O Despertar Cósmico - Capítulo 7
Elena estava trabalhando no balcão de vendas naquele dia. Era domingo e, como em todo domingo, ela ajudava quando os pais saiam para fazer entregas.
A loja estava pouco movimentada, por isso ela teve tempo de ajudar um pai e sua filhinha a escolherem o buquê a menininha considerasse perfeito para a mãe.
Elena gostava de trabalhar na floricultura dos pais por momentos como esse.
Enquanto ajudava a garotinha a escolher as flores ela se divertia com o entusiasmo da criança. O sorriso no rosto dela era genuinamente alegre e inocente, e isso era contagiante.
Quando a garotinha estava indo embora, Elena acompanhou os dois até a calçada e se despediu deles. A garotinha acenou com o buquê para Elena enquanto ela e seu pai saiam andando de mãos dadas.
Elena ainda estava observando a garotinha se distanciando quando viu sua mãe e seu pai se aproximando da entrada da loja.
Os dois haviam saído por causa de um pedido de última hora, mas aparentemente conseguiram fazer a entrega mais rápido do que previsto e estavam de volta.
— Elena, o que está fazendo aqui fora? — seu pai, Victor, perguntou.
— Só estava ajudando uma garotinha a escolher um buquê. O que aconteceu pra cêis voltarem tão cedo?
— Sobre isso… Vou precisar que faça um favor para mim, querida — disse Maria, e Elena instantaneamente começou a temer o que viria pela frente. — Um pedido anônimo levou todas as nossas melhores flores no estoque e precisamos repô-las.
Maria fez uma pequena pausa ao ver sua filha suspirando e pensando que sabia muito bem onde isso daria, e mesmo sabendo que a garota realmente sabia, ela concluiu:
— Você vai ter que ficar aqui e cuidar da loja enquanto eu e seu pai vamos até a fazenda, para repor nosso estoque.
Elena revirou os olhos ao ter seus temores realizados, o que resultou em um tapa instantâneo da sua mãe, que atingiu sua cabeça. Elena sorriu, sabendo muito bem que ela não gostava nem um pouco de quando ela revirava os olhos.
— Ai, Ai, Mãe!
— Olhe a postura, garota — Maria repreendeu seriamente.
— Tá, desculpa… — a garota respondeu, sem dar muita importâncias. — Mas como cê espera que eu cuide da loja sozinha? E ainda com o estoque baixo? Não consigo lidar com clientes insatisfeitos.
— Elena — Victor falou, em um tom sério mas acolhedor. — Nós sabemos que isso não é algo com o qual você não possa lidar. Não é só porque você não quer, que você não deve fazer algo. Às vezes temos que fazer coisas que não querermos, para que quando tivermos vontade de fazer algo nada possa nos impedir.
— Basicamente cê está dizendo que se eu não fizer isso tu não vai me deixar sair quando eu quiser, certo?
— É bem isso mesmo — Victor concordou, sorrindo e passando a mão na cabeça dela.
— Sem contar a surra que eu vou te dar — acrescentou Maria.
— E o castigo, é claro. Não podemos esquecer do castigo — completou Victor.
Elena quase revirou os olhos enquanto seu pai e sua mãe riam, mas ela conseguiu se conter no último segundo.
No fim ela teve que concordar. Não havia muita escolha já que seus pais iriam entregar o pedido e depois repor o estoque, e a loja não podia ficar fechada por tanto tempo.
“Mesmo que não tenhamos flores ainda podemos anotar os pedidos e encomendas”, Elena pensou no que seu pai provavelmente diria se ela dissesse que as flores acabariam no primeiro dia deles fora. Ela sorriu ao pensar nisso enquanto via seu pai e sua mãe rindo em sua frente.
∆
Assim que o sinal para o intervalo tocou Elena foi a procura da Amanda e do Alan.
Se tinha que cuidar da floricultura para seus pais, então ela tinha que elaborar um plano para sobreviver aquilo, e, nesse momento, ela estava sentada no quiosque da escola com Alan e Amanda, prestes a explicar seu plano perfeito para eles.
— Bom, vamos dar início ao meu plano de três parte do porquê cêis devem ajudar a amiga linda de vocês no serviço dela. Parte um….
— Pra tu não ficar entendida? — perguntou Amanda antes que a amiga terminasse de falar.
— E se pá, pra tu jogar todo o trabalho em cima da gente e ficar só no caixa, como sempre faz? — Alan perguntou.
— E o terceiro motivo é, com certeza, procê copiar a nossa lição de casa.
