O Despertar Cósmico - Capítulo 4
Os boatos da briga do Alan com o Johnny já haviam se espalhado por toda a sala quando a Educação Física acabou. Alan tentou ignorar aquilo, mas alguns alunos foram até ele, perguntar o que havia acontecido, e ele praticamente teve que responder a uma entrevista.
Depois que o sinal da última aula tocou, Alan e Amanda se encontraram no portão, junto com a Elena, e os três foram embora juntos. Enquanto caminhavam pelas ruas da cidade, por algum motivo, eles entraram no assunto dos tops rankings dos mais fortes do mundo.
— Não tem como tu fazer um top de mais fortes e não colocar o Doutor Paradoxo em primeiro. — foi a primeira coisa que Alan disse, e isso era de consenso geral.
— Claro que não. Ele não conta — Amanda foi a única que discordou. — Se ele for considerado um herói, então a Deusa da Realidade também é.
— Não viaja, Amanda. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. A Deusa da Realidade é um mito, nada mais do que isso — argumentou Alan.
— Teu cu que é um mito, ela é real! Eu sei!
— Mas mesmo assim, Amanda, eu tenho que concordar com o Alan. A Deusa da Realidade não pode ser comparada às pessoas normais, mesmo que ela exista — disse Elena.
— Ela existe!
— Tá, tá. O ponto é que ela é responsável por vigiar os Cristais Elementares. Na teoria ela é a única capaz de aguentar o poder de todos os nove cristais. Com esse poder ninguém venceria ela — Alan disse. Fez uma pausa e rapidamente acrescentou: — Sem contar o Doutor Paradoxo, porque ele é invencível.
— Pela Deusa da Realidade, tu é muito fanboy do Paradoxo. Ele nem tem tantas aparições assim. — a Amanda sacudiu negativamente a cabeça, sabendo muito bem como o amigo gostava do herói. — E mais, os poderes dele não são conhecidos, ninguém sabe como contatá-lo. Ele sequer é registrado como herói.
— Ei, cêis estão perdendo o foco — Elena interrompeu a discussão. — A questão é que não sabemos quem colocar em segundo. Em terceiro talvez eu colocasse o Lorde do Gelo ou o Mestre das Chamas. Mas e em segundo?
Houve um momento de silêncio em que todos trocaram olhares pensativos, todos se perguntando a mesma coisa. Até que Elena, sem pensar, falou a primeira pessoa que veio na sua mente:
—Acho que… o Iluminus.
O silêncio dessa vez foi mais tenso. O desconforto que aquele nome trazia consigo era pesado demais. Um nome com um passado muito obscuro para ser ignorado.
Elena sentiu o olhar de Alan e Amanda pressionando-a. Amanda era a mais chocada, não conseguia acreditar no que a amiga estava dizendo.
— Não estamos fazendo um top de heróis, estamos fazendo de mais poderoso, e o Iluminus conseguia controlar a mente das pessoas. Ele pode não ter poder físico, mas controlava um exército de vilões. Ele era uma das, se não a, pessoa mais perigosa do mundo — a garota tentou explicar, para que entendessem seu ponto de vista.
— Eu… eu entendo, mas não esperava que você falasse dele… — falou Amanda, soando um pouco cabisbaixa.
— É, eu também fui pego de surpresa — Alan concordou. — Mas acho que tu tá certa, não tem como tu lutar contra alguém que só precisa, literalmente, mandar você fazer qualquer coisa, que tu obedecer cegamente.
— Bom, na verdade… a mãe da Elena conseguiu, então não é impossível.
— Por isso ela fica em segundo, e não um mito bobo. Porque conhecemos uma pessoa que consegue derrotá-lo — Alan respondeu. — Diferente do Doutor Paradoxo, que ninguém nunca conseguiu sequer tocá-lo.
— Pelos Deuses, ele tá falando do Paradoxo de novo — Amanda suspirou, com um olhar desapontado em seu rosto.
— Então está decidido, o mais forte do mundo é o Doutor Paradoxo, em segundo… a minha mãe? E em terceiro o Iluminus. Mas e o quarto? Lorde do Gelo? — Elena perguntou.
