O Despertar Cósmico - Capítulo 50
Alex envolveu o próprio corpo com uma camada de areia e aproveitou para usá-la para impulsioná-lo na direção da Estelar, que também estava agindo, emanando e condensando seus poderes nas mãos e criando uma luz verde intensa nelas.
No momento em que os braços do Alex envolveram Estelar, a areia se expandiu em volta deles criando um domo que se fechou no exato instante em que o mundo inteiro caiu sobre eles.
A luz verde da Estelar iluminava completamente o interior do domo, deixando bem visível quando uma rachadura permitiu que um pouco de gelo se infiltrasse no seu interior.
Mas Alex conseguiu usar um pouco de areia para tapar a rachadura antes que o gelo se espalhasse e congelasse os dois lá dentro.
Estelar abraçou Alex o mais forte que conseguiu, mas não diminuiu a intensidade do poder em suas mãos, que agora emitia uma luz tão quente que fez Alex arquejar de dor.
Mas mesmo assim ele não permitiu que ela se afastasse.
Sabia que precisava do calor corporal um do outro naquele momento.
O mundo inteiro parecia cair sobre aquele domo, e cada estrondo que ecoava lá fora e sacudia o domo, parecia reverberar dentro de suas almas.
Um pouco de areia que se soltava do teto e caia sobre os dois, e isso era o suficiente para que a dúvida de que o domo aguentaria os deixasse desesperado.
Então tudo parou. Da mesma forma repentina que começou, a destruição do lado de fora parou, dando lugar a um silêncio ensurdecedor.
Estelar não ousou diminuir a intensidade do seu poder mesmo quando se afastou, temendo não suportar o frio sem o calor que a luz gerava.
Depois que olhou em volta, checando a estrutura do domo e agradecendo por ele não ter desabado, Alex suspirou aliviado.
Mas tudo que Estelar ouviu foi o som do gelo estalando do lado de fora, e isso causou um calafrio nela pior do que a temperatura extremamente baixa.
A areia começou a se contorcer quando Alex se levantou, e Ester acompanhou ele.
No topo do domo um buraco se abriu para eles saírem pro lado de fora e contemplar a devastação causada pelo Lorde do Gelo.
Por um segundo não foi possível reconhecer o lugar em que estavam. Foi como se entrassem no domo em lugar, mas saíssem de dentro dele outro totalmente diferente.
Como se tivessem se teleportado para o próprio Polo Norte.
Mas caso se esforçasse um pouco podiam ver as ruas e as casas que cercavam o prostíbulo, mas agora estava tudo coberto por camadas de gelo e neve.
Neve.
Era o que estava caindo do céu naquele momento, uma verdadeira nevasca.
Os flocos brancos que caiam do céu logo formaram uma fina camada sobre Alex e Estelar, e por um instante eles pareceram congelados também.
Chocados demais para se mover.
Aquela era a personificação da fúria do Mikey. A destruição causada quando o mais poderoso Anjo se enfurece.
Quando Alex vasculhou o que sobrou do salão do prostíbulo — e que agora era completamente irreconhecível — ele viu a silhueta da morte congelada.
Mikey estava de pé no mesmo lugar de antes, mas agora havia tanta neve cobrindo o seu corpo que era quase impossível distingui-lo dos vários montes branco que se espalharam por toda parte.
Mas quando o Lorde do Gelo se moveu e a neve caiu, ficou claro que era ele, assim como ficou claro, pela expressão em seu rosto, que a sua raiva não havia sido saciada ainda.
Alex seguiu com o olhar na direção em que o Mikey caminhava, e quase não acreditou no que viu.
Medusa também permanecia parada no mesmo lugar, e mesmo que dezenas de espinhos de gelo tivessem se formado e se projetado na direção dela, nenhum havia sequer se aproximado demais.
Diferente dos seus guarda-costas.
Cada um deles possuía uma telecinése forte o suficiente para protegê-los, mas não conseguiriam proteger os três de todos os espinhos, por isso focaram em defender a sua chefe.
Os espinhos de gelo que atravessaram os dois homens estavam completamente manchados de sangue, e os perfuravam em vários locais do corpo, desfigurando-os completamente
Mas a convicção e determinação deles também foram congeladas nas suas posições de concentração de quando morreram criando a barreira telecinética que protegeu a Medusa.
Quando a mulher moveu-se, o gelo à sua volta se despedaçou a cada passo. Flocos de neve caíam em volta dela e se misturavam com as mechas brancas do seu cabelo.