Elena cruzou os braços, franzindo as sobrancelhas e fazendo a melhor expressão de raiva que conseguia enquanto dizia:
— Cêis são idiotas, sério — Ela sustentou a expressão severa o máximo que pode, mas no fim um sorriso se formou no seu rosto e ela disse: — Mas o terceiro motivo tá certo, então não vou nem discutir.
Amanda e Alan não conseguiram conter, e nem tentaram, a risada. Uma risada tão divertida que se tornou contagiosa.
— Eu tô falando sério, poxa. Eu preciso de ajuda de verdade, cêis sabem que eu não sei lidar com clientes insatisfeitos, e isso é o que mais vai ter, já que o estoque está em falta. Por favor, façam isso por mim! Por favorzinho. Só dessa vez.
— É claro que a gente vai te ajudar, Elena — Amanda disse, sorrindo alegremente, enquanto puxava a amiga e abraçava ela. — Além disso, é claro que eu não desperdiçaria a chance de conhecer seu namoradinho misterioso.
— O Zen não é meu namorado — Elena sentiu seu rosto ficando um pouco quente, por isso se concentrou apenas em se desvencilhar do abraço da amiga. — E ele não vai tá lá. A minha mãe vai viajar hoje, né. Provavelmente não marcou nenhuma consulta.
— Que bosta. Quero muito encontrar o famoso Zen, o garoto que intimida até a Rainha — Alan falou, com um sorriso que ela julgou sendo perigoso se formando no rosto.
— E quem disse que ele me intimida? — a garota exigiu saber, cruzando os braços na frente do corpo.
— Foi tu mesmo, doidona — Alan respondeu, sorrindo de forma divertida. — Ou, sendo mais específico, tu disse: “Os olhos dele parecem que vão saltar e te matar a qualquer momento” — E, como se para deixar claro o quanto ele achava aquilo ridículo, ele riu.
— Cêis vão entender quando conhecerem ele. Os olhos dele são… intensos — ela disse em resposta, o rosto ficando levemente corado, e, para tentar disfarçar isso, ela acrescentou: — Mas então eu posso considerar que cêis vão me ajudar?
— Claro, pode contar comigo, tenho nada pra fazer mesmo — respondeu Alan.
— Eu posso ir, mas não vou poder ficar muito tempo. Tenho que levar a Laura no médico hoje.
— Aconteceu alguma coisa com ela? — Elena perguntou.
— Nada demais. São só as mesmas dores de cabeça de sempre. Mas consegui juntar dinheiro suficiente para pagar um Médico de Classe Superior para usar seus poderes nela.
Elena e Alan trocaram olhares por um momento, sem dizer nada, mas deixando bem claro, apenas com aquela troca de olhares, que ambos pensaram a mesma coisa.
E foi a Elena quem colocou esse pensamento em palavras ao dizer:
— Amanda, cê sabe que se precisar de algo pode…
— Nem começa, Elena. Eu tô bem. Consegui aquele emprego que eu te falei, lembra? O salário é bom, então não preciso de ajuda — Amanda interrompeu a amiga. Dava para notar como a garota tentava ao máximo convencer os amigos, e a ela mesma, de que era verdade.
Elena olhou para Alan, como se em um pedido silencioso de ajuda. Mas Alan apenas suspirou profundamente, e fez que não com a cabeça, sabendo que a Amanda era orgulhosa demais para aceitar a ajuda deles.
— Vou marcar vocês no portão depois do último horário — Alan se levantou e se preparou para voltar para a sua sala. — E cêis duas tentem não entrar em nenhuma briga até lá.
∆
Quando o sinal do último horário tocou Elena e Amanda se encontraram no portão da escola, mas não acharam Alan em parte alguma.
As duas foram até mesmo procurar por ele na sala de aula, apesar de Amanda ter dito que viu ele saindo da sala, e no pátio da escola. Mas foi só quando voltaram para o portão da escola que uma garota correu até elas, gritando pela Elena.
— Ainda bem que eu encontrei! — a garota se aproximou ofegante, se apoiando nos próprios joelhos e tentando recuperar um pouco o fôlego antes de continuar. — O Rei pediu pra te dizer que tá lutando com o Sans agora, na quadra!
Elena revirou os olhos, tentando fazer isso de forma disfarçada, ao ouvir a garota chamar Alan pelo título de Rei.
Mas quando a garota — que ela reconhecia como Violet, uma Classe Alta da sala do Alan e da Amanda — terminou de falar, Elena apenas meneou positivamente com a cabeça e disse:
— Valeu, por vir aqui. Aquele idiota não devia mandar outras pessoas ficar passando mensagens pra ele.
