O Despertar Cósmico - Capítulo 42
A porta rangeu de forma familiar quando se abriu e revelou seu interior. O bar estava praticamente vazio. Como sempre.
Havia dois casais de adolescentes jogando sinuca e bebendo no canto do bar, e isso já era barulho demais para uma tarde comum no bar do Moe’s.
Demétrius pegou uma mesa o mais isolada possível da mesa deles, e pediu uma cerveja e uma porção de amendoins para passar o tempo.
Entretanto, não conseguia conter a ansiedade e tocava a caixinha vermelha em seu bolso o tempo todo. Chegou a pegá-la para abrir e observar o anel dentro, mas não conseguiu a abrir.
Sentia que se fosse para abrir seria para ganhar um sim ou um não, e tentava aguardar mesmo com o nervosismo e medo o corroendo por dentro.
A porta do bar se abriu fazendo soar o sino no topo dela e Demétrius olhou na sua direção instantaneamente, prendendo a respiração na expectativa.
Contudo, a decepção veio logo em seguida quando percebeu que não era Kátia. Entretanto, não teve tempo de ficar desapontado, porque a surpresa não foi menor ao ver Megaman entrando pelo bar.
O herói parou apenas alguns metros a frente da porta e vários outros homens distintos passaram por ele, entrando no bar. Não era estranho o herói frequentar o estabelecimento, a surpresa vinha por ele ainda estar trajando seu uniforme.
Algo mais havia chamado a atenção de Demétrius, como a forma que ele esquadrinhou o interior do bar com o olhar, como se estivesse procurando algo em particular.
Notou também os olhos do herói se demorando um pouco mais nele, por isso lhe ofereceu um cumprimento com a cabeça, cujo Marcos o respondeu de forma estranha e rígida.
Depois que o herói simplesmente desviou o olhar e caminhou até o balcão de atendimento, Demétrius concluiu que ele não estava ali por lazer, mas sim por trabalho.
Então Demétrius decidiu voltar a sua atenção para os outros homens que entraram logo depois do herói.
Três no total. Não chamavam a atenção por nada em particular, exceto por um deles que possuía um cabelo castanho e todo bagunçado, com mechas brancas se se destacando em meio aos seus cachos.
Entretanto, algo no comportamento deles deixou o policial nervoso. Mais de duas vezes ele pegou eles o encarando de forma suspeita. Por instinto ele tocou sua pistola na cintura para garantir que ela estava ali.
“Está tudo bem. Eu só estou sendo um pouco paranoico”, ele tentou se tranquilizar, então viu a movimentação se agitar no bar.
Megaman falou algo com o dono do bar, que estava atrás do balcão o atendendo, e o homem empalideceu.
Os olhos de Moe’s se desviaram para Demétrius, contudo, quando percebeu que o policial o olhava, ele rapidamente desviou o olhar para o herói novamente.
Megaman falou mais algo e o homem concordou, disse algo e em seguida saiu andando.
Quando Moe’s começou a caminhar em direção a mesa de sinuca, Demétrius olhou para a porta de saída e praguejou baixinho.
Dois homens já se posicionavam ao redor dela.
Um deles estava ocupando a mesa que estava literalmente ao lado da porta, e o outro — aquele com o cabelo castanho com mechas brancas — estava sentado em um banco na extremidade do balcão, á apenas dois metros da saída.
O último encarava Demétrius sem se preocupar com descrição.
Uma das sobrancelhas do homem era parcialmente branca, como o cabelo, e sua pele possuía manchas mias claras tanto no rosto como no pescoço e nos braços.
Mas eram os olhos que chamavam mais atenção. Um castanho-mel e o outro azul-claro. Era como encarar uma areia-movediça que lentamente o engolia e um oceano sem fim.
Demétrius sentiu, em seus amago, que se procurasse direito encontraria seu destino final nos olhos daquele homem: a morte.
Bem lentamente o policial desceu a mão para baixo da mesa, mas não pegou a arma. Ao invés disso foi até o bolso da calça e pegou a caixinha vermelha que guardava ali.
Colocou a caixinha em cima da mesa e a abriu.
Dentro havia uma simples aliança de prata. Algo simbólico apenas, era o que Demétrius dissera a si mesmo quando decidiu comprar isso.
Contudo, talvez tenha feito apenas para arrumar uma desculpa para não admitir que a falta de dinheiro estava lhe impedindo de comprar algo mais impressionante. Ainda assim, estava satisfeito pela aquisição.
Era algo que ela poderia usar mesmo quando estivesse em seu novo trabalho.
“Isso se eu puder entregar á ela…”, ele pensou, e isso o assustou mais do que tudo. “Pelos Deuses… Isso não pode ser o que parece.”
