O Despertar Cósmico - Capítulo 65
— Aquilo foi culpa minha… Foi mal — Alan falou repentinamente, quando os dois chegaram na sala de controle.
Zen parou em frente a mesa do computador e olhou para Alan com surpresa. Contudo, o garoto tinha um semblante sério enquanto olhava para as telas do computador.
Alan soltou um longo suspiro enquanto tocava a perna baleada por Gi. Quando falou novamente, sua voz soava roca e tensa:
— Fiquei com medo. Nunca tinha ficado sem meus poderes antes e… porra, eu tava apavorado. Deveria ter me juntado a tu no começo da luta.
— Não tinha nada que pudesse fazer. — Zen fez uma pausa para digitar algo no teclado e depois acrescentou: — O fato de você ter tentando é de se admirar.
— Como se tivesse feito diferença — Alan bufou com desdém. — Eu ainda sou fraco demais. Meu objetivo ainda tá distante demais.
— Então você tem um objetivo?
Alan olhou para o garoto prestes à xinga-lo, imaginando que ele faria alguma piadinha, contudo, se surpreendeu com a forma séria que ele lhe encarava.
— No dia que eu invadi sua casa e entreguei o pendrive, eu estava em busca disso. Queria saber quem era você de verdade. Qual era o seu objetivo.
— Ah, eu me lembro. Foi bem impactante — o garoto debochou, e, imitando o tom de voz arrogante e monótono do Zen, ele acrescentou: — A vida é uma luta constante, e aquele que não luta pelo que ama, não vive de verdade.
— Bom saber que você memorizou a frase, se anotar todas que eu já falei, deve dar um livro de autoajuda. — Zen sorriu de forma provocativa.
— E no final eu vou me tornar um babaca, igualzinho tu.
Zen riu enquanto digitava outro código no teclado e apertava a tecla enter, para confirmar. No mesmo instante os altifalantes dentro da sala de treinamento emitiram um som semelhante à buzina de um caminhão.
Pelas telas na parede Alan pode ver a luz da sala escurecer levemente, deixando o piso e as paredes brancas com uma tonalidade mais cinza.
— Vem comigo. — Zen saiu andando sem esperar uma resposta, e Alan foi obrigado a segui-lo. — Vou te dar uma aula de energia cósmica.
O garoto grunhiu de desgosto, mas o acompanhou para dentro da sala mesmo assim.
Zen avançou pouco mais de dois metros para dentro da sala antes de parar e se virar, olhando para o Alan de forma presunçosa, com um sorriso divertido no rosto, como se fosse apreciar o que estava prestes a fazer.
— Primeiramente, quero que olhe para trás, pra porta por onde entramos. — A voz dele soou estranhamente abafada, e foi quase impossível para Alan compreender o que ele disse.
Alan se virou acreditando que ele estava apenas zoando com sua cara, entretanto, se surpreendeu ao ver a porta de aço fechada e se misturando a parede, com apenas uma pequena janela redonda dando visão para o lado de fora.
Ouviu um murmúrio abafado e se virou para o Zen novamente, vendo ele sorrir como se esperasse por aquilo e sinalizar para ele se aproximar.
— Essa sala bloqueia todo o som do exterior enquanto absorve o do interior. As luzes mais escuras… — Zen apontou para as luzes no teto. — … ajudam a se concentrar melhor e fazer com que foque nas únicas coisas importantes na sala; você e sua energia.
Quando criou uma esfera de energia roxa na palma da mão esquerda, Alan arregalou os olhos antes mesmo de algo ser explicado.
Sentiu a energia girando como um turbilhão na mão do Zen como se estivesse sentindo uma onda do mar caindo sobre ele. Podia sentir até mesmo o fluxo mais fraco que envolvia a esfera, mantendo a energia estável e em um formato esférico.
— Aqui você poderá sentir a energia de forma mais vívida, logo, será mais fácil de entender como ela flui. Esse é o primeiro paço para dominar esse poder.
Quando terminou de falar, seu olho esquerdo fez a transição para o amarelo brilhante, que, com a sala escura como estava, se destacou como os olhos de um felino — ou nesse caso o olho.
— E eu poderia te auxiliar. Com meu olho eu posso ver mais do que isso, consigo ver exatamente como seu corpo está funcionando. E o mais importante, eu entendo o que eu estou vendo. Eu sei como a energia cósmica funciona melhor que qualquer outro.
