O Despertar Cósmico - Capítulo 64
— O Iluminus tem um irmão!? — Elena foi a primeira a perguntar, mas todos olhavam da mesma forma incrédula para o garoto.
Contudo, Zen não respondeu de imediato, ficou encarando a identidade sobre a bancada com uma expressão estranho no rosto. Franziu as sobrancelhas quando voltou a pegar a identidade e observou a imagem da mulher no documento.
— Ela era minha prima — ele falou de forma arrastada e hesitante, parecendo mais uma pergunta do que uma afirmação.
Sentiu a mão da Elena tocar seu ombro de forma cautelosa, e ao erguer o olhar viu que ela o olhava com preocupação. Por isso, engoliu seco e obrigou-se a vestir a máscara do Imperador.
— Eu não conheci o pai dela direito, lembro que o Iluminus me levou pra treinar com ele uma vez, mas só lembro do treinamento em si… ele podia manipular e converter vibrações.
Alex soltou um longo assobio e, com um olhar surpreso, disse:
— Táporra! Parece OP.
— Cê tem certeza? — Elena perguntou confusa. — Achei que a Gi não tivesse poderes.
Zen meneou positivamente com a cabeça, distraído demais com os próprios pensamentos para perceber o olhar surpreso no rosto de todos a sua volta.
Elena foi a única que notou, e no mesmo instante percebeu que durante os dias em que Zen ficou inconsciente, ela não chegou a comentar com ninguém esse fato surpreendente.
— Ela não tinha poderes!? — Ester questionou, se levantando do banco e olhando de um para o outro, em busca de alguém que respondesse sua pergunta.
— Eu não tava sabendo disso também…
— Caô! — Alex riu com descrença, mas logo parou, franziu o cenho e questionou: — É caô, né? Não tem como cê ter tomado um pau pra uma Sem Talento… Né?
— Ela era muitas coisas, C4, mas sem talento ela não era — Zen falou com seriedade, quase como se tivesse repreendendo o amigo.
— O que exatamente aconteceu? — Mikey perguntou, se sentando em um dos bancos da bancada.
— Nem eu tenho certeza. Nem ao menos lembro de quantos vilões eu matei… Eu estava exausto, quase sem energia. Meu corpo estava todo dolorido e meu olho esquerdo tinha só mais uma troca equivalente…
Ele fez uma pausa e soltou um longo e pesado suspiro, esfregando o rosto com as mãos de forma cansada.
— Quanto mais eu penso, mas ridículo e humilhante aquela luta fica. Caí no jogo dela, e isso custou a vida da Raquel.
O silêncio se estendeu sem que alguém soubesse o que falar diante daquela tensão. Elena tocou o braço do garoto de leve, mas não disse nada, pois sabia que não conseguiria conforta-lo.
Quando Zen disse que iria procurar pelo Alan, Elena quase pediu para ir com ele. Mas soube pelo semblante sombrio do garoto que ele preferia ficar sozinho naquele momento.
Zen caminhou a passos lentos e arrastados pelo corredor da casa, tentando em vão ignorar as lembranças que tinha de cada cômodo.
Ao passar em frente ao quarto vazio, se lembrou das vezes em que seu pai o fez estudar fórmulas de veneno e toxina — e se lembrou principalmente de ter que tomar os venenos que estudava, para que assim desenvolvesse resistência a eles.
Passou pelo quarto seguinte sem ousar olhar para porta, sabendo que veria as armas guardadas lá dentro e se lembraria das vezes que teve que lutar contra alguém mais forte — e daquelas que perdeu, sendo repreendido e punido por isso.
Na porta do seu antigo quarto, Zen parou por alguns segundos e chegou a tocar a maçaneta, cogitando se entrava ou não. Mas no fim, as memórias que tinha ali, tanto as boas quanto as ruins, eram de mentiras.
Lembranças falsas, criadas por um homem que só se importava com o produto final, e não com o filho.
Seguiu pelos corredores da mansão, mas parou na sala quando viu a televisão ligada. Por um segundo pensou que veria Alice sentada no sofá, e que ela o convidaria para assistir com ela o desenho bobo que estivesse vendo.
Contudo, foi um garoto loiro que se virou no sofá. O rosto pálido do garoto dava um contrates gritante aos seus frios olhos castanhos, que observaram o Zen do mesmo jeito que um leão observa sua presa se aproximar.
Zen hesitou por um momento, congelando de surpresa tanto por ver o garoto desconhecido, quanto pelo olhar intimidador que o mesmo possuía.
Mas quando o garoto voltou a se virar para a televisão sem se importar com a presença dele, Zen suspirou aliviado e saiu andando novamente.
Foi direto para a garagem, onde uma luna preta coberta por poeira tampava dois carros — que nunca foram usados desde que Iluminus foi preso. Contudo, seu destino ainda não era ali.
Passou pela porta na parde do fundo da garagem e chegou em uma pequena sala de controle, com direito á uma mesa com um computador, um microfone preso a um braço-mecânico e seis monitores — que estavam presas á parede.
Nas telas as imagens de uma sala branca eram transmitidas, e em uma delas estava o Alan.
O garoto lutava contra dois robôs em simultâneo, defendendo e se esquivando dos golpes rápidos que se projetavam na sua direção.
Quando revidava, seus golpes ecoavam como disparos de um fuzil, sendo possível ouvir mesmo na sala onde o Zen estava — mas não causavam nenhum dano na lataria de Omea dos robôs.
Zen apertou um botão especifico no teclado do computador e o microfone emitiu um pequeno chiado.
