O Despertar Cósmico - Capitulo 56
Quando a porta do quarto se abriu, Alan se levantou da cama no mesmo instante, relaxando apenas quando viu Elena e Zen passar pela porta.
Amanda também se levantou, mas Elena apenas lhe olhou de esguelha, e seguiu com o Zen até o canto do quarto, onde o garoto havia deixado a sua espada.
Antes de pegar a espada ele afastou as persianas com os dedos, para observar a rua lá fora, e só após isso pegou a arma. Quando se virou, olhou diretamente para Alan. Contudo, não disse nada a princípio, apenas o encarou com aqueles seus olhos misteriosos.
Encarou o garoto como se pudesse vê-lo pela primeira vez só agora. Parecia estar tomando uma grande decisão, e quando finalmente acabou de pensar, soltou um longo suspiro e começou a andar na direção dele.
— Bom, vamos lá, então. Acredito que queiram respostas, certo?
— Cê acha? — Alan debochou, mas antes que Zen falasse algo, ele acrescentou: — Pode começar dizendo quem tá atacando a gente.
— Você sempre faz perguntas que eu não posso responder, Júnior.
— E o que tu pode responder então, porra?
— Pra começar… — Zen caminhou até a outra janela, e usou o cabo da espada em sua mão para afastar a persiana e olhar o lado de fora. — Vou falar pra vocês o nome do meu plano.
— Nome? — Amanda foi a primeira a perguntar, mas todos olharam para ele da mesma forma confusa em simultâneo.
— Como assim um nome? Porque seu plano precisa de um nome? — Elena perguntou, enquanto se sentava na cama, cruzando as pernas para se acomodar.
— Mas é claro que é porque todo bom plano tem um nome. — Zen se virou e sorriu de forma divertida, como se aquilo fosse uma piada, apesar da seriedade em seu tom de voz.
— Na moral? Não, beleza, bora lá. Vou entrar na onda. Qual o nome do teu plano?
— Revertere in domum suam — ele falou, pronunciando cada palavra de forma que soasse como algo impressionante e grandioso.
Alan bufou em desdém e se sentou na cama, ao lado da Elena, que tinha um sorriso no rosto, achando graça na reação do amigo.
— Tu só consegue formar frase usando essas línguas estranhas? — Amanda perguntou de forma provocativa, e com um sorriso no rosto.
— É latim. Vocês deveriam pesquisar mais sobre essa língua se quiserem descobrir mais sobre esse mundo. Apesar de ser um idioma morto, fez parte de todo o nosso passado.
— Exatamente — Alan falou, se deitando na cama e suspirando com desânimo. — Fez parte do passado. E eu não vejo necessidade alguma de estudar o passado.
Assim que terminou de falar viu um raio de energia roxa passar sobre ele, a centímetros do seu corpo, e atingir a cabeceira da cama. O garoto se levantou assustado, olhando primeiro para o buraco deixado na cabeceira de madeira, e depois para o Zen.
— Tu tá maluco, irmão?
— Se você e o hipócrita do seu pai estudasse um pouco mais sobre o passado, talvez soubessem fazer isso sem a ajuda da tecnologia Caeli.
Alan franziu as sobrancelhas, sentindo o sangue ferver dentro dele, contudo, se conteve e tentou se acalmar.
Odiava admitir, mas ele estava certo. Arthur Caeli criou o uniforme — ou melhor dizendo, armadura — do Star, e fez que ela o permitisse disparar esferas de energia de forma instantânea e mais poderosa.
Mas, principalmente, para que ele fosse o único capaz de converter a energia em um raio.
Entretanto, aqui estava Zen Snyder, disparando isso pelo dedo indicador, enquanto faz uma arminha com a mão de forma brincalhona, como se fosse algo facilmente ridículo de se fazer.
— Como tu faz isso? Não só o raio, tudo. Tu conseguiu fazer uma aura de energia naquele dia no hospital. Como faz isso?
