O Despertar Cósmico - Capítulo 58
Elena soltou um longo suspiro e olhou pela janela do carro em movimento, observando de forma ansiosa os outros veículos que trafegavam pela avenida.
Fazia quase 1 hora que haviam decidido pegar um carro e dirigir até a casa do Zen, e Vénus assumiu a responsabilidade de ser a motorista, já que mais ninguém tinha habilitação — mesmo todos tendo dezoito anos e Zen ainda sendo três anos mais velhos.
O Alan e o Zen, obviamente, queriam ir voando, e Vénus não parecia propicia a recusar isso, mas graças a insistência da Elena, eles aceitaram ir de carro.
Agora ela estava sentada no banco de trás, com a Amanda entre ela e o Alan, um clima desconfortável no veículo e o arrependimento corroendo ela por dentro.
— Como estamos? — Vénus perguntou no banco em frente a Elena, e a garota olhou para o Zen, aguardando sua resposta.
— Nada ainda, mas eles vão vir. Não adianta discutir com o inevitável. Espere com paciência, ataque com rapidez.
Elena revirou os olhos ao reconhecer o proverbio chinês usado pelo garoto e desviou a sua atenção para os amigos ao seu lado.
Alan observava o céu pela janela com atenção e preocupação, às vezes olhando para trás e verificando se alguém os seguia.
Zen estava ativando o poder do seu olho esquerdo ocasionalmente para verificar se tinha algum inimigo próximo, mas Alan não parecia se contentar com isso.
Amanda, por outro lado, encarava Zen em total silêncio, totalmente alheia a situação atual deles, focada totalmente nos próprios pensamentos.
— Tá tudo bem? — Elena sussurrou, dando um pequeno cutucão no braço da amiga.
A garota olhou para a amiga sobressaltada, mas relaxou no mesmo instante em que viu a preocupação no rosto dela.
— Tá, eu só… tô pensando, eu acho.
— Sei…
— Tu sabia? — Amanda fez uma pausa, mas logo acrescentou: — Que o pai dele era o Iluminus?
— Sabia — Elena respondeu, e observou a amiga assentir de forma pensativa em silêncio. — Mas ele me contou hoje também, pouco antes da gente se encontrar no terraço.
— Foi mal pelo que eu falei antes, foi da boca pra fora. Eu tava assustada, não pensei direito.
— Hã? — Elena olhou confusa para a amiga, e demorou um segundo para entender do que ela estava falando. — Ah, não, tá tranquilo. Sei que não foi por mal, e, além disso, o Jhonny me traiu mesmo.
— Mesmo assim, eu não devia ter falado aquilo.
— Tá tudo bem, sério, Amanda. — Elena sua mão sobre a da amiga e apertou gentilmente. Um sorriu brincalhão se formou em seus lábios quando ela acrescentou: — A traição podia ter sido pior, pelo menos foi com uma Deusa.
Amanda deixou escapar uma risada contida, diferente da amiga, que riu descaradamente, chamando atenção de todos para si — e pedindo desculpa por isso.
Alan ficou olhando para às duas por um segundo, curioso para saber do que elas falavam, contudo, tinha algo mais importante que queria esclarecer naquele momento.
— Fala de novo porque tu não pode ficar com esse olho brilhando mesmo, franjinha — o garoto falou, se inclinando para frente e colocando o rosto entre os dois bancos.
Os olhos escuros e frios do Zen se desviaram na direção dele e, como em resposta, seu olho esquerdo se iluminou como se fosse o sol brilhando intensamente quando a lua sai da sua frente em um eclipse solar.
— Eu não tenho mais tanta energia assim, fiz muitas trocas enquanto lutava no centro, e se eu ficar usando ele muito, vou acabar…
O garoto parou de falar abruptamente e olhou para a janela do motorista, nesse exato momento um Civic prata pareou-se com o veículo deles.
Quando a mulher de cabelo preto sentada no banco do passageiro erguer um fuzil, Zen agarrou o volante do carro e fez o veículo deles se chocar contra o Civic.
Os veículos se colidiram e os pinéus derrabaram pela pista, mas nenhum dos dois desacelerou.
Vénus praguejou, olhando para o carro em que bateram a tempo ver a mulher disparar sua arma. Contudo, não estava mirando em ninguém no interior do carro.
Uma onda eletromagnética percorreu o caro, apagando todas as luzes do painel e desligando o motor, e nesse momento o outro veículo começou a ultrapassá-los.
Mas Vénus estava atenta, e quando viu a oportunidade jogou seu carro contra o Civic, batendo na traseira dele, o fazendo rodopiar na pista e pisando no freio no mesmo instante.
Zen apoiou com a mão no painel do carro para não ser jogado contra o para-brisa, e assim que o carro parou abriu a porta e saiu do veículo.
— Todo mundo pra fora, agora! — o garoto disse, ao mesmo tempo em que criava uma esfera de energia na mão direita.