— Gire mais o quadril quando for golpear, está desperdiçando movimentos que poderiam contribuir na força do golpe. — Sua voz soou nos alto-falantes no interior sala.
Alan se sobressaltou ao ouvir a voz do Zen ecoar na sala, e quase foi atingido por um chute que o pegou desprevenido. Contudo, quando se esquivou para o lado e se preparou para contra-atacar, colocou em prática a sugestão recebeu.
Posicionou os pés com firmeza no chão projetou um soco com o punho direito, girando o quadril para acompanhar e impulsionar o golpe.
O estrondo ecoou como um canhão pela sala e Alan se escolheu ligeiramente, se assustando com a potência do próprio soco. Ainda assim, quando a voz do Zen soou através do alto-falante não foi para lhe elogiar.
— Foi péssimo, mas melhorou bastante, antes parecia um completo idiota batendo, agora só parece um amador.
— Vai te foder! — Alan falou, se esquivando de dois golpes consecutivos e voando alguns metros para trás.
Contudo, a sala não captava os sons de onde Alan estava, e Zen mal pode ouvi-lo pela porta aberta. Por fim, decidiu que entraria na sala.
Quando se aproximou da porta de aço-reforçado e ficou diante da enorme sala branca do outro lado, ele congelou.
O piso estava perfeitamente branco, assim como estava na última vez que ele esteve ali. Era impossível dizer onde o piso se encontrava com a parede e a sala terminava — pelo menos não sem olhar bem atentamente.
Avançou alguns passos para dentro da sala e olhou ao redor, observando a imensidão branca que se estendia a sua volta. Agora conseguia ver algumas sujeiras e poeira em alguns cantos da sala.
Lembrava de ter limpado a sala inteira durante os dias em que ficou na casa, pensando que seu pai voltaria a qualquer momento e diria que tudo era um teste para ver se ele era forte. Quando viu que o pai não voltaria, Zen foi embora sem levar nada.
Não queria nada que envolvesse aquele homem e as coisas que ele o fez passar. Não queria ter que se relacionar em nada com ele, nunca mais.
“E olha eu fazendo exatamente o contrário do que prometi fazer quando fui embora”, ele pensou, soltando um longo suspiro.
— Você precisa fluir a energia de forma correta também — Zen falou, ouvindo sua voz ecoar pela enorme sala.
Antes que recebesse uma resposta, Zen saiu voando a toda velocidade. Percorreu a sala a pouco mais de trinta centímetros do chão, mas quando estava se aproximando de onde Alan e os robôs estavam, simplesmente parou de fluir energia pelo corpo.
Caiu no chão efetuando um rolamento ágil, e quando se ergueu estava a menos de um metro do primeiro robô. Projetou o soco com a mão direita mirando exatamente onde ficaria o coração, e quando seu punho estava prestes a atingir o alvo, enviou uma onda cósmica até ele.
Um estrondo abafado soou pela sala e o robô foi jogado alguns metros para trás e caiu no chão, uma luz vermelha piscando onde tinha sido atingido e seu corpo travando no lugar.
Zen passou por Alan e saltou para cima do próximo alvo, atingindo a cabeça do robô com um chute enquanto ainda estava no ar.
O robô tombou para frente, mas parecia estar se recuperando, contudo, nesse momento, Zen parou voando no ar e atingiu um chute debaixo para cima na cabeça do robô.
A luz vermelha piscou no cranio da máquina enquanto ela tombava para trás e seus movimentos travavam, e quando o som dela caindo no chão ecoou pela sala, uma buzina soou pelos alto-falantes.
— Mais ou menos assim… — Zen falou, tentando não deixar transparecer a respiração ofegante. — Quem sabe um dia você aprende.
— Malado. — Alan sorriu e olhou para ele de forma zombeteira ao dizer: — Ainda mais vindo de alguém tão fora de forma assim.
Zen teria dito algo em resposta, mas teve que respirar fundo para recuperar o folego. Pode ter se curado completamente, mas os ferimentos ainda eram bem sérios, o que exigiu muito poder de curo e deixou muito cansado.
— Mas aí, qual o segredo? Só fluir, igual tu falou aquele dia?
— Não, um pouco mais complexo — Zen falou, sorrindo ao ver a empolgação de Alan. — Mas, simplificando, é como empurrar com a energia cósmica no último momento.
Alan franziu a sobrancelha e abriu a boca para questionar, mas Zen ergueu a mão e sinalizou para esperar.
— Não flua energia para o braço quando for atacar, não tente fortalecer o músculo. Ao invés disso, ataque normalmente, girando o quadril, se você souber, claro. Mas quando tiver prestes a acertar o alvo, manda toda sua energia para o punho.
O garoto encarou Zen de forma confusa, refletindo sobre o que ele e disse, e mesmo parecendo não ter entendido nada, assentiu com a cabeça.
— Tá, saquei, quero tentar.
Mas, assim que proferiu essas palavras, os robôs se levantaram, movendo-se de forma estranhamente rígida se comparada a antes, e caminharam até a parde da sala.
Ao se aproximarem, uma parte da parede branca deslizou para o lado, revelando um compartimento secreto onde o robô entrou, desaparecendo completamente na escuridão lá dentro antes da porta fechar.
Zen viu Alan observar aquela cena depois se virar boquiaberto para ele, e nesse momento não aguentou, caiu na gargalhada. Sua risada ecoando pela sala e seus olhos lagrimejando de tanto rir.
— Que foi, cara? Achei dahora — Alan falou, com um meio-sorriso no rosto. — Posso nem ficar surpreso mais, babaca do caralho.