A esfera de energia se desfez em milhares de partículas, que se ergueram no ar como brasas de uma fogueira — um ruído quase imperceptível acompanhando cada partícula até desaparecer.
— Esse seu olho… Tu consegue ver atrás dessas paredes com ele?
— Mais ou menos… É difícil de explicar, mas eu não consigo ver o que tem do outro lado, eu simplesmente sei, como se sentisse a existência do que está lá. Apesar de que essa sala é feita de Omea, e isso impede meu olho de alcançar além dessas paredes.
— É estranho de imaginar. Como tu pode tá ciente de literalmente tudo a sua volta? Não consigo botar fé que tu consegue lidar com tanta informação ao mesmo tempo, tá ligado?
— Isso também é devido ao poder dele em si. Meu cérebro raciocina muito mais rápido que o de uma pessoa normal. Na verdade, a minha percepção em geral é anormal.
— Ah, claro, Senhor Acima da Média — Alan debochou e Zen soltou uma risada que pareceu mais uma bufada de desgosto.
— Eu tô falando sério. Tudo abaixo de 60km se move em câmera lenta quando estou com o olho ativado.
Ala franziu as sobrancelhas, percebendo que ele estava falando sério e se tocando o quão útil e poderosa essa habilidade era.
— Por isso tu desviou de todos os meus socos naquele dia na Floricultura. Tu tava enxergando tudo lento.
— Não me superestime demais, Alan — Zen esboçou o seu clássico sorriso arrogante ao acrescentar: — Você que é lento demais para me acertar.
O rosto de Alan assumiu uma expressão que era um misto de surpresa e descrença, com um pouco de divertimento quando questionou:
— Então o que tu acha de me dar uma revanche? Da última vez eu tava despreparado. Eu me assustei com seu olho, mas agora não tenho mais medo dele.
— Da última vez você estava ajoelhado no seu quarto, sobre uma ilusão da Jess, pensando que estava na praia, e eu tentava ver se você tinha ou não um proposito de vida pelo qual lutava.
Zen abriu os braços, como se quisesse exibir todos os seus pontos fracos e sua guarda baixa, ao mesmo tempo que sorria de forma arrogante e confiante.
— E o que mudou agora? Descobriu pelo que está lutando? Caso contrario, você é só um moleque briguento.
O punho do Alan se projetou para frente em um soco mal planejado, e Zen se esquivou com facilidade, contra-atacando de volta no mesmo instante, com um soco propositalmente feito para ser bloqueado.
Quando o golpe foi bloqueado pelo antebraço do Alan, o punho do garoto se projetou em outro soco, dessa vez tentando aplicar o giro adequado do quadril — apenas tentando, pois a postura ainda estava totalmente errada.
Zen parou a palma da outra mão na frente do golpe e fluiu sua energia para se fortificar. Contudo, quando o punho do Alan atingiu a mão dele, por um segundo — e apenas um segundo — uma onda de energia densa fluiu pelo corpo do garoto.
Uma oscilação cósmica se dissipou no ar em volta do punho do Alan, e Zen só foi capaz de sentir tal fenômeno graças a seu olho esquerdo.
Mas, antes que pudesse processar o que estava acontecendo — ou entender como aquela pouca energia podia ter transmitido tanto poder — Alan tirou seu punha da palma do Zen e agarrou sua camisa, enquanto segurava o braço dele com a outra mão.
Ao ser puxado para frente, Zen quase não entendeu o que Alan estava tentando fazer, mas reconheceu o golpe de judo — mesmo a execução tendo sido ridícula.
Zen firmou suas pernas no chão e agarrou Alan de volta, fluindo energia para seu corpo ao mesmo tempo em que o puxava para aplicar o mesmo golpe.
Alan cambaleou um passo para frente até o pé do Zen passar por trás das suas pernas, executando um gancho.
O garoto viu seu mundo inteiro girar diante dos seus olhos e então atingiu o chão com um baque seco. Zen soltou a manga da sua camisa e agarrou seu pulso, torcendo seu braço, e fazendo Alan grunhir e se dobrar de dor.
— Viu? Nada mudou — Zen falou de forma lenta e arrastada, as palavras soando ácidas.
Quando o soltou, Zen voou vários metros para trás bem a tempo de evitar o chute giratório que Alan executou ao ser libertado.
Quando Zen aterrizou a seis metros de distância, Alan massageou o braço dolorido e se levantou. Tinha um olhar irritado no rosto, mas parecia consciente de estar perdendo a calma, e respirava fundo tentando se acalmar.