Alan abriu a porta do carro e saltou para o lado de fora a tempo de ver Zen disparar um raio de energia. Contudo, quando olhou para o Civic pardo no meio da pista, viu uma mulher de cabelo preto sair do carro com tranquilidade, um escudo branco preso em braço.
Quando o raio se aproximou uma barreira azul se projetou para fora do escudo da mulher, interceptando o ataque, que explodiu e se dissipou ao redor da luz opaca da barreira.
O cabelo negro da mulher esvoaçava com o vento conforme ela caminhava pela avenida, como se não tivesse sido nada de mais defender aquele ataque.
— Calma aí, gatinho. Ainda temos muita brincadeira pela frente! — a mulher gritou, para que Zen pudesse ouvi-la mesmo com os seis metros que separava os dois.
Assim que terminou de falar, a mulher jogou o escudo fora, deixando o jogado no chão enquanto caminhava, e retirou do bolso um pequeno controle prata.
Zen arregalou os olhos e criou uma esfera de energia no dedo indicador da mão direita, que ainda permanecia apontada para a mulher, agindo o mais rápido possível.
Entretanto, assim que efetuou o disparo e viu a pequena explosão roxa envolver a mão do seu alvo, também sentiu a energia cósmica desaparecendo de dentro do seu corpo.
A risada da mulher foi carregada pelo vento até eles, e tanto Zen quanto Alan se surpreenderam ao ver que tudo que havia acontecido com ela fora um pequeno ferimento em sua mão, que agora estava banhada pelo seu sangue carmesim.
Vénus saiu do carro e praguejou, percebendo os efeitos do Nullifier Power sobre o seu corpo instantaneamente. Quando Amanda desceu do carro, a garota automaticamente se aproximou do Alan, quase que buscando proteção.
Elena começou a fazer o mesmo, dando a volta no carro para ir até o Zen, mas parou quando o garoto sinalizou para ela parar e se afastar — e só fez isso ao notar a tensão presente nos olhos dele.
— Agora nós podemos começar a brincadeira. Garotos! — a mulher gritou, olhando para o Civic atrás dela por sobre o ombro.
No mesmo instante às duas portas da frente se abriram e dois homens desceram do veículo.
— Ah, cacete! Só pode tá me zoando — Alan praguejou ao ver um dos homens apontar um lança-granadas na direção deles.
O disparo ecoou pela avenida e a grana descreveu um longo arco no céu. Alan acompanhou com o olhar o momento em que ela passou por cima deles, e só depois começou a perder altitude.
Por um segundo pensou que o homem tinha errado, então grana caiu, atingindo um dos carros que passava pela avenida naquele momento a explosão o jogou contra os carros ao lado.
Os sons de pinéus derrabado e de batidas de carros ecoaram por toda parte, e a avenida se tornou um caos em meios as chamas. Carros capotavam e se colidiam a volta deles, alguns passando perigosamente perto. Os gritos dos motorista e passageiros quase impenetráveis ao fundo.
Outro disparo chamo a atenção do garoto, e ele viu uma segunda grana explodir outro carro a vários metros para trás do seu grupo. Quando os outros disparos foram efetuados e as explosões ecoaram pela avenida, Alan entendeu o que ele estava fazendo;
Usando o caos do trânsito e os carros destruídos para impedir o fluxo de tráfego pela avenida e impossibilitar a fuga deles.
Amanda segurou a mão do Alan, e ele olhou para amiga preocupado. Voltou a olhar para o Zen, e praguejou mentalmente ao se tocar que estava indo em busca do auxílio dele.
Contudo, não sabia o que fazer.
— O que a gente faz agora?
Zen soube que a pergunta era direcionada a ele mesmo sem olhar para o garoto, entretanto, antes de responder ele calmamente passou a mão pela janela do carro e pegou sua espada no banco do copiloto.
Olhou para o garoto por sobre o ombro, mostrando bem evidente o seu olho esquerdo, que ainda brilhava tão radiante quanto uma estrela.
— Nós lutamos, é claro. Eu já volto.
Quando Zen saiu andando, Alan fez menção de o seguir, mas Amanda segurou a sua mão e olhou para o amigo com medo, mas, também — e principalmente — receio.
— O que tu tá fazendo? Cê tá doido!?
— Eu tenho que ajudar ele…
— Não! — Amanda interrompeu, a voz soando tremula e sussurrada. — Tá maluco!? Ele tem o olho ainda, tu não tem mais seus poderes!
— Eu sei, porra! — Alan cuspiu as palavras com fúria, já que não tinha energia cósmica. — Eu sei…
Sua voz desapareceu com um sussurro e morreu em meio ao caos de buzinas ao fundo. O amargor que sentiu era familiar. Era o gosto da fraqueza.
“Tá acontecendo de novo, mãe. Eu não consigo fazer nada”, ele pensou, sentindo sua respiração pesada lhe sufocado.