— Ainda mais quando ele só precisava te enviar uma mensagem — Amanda concordou ao lado da amiga.
Violet piscou algumas vezes, olhando as duas garotas, que agora conversavam entre si algo sobre não poder confiar na palavra do Alan, e confusa ela questionou:
— Cêis não vão ajudar ele?
Amanda deixou escapar uma risada de escárnio antes de dizer:
— Ajudar ele? Nem fodendo. Foi ele quem arranjou briga, mesmo dizendo pra gente não arrumar briga.
— Violet, ele disse procê dizer que estava lutando contra o Bryan? — Elena perguntou calmante.
— É… foi, por que?
— Então isso não é um pedido de ajuda, ele só tá avisando que vai se atrasar — ela disse. — Além do mais, é só o Bryan. Eu não me preocuparia nem se fosse a Amanda lutando contra ele.
— Ei, o que cê quer dizer com isso? — questionou Amanda, empurrando a amiga, que ria dela. — Tá me chamando de fraca?
— Não, claro que não — Elena negou tão vividamente que pareceu ironia, e talvez fosse.
— Eu não sou fraca, teu padrão de força que é diferente — Amanda afirmou, mas não estava irritada, na verdade tinha até um sorriso em seu rosto.
— Claro, se cê está dizendo — Elena riu mais uma vez, antes de se voltar para Violet. — Bom, você não precisa se preocupar, o Rei vai ficar bem.
∆
Elena e Amanda demoraram um pouco para chegar na floricultura, elas pararam para tomar um sorvete e caminhavam a passos lentos, distraídas com a conversa.
Quando finalmente chegaram na floricultura, o sorvete de casquinha da Amanda tinha começado a derreter, e por fim ela deu ele para a Elena — que nunca recusaria uma segunda porção de nada.
As duas entraram na casa rindo de um comentário que Amanda fez sobre uma garota chamada Sam, mas quando chegaram na sala o riso da Elena cessou e deu lugar a um olhar surpreso.
Na sala de sua casa estava Maria Helena, sentada no sofá encarando Zen Snyder, que estava sentado na poltrona em frente ao sofá dela.
Os dois se encaravam com tanta seriedade que Amanda e Elena prenderam a respiração ao se depararem com aquela cena. O ar parecia tenso naquela sala.
Por alguns segundos ninguém disse nada, nem as duas garotas e nem Zen e Maria.
O silêncio entre aqueles dois parecia sufocante, do tipo que não se pode ser interrompido. Elena demorou um pouco para entender que os dois estavam se comunicando mentalmente.
“É a única forma de explicar esse silêncio”, pensou ela.
Zen virou o rosto e os olhos frios e inexpressivos do garoto encontraram os da Elena. Instantaneamente um sorriso se formou em seu rosto, e, no mesmo instante, Maria Helena deixou escapar uma risada.
— Você tem muita coragem em pensar algo desse tipo na minha frente.
Zen voltou a se virar para Maria, aquele sorriso se tornando extremamente atrevido a medida que ele falava:
— Eu gosto de deixar as minhas intenções bem claras, para que não possa haver confusões.
Maria soltou um pesado suspiro, fazendo que não com a cabeça. Quando se levantou, ela se virou na direção da filha, e da amiga, na entrada da sala e sorriu gentilmente.
— Amanda, vejo que a minha filha arrastou você para o serviço dela — Maria lançou um olhar repreensivo para Elena, mas logo voltou a olhar para a Amanda. — Fico feliz que a minha menina tenha uma amiga como você, mas não precisa ajudar em tudo que ela pedir.
— Tá deboa, Dona Maria, sério. Eu até gosto de ajudar a Elena na floricultura — disse Amanda, tentando devolver o sorriso amigável para a Maria, mas sua curiosidade estava toda presa no garoto sentado na poltrona.
Os olhos de Zen se desviaram na direção da Amanda, por apenas um instante, e apenas isso já foi o suficiente para a garota sentir um calafrio diante daquela frieza.
“A Elena tinha razão… Sobre tudo. Aqueles olhos são assustadores… Mas até que ele é bonitinho”, ela pensou, um pequeno sorriso se formando no rosto da garota enquanto ela olhava, de canto de olho, para a amiga.
— Pensei que cê não tinha consultas para hoje, o que o Zen tá fazendo aqui? — Elena perguntou, olhando da mãe para o garoto.
