O Despertar Cósmico - Capítulo 53
Capítulo 53: Mesmo na Morte.
— Não temos escolha, vamos recuar. — Zen se virou para os três e acenou para que Elena se aproximasse dele. — Vem comigo, vamos ter que voar se quisermos ter uma chance de fugir.
Alan olhou para Amanda e a amiga o olhou de volta, o mesmo pensamento passando pela cabeça dos dois:
“Não tem como ela aceitar isso”
Contudo, para a surpresa dos dois — e provavelmente para a surpresa do próprio Zen — Elena apenas hesitou um pouco, antes de respirar fundo e sair andando até ele.
— Tudo bem, mas cê tem que ir devagar dessa vez.
— Sem chance — ele falou, com um sorriso travesso no rosto. — Vou ir mais rápido do que a última vez, aliás.
Elena arregalou os olhos, sentindo seu coração bater acelerado em seu peito, e parou de andar no mesmo instante. Ela teve tempo de considerar o quão terrível aquilo seria, e se apavorar com a ideia, contudo, antes que pudesse recusar, Zen a puxou para perto.
— Mais rápido? Mais rápido quanto? O quão rápido cê pode ir? — ela perguntou, sua voz soando cada vez mais desesperada.
— Meu recorde é mach 1, mas sendo sincero, eu estava motivado e foi um dia sorte, não se preocupe.
Zen pegou Elena no colo, o que arrancou um gritinho assustado dela, e fez um sinal para Alan com a cabeça, chamando a atenção do garoto.
— Leva a Amanda com você, e tenta me acompanhar, Júnior.
— Espera um pouquinho aí, o que é mach 1? — Elena perguntou, e depois ela gritou, provavelmente sentindo a energia cósmica que fluía pelo corpo do Zen.
O grito da garota foi sobreposto por um estrondo quando Zen saiu voando, mas os dois pararam na altura das nuvens por um segundo, e, como resultado, Elena começou a gritar novamente. Logo depois, eles avançaram para frente, em direção oposta ao centro da cidade.
— Bora! — Alan se virou para Amanda e esticou a mão para ela.
A amiga grunhiu em reprovação, mas aceitou a mão do Alan mesmo assim, reclamando só um pouco quando ele a pegou no colo e saiu voando.
O vento bateu contra o longo cabelo escuro de Amanda, o jogando contra a cara do garoto, e isso proporcionou-lhe um pequeno sorriso e um momento de descontração de toda aquela confusão.
— Foi mal — a garota falou, usando uma das mãos para jogar o seu cabelo para trás, de forma que o vento não o jogasse no amigo. — Isso sempre acontece. Por isso eu odeio voar contigo.
Mas para a sua surpresa, o amigo continuou sério, olhando para frente com concentração.
Uma onda cósmica tão forte percorreu o corpo de Alan que até mesmo Amanda pode sentir — como se a energia também tocasse seu corpo — e logo em seguida ela teve que se agarrar ao amigo para suportar o tranco de quando ele aumentou a velocidade.
Alan fez uma curva abrupta para a direita, contornando um prédio enquanto ganhava altura rapidamente e a grota gritou.
Cravou as unhas nas costas do amigo, sendo sacudida de um lado para o outro quando Alan começou a fazer curvas, praticamente ziguezagueando pelo céu.
— Te achei, merdinha do caralho — Alan falou, a voz quase inaudível devido ao vento forte.
— Vai com calma aí, Tigrão. — Amanda tentou olhar para frente, e pode ver por um segundo o Zen voando a dezenas de metros deles. Estava mais baixo, perto dos prédios, e sendo seguido por duas pessoas.
Contudo, Alan aumentou a velocidade antes que ela tivesse a chance de ver algo a mais, e ela teve que abraçá-lo com força para suportar a velocidade.
Tentou observar a paisagem da cidade atrás deles para se distrair dos trancos repentinos, mas o que viu não foi uma bela vista, pelo contrário; foi algo assustador.
Três silhuetas distintas voavam logo atrás deles, a pouco menos de vinte metros e se aproximando rapidamente.
Dois deles emanavam uma luz poderosa, um laranja como o sol e outro vermelho como sangue, e iluminavam aquela noite de lua-nova. Atrás deles a lua parecia rir de toda a situação.
— Esquece o que eu falei, Tigrão, acelera essa merda! Tamo sendo seguido — ela falou, se forçando a olhar para frente novamente, mesmo quando Alan aumentou a velocidade em resposta.
— Falar é fá…
Ele parou de falar e fez uma curva abrupta, passando perigosamente próximo a um prédio. Outra curva fez eles voarem por cima de um viaduto movimentado, e por um momento Amanda pode ter a visão clara do Zen novamente.
O garoto voava tão próximo da avenida que o tráfego estava uma verdadeira bagunça, com carros tentando desviar do Zen, e ele desviando dos carros enquanto tentava despistar seus perseguidores.
Sobretudo, Amanda se surpreendeu ao constatar que eles estavam em cinco agora.
Quando Zen disparou voando para cima, tentando fugir tanto dos perseguidores quanto do viaduto coberto do qual se aproximava, às cinco pessoas também o seguiram.
Mas não contavam que ele estivesse esperando por isso, e quando ele executou um rasante e eles tentaram o seguir, um deles se chocou contra o viaduto, enquanto os outros seguiam o Zen para dentro da entrada.
