O Despertar Cósmico - Capítulo 48
A chuva caía sobre o manto negro enquanto Mikey caminhava pela rua, mas o herói garantiu que todos os pingos d’água que se aproximassem do seu cigarro, fossem congelados e desviassem sua rota para se espatifarem no chão sem tocar na brasa.
Mikey colocou a mão no bolso interno do seu manto e tirou lá de dentro um pequeno pedaço de papel com um endereço escrito nele.
— Tem certeza que o lugar é esse? — Mikey perguntou enquanto levava o cigarro até a boca.
— Claro que eu tenho certeza. Acha mesmo que eu mandaria o Alex para um puteiro sem um bom motivo? — Ester respondeu.
— Tá, então me explica de novo por que você não veio com ele? — Mikey perguntou, olhando para cima, congelando e desviando as gotas d’água que caíam na direção do seu rosto.
— Olha, eu estava ocupada. O Star queria a minha ajuda em uma coisa e eu não pude recusar — ela respondeu, e logo em seguida pousou ao lado dele fazendo o solo estremecer levemente. — A área tá limpa, a propósito.
— Hum… Só estou perguntando porque essa merda de puteiro é controlada por aquela mulher, e com certeza o C4 vai acabar começando uma briga. Não quero que você venha colocando a culpa em mim depois.
— A Medusa. Ela pode transformar em pedra qualquer um que tocar com as mãos, não é? Temos que tomar cuidado com ela.
— Está com medo dela ter colocado a mão no seu boyzinho?
— Se ela tiver tentado colocar as mãos no Alex eu arranco as mãos daquela vadia. Isso, é claro, se ele mesmo não tiver feito isso. — As gotas da chuva atingiam uma barreira Invisível que parecia cercar a heroína e isso parecia dar um ar convicto a ela.
Mikey não conseguiu evitar revirar os olhos ao imaginar que o C4 podia muito bem ter tentado fazer aquilo.
— Claro, aí vai sobrar pra gente limpar a bagunça dele. — Ele jogou o seu cigarro para longe com um peteleco. — O que acha de acabarmos com isso de uma vez?
— Acho uma ótima ideia. — Estelar girou sobre os calcanhares e saiu caminhando em direção a entrada do edifício.
Mas ela só avançou alguns passos antes das portas do estabelecimento explodirem com uma energia azul e serem arremessadas para longe.
A heroína parou abruptamente e se preparou para o embate, mas o homem que saiu correndo de dentro do prostíbulo nem sequer olhou na sua direção antes de decolar para longe.
Uma verdadeira multidão seguiu o homem, todos correndo desesperados de dentro do estabelecimento e fugindo sem dar atenção para a dupla de heróis ali.
Mikey parou ao lado da heroína e observou a cena, tão confuso quanto ela.
As pessoas corriam e gritavam, empurrando umas às outras e usando seus poderes para fugir do que quer que estivesse acontecendo.
— Droga, Alex. O que foi que tu aprontou dessa vez, velho? — Ester murmurou a pergunta de forma apreensiva.
— Aposto que a briga começou antes mesmo dele se encontrar com a Medusa, com um segurança ou um cliente.
— O Alex não seria tão imprudente assim… — Não havia convicção alguma no tom de voz da heroína, e isso arrancou uma risada de Mikey.
— Ah, o C4 seria, sim. Disso cê pode ter certeza. — Mikey perguntou, com um sorriso divertido no rosto.
Estelar não concordou e nem discordou, apenas saiu andando com passos rápidos em direção à entrada do bordel, e para Mikey isso foi reposta o suficiente.
O Lorde do Gelo seguiu a heroína, ignorando os olhares das poucas pessoas que os notavam quando passavam correndo por eles.
Quando adentraram o prédio se depararam com uma recepção luxuosa, com mobílias vermelhas que combinavam com o carpete, ganhando ainda mais destaque devido às paredes pretas.
Mas a recepção estava completamente vazia. As portas duplas que davam para o interior do cômodo principal estavam encaradas, e uma nuvem de fumaça ocultava parcialmente o interior.
Ao lado da porta, o balcão da recepcionista também estava vazio, o que fez Mikey concluir que a recepcionista provavelmente estava no meio da multidão que fugiu.