Mas cada passo da mulher era executado com graça e soberba. Os olhos cinza da mulher se fixaram no homem que caminhava na sua direção e não tremeu nem por um segundo diante daqueles olhos azuis brilhantes.
— Que espetáculo, Mikeyzinho. Posso perguntar exatamente o que te irritou?
— O que me irritou…!
Ele fechou a mandíbula com tanta força ao se interromper, que seus dentes rangeram. Uma brisa gelada percorreu o ambiente, levantando uma poeira de neve do chão.
Alex estava assistindo tudo de longe e até cogitou em ir até o amigo, mas em seu âmago ele sabia que era tarde demais.
Zen tinha atribuído essa missão a ele justamente por saber que essa era uma das poucas situações em que o Mikey não conseguiria manter a calma.
Alex se segurou o máximo que pode, evitou começar uma briga desnecessária mesmo tendo vários motivos para fazer isso desde que chegou naquele prostíbulo.
Mas Mikey tinha investigado a Letícia com o Zen, e sabia que a garota possuía uma dívida enorme com a Jörmungandr e fazia trabalhos para eles em forma de pagamento.
E agora que Mikey sabia quais eram esses trabalhos, não havia mais como acalmá-lo. Era como uma avalanche que passava e devastava tudo, tão inabalável e absoluta que só restava esperar que passasse.
— O que me irritou, Medusa, foi vocês usarem uma criança de dezoito anos em trabalhos sexuais nesses porcos nojentos que cê chama de clientes.
A voz do Miksy foi carregada pela brisa do vento, o tom de voz poderia muito bem enganar quem estivesse ouvindo. Poderia até parecer que ele estava calmo, mas a expressão em seu rosto não podia ser confundida.
— Mikeyzinho, acha mesmo que eu fiz ela transar com esses homens para me pagar o que devia? Claro que não.
Um pequeno sorriso se formou nos lábios dela, mas logo desapareceu.
— O poder dela era complicado demais para que eu entendesse a explicação, mas podemos resumir com aceleramento celular. É por isso que A Mão procurava por ela. Já eu… Bom, eu a fazia usar o poder para provocar ereções em alguns clientes impotente.
O silêncio recaiu sobre os dois por um momento.
Ficou nítido a surpresa no rosto do Mikey, da mesma forma que ficou nítido que a Medusa estava falando a verdade.
Mas mesmo assim os passos do Lorde do Gelo continuaram a esmagar a neve conforme ele avançava, sem diminuir o ritmo nem por um segundo.
— E acha que isso importa? — ele perguntou. — Acha que faz diferença?
— Aj, entendo… — Ele desviou o olhar para baixo, parecendo pensativa, talvez até resignada. — Não há nada que eu possa falar pra você me poupar, não é?
— Não, não tem — Mikey respondeu com sinceridade. Sinceridade e nojo, principalmente quando acrescentou: — Eu quero matá-la pelo que fez. Eu vou matá-la pelo que você fez.
— E o seu Imperador? O que ele vai pensar disso?
Ela voltou a fitá-lo, sem vacilar nem por um momento. Em seu olhar havia uma espécie de orgulho que ela não abandonaria nem mesmo diante da morte.
— Me resolvo com ele quando a hora chegar.
Mikey parou de falar no exato momento em que parou na frente da mulher.
Os dois se encaram por um segundo, sem nenhum deles sequer piscar, até que ele perguntou:
— Você não vai implorar para eu te poupar, não é?
— Não. Jamais. Não vou te dar esse gostinho. Sei bem o que eu fiz e que tipo de vida eu vivi. Não vou me arrepender agora, Mikeyzinho. Eu gosto de sentir prazer, não de dar prazer. Que a minha morte seja o ápice e não o fim.
— Que seja!
O gelo estalou no ar e o som se misturou aos grunhidos da mulher quando o gelo se espalhou pelo corpo dela.
O grito sufocado pelo gelo parecia ecoar pela rua silenciosa mesmo depois que até mesmo o som do corpo se congelando cessou.
Aquilo tudo não durou mais que um segundo, mas a cena permaneceu eternamente na visão daqueles presentes ali.
Todos vão se lembrar para sempre da imagem do homem de cabelo branco e olhos azuis parado na frente da mulher congelada até a morte.
Todos se lembrarão do dia que presenciaram a fúria do homem mais frio do mundo.