O Despertar Cósmico - Capítulo 54
Elena ainda estava gritando quando Zen começou a voar na direção deles novamente, e só quando Amanda chamou pelo seu nome que a garota foi perceber que não estava caindo — apesar de o Zen ter soltado ela, como disse que faria.
Abriu os olhos bem lentamente, ainda temendo o que veria, mas mesmo assim se assustou ao perceber que nada a segurava, e começou a gritar novamente.
Zen se aproximou gargalhando, a espada estava guardada na bainha em sua cintura, como se ele não a tivesse usado para tirar duas vidas a um segundo atrás.
Por algum motivo a mera risada do Zen pareceu acalmar Elena, que começou a parar de gritar e parou completamente quando o garoto se pôs ao lado dela e a abraçou.
— Calma, calma. Já acabou, tá vendo? Você tá voando. Falei que isso ia acontecer.
— Não tinha como cê saber, idiota. — Elena acertou um tapa no Zen que fez ele ser empurrado para o lado. Ainda que, em pânico, ela o puxou para perto no mesmo instante.
— Aí, otário. — Alan se aproximou voando e parou ao lado deles. Zen lançou-lhe um olhar frio, como sempre, entretanto, o garoto ignorou completamente e aptou para a fumaça no horizonte. — Se liga.
Zen continuou encarando Alan de forma severa, entretanto, fluiu um pouco mais de energia para seu olho, aumentando também sua concentração na cidade.
Seus olhos se arregalaram e ele saiu voando para trás sem dizer nada, deixando todos para trás — inclusive a Elena, que começou a gritar de medo novamente, mesmo que tenha permanecido imóvel no ar.
Contudo, o garoto não se afastou muito, apenas o ganhou um pouco de altitude, a fim de conseguir uma visão mais privilegiada.
E conforme alcançava altitudes mais altas, suas expressões se tornavam cada vez mais espantada, sem demonstrar nenhum trasso da inexpressividade rotineira.
Alan se aproximou em alta velocidade, contornando Zen em uma curva fechada e parando ao seu lado, a fim de chamar a sua atenção, mas ele lhe concedeu um mero olhar de esguelha, antes de voltar sua atenção para a cidade.
— O que tá rolando?
— Consegue ver aquela fumaça? — Zen apontou na direção de um dos focos de incêndio, um particularmente longe.
— Aquele na direção da Copacabana?
— Isso mesmo. É a base central da Justice Angels no Rio de Janeiro.
Suas palavras foram carregadas pela brisa fria da noite, como se apagadas pelo vento. Contudo, seu peso ficou.
— Tu tá falando sério? Que merda! O alvo deles é você!
— É, parece que sim… — Zen respondeu, com sinceridade. — Acredito que isso é muito maior do que eu imaginei… e olha que eu sou conhecido por ser precavido.
Alan deixou escapar uma risada, e Zen automaticamente olhou na sua direção, surpreso.
— Cara, tu é muito babaca. Meteu a gente nessa furada e ainda consegue fazer piadinha.
Zen grunhiu e revirou os olhos, enquanto apontava o dedo do meio para o garoto e voava de volta para Elena, que parara de gritar agora que Amanda foi a tranquilizar.
Contudo, não conseguiu tirar a rasão do Alan. Se ele estava mesmo sendo alvo desses vilões, então a culpa deles estarem no meio disso, e completamente dele.
E não restava duvidas de que ele era o alvo. Afinal, a informação mais crucial de todas o Zen não divulgou; Não era apenas a base central que estava dentre os locais incendiados, todas as bases do Rio haviam sido atacadas — o que explicava ele não conseguir entrar em contato com ninguém.
“Droga! Bem no dia em que eu enviei o C4 para aquele puteiro!”, Zen pensou, tendo que respirar fundo para manter a calma. “O Diebus deve ter ido buscar ele, quando viu que eu desliguei o comunicador para conversar com a Elena”
Nesse momento ele praguejou em voz alta, o que chamou a atenção da Amanda e da Elena, que estava a apenas um metro e meio dele.
— Que foi? — Amanda perguntou, com Elena olhando assustada para Zen ao seu lado.
— Isso tudo foi planejado! — Pela primeira vez o Imperador não conseguiu ocultar sua raiva. — Desde o momento em que eu desliguei o comunicador quando tava na casa da Elena e o Mikey foi embora, até quando cêis ligaram merda do pendrive pela primeira vez!
Elena franziu as sobrancelhas, surpresa com a forma que o Zen falava, que o fazia soar como alguém totalmente diferente. Contudo, antes que ela pudesse dizer algo, Alan se aproximou deles e parou ao lado do Zen.