— É claro que eu tenho um motivo pra lutar! Eu vou ser um herói — ele gritou, para ser escutado mesmo daquela distância.
— Ha! Que besteira do caralho! — Zen cuspiu com descrença. — Para de mentir pra mim, Júnior.
— Eu tô falando sério, porra!
Alan criou uma esfera de energia e disparou na direção do Zen, mas se surpreendeu ao vê-lo rebateu a esfera de energia para longe — produzindo um flash roxa quando a mão bateu na esfera.
A explosão de energia azul iluminou o canto da sala e as partículas se dissiparam lentamente no ar enquanto a surpresa de um encarava a arrogância do outro.
— Então você tá mentindo pra si mesmo, Júnior! — Zen criou sua própria esfera de energia na mão direita, mas antes de disparar acrescentou: — Essa é a mentira que você conta pra todo mundo, pra pensarem que você é um bom garoto. O filho do maior herói do país.
O raio roxo cruzou os seis metros e Alan saltou para longe, se esquivando por muito pouco e ouvindo a explosão de energia a vários metros atrás.
Rolou pelo chão e se levantou com um salto, pronto para atacar, contudo se assustou ao ver o Zen voando na sua direção, a menos de três metros de distância — e se aproximando rapidamente.
Criou uma esfera de energia na mão o mais rápido que conseguia e disparou para frente, mas quando a esfera estava prestes a atingir o Zen, ele girou seu corpo e deixou a energia passar ele, como um toureiro tirando sua muleta da frente do touro no último instante.
A esfera atingiu o chão e explodiu no mesmo instante em que Zen caiu sobre Alan. O primeiro soco Alan conseguiu bloquear, mas o segundo atingiu sua barriga e tirou todo o seu ar.
Tentou voar para trás e ganhar distância, mas quando fez isso, Zen realizou a Troca Equivalente com ele, aparecendo em suas costas e o atingindo com um chute em suas costas que o jogou com força contra o chão.
Alan bateu com peito e cabeça no chão, e grunhiu, se revirando no chão até olhar para Zen, que estava de pé diante dele.
— Mas eu sei muito bem que os filhos nunca são aquilo que os pais esperam. Vamos lá, Júnior. Coloque tudo pra fora. Pode falar a verdade sem se preocupar, eu não vou contar para o seu pai.
As sobrancelhas do Alan franziram e a oscilação cósmica percorreu o corpo dele mais uma vez, fazendo Zen arregalar os olhos e recuar um passo para trás.
Alan começou a se levantar, e enquanto fazia isso seus olhos eram injetados por sua energia azul — ou deveria ser, mas Zen sentia como se ela estivesse emanando duas vezes mais poder.
— Colocar tudo pra fora?! Demorô.
A energia começou a fluir pelo seu corpo em alta velocidade, vibrando tão intensamente que Zen pensou que elas iriam transbordar para fora da pele do garoto e ficar visível aos olhos.
Mas isso não aconteceu. A quantidade de energia continuou a aumentar, chegando a duplicar a própria quantidade e aumentando rapidamente.
“Que merda é essa!? Ele tá com muito mais energia do que o seu normal, e não para de aumentar!”, ele pensou, enquanto fluía mais energia para reforçar seu corpo.
O ar ficou mais denso quando uma esfera de energia se formou em instantes na mão direita do Alan, e lentamente o garoto ergueu o braço e apontou a esfera para o Zen.
A esfera disparou para frente e Zen saltou para o lado, mas quando a esfera explodiu atrás dele, a onda de impacto o fez cambalear alguns passos para trás — e ao se virar foi inevitável transparecer a surpresa ao constatar o tamanho da explosão.
— Eu vou me tornar um herói para ter acesso aos nomes dos filhos da puta que colocaram a minha mãe no hospital, e depois vou matar cada um dos arrombados!
Zen voltou a olhar para o garoto e lentamente a surpreso do seu rosto deu lugar a um sorriso empolgado. Sua postura foi se ajustando em uma postura de luta enquanto dizia:
— Agora, sim, JúniorI.
A energia roxa fluiu para a mão do Zen e uma esfera de energia se formou ao mesmo tempo em que Alan criava uma esfera também e disparava.
O raio roxo cruzou a distância entre os dois e interceptou a esfera na metade do caminho, gerando uma enorme explosão de energia.
Por trás da energia azul e roxa cintilando no ar, Zen sentiu a presença do Alan se movendo e se preparou para o ataque do garoto.