Os dois heróis não hesitaram em passar pela porta, e quando atravessaram a nuvem de fumaça que os separavam do como principal do bordel, chegaram a um verdadeiro campo de batalha.
As mesas e cadeiras estavam espalhadas por todo o salão, algumas destruídas e outras queimadas até não sobrar nada além de uma mera lembrança carbonizada do que antes fora um móvel.
Alguns sofás ao lado da porta ainda estavam em chamas, o que estava criando toda aquela fumaça que se espalhava pelo salão.
Mas, conforme Mikey passou ao lado do sofá em chamas, a baixa temperatura a sua volta fez com que as chamas se apagassem.
Foi preciso passar os olhos pelo salão apenas uma vez para ver a temperatura corporal de todos na sala. Um total de oito pessoas.
Achou o C4 do outro lado do salão em frente ao bar, segurando uma garrafa de Whisky na mão e uma nuvem de areia voando ao seu redor.
Seis homens o rodeavam, tensos e temerosos, observando cada movimento dele com extrema atenção. E sentada no balcão do bar estava uma mulher com um longo cabelo preto tingido de branco em algumas mechas.
A mulher segurava um copo de Conhaque na mão, e observava de forma entediada o gelo no copo. Dois homens estavam parados na frente do balcão, de braços cruzados e com expressões severas nos rostos.
Estelar parou no topo da pequena escadaria que levava para o salão e Mikey parou ao lado dela.
Os olhos cinza da mulher em cima do balcão se dirigiram aos dois, e assim que os reconheceu um sorriso presunçoso se formou em seus lábios.
— O que você tinha dito mesmo, querido? “Não vai vir ninguém. Eu estou sozinho”.
A voz da mulher estava carregada de um divertimento cruel.
— Você nunca esteve tão errado, queridinho. Isso porque um Anjo nunca anda sozinho, aprendi isso com seu amado Imperador.
Medusa jogou o copo de Conhaque em sua mão para trás e ele atingiu a estante de bebidas atrás do balcão, derrubando e quebrando várias delas no processo.
Mas sem se importar com o estrago que acabara de fazer, a mulher apoiou uma mão no ombro de cada um dos homens na sua frente e desceu do balcão, deslizando lentamente as mãos pelos braços deles, enquanto avançava alguns passos.
— Por falar nisso, onde está ele?
Seus olhos observaram a porta atrás dos dois heróis, mas quando percebeu que ninguém mais passaria por elas, emitiu um estalo insatisfeito com a língua.
— Parece que ele não vai vir hoje. Que pena, eu sempre…
— Se o Zen estivesse aqui, Medusa, você já estaria morta por não se ajoelhar, então agradeça por isso.
A frieza na voz de Mikey quase se equiparava à aura que o rodeava, mas seus olhos azuis pareciam possuir uma temperatura ainda mais baixa enquanto fitava a mulher.
A risadinha da mulher ecoou pelo salão silencioso de forma histérica, e quando parou de rir, passou a língua pelos lábios bem lentamente, os olhos dominados por um brilho de desejo inexplicável.
Quando seus olhos se repousaram em Mikey, ela mordiscou levemente o lábio inferior antes de dizer:
— Não me passe vontade desse jeito, Mikeyzinho. Quem vai saciar as minhas vontades agora? Você? Me parece… saboroso, mas não acho que você seria do tipo dominante.
— Nesse caso deixa comigo — C4 falou pela primeira, e no mesmo instante todo o estabelecimento estremeceu.
A nuvem de areia ao redor do C4 se agitou em um turbilhão ao redor do Anjo, fazendo seu manto negro esvoaçar com o vento conforme a areia girava e se acumulava a sua volta, ganhando cada vez mais densidade.
Se Mikey não soubesse como o C4 luta, teria achado que ele criava areia do nada, mas por conhecer o estilo de luta do amigo ele pode perceber as milhares de partículas de areia que ele havia espalhado, de forma imperceptível, por toda a sala, para que agora bastasse apenas atraí-las em sua direção.
A areia se concentrou nas costas do Anjo da Justiça e formou dois tentáculos que se agitaram no ar, com suas pontas quase tocando no teto.
Antes que alguém tivesse a oportunidade de reagir, C4 agitou o braço para frente, e no mesmo instante um dos tentáculos de areia chicoteou em direção aos homens que o cercavam.
