O Despertar Cósmico - Capítulo 61
Quando viu Zen disparar voando para cima, efetuar um giro no ar e depois disparar para baixo, segurando a Assassina para ela bater contra o chão, Elena pensou que ele tinha a pegado desprevenida e que a lutava estava ganha.
Mas a mulher inverteu a situação, com golpes rápido e movimentos ágeis, e quando os dois caíram, Gi rolou para longe e Zen ficou estirado no chão, em meio a uma nuvem de poeira que se erguia no ar e o sangue que manchava seu corpo.
Sentiu o coração batendo acelerado em seu peito quando viu a mulher levantar, e apertou a mão da amiga com força, o que fez a Amanda desviar a atenção do Alan para ela.
— Ela vai matar ele!
Amanda desviou o olhar para a Assassina e arfou de surpresa ao ver ela mexendo na pistola em sua mão e depois andando na direção do Zen, que continuava estirado no chão, como se tivesse inconsciente.
A garota levou um segundo para notar a forma como a mulher andava. Mancava levemente com a perna esquerda e parecia repousar o braço esquerdo ao lado do corpo, enquanto segurava a pistola com a mão direita.
— Ela não tem poderes… — Amanda falou. Era apenas um palpite, mas quando colocou em palavras percebeu ser verdade.
— O quê!? — Elena olhou para amiga assustada, mas logo desviou o olhar para a mulher novamente.
— Ela não tem poderes. Pensa, quando tu viu ela fazer algo super? Mesmo quando tava além do alcance do Nulli-sei-lá-o-quê? Se ela tivesse algum poder, porque usaria as armas!?
Elena franziu as sobrancelhas e olhou para trás, para o dispositivo disparado pela Assassina e que se grudou no capô do carro — aparelho cujo Elena tinha quase certeza de que era o que estava emitindo o sinal do Nullifier Power.
Quando voltou a olhar para a Assassina, percebeu que Amanda poderia estar certa, e nesse momento uma fagulha de coragem ascendeu em seu amago — ou talvez fosse medo de que a mulher matasse o Zen.
Elena saiu correndo sem pensar duas vezes, e ignorou completamente quando Amanda gritou por ela. Quase hesitou quando a Assassina parou e se virou na sua direção, mas obrigou suas pernas a continuarem correndo.
A mulher estreitou os olhos e apontou a arma para a Elena, mas faltava pouco mais de 3 metros para sair do alcance do Nullifier Power, então ela continuou correndo em direção a sua única esperança.
Se surpreendeu ao ver a mulher abaixar a mão e franzir o cenho, como se estivesse furiosa pela garota continuar corredor. Contudo, a surpresa maior veio quando a mulher guardou a pistola na sua cintura em suas costas e também saiu correndo na sua direção.
Os passos da Elena vacilaram por um momento e ela diminuiu o ritmo. Viu os olhos com cor de carvão da mulher se estreitando de forma assustadora e se apavorou.
Parou de correr e se preparou para quando ela se aproximasse, mas a Assassina saltou o último metro e girou no ar, finalizando com um chute certeiro na cabeça da garota.
Elena caiu para o lado e rolou pelo asfalto até parar com os braços ralados e uma ferida manchando de vermelho seu cabelo castanho. A garota se contorceu e gemeu, mas não se levantou — nem ao menos abriu os olhos.
Gi relaxou a postura lentamente enquanto observava a garota com cautela, e quando se deu por satisfeita, se virou e saiu andando na direção do Zen novamente.
Pegou a arma e puxou o ferrolho, fazendo que a última bala restante subisse para a agulha e respirou fundo, tentando ignorar a dor do pé esquerdo, cujo ela havia virado em no meio da luta.
Quando parou perto do Zen, a mulher colocou sobre seu peito e fez pressão até que ele se contorcesse de dor e abrisse os olhos, tossindo e se esmagando com o sangue em sua boca.
— Você deu trabalho, Imperador.
Gi cuspiu no garoto, manchando seu rosto com uma mistura de saliva e sangue.
— Achei que faria você gastar as trocas equivalentes no centro ainda, mas você conseguiu matar toda a primeira onda com mais facilidade do que eu imaginei.
Zen gritou de dor quando a Assassina pisou no seu braço esquerdo e o osso estalou ao se quebrar.
— Mas no fim, mesmo com esses poderzinhos que você herdou, depois que se cansa você é tão fraco quanto um aleijado. É assim que vocês chamam pessoas como eu por aqui, não é? Aleijados, Sem-Talentos, e até Retardados. Agora me diga, Imperador…
Gi apontou a arma para a cabeça do garoto e forçou a mão a ficar firme, mantendo a mira estável.
— Como a pessoa mais talentosa do mundo se sente ao ser humilhada pela sem talento?
