando — e com extrema dificuldade. Quando abriu os olhos por um momento, tudo parecia claro demais.
As luzes dos postes queimavam sua retina, principalmente a do seu olho esquerdo. Seus lábios estavam cortados e essa sensação era multiplicada mil vezes pelo seu olho era insuportável.
Mikey saiu caminhando do beco e foi até onde o Zen estava, parando ao lado dele. Os dois se olharam por um momento, Mikey estava sério e Zen era uma tela branca.
Até que os dois sorriram e começaram a rir.
Zen abaixou e sacudiu a cabeça, rindo de algo que Mieky falou, em seguida ele gesticulou na direção da Elena.
Mikey saiu caminhando na direção dela, mas não estava nem na metade do caminho quando a voz de Gama o fez parar.
— Que inconveniente, Mikey. Não se deve interromper em um duelo justo entre dois cavaleiros. — O vilão tinha acabado de arrancar a estalactite de gelo da sua perna e estava se levantando.
— Isso não era um duelo, cê só tava dando uma surra no meu irmão. — Mikey voltou a caminhar na direção da Elena. Quando ele viu a garota lhe olhando, ele sorriu e acrescentou: — E a namorada dele poderia acabar ficando brava comigo se eu não o ajudasse.
Elena franziu as sobrancelhas, irritada com a forma como Mikey falou dela, mas não disse nada quando ele se abaixou ao lado do Alan perguntando como ele estava e o ajudou a se levantar.
— Não se preocupe, já estamos acabando aqui. Logo vocês estarão em casa xingando o Zen e fazendo qualquer outra coisa que cêis quiserem. Só temos que dar um jeito naquele cara. — Ele olhou para Gama.
O vilão estava encarando Zen, enquanto o garoto caminhava até a sua espada cravada no chão. Os olhos verdes sempre muito atentos.
Quando pegou a espada, o garoto saiu caminhando até a bainha sem se importar com o olhar do Gama que não desgrudava dele.
Elena também não tirava os olhos dele, mas por um motivo diferente. Não conseguia evitar de notar como ele mancava e se contorcia ao menor dos movimentos.
Parecia sentir uma dor profunda na barriga quando se curvava — o que ela reparou quando o viu se abaixar para pegar a bainha da espada.
A lâmina prateada deslizou para dentro da bainha de couro negro e emitiu um estalo quando se fechou. Zen prendeu a bainha na cintura e escondeu a arma com o seu manto.
Ele olhou para a Elena e os dois trocaram olhares por um momento. O olho esquerdo dele ainda estava amarelo. Ela ainda sentia uma onda de raiva ao ver aquele olho.
Zen desviou o olhar e se virou para o outro lado da rua, parecendo olhar algo no horizonte.
Elena demorou alguns segundos para ver as dezenas de pessoas vestindo o manto negro que voavam pelo céu avançando ininterruptamente na direção deles.
Gama também olhou naquela direção e também viu aquelas pessoas. Quando o vilão voltou a olhar para o Zen, viu no rosto do garoto um sorriso convencido.
— Agora você vê o porquê eu sou o Imperador, Gama?
Sua voz soava mais arrogante que o habitual, mas havia algo a mais que isso, uma estranha confiança ou até mesmo alívio. Quase como se sua vitória fosse uma certeza absoluta.
— O Imperador tem que estar preparado para tudo. Tem que estar acima de todos, acima de qualquer acontecimento. É por isso que eu sou o Imperador. Porque eu sempre venço. Não importa contra quem ou contra quantos. Eu sempre venço pois eu sou absoluto. As minhas ordens são absolutas…
— Você é arrogante — Gama o Interrompeu. — Pretensioso e orgulhoso. Você é muitas coisas, mas absoluto não é uma delas.
O vilão fez uma pausa, olhando mais uma vez para os Anjos que voavam no horizonte, e depois soltando um longo suspiro enquanto voltava a olhar para Zen.
— Acha que eu não posso matar todos eles e ainda pegar a garota? Acha que é tão difícil assim para mim matar todos vocês e levá-la comigo?
— Eu acho que você pode, mas tenho certeza de que vai te cansar. Você vai lutar, talvez se ferir, e matar durante horas. E quando terminar e for atrás da Elena, eu vou estar lá, completamente descansado e curado.
Zen fez uma pausa, seu rosto e olhar se tornando frio e intimidador, e a voz soando afiada como sua espada de Omea quando ele disse:
— Vai ser nesse momento que eu vou te matar. Simplesmente porque eu posso. Eu posso, mas você não. Você tem ordens que não pode desobedecer. Pode me ferir e tentar me inutilizar, mas não me matar. Esse é seu erro, e essa é a minha vantagem.