O primeiro deles foi atingido com tanta força que foi arremessado em direção ao balcão do bar, e o partiu ao meio com o impacto de suas costas.
O segundo conseguiu segurar o amigo ao seu lado e eles simplesmente desapareceram antes que fossem atingidos, e só apareceram a vários metros de distância, em segurança.
Um deles voou em direção ao teto e conseguiu evitar o ataque por pouco, mas quando o tentáculo atingiu o próximo alvo, o mesmo foi arremessado em direção ao teto e colidiu com o homem que voava, fazendo os dois caírem no chão.
O último deles usou o seu poder para criar uma onda de choque que atingiu o tentáculo e o partiu ao meio, fazendo a areia voar por toda parte.
Quando o homem percebeu que tinha cometido um erro, já era tarde demais.
Enquanto uma parte do tentáculo de areia recuava para as costas do C4 novamente, a outra metade se transformou em dezenas de balas de areia que dispararam por toda a sala.
Os gritos de dor do homem ecoaram por todo o salão conforme ele era fuzilado pelas balas de areia, que focaram principalmente nele.
Já os homens que cercavam a Medusa se colocaram na frente dela e, em simultâneo, criaram barreiras telecinéticas que bloquearam as balas de areia.
Estelar teve que disparar um raio verde com a mão para destruir uma das duas balas de areia que se aproximavam dela, contudo, Mikey nem sequer piscou quando a outra se congelou e se desviou para baixo abruptamente, estourando no chão logo em seguida.
A risada empolgada do C4 ecoou por todo o salão, se sobrepondo aos gemidos de dor do homem caído na sua frente. Mas Mikey reconheceu naquela risada uma raiva que C4 parecia tentar esconder.
Um estrondo ecoou por toda parte quando o Anjo da Justiça desferiu um chute na barriga do homem caído e o arremessou contra uma mesa que estava próxima, partindo ela em duas.
— Podemos começar com você implorando para eu não te matar!
C4 tinha um sorriso assustador no rosto conforme caminhava na direção da Medusa, e Mikey sabia que aquele sorriso queria dizer que ele estava furioso, mas ainda assim o herói notou algo estranho no amigo.
“Ele está se segurando”, ele percebeu com estranheza. “O C4 nunca se segura. O que diabos tá acontecendo? É como se ele estivesse tentando controlar sua raiva…”
Quando a areia atrás do C4 se juntou formando uma lança, Mikey criou uma camada de gelo embaixo dos pés e saiu deslizando na direção do amigo.
O chão congelava na sua frente conforme avançava, e o herói percorreu o salão como se estivesse surfando em uma prancha.
A lança de areia tinha acabado de ser disparada na direção da Medusa quando Mikey, ainda a quatro metros dela, congelou a areia e deixou o bloco de gelo cair no chão e se espatifar.
C4 virou o rosto para Mikey bem quando o amigo parou ao seu lado, e lançou-lhe um olhar afiado e insatisfeito.
Mikey respirou fundo, sabendo muito bem que cabia a ele acalmar o amigo antes que ele fizesse algo que fosse contra os planos do Zen, e calmamente repousou a mão sobre o ombro dele.
— Se acalma, C4. O Zen não vai gostar nem um pouco se a gente começar uma briga com a Jörmungandr.
Uma luz verde iluminou o rosto dos dois amigos enquanto eles se encaravam quando Estelar desceu voando ao lado deles.
Quando a aura de luz verde que envolvia as mãos da heroína se apagou, e ela pousou com suavidade ao lado deles, sua mão automaticamente foi na direção do Alex, segurando de forma hesitante o braço dele.
— Ele tem razão, Alex. Não vamos começar uma guerra, já estamos ocupados demais sem isso para nos preocupar.
Alex se virou para ela instantaneamente, o rosto tão vermelho de raiva que ele parecia prestes a explodir, mas quando viu a expressão desolada que ela tinha hesitou.
Se lembrou de tudo pelo que ela estava passando nos últimos, lembrou de como ela tem investigado e feito tudo ao seu alcance para procurar a mãe. Ela tem tentado de todas as formas de convencer a União dos Heróis a disponibilizar mais heróis para a busca da mãe.
