O Diário do Começo - Capítulo 4
Ponto de vista de Eduard Harley
— Hora de dormir pudimzinho. — As palavras de minha mãe me tiraram a atenção do livro em meu colo.
— Oque ainda é cedo… —Retruquei apontando em direção a janela.
Porém tive uma grande surpresa, o sol que a poucos minutos estava iluminando meu quarto já não estava mais lá, e em seu lugar a escuridão predominou e agora a fraca luz do luar entrava pela janela pouco iluminando meu quarto.
Fechei o livro em meu colo um pouco frustrado por não poder terminá-lo naquele dia, o coloquei em cima da mesa ao lado de minha cama e deitei-me em quando minha mãe vinha em minha direção deixando a lamparina que segurava em um gancho próximo a porta, ela se sentou em minha cama e começo a passar sua mão em meus cabelos.
— Não faça essa cara meu filho, amanhã será um novo dia. — Eu ainda queria ler meu livro contudo sabia eu que precisava descansar pra crescer e ficar forte como o papai.
— Porem, que tal uma historinha antes em ? — Eu logo me levantei animado pela sugestão de minha mãe, a mesma deu uma leve risada com minha empolgação.
— Eu conheço uma ótima historia para nosso pequeno leitor. — Uma voz familiar ecoou da porta pouco iluminada pela lamparina, e logo uma silhueta começou a vir em nossa direção e que pouco a pouco foi se revelando ser meu pai.
Ele se sentou ao lado oposto de minha mãe, tirando um livro de suas costas e o colocando sobre meu colo, ao abri-lo parecia ser um livro ilustrado e logo após meu pai começou a narrar a historia.
— Era uma vez um garoto chamado Eduard que tinha dois amigos, Alice e William, ele era príncipe do reino dos humanos, um dia ele encontrou um diário escondido em seu quarto, o diário da princesa de 100 anos atrás, após isso, o castelo começou a ser invadido por pessoas más que queriam matar Eduard, no entanto ele foi salvo por seu amigo William. Eduard deixou seu amigo para trás fugindo covardemente e enquanto estava fugindo do castelo, viu sua amiga Alice sendo torturada por um cara mau, Eduard tentou ajudada porem ele foi atingido antes e acabou caindo para fora do castelo e morrendo, Fim.
— Eu não gostei da historia papai. — Eu disse com muito medo quando segurava meu choro.
—Do que você esta falando Eduard? Essa é a sua historia. — Mamãe disse olhando fixamente para mim com um sorriso assustador.
De repente a escuridão começou a tomar conta do meu quarto, a luz da lamparina ficava cada vez mais fraca, meus pais ainda me olhavam sorrindo… eu estava com muito medo, fechei meus olhos e comecei chorar, meus pais começaram a repetir:
—Essa é a sua historia.
—Essa é a sua historia.
De repente meu corpo foi tomado por uma sensação agradável, era como se eu estivesse submerso na água, o calor que tomava meu corpo me reconfortava como um abraço de mãe, então… isso é a morte? Esse é meu fim? Isso realmente importa agora? Não… NÃO !! Eu não posso morrer, eu preciso contar a meu pai sobre o diário, eu preciso proteger Alice, e eu prometi para William que eu voltaria inteiro, eu não posso ir ainda.
Tentei mover meu corpo porém sem resposta, e quanto mais eu me esforçava, mais agradável e aconchegante eu me sentia, eu precisava resistir, eu precisava de uma maneira de sair dali.
— Continue lutando… — Comecei a repetir mentalmente para mim mesmo.
Meu corpo começou a ficar pesado, comecei a afundar cada vez mais naquele vazio, eu estava perdendo a luta, meu corpo estava ficando fraco e todas as angústias pareciam desaparecer…
— Eu preciso… Continuar lutando — Repeti mais uma vez para mim mesmo na esperança de conseguir sair daquele transe em que me encontrava.
Quando eu estava quase perdendo minha consciência, eu pude ver ao longe, algo brilhante no meio da completa escuridão… algo familiar, era como se estivesse me chamando, eu não sei porque mas algo em mim me dizia que aquilo era a saída… Comecei a juntar forças novamente repetindo para mim mesmo continuar lutando…
— Eu preciso continuar… eu ainda não posso partir… EU NÃO POSSO MORRER AINDA!!— Gritei com todas as minhas força e em um momento de explosão eu finalmente consegui me libertar.
A sensação continuava, porém agora eu tenho forças para resistir. Voltei minha atenção para o ponto brilhante e comecei a ir em sua direção, bati os braços e pernas e consegui me mover lentamente, a cada vez que eu me aproximava do brilho, meu corpo parecia querer se entregar ao conforto, porém e continuei lutando. Minutos pareciam horas naquele lugar e depois de algum tempo eu tive a sensação de não estar saindo do lugar, contudo algo me dizia que eu estava progredindo.
Continuei minha agoniante jornada em direção a minha suposta saída, e de repente aquela luz que a pouco estava tão distante, agora estava mais perto, e quando eu reparei atentamente pude ver que aquilo não era apenas uma luz… era meu relógio, o mesmo que havia ganhado de meus pais. Após perceber isso comecei a me mover mais rápido na esperança de alcançá-lo, eu estiquei meu braço direito até que…
Eu paralisei… algo segurou meu pé, eu estava apreensivo porém quando me virei, pude ver diversas raízes subindo pela minha perna, assustado eu tentei me libertar sem sucesso… As raízes já estavam em minha cintura enquanto eu esticava meu braço na tentativa de chegar a meu relógio e cada vez que eu chegava mais perto um barulho ensurdecedor ficava cada vez mais alto, as raízes já estavam se envolvendo em meus braços contudo eu estava quase conseguindo alcançar.
— Só mais um pouco… — Disse a mim mesmo, esforçando tentando não ceder às raízes…
— Quase lá!! — As raízes se envolveram em meu pescoço e quando eu estava prestes a conseguir pegar meu relógio…
— Filho, pare!! — A voz de minha mãe me fez parar de me mover.
—Já chega meu pudimzinho… você pode descansar agora… — As doces palavras de minha mãe me tranquilizaram.
Eu estava em choque, eu não sabia se aquilo era real, todavia um sentimento de paz reinou em meu espírito… Eu podia sentir as raízes se fixando em meu pescoço porém… nada parecia importar. A figura de minha mãe estendeu seus braços sinalizando para chegar mais perto… eu realmente podia descansar? Eu realmente podia deixar pra lá? Tudo em meu corpo me dizia que sim… porém algo em mim dizia para continuar lutando.
Fechei minhas