— Isso não é nada. Diferente da telepatia da Elena, que permite ela ler e controlar completamente a mente do seu alvo, meu olho esquerdo me permite controlar e compreender completamente a minha mente. Sei como fluir a energia cósmica de formas que você nem imaginaria.
— Tá me dizendo que aquilo foi só tu fluindo sua energia? Caô!
Zen puxou a cadeira livre e se sentou nela, ficando ao lado da Amanda, que estava na outra cadeira, e de frente para a Elena e para o Alan. Quando falou, parecia empolgado:
— A energia cósmica é muita mais complexa do que a gente pensa. Não compreendemos metade do que ela é capaz ainda, e olha que estamos falando do poder mais comum do mundo.
— Sempre pensei que ela fosse complexa, tipo, sei que consigo aumentar a minha força e velocidade com ela, mas não imaginava que poderia disparar raios de energia só fluindo ela.
— Ah, você não faz ideia da diferença que faz fluir essa coisa do jeito certo.
Zen abriu a mão esquerda e partículas de energia fluíram para fora da sua palma, girando e se retorcendo em um turbilhão roxo, que logo se acumulou no centro de sua mão e formou uma esfera.
— Densidade, tamanho, quantidade, tudo faz diferença na hora de manipular o cosmo, e saber disso é o que diferencia os fortes dos fracos.
Ao terminar de falar, Zen fechou a mão e apertou a esfera entre os dedos, apertando e amassando a esfera de energia como se fosse um balão d’água.
Quando a esfera explodiu na mão do garoto, as partículas se espalharam no ar como fumaça ou cinzas jogadas ao vento. Cada partícula brilhava intensamente, emanando poder puro.
Como se cada uma daquelas minúsculas partículas de energia fossem densas e poderosas quanto uma esfera de energia comum. Como se cada partícula possuísse uma fonte de energia cósmica própria.
Zen agitou a mão no ar e as partículas roxas seguiram seu movimento, como se sua mão arrastasse ou as puxasse consigo. Sua pele absorvia elas como se fosse uma esponja absorvendo água, e logo o roxo que flutuava pelo quarto havia desaparecido.
— A força nasce naqueles que sabem usar o dom com o qual nasceram, não naqueles que se acomodam com o poder recebido.
Alan observou, com os olhos arregalados, as últimas partículas sendo absorvidas pela mão do Zen, e, quando o último brilho roxo se apagou ele desviou o olhar para o garoto.
— Isso aí é muito OP. — Alan apontou pro olho esquerdo do Zen, mesmo o mesmo estando na cor escura normal. — Tipo, olha o que tu fez lá de fora. Como se luta contra essas suas ordens?
— Com determinação — Zen respondeu com seriedade. — As minhas ordens só funcionam quando você hesita. Quando demonstra medo, como se meu poder se alimentasse dele. Então, se quer luta contra o Imperador, é bom estar determinado.
— Será que cêis já acabaram de medir qual pau é maior? — Elena questionou, cruzando os braços e olhando para os dois com impaciência. — A gente tem coisas mais importantes pra resolver agora.
Os dois olharam para ela em simultâneo, depois voltaram a trocar olhares por um segundo e deram de ombros ao mesmo tempo, como se entrassem em consenso de que iriam conversar sobre aquilo em outra oportunidade.
— Tem razão. Vamos explicar o plano; Revertere in Domum Suam. — Zen deitou a espada sobre as suas pernas e apoia os braços nela.
— Pode começar dizendo o que essa merda significa.
— De volta pra casa — Zen respondeu, o semblante ficando sério e sombrio.
Elena observou o garoto fazer uma pausa enquanto umedecia os lábios com a língua de forma tensa e hesitante, e, por um momento, pensou ter sentindo uma onda Telépatica. Um sentimento que pairou do Zen até que a Telepatia da Elena captasse.
A mais profunda e sufocante tristeza.