— Falando desse jeito faz parecer que você não está feliz em me ver — Zen sorriu, daquela forma confiante de sempre.
— Como cê descobriu? — Ela sorriu de forma divertida, mas continuou esperando a resposta da mãe.
— E eu não tinha consultas. O Zen veio aqui porque… porque ele está preocupado comigo, embora eu tenha dito que não tem motivo para isso — Maria falou, lançando um olhar repreendedor para Zen.
— Você dificulta a minha vida, Maria — Zen falou, e dessa vez tinha um tom de voz sério. — Não precisa ser tão teimosa, basta fazer o que eu sugeri e…
— Não vamos discutir isso de novo, Zen — interrompeu Maria, e após desviar o olhar brevemente para a filha, ela acrescentou: — Não aqui. Quando eu voltar eu peço para a Ester o número do Alex e entro em contato com vocês, até lá essa conversa está encerrada.
Zen abriu a boca para dizer algo, mas então se interrompeu.
Por um momento seus olhos se desviaram na direção da Elena, que observava aquela discussão sem saber o que estava acontecendo, e então se voltaram para Maria novamente.
— Tudo bem, faça o que achar melhor, mas não me culpe quando acontecer exatamente como eu falei e você estiver despreparada.
— Você é muito paranoico, Zen, e nisso você é igualzinho ao Edward — Maria falou, sustentando o olhar frio que Zen lançou para ela.
Elena conseguiu sentir a tensão se formando entre os dois, como se a qualquer momento o garoto fosse tentar atacar a mulher. Mas ele não fez, nem sequer se moveu.
Nunca tinha visto Zen com um olhar tão furioso quanto naquele momento. Era assustador. Parecia o olhar de um lobo encarando sua presa.
Mas aos poucos essa raiva que queimava dentro do garoto parecia se apagar.
Elena levou um segundo para se dar conta de que Maria provavelmente estava na mente do garoto nesse exato momento. E com certeza estavam discutindo mentalmente.
Ela estava observando admirada aquela interação silenciosa dos dois quando uma dor de cabeça insuportável atingiu ela de forma tão abrupta que ela sentiu seu corpo gelar.
Tudo pareceu ficar escuro, mas ao invés de deixar de ver as coisas ao seu redor, ela passou a ver tudo. Começou a sentir tudo à sua volta, mesmo objetos longe do seu alcance.
Sentiu — de uma forma tão intensa e vivida que era indescritível — o impacto dos seus pés contra o chão, quando ela cambaleou para trás quase caindo.
Ouviu a voz da sua mãe chamando por ela, tão alta que parecia estar gritando na sua orelha.
Sentiu o momento em que os músculos da suas pernas perderam a força e ela começou a cair, mas então um braço envolveu sua cintura, uma mão firme a segurou e sustentou seu peso.
Ela sentia intensamente o toque da mão de sua mãe a segurando. Ouvia claramente a respiração a centímetros dela, e também as respirações e os movimentos — por menores que fossem — de todos na sala.
Ela conseguia sentir tão nitidamente os objetos pela sala que sua mente imaginava o resto com uma precisão assustadora.
Quando a sua visão retornou completamente ela percebeu que quem estava segurando ela era o Zen, e não a sua mãe.
Elena sentiu seu rosto começar a ficar corado, mas quando estava prestes a se desvencilhar de Zen e se afastar, o garoto levou os dedos aos lábios, como se pedindo silêncio e se virou um pouquinho para o lado.
— Falem baixo… — sussurrou, voltando a olhar para Elena logo depois.
A garota se sobressaltou ao perceber que a voz dele soava muito alta. Alta demais para alguém que estava sussurrando, mesmo estando perto daquele jeito.
“Tem algo errado, não, errado não… diferente,” ela pensou, sentindo seu rosto ficando ainda mais vermelho ao perceber que a mão em sua cintura, a mesma mão que ela sentia como se tivesse tocando sua pele e não sua blusa, não havia lhe soltado.
De repente ela estava ciente de cada centímetros daquele garoto de olhos frios e rosto inexpressivo na sua frente.
Os olhos de um castanho tão escuro que a encaravam como dois buracos negros. A pele tão branca que, se ela prestasse atenção conseguiria ver as veias dele. Os cílios eram surpreendentemente longos
Ela viu aqueles lábios formando um sorriso feroz enquanto ele sussurrava de forma lenta e arrastada:
— Você deve estar sensível agora. — A mão dele se fechou com mais força na cintura dela e os olhos vasculharam cada canto do rosto dela, parando em seus lábios por um momento.