Mas mesmo assim ele pegou a aliança e colocou no dedo. Talvez na esperança de conseguir algum conforto. Mas não conseguiu.
Pegou a garrafa de cerveja e percebeu estar tremendo. Fechou os olhos e bebeu um gole da cerveja enquanto praguejava mentalmente.
Ouviu quando os adolescentes passaram por ele reclamando pelo bar estar fechando tão cedo, e então voltou a abrir os olhos.
Quando colocou a garrafa de cerveja de volta na mesa os adolescentes passaram pela porta.
O rangido familiar da porta parecia ensurdecedor durante aquele pequeno instante em que ela levou para se fechar. Megaman se virou no banco no balcão e fitou Demétrius.
— Imagino que eu não deva sair também, ou devo, Marcos? — Demétrius arriscou um sorriso brincalhão, mas não sabia se conseguira fingir um naquele momento.
O rosto do Megaman permaneceu inalterado. O olhar duro como aço. Aquele não era o Megaman. Pelo menos não era o herói que Demétrius conhecia, e, com toda certeza, não era o Marcos, melhor amigo da Kátia.
“Não seja inconveniente, Kat. Por favor, não chegue agora. Você sempre se atrasa. Não mude os hábitos hoje”, ele suplicou mentalmente, com o olhar distante enquanto levava a cerveja até a boca.
Um formigamento se espalhou pelo corpo de Demétrius no mesmo instante em que seus lábios tocaram a boca da garrafa e o líquido da cerveja escorreu para dentro de sua boca.
Bebeu três longos goles antes de abaixar a garrafa e colocá-la sobre a mesa.
Quando ouviu a porta do banheiro se fechando teve certeza que o Moe’s havia se escondido, então posicionou uma das mãos solta sobre a mesa e a outra sobre a sua arma na cintura.
— Estranho. Você sempre foi tão animado. O que aconteceu? Foi a surra que levou para o garoto mais cedo que te deixou de mal humor? — Demétrius perguntou, ainda tentando manter o tom brincalhão.
Não houve uma resposta, e Demétrius desistiu de tentar novamente. Seu poder se agitou em seu corpo e ele se moveu com agilidade.
Se levantou de uma vez e jogou a cadeira para trás.
Ouviu o momento em que o homem posicionado á suas costas praguejou e teve que se esquivar da cadeira, e não desperdiçou a oportunidade.
Contudo, antes que ele pudesse reagir, Demétrius já havia agarrado seu braço e o torcia atrás de suas costas. A pistola foi sacada com velocidade igualmente impressionante, e os disparos preencheram o estabelecimento.
O balcão ganhou três novos buracos quando o homem de cabelo castanho se esquivou.
Mas o amigo dele — que estava sentado perto da porta — não teve tanta sorte. Foi atingido duas vezes no peito, e estava caído morto aos pés da mesa.
Outras duas balas estavam jogadas no chão em frente aos pés do Megaman completamente amassadas, ao passo que, no herói não havia nenhum arranhão.
Demétrius praguejou e apertou com mais força o braço do homem que mantinha preso. O homem arfou de dor e se curvou um pouco.
O cano da arma encostou na têmpora dele, mas Demétrius teve certeza de manter o dedo afastado do gatilho.
— Vamos fazer assim, ninguém se mexe, se não eu estouro a cabeça do seu amigo aqui e deixou os miolos dele para o Moe’s limpar.
Assim que terminou de falar percebeu o quão desesperada sua voz soava. As palavras foram praticamente cuspidas em meio ao medo.
— Vá em frente.
A voz do Megaman ecoou pelo estabelecimento, cortante como uma lâmina. Parecia outra pessoa falando, e não o alegre e despreocupado Marcos.
— Ou melhor. Use seu poder. Faça as células dele envelhecerem e morrem.
O herói se recostou no balcão atrás dele, só que, nesse momento Demétrius viu os vários anéis em seu dedo.
— Afinal, é o que eu estou esperando. Uma demonstração do que me mandaram buscar.
Um gemido agoniante interrompeu Megaman e chamou a atenção do policial. O som vinha do outro homem, que agora estava parado perto do amigo morto.
Ele grunhiu e revirou os olhos, enquanto esticava a mão para frente, e o corpo do homem morto estremecia em resposta.
— Pelo Deus do Cosmo, o que vocês estão fazendo? — Demétrius não conseguiu esconder o espanto em sua voz.
Quando o homem morto se levantou e o sangue escorreu pelo ferimento das balas, o estômago de Demétrius se revirou.
O homem de cabelo castanho e branco se virou lentamente na direção dele com um sorriso assustador se formando no seu rosto, e abriu as mãos de forma exibida.
— Por ele não, pelo Deus da Verdade — foi sua resposta.