Alan parou de voar no mesmo instante, parado dezenas de metros acima do viaduto e olhando ao redor de forma ansioso e preocupado.
Olhava para todas as saídas do viaduto, alternando de uma para a outra na tentativa de ver onde o Zen sairia, mas praguejou alto quando não o encontrou em lugar algum.
— Desgraçado! Onde tu se meteu!?
— Alan! — Amanda gritou, mas era tarde demais.
Um chute atingiu as costas do garoto e ele foi jogado para frente, rodando desgovernadamente no ar. Suas costas queimavam de dor, mas ele conseguiu estabilizar o voo e começou a vasculhar ao redor.
Ou teria feito isso, contudo, outro chute atingiu seu rosto antes que ele pudesse ver algo.
Tudo ficou preto por um segundo e a dor tomou conta da mente do garoto — sangue preenchendo sua boca. Até que ouviu o grito da Amanda, mesmo que soasse abafado e distante, e, naquele momento, uma onda cósmica percorreu seu corpo e ele despertou.
Abriu os olhos e observou a fumaça negra envolvendo o seu corpo, com Amanda materializada apenas da cintura para cima, segurando seus ombros enquanto gritava com ele.
Alan abriu a boca para dizer que estava bem, contudo, viu uma mulher se aproximando em alta velocidade, mirando um chute neles.
Desistiu de perder tempo falando e apenas focou em fluir a energia para a palma de sua mão, criando uma esfera azul brilhante.
Quando moveu o braço para mirar no seu alvo, Amanda deixou escapar um grito assustado — sem saber o que estava acontecendo — e dissipou seu corpo em fumaça para não ser atingida pelo braço do amigo.
A esfera cósmica foi envolvida pela fumaça e o azul ficou opaco em meio ao negror que o rodeava. No mesmo instante o corpo da mulher entrou em combustão, ascendendo como uma tocha, e sua perna foi de encontro com a energia do Alan.
Uma explosão de energia azul coloriu o céu noturno, dissipando a fumaça negro no ar e arremessando tanto Alan quanto a mulher em chamas para longe.
Alan rondou de forma descontrolada, perdendo altitude rapidamente e sem conseguir se estabilizar. Tudo que podia ver era apenas um borrão de velocidade, e ocasionalmente a energia azul se dissipando no ar e a mulher em chamas caindo em direção a rua.
Até que as chamas em volta da mulher se apagaram e ele também perdeu ela de vista.
O garoto mandou uma onda de energia pelo seu corpo, enviando impulsos para todas as direções e se obrigou a parar, recuperando a estabilidade.
Quando se recompôs conseguiu começou a olhar ao redor, procurando por Amanda. Contudo, o que viu foi mais surpreendente:
Pilares de fumaça se erguiam em vários pontos da cidade. As sirenes das viaturas iluminavam as ruas da cidade, e era possível ver até mesmo alguns heróis se dirigindo aos focos dos incêndios.
Algumas explosões ainda eram vistas ao longe, nas regiões mais isoladas e menos habitadas da cidade, mas essas eram explosões pequenas e controladas, e não geraram tanto fogo ou fumaça.
Sua atenção foi chamada para outro lugar quando viu uma fumaça negra fluindo sobre sua cabeça e se juntando em um único ponto, de onde logo se materializou a metade superior do corpo da Amanda.
— Tem mais deles! — Amanda apontou desesperadamente para cima, de onde mais duas pessoas se aproximavam, uma delas surfando no que parecia ser uma estrutura vermelha carmesim.
— Tô ligado. Eu vou…
Antes que ele terminasse de falar um estrondo ecoou atrás dele e algo passou por ele em alta velocidade, liberando uma rajada de vento que o empurrou para o lado.
O grito da Elena foi a primeira coisa que Alan e Amanda notaram, antes de ver a amiga flutuando a um metro deles, com o corpo encolhido e os olhos fechados de medo.
Alan desviou o olhar na direção das duas pessoas que se aproximavam e, como esperado, viu os raios roxos e o cintilar da espada do Zen entre eles.
Explosão de energia e construções vermelhas começaram a tomar conta do céu, em uma batalha feroz entre os três.
Um dos homens conseguia criar construções feitas de uma energia vermelha, e usava e abusava da sua criatividade para atacar Zen e o impedir de se aproximar do seu companheiro, que disparava projéteis de luz no seu inimigo.
Zen estava conseguindo se esquivar dos ataques, mas parecia ter dificuldade em se aproximar e acertar seus raios de energia. Mas quando Alan fez menção de ir ajudá-lo, o garoto fez a Troca Equivalente.
Parecia que Zen estava apenas esperando que os dois ganhassem confiança na batalha e ficassem lado a lado enquanto atacavam ele, e quando isso aconteceu, ele trocou de lugar com um deles.
A lâmina brilhou no ar e o sangue jorrou sobre a plataforma vermelha carmesim em que o homem voava.
Um raio roxo cruzou o céu escuro, as estrelas brilhando lindamente atrás dele, e atravessou o outro homem — que ainda estava tentando entender o que havia acontecido.
A construção vermelha se desfez e o corpo caiu, acompanhando seu companheiro que morreu pouco antes, e mesmo na morte os dois avançaram juntos.