— Preciso levá-los para um lugar onde a Mão não poderá ataca-los, ou algum esconderijo do qual eles não saibam da existência. Na dúvida, vou fazer às duas coisas ao mesmo tempo. Vou levar vocês para a minha casa.
— Pra tua casa? Caô! Sério isso? Por que tu acha que lá a gente vai tá mais seguro do que aqui? — Alan perguntou.
— Concordo. Apesar de isso ser muito desconfortável e bizarro, nãonã acha melhor a gente ficar aqui até tudo se acalmar?
— E quando seria isso, Amanda? Daqui uma hora? Duas? Dez? Não podemos ficar aqui esperando por um milagre. Na minha casa eu posso entrar em contato com o Remote e organizar uma equipe para lidar com a situação.
— Tá, mas lá vai mesmo ser seguro? Tem certeza? — Alan quis saber.
Contudo, Elena não ouvia a resposta. Ficou observando o Zen enquanto ele respondia, mas sua mente estava em outro lugar.
Sabia para onde o Zen pretendia levá-los. Talvez estivesse errada, mas a tristeza que emana do garoto só podia significar uma coisa; ele vai levá-los para a casa que ela viu em suas memórias. Aquela casa em que ele morava quando criança. A casa do Iluminus. A casa do seu pai.
Conseguia ver a tensão que ele sentia naquele momento. Parecia tentar se distrair explicando como sairiam da casa e voariam até onde ela estava localizada.
Mas quando desviou o olhar para a Elena e percebeu a garota o encarando, ele se calou e hesitou.
Naquele momento foi como se o verde dos olhos dela refletissem toda a insegurança e incerteza que ele tentava ocultar, e por um momento pareceu que ele se afogaria neles.
A pergunta que habitava no seu olhar era obvia, e Zen não precisou pedir para que ela colocasse em palavras o que queria saber; você tem certeza?
Zen engoliu seco e respirou fundo, se obrigando a voltar a vestir sua máscara de Imperador, e, por fim, fez que sim com a cabeça — mesmo que, no fundo, não tivesse certeza se estava pronto para voltar àquela casa novamente.
— Então, basicamente, a gente tem 8 quilômetros para voar ainda? Sério que a gente vai fazer isso agora? Cêis não cansa, não? — Amanda perguntou, deslizando na cadeira com uma postura desleixada e cansada.
— Na verdade, é bem cansativo. Chega uma hora que todos os músculos tão gritando de dor. Mas não acho que temos muita escolha agora — Alan respondeu de forma distraída, focando toda a sua atenção em fluir energia para a palma da mão e moldar uma esfera.
— Pera aí, acho que eu tava boiando aqui e não ouvi direito. A gente vai voar por 8 quilômetros!? — Elena olhou para Zen com urgência, e quando o garoto acenou positivamente, ela grunhiu em reprovação e revirou os olhos. — Sem chance. Esquece. Não vou fazer isso de novo.
— Elena, você pode voar. Não entendo porque tem..
Antes que Zen terminasse de falar, a esfera de energia na mão do Alan explodiu, arremessando o garoto para fora da cama e fazendo uma nuvem de partículas brilhantes pairarem no ar.
Quando se levantou do chão, tossindo e se apoiando no colchão, Alan lançou um olhar sem-graça para os amigos e esboçou um sorriso contido.
— Foi mal aí, galera. Não botei fé que fosse tão difícil.
Zen não conseguiu conter o sorriso que surgiu em seu rosto, mas, pelo menos, se controlou o suficiente para evitar fazer algum comentário provocativo.
Ao invés disso, o garoto voltou a sua atenção para a Elena novamente, e retomou o assunto anterior;
— Como eu estava dizendo, você pode voar, Elena. Não precisa ter medo.
— Escuta aqui, Senhor Snyder, cê não vem falar do meu medo de altura como se fosse algo idiota. Eu nunca falei nada do seu medo de aranha.
— Pera aí, tu tem medo de aranha, peixe-morto? — Alan perguntou, sorrindo de forma divertida e provocativa.