— Mestre das Chamas.
— Caô que ele é mais forte que o Niveis — retrucou Alan no mesmo instante. — Mas mesmo assim eu não colocaria o Lorde em quarto, acho que eu colocaria o Condutor.
— Hummm… Acho que faz sentido
Elena ponderou por um momento, e por fim concordou:
— É, faz sentido. Se tu pensar a respeito, o primeiro e segundo lugar são pessoas com quem não se pode ter uma luta. Um pode te derrotar em um segundo, antes que cê perceba, e ninguém sabe como. A segunda é a maior telepata do mundo. O terceiro tem o poder de te fazer obedecer a qualquer coisa que ele diga. Nada mais justo que o quarto tenha o poder de absorver e usar qualquer poder de quem ele tocar.
— Fico me perguntando o que aconteceria se o Condutor absorvesse os poderes dos mais fortes. Como por exemplo, imagine o quão forte ele seria se absorvesse o poder do Doutor Paradoxo, do Iluminus e do Lorde do Gelo? Ele seria invencível — falou Alan, animado. Em sua mente ele já conseguia visualizar o Condutor como o maior herói do mundo.
— Não queria cortar a onda de vocês, mas a discussão vai ter que ficar para depois. Não quero ficar falando dos heróis na frente dos meus irmãos, e quero menos ainda falar de um top ranking que tem ele na lista — disse Amanda, enquanto parava em frente a uma casa e começava a revirar o interior de sua mochila até encontrar uma chave.
— Quem ficou com eles dessa vez? — Alan perguntou enquanto esperava Amanda destrancar a porta.
— A vizinha tem me ajudado, mas eu não posso deixar assim por muito tempo… não acho que vou conseguir continuar pagando para ela ficar vindo aqui cuidar deles —
Alan não disse nada, apenas trocou olhares preocupados com a Elena. Os dois sabiam muito bem que a amiga sempre viveu uma vida difícil desde que seus pais morreram no Dia da Libertação, e as coisas só tem piorado agora que o aluguel da casa aumentou.
Mas eles também sabiam que ela nunca aceitaria a ajuda financeira nem de Alan e nem da Elena, por isso eles nem ofereciam mais.
Amanda destrancou a porta e os três entraram, lá dentro eles encontraram uma mulher com um longo cabelo castanho amarrado em um rabo de cavalo sentada no sofá enquanto observava duas crianças brincando no tapete da sala.
Uma das crianças, um garotinho de cabelo castanho-avermelhado de oito anos de idade, foi o primeiro a ver a Amanda e soltou um grito animado enquanto corria até a irmã e a abraçava.
A garotinha notou a irmã logo em seguida, ela era mais nova que o irmão, tinha apenas seis anos, mas o cabelo preto e os olhos verdes eram idênticos aos do irmão, e aos da própria Amanda também.
Amanda abraçou os irmãos com força enquanto eles riam e a abraçavam de volta.
Em seguida, o garotinho correu até a Elena, e a garota usou sua telecinése para fazê-lo flutuar até seus braços para que ela pudesse abraçá-lo também.
O garoto riu alegremente o tempo todo. Elena teve que fazer a mesma coisa com a menina também, mas não se incomodou com isso, na verdade até se divertiu um pouco quando fez com que os dois garotos flutuassem pela sala da casa.
Alan só conseguiu cumprimentar a irmãzinha da Amanda, já que o irmão não gostava dele, mas mesmo assim ele não perdeu a oportunidade de provocar um pouco o garoto.
Enquanto Elena e Alan tentavam entreter as crianças, Amanda foi conversar com sua vizinha e pagá-la pelo dia de serviço.
Assim que passou o dinheiro para a mulher ela recebeu a notícia de que aquele seria o último dia dela. A mulher disse que sua mãe estava mal e que ela teria que cuidar dela, e por isso não poderia olhar mais os irmãozinhos da Amanda.
Amanda concordou, sem ter outra opção, e sorrindo gentilmente ela desejou melhoras para a mãe da vizinha e a acompanhou até a porra. Quando voltou para dentro da casa, ela parou ao lado da porta da sala e observou Elena e Alan brincando com seus irmãos.