— Ei, vai com calma aí, esquentadinho — Alan falou com ironia, e, principalmente, com prazer, por ver o garoto agindo totalmente contrario a postura calma costumeira. — A gente nem tá ligado no que tu tá falando.
— É, tipo, eu só liguei usei o pendrive uma vez, e logo apareceu aquela frase em russo dizendo que tu viria até nós, como se fosse o todo-poderoso Cosmo.
— Era turco — Zen corrigiu, aparentando estar se acalmando. Contudo, agora franzia as sobrancelhas de forma confusa. — Mas não faz sentido. Ele estava criptografada, teriam que passar por isso antes de receber a mensagem.
Ao ver a troca de olhares entre Amanda e Alan, ele percebeu que isso também fora parte do plano de alguém. Entretanto, precisava manter a calma para raciocinar direito, então foi isso que fez.
— A menos que alguém tenha hackeado o pendrive do Remote, o que é teoricamente impossível, mas parece ter sido o caso… — Ele parou de falar e refletiu por um segundo, logo depois acrescentou: — Ou invadiram a sua casa, e assim colocaram a bomba lá.
— O quê!? Não, não é tão fácil assim invadir a minha casa. Tu esqueceu que meu pai é… — Alan foi parando de falar a medida que viu a forma debochada com a qual Zen lhe encarava.
— Tem razão, devo ter confundido. A segurança da casa do Star é impenetrável.
— Gente, temos companhia! — Elena falou, e, para deixar mais claro ainda, Amanda apontou na direção em que estavam.
Alan se virou e viu às duas pessoas se aproximando, em alta velocidade. Não conseguiu identificar seus poderes a princípio, até que um deles disparou um projetil branco na sua direção.
O garoto arregalou os olhos e fez menção de desviar, mas nesse momento o braço do Zen se moveu em uma velocidade impressionante e agarrou, com a mão nua, o projetil.
Sangue jorrou no ar e algumas gostas mancharam o rosto de Alan, contudo o sangue não era seu. O projetil possuía diversas agulhas brancas, que estavam agora estavam cravas na mão do Zen.
— Alguém capaz de manipular e criar estrutura óssea não é o tipo de pessoa que se enfrenta todo dia.
Zen se virou na direção dos inimigos, seus olhos completamente inexpressivos e sombrios avaliando eles rapidamente — o olho amarelo brilhando como uma estrela em meio a escuridão que parecia rodear o garoto naquele momento.
Alan não saberia dizer o que Zen viu neles, mas se assustou ao se tocar que o garoto provavelmente tinha notada a aproximação inimiga muito antes da Elena, só não escolheu avisar.
E, acima de tudo, se assustou ao ver um sorriso cruel se formar em seu rosto.
— É uma pena não estarem usando Inaudibilis Power como aqueles que estavam no centro.
Quando arrancou mais dois disparos foram executados na sua direção, Zen avançou alguns centímetros para frente, se esquivando de ambos com facilidade.
Parecia completamente alheio a tudo a sua volta, sobretudo a dor — principalmente quando arrancou o projetil preso em sua mão.
Todo o seu foco estava nos inimigos que se aproximavam. Contudo, não houve batalha. O Imperador apenas ordenou, com a mais absoluta serenidade:
— Parem de voar.
E simples assim, os dois despencaram do céu, como um Anjo renegado, expulso do paraíso por seu Deus — ou, neste caso, o seu imperador.
Quando voltou a se virar para Alan, sua expressão ainda era severa e intimidadora, mas que logo se suavizaram o máximo que conseguiam, ou seja, voltaram a inexpressividade de sempre.
— Temos que sair daqui. Se o inimigo sabe onde é a casa, não posso levá-los embora e arriscar que sejam atacados lá, colocando sua família em risco — Zen falou, e no mesmo instante sentiu o momento de dúvida e incerteza pairou no ar entre os quatro.
Alan olhou de esguelha para Amanda, preocupado com o que poderia vir acontecer com a amiga. Contudo, não teve a oportunidade de dizer algo a respeito do que achava da ideia, pois, Elena fez isto antes dele:
— E qual é o plano?
— Nós vamos recuar até um esconderijo seguro e tentar entrar em contato com o Diebus para reunir a equipe.
— E depois? — Amanda perguntou, parecendo concordar com o plano também, mesmo que não terem discutido sobre ele.
— Depois? Depois vamos contra-atacar, é claro — Zen respondeu, com um sorriso arrogante no rosto.