— Agora eu ouvi algo interessante. — Amanda abriu um largo sorriso no rosto e olhou para Zen com curiosidade.
O garoto bufou e revirou os olhos, principalmente por ouvir o apelido que o Alan usou para chamá-lo, e respondeu:
— Eu tinha medo de aranha, mas isso foi há muito tempo. Além disso, eu não estou falando que seu medo é idiota, Elena. É só que a gente precisa…
Antes que ele terminasse de falar um objeto atravessou a janela do quarto, partindo o vidro e fazendo com que os cacos chovessem sobre os amigos.
O objeto quicou pelo chão do quarto, o som de metálico batendo contra a cerâmica do chão ecoou pelo cômodo, atraindo a atenção de todos.
Zen arregalou os olhos ao reconhecer a esfera metálica rolando para o canto do quarto, mas ele foi o único que reconheceu o objeto, por isso foi o único a agir.
Sua pupila do olho esquerdo se dilatou ao mesmo tempo em que a esfera metálica emitiu um ruído estridente, quando a pupila do seu olho se retraiu, revelando a sua brilhante íris amarela, a esfera metálica se abriu, produzindo um clique que a audição do Zen captou com um sobressalto.
A esfera girou no piso do quarto, liberando um vapor do seu interior e zunindo de forma estridente, até que ela implodiu, se abrindo ao meio e arremessando a parte superior da esfera para o teto.
E do interior da esfera centenas de agulhas de aço foram disparadas para todas as direções do quarto.
— Elena! — Zen gritou, avançando pra frente e puxando sua espada para fora da bainha.
A espada zuniu no ar, o tintilar do aço ecoando pelo cômodo quando a lâmina de omea começou a interceptar as agulhas que disparavam na direção deles.
Quando uma agulha passou por ele, Zen desapareceu e reapareceu a poucos centímetros da Amanda.
Os dois trocaram olhares por apenas uma fração de segundo, e logo em seguida o garoto desapareceu novamente — uma agulha de aço surgindo na sua frente e caindo inofensivamente no chão.
Sangue morno jorrou no ar quando Zen foi perfurado no braço direito, mas mesmo ferido ele conseguiu produzir uma pequena explosão de energia roxa na mão, fazendo com que o cabo fosse impulsionando pela energia e a espada girasse em sua mão.
A lâmina de omea girou na mão do Zen como se fosse a elicie de um ventilador, atingindo dezenas das agulhas no processo. Contudo, seu olho esquerdo conseguiu ver todas aquelas que ele não pode refletir.
Por sorte, nesse momento a Elena entendeu o porquê do garoto ter gritado por ela.
A força telecinética envolveu todo o cômodo, uma pequena vibração fez a casa inteira estremecer, e, logo em seguida, todas as agulhas de aço travaram no ar.
Zen desceu a espada no ar, completando o movimento já iniciado, e rebateu uma das agulhas para o lado antes de devolver a espada para a bainha e se virar para os três amigos.
Elena olhou para o Zen assustada, e por um segundo o garoto pode ver o pânico e medo refletir naqueles lindos olhos verdes. Quando começou a caminhar na direção dela, Elena abriu a boca para dizer algo.
Contudo, antes que Zen se aproximasse ou que Elena pudesse dizer o que estava pensando, uma mudança na atmosfera fez todos se sobressaltarem.
As agulhas que estavam travadas em pleno ar despencaram no chão, o tintilar delas rolando pela cerâmica soando extremamente alto diante do silêncio tenso que se seguimos.
O próprio ar parecia ter mudado ou se tornando mais denso. Uma sensação de vazio existencial tomou conta de todos no quarto, como se própria existência deles tivesse sido alterada — e subtraída.
Nesse momento eles sentiram falta de algo que esteve sempre com eles, algo que o universo os deu, e agora estava tomando de volta; eles sentiram falta dos seus poderes, que não estavam se ativando.