E ao ver as olheiras que tornavam seus olhos fundos e cansados, ele se lembrou de que ela e o pai estão saindo todas as noites e fazendo buscas pela cidade desde do desaparecimento da Maria.
Sabia que não podia deixar a raiva subir à cabeça. Sabia que esse era o seu maior defeito. O Mikey e o Zen sempre falavam isso para ele.
Mas para aqueles dois era fácil manter a calma, um foi treinado para isso e o outro consegue ser tão frio quanto o próprio gelo quando quer.
“Eu não sou assim. Não consigo fingir que algo não me deixa puto”, ele pensou, fechando os punhos com tanta força que seus dedos estalaram. “Mas eu preciso. Se eu perder a cabeça agora o plano do Zen não vai adiantar de nada. O Mikey vai ficar furioso se descobrir…”
Os olhos do C4 se desviaram da Estelar para o Mikey antes dele finalmente soltar um longo suspiro e os músculos do seu corpo relaxarem.
Mas quando tudo parecia ter se acalmado, a Medusa falou, jogando todo o autocontrole do Alex no lixo:
— Escute os seus amigos, Sandzinho. Você veio aqui por um motivo, não é? Estava procurando uma garota. Eu não sabia que você gostava de menores de idade, mas cada um com seus fetiches, por mais mórbidos que sejam.
A risadinha da Medusa soou de forma ensurdecedora no silêncio abrupto que recaiu sobre o salão.
Alex sentiu um calafrio percorrer o seu corpo e viu a sua respiração formar um vapor branco.
Quando olhou para o seu melhor amigo e viu que ele mantinha o olhar fixo no chão — os olhos azuis brilhando intensamente — percebeu ser tarde demais.
Mikey tinha finalmente entendido qual era a missão que ele tinha vindo fazer.
— Mikey, eu… — Alex começou a falar, mas parou quando viu seu amigo levantar o olhar e fixá-los nele.
Por alguns segundos o Lorde do Gelo apenas encarou Alex sem dizer nada.
O ar estava tão gelado que o estalar do gelo se formando em camadas em volta deles ecoava pelo salão.
Alex tremia de frio, e Estelar, que estava mais perto do herói, se apressou em recuar, se afastando precisamente cinco metros.
Mas quando o Lorde do Gelo falou, seu tom de voz conseguia soar ainda mais frio e ameaçador que a nevasca que parecia estar prestes a começar naquele salão.
— Cê tá falando de quem?
Alex pensou em responder, mas percebeu que a pergunta não tinha sido feita a ele.
Mikey lentamente desviou a sua atenção para a Medusa, seus olhos azuis carregados de ódio.
Ele já sabia a resposta antes mesmo da mulher responder, e ela sabia disso também.
Medusa sabia disso e não se importava, ou fingia não se importar, nem um pouco com a raiva congelante refletida nos olhos dele.
— Estou falando da bela Letícia, é claro, Mikeyzinho.
O sorriso dela era de deleite puro, e os olhos brilhavam em êxtase enquanto encarava Mikey.
— Ela era jovem, mal tinha dezoito, mas era a nossa melhor garota, sem dúvidas. O poder dela era então…
Ela revirou os olhos e mordiscou o lábio inferior, se deliciando com as próprias memórias.
— Há, jovem Letícia, uma pena ela ter sido requisitada pelo Pai, se não eu poderia apresentá-la a vo…
O gelo se espalhou por baixo do Mikey como se tivesse caindo de dentro da sua roupa.
Quando começou a se espalhar como ondas de um tsunami pela sala, Alex foi obrigado a saltar para trás e por muito pouco não foi congelado — saindo no último instante do raio de cinco metros do Domínio de Gelo do Mickey.
Mikey se concentrou na mulher na sua frente e o gelo avançou na direção da Medusa — além dos cinco metros — mas bateu na parede invisível criada pelos dois guarda-costas da mulher.
Uma pequena parede de gelo rodeou os três e permaneceu lá mesmo quando o poder se acalmou.
Quando tudo parecia ter se acalmado, um clarão iluminou o salão quando um dos homens disparou uma esfera de energia cósmica. Mikey se virou na direção do ataque e seus olhos brilharam intensamente.