— Essa sensação é horrível — disse Maria, em um sussurrou que deveria ser inaudível, mas que para Elena era quase um grito, enquanto parava ao lado dos dois. — Você se conectou ao cérebro do Zen, e como o poder dele é uma variação de um poder telepático você acabou experimentando um pouco desse poder.
— Você não experimentou só o meu poder, você experimentou tudo. Pela primeira vez na sua vida pode realmente sentir. Sentir de verdade o sangue circulando em seu corpo, o ar entrando em seus pulmões, seus órgãos funcionando. Você está vendo o mundo de verdade, Elena… através dos meus olhos — Zen falou com orgulho, sempre mantendo contato visual com Elena.
A garota soube no mesmo instante que ele estava certo. Todas aquelas sensações estavam presentes. Conseguia sentir precisamente cada batida do seu coração, cada bombeada de sangue.
Se quisesse poderia descrever como seu cérebro estava funcionando. Era, ao mesmo tempo, a coisa mais incrível e assustadora que ela já tinha vivenciado. E sumiu de repente.
Todas as sensações que antes ela não conseguia ignorar nem se tentasse — e ela tentou — desapareceram abruptamente, deixando para trás um vazio indescritível.
Como se você tivesse descoberto a resposta para todas as perguntas, mas se esquecido logo depois. Agora ela sabia que um dia teve o poder de compreender tudo, saber tudo, e simplesmente acabou.
Lentamente ela olhou de Zen para sua mãe e depois de volta para o garoto, quando ela falou se surpreendeu com o quanto a própria voz soava baixa:
— Acabou…
O sorriso do Zen havia desaparecido, agora ele estava sério. Maria encarava a filha preocupada, mas às vezes olhava de canto de olho para Zen, esperando para ver o que ele faria.
— É viciante, não é? — ele perguntou.
Mas não esperava uma resposta, já tinha uma.
— Quanto mais se usa mais forte fica. Eu poderia, facilmente, tê falar contar quantas pétalas tem nas cento e vinte e cinco flores que vocês possuem na floricultura. Poderia dizer o tamanho de cada um dos seus cento e cinquenta mil fios de cabelo. Poderia achar coisas perdidas na casa que vocês nem sabiam que estavam aqui. Mas nada disso chegaria ao menos perto de descrever o que esses olhos podem ver e sentir.
E Elena acreditou, pois ele acertou precisamente o número de flores restantes na loja, as poucas — na visão da Maria — flores que sobraram depois do pedido anônimo que levou quase todo o estoque.
— É incrível… — Elena murmurou, olhando para Zen, ainda um pouco atordoada.
Abruptamente uma força invisível envolveu tanto o corpo da Elena quanto o de Zen, e cada um foi empurrado um metro para trás, em direções opostas.
— Como eu estava dizendo — Maria falou em um tom que não permitia que alguém interrompesse. — Eu não tenho consultas hoje, o Zen veio aqui por outros motivos. Mas ele já está indo embora, não está Zen? — Maria olhou para o garoto, quase que mandando ele concordar com ela.
— Claro, eu tô… aparentemente — Zen concordou, sentindo a força telecinética que prendia seu corpo desaparecer.
— E vocês duas tem muito trabalho para fazer — Maria se voltou para a Amanda e a filha — E por falar nisso, já que chamou a Amanda eu achei que fosse chamar o Alan também, Elena.
— Ah, ele foi desafiado para uma Disputa de Classes, então ele vai chegar mais tarde. Talvez nem venha — respondeu Elena.
— Que pena, ele lida bem com os clientes, e vocês precisam de toda a ajuda possível hoje.
Nesse momento Amanda viu uma oportunidade de ouro surgir na sua frente. A chance que ela vinha buscando há um mês. E ela não poderia perdê-la.
— Nesse caso… Zen. — Ela caminhou na direção do garoto. — Tu tem planos para hoje? Como você ouviu, nosso amigo, o Alan, não pode ajudar hoje. O que me diz? Acho que toda a ajuda é bem vinda.
— Nem fodendo que ele vai nos ajudar sem pedir nada em troca — Elena falou.
— Nem pensar. Eu não gosto dessa ideia — Maria foi contra instantaneamente.
Mas Zen sorriu. Um sorriso diabólico ou, no mínimo, o sorriso de quem estava tramando alguma coisa, seja ela boa ou não. O garoto desviou o olhar e encarando Elena intensamente ele respondeu:
— Eu achei a ideia perfeita.