Mas o garoto forçou um sorriso no rosto e usou seu resquício de força para cuspir na Assassina — entretanto o cuspi mal chegou perto de acerta-la antes de cair no asfalto.
— Como se sente precisando da ajuda de dezenas de vilões para ter a mínima chance de me derrotar?
— Eu me sinto vitoriosa. — Gi respondeu, levando o dedo ao gatilho e se preparando para disparar.
Gi começou a puxar o gatilho, mas nesse momento o grito da Elena chegou até ela, ecoando não só pela avenida, como também na mente da Assassina e do Zen.
A mulher se contorceu e gritou de dor, apertando o gatilho sem mirar, e o projetil atingiu o asfalto ao lado da cabeça do garoto.
Elena se contorceu no chão, esticando a mão na direção do Zen e sentindo sua cabeça latejar de dor conforme um turbilhão de imagens e memoria surgia em sua mente.
Um homem velho, com um longo cabelo grisalho e uma barba trançada de forma elegante. Uma mulher extremamente parecida com a Gi, mas com o cabelo preto cortado na altura do ombro. Um dojo vazio e sangue esparramado no tatame.
A cada grito da Gi, Elena gritava e se contorcia no chão, compartilhando da dor e do sofrimento que a garota sentia. Compartilhando até mesmo dos sentimentos que aquelas memorias traziam.
Medo. Impotência. Respeito. Raiva. Vingança. E, acima de tudo isso, dor.
As garras da telepatia pareciam agarrar o cérebro da Assassina e apertar. Sentia como se uma pressão imensurável esmagasse seu cranio, destruindo sua mente de dentro para fora.
Zen sentiu o sussurro da voz da Elena tentando alcançar a sua mente. Sentiu o poder telepático tocar sua mente como a carícia gentil de um gato, que mesmo sem querer arranha com suas garras e causa dor.
Sua mente nublada pela dor começou a clarear, mas apenas por um segundo antes da dor aumentar exponencialmente. Seus sentidos se apagaram, ofuscados pela dor, e ele deixou de sentir até mesmo seus membros.
Tudo que existia era dor.
Até que sentiu a telepatia forçando sua energia a circular e o cérebro a trabalhar, e no mesmo instante seu olho esquerdo ganhou vida, brilhando na cor amarela — duas vezes mais ofuscante do que o normal.
Ao ver sua visão retornar, Zen forçou o corpo cansado a se levantar, ignorando as dores e os ferimentos. Mas cada mínimo movimento parecia multiplicar a dor, tanto do corpo ferido quanto da mente abalada pela telepatia.
Sua visão começou a escurecer novamente, contudo, dessa vez era por estar perdendo a consciência. Suas pernas fraquejavam quando sentiu a mão de Gi segurar seu ombro e ele quase caiu.
Porém, a Assassina berrava de dor, seu corpo fraco se mantendo de pé por pura força de vontade, e memorias fluindo em sua mente em um turbilhão da mais profunda dor de cabeça e sentimentos que ela não sabia dizer se eram dela ou não.
Uma explosão cósmica iluminou a mão direita do Zen, a energia fluindo para fora da sua pele como chamas roxas. Uma aura brilhante e colorida como uma nebulosa envolveu sua mão e por um segundo foi como se a própria dimensão cósmica estivesse fluindo de sua mão.
Quando Zen projetou sua mão para frente, seus dedos atingiram o peito da Assassina e se quebraram com o impacto instantaneamente. Contudo, a aura cósmica em sua mão pulverizou todos os ossos e órgãos em que tocou, abrindo caminho até que saísse do outro lado.
O sangue implodiu das costas da mulher quando o braço inteiro do Zen a atravessou, e por um momento a aura roxa de energia foi coberta pelo jato carmesim que a ferida aberta expelia.
Até que, logo a aura cósmica começou a pulverizar e evaporar até mesmo o sangue que caia sobre a mão do garoto.
Zen cambaleou um passo para trás quando Gi apoiou-se nele, parando de gritar e arregalando os olhos de forma assustada. Ela desviou o olhar para o garoto e franziu as sobrancelhas, vomitando sangue antes de tombar para trás e cair, levando o garoto consigo.
Quando caiu na poça de sangue que se formava no chão, Zen sentiu seu braço saindo do peito da mulher, as costelas quebradas cortando seu braço no processo.
Contudo, não havia uma parte do seu corpo que não estivesse doendo.
Seu braço esquerdo estava quebrado, fora atingido por vários tiros e agulhas de aço, além de ter quebrado todos os ossos de sua mão direita com o último ataque.
Uma dor a mais, não faria a menor diferença.
Quando sentiu sua mente esvanecer e sua visão escurecer, abraçou aquela sensação de bom grado.
O Imperador apagou ali, em meio a uma poça de sangue e ao lado de um dos piores inimigos que enfrentou em sua vida; uma mulher sem poderes.