A esfera de energia emitia um chiado agudo enquanto cortava o ar em direção ao Lorde do Gelo, mas no último instante o herói esquivou para o lado e deixou a esfera passar direto, a apenas um metro de atingir um dos guarda-costas da Medusa.
A explosão de energia destruiu todo o balcão, abrindo um buraco na parede e fazendo chover bebida no ar enquanto a energia se dissipava.
O homem que disparou o ataque começou a correr, traçando um arco estratégico para não adentrar no Domínio de Gelo daquele conhecido por ser o Anjo da Justiça mais forte, e criou outra esfera de energia na mão direita.
Mas quando saltou sobre uma das mesas do salão, uma estalactite de gelo se formou ao lado do Mikey e disparou para frente, estilhaçando-se contra um dos pés da mesa.
A mesa desequilibrou e o homem vacilou por um instante, mas rapidamente se recompôs e saltou para frente, levantando voo logo em seguida.
Quando ele disparou a esfera de energia, seu brilho iluminou o teto enquanto avançava até o herói, mas a menos de dois metros do alvo uma estalagmite de gelo se formou no teto e interceptou o avanço da esfera.
A interceptação aconteceu no mesmo instante em que o homem entrou no Domínio de Gelo do Mikey, e seu gritou abafou completamente o som da esfera de energia explodindo contra a estalagmite.
O braço direito do homem foi o primeiro a ser congelado, seguido por sua perna esquerda e depois a direita.
Quando os membros congelados do homem foram puxados na direção do Mikey, ele viu aquele par de olhos azuis o encarando sem piscar e percebeu que tinha cometido um erro terrível ao pensar que podia enfrentá-lo.
Existia uma diferença gigantesca entre os dois, e essa era uma diferença que nem mesmo a maior das vantagens numéricas poderia anular.
Aqueles olhos azuis eram os frios olhos da morte, e perceber isso fez o homem se desesperar.
A esfera de energia que se formou na mão esquerda era menor e mais instável que as anteriores, e isso devia tanto ao desespero do homem quanto ao fato dele ter se acostumado a disparar seus ataques apenas com o braço dominante — que agora estava completamente congelado.
Quando efetuou o disparo, a esfera girou no ar enquanto avançava até o herói, mas parecia não o atingiria em cheio, até que Mikey ergueu a mão, que estava coberta por uma grossa camada de gelo, e interceptou a esfera com um único tapa.
Quando a esfera explodiu, liberou um clarão branco no centro do salão, o gelo espalhado pelos não se espatifou e uma nuvem de poeira se ergueu no ar.
O homem atingiu o chão com um baque seco, e o som dos seus membros congelados se estilhaçando ecoou por todo o salão, até o grito desesperado do homem o sobrepor.
Seu corpo deslizou pelo chão enquanto ele contorcia e gritava de dor, até que um dos pés do Mikey desceu com toda força em seu braço esquerdo e interrompeu seu avanço.
O homem ergueu os olhos e quando a fumaça começou a se dissipar ele viu — entre lágrimas — o Lorde do Gelo, parado na sua frente. Os olhos azuis o encarando com uma raiva tão profunda que parecia queimar, ou, nesse caso, congelar.
Percebeu estar tremendo, contudo, não sabia dizer se era por frio ou por medo. Porém, quando Mikey falou, até mesmo o tremor no seu corpo parou para ouvi-lo:
— O que cê pensa que tá fazendo? Quer morrer, porra?!
Antes que o homem tivesse a oportunidade de responder uma camada de gelo começou a se formar pelo seu corpo, ele arqueou e gemeu de dor, mas até mesmo sua dor foi congelada quando o gelo cobriu todo o seu corpo, deixando apenas seu rosto intocado.
Os dentes do homem rangiam de frio, os lábios pálidos temendo sem parar. Aqueles olhos azuis pareciam hipnotizantes e ele não conseguia olhar para outro lugar se não para eles.
O olhar do Ceifador de Gelo.
— Para você isso basta… Morte por hipotermia. — A voz do Mikey soou como um sussurro, como se fosse apenas uma das várias brisas geladas que percorriam o cômodo.
Quando o herói desviou o olhar na direção da Medusa, todos na sala ficaram tensos, pois viram naquele olhar que a conversa havia acabado.