“O que eu vou fazer agora? Mal consigo ter tempo para o trabalho à noite e agora eu ainda vou ter que arrumar uma nova babá. Espero que o dinheiro que eu tenho guardado de para pagar o aluguel e, com sorte, sobre um pouco”, pensou Amanda, observando seus melhores amigos brincando com seus irmãos.
Quando Alan notou a amiga parada na porta da sala ele se levantou e caminhou até ela. Os dois trocaram olhares por um breve instante, e isso foi o suficiente para que Alan soubesse que algo havia acontecido.
— Ela não vem mais? — perguntou, parando com as costas escorada no batente da porta e olhando diretamente para a amiga.
— Não, disse que a mãe tá passando mal e tem que cuidar dela.
— Será que ela não pode fazer os dois? Quer dizer, seus irmãos não são tão difíceis de cuidar assim. Ela poderia olhar a mãe dela enquanto cuida deles, não?
— Alan… Ela mora sozinha, quando nos conhecemos ela me disse que seus pais morreram no ano passado — falou Amanda em um tom cabisbaixo.
Alan fez silêncio e olhou da amiga para os irmãos dela.
Sabia muito bem que a Amanda estava, nesse exato momento, pensando em mil e uma opções para cuidar dos irmãos enquanto está na escola e no trabalho, e justamente por isso tentou manter a calma e não comentou nada sobre a vizinha mentirosa.
Deixou escapar um suspiro, frustrado por não poder ajudar a amiga, e, em um tom pensativo, ele disse:
— Sei que cê não gosta, mas a minha oferta ainda tá de pé — ele fez uma pausa, para deixar a garota assimilar o que ele disse, e depois continuou: — Ele quase nunca tá em casa, e se tu quiser seus irmãos podem frequentar a escola na UDH.
— Alan — interrompeu Amanda. — Eu não vou morar contigo. Sei que tu tá fazendo essa oferta pra me ajudar, mas mesmo assim…
— Te ajudar? Claro que não. Só queria levar uma garota bonita para morar comigo — ele provocou, com um sorriso no rosto.
Amanda sorriu, e empurrou ele para o lado, mas ele mal saiu do lugar e apenas riu junto com ela. Mas logo a expressão séria e preocupada voltou a seu rosto. Ela segurou as mãos atrás das costas, tentando conter seu nervosismo e se virou para Alan.
O garoto sempre a ajudou quando ela mais precisou, e ela era grata por isso.
— Obrigada — ela murmurou.
— Pelo o que? Eu não fiz nada — ele respondeu, e Amanda pode notar que havia frustração em seu tom de voz.
— Fez sim — respondeu ela. — Tu tá presente, é só disso que eu preciso.
Alan olhou para a amiga por um instante sem saber o que dizer, então um sorriso surgiu no se rosto, ele deu um pequeno empurrãozinho no ombro da garota e disse:
— Cê sabe que pode contar comigo para qualquer coisa, eu não consigo dizer não para esse rostinho bonito.
— Eu tô tentando ser séria aqui — ela falou, com as sobrancelhas franzidas mas um sorriso no rosto.
— Eu também — Alan murmurou em resposta — Sei que tu tem dado o seu melhor para cuidar do Luca e da Laura, e aposto que eles sabem disso também, mas… pode se apoiar em mim mais vezes, sabe? Nossa amizade não é só pros bons momentos. Não precisa lidar com isso sozinha.
Amanda começou a sentir as lágrimas brotando em seus olhos, mas as obrigou a irem embora. Ele não iria chorar. Não na frente do Alan. E com certeza não na frente dos seus irmãos.
— Eu vou dar uma mão pra Elena antes que seus irmãos a matem — Alan comentou enquanto observava os irmãos da Amanda se jogarem em cima da melhor amiga. — Tenta colocar um sorriso nesse rostinho.
Amanda observou Alan se afastar e se aproximar da Elena e das crianças. Ela os observou pensativa, se perguntando como pode dar tanta sorte de ter pessoas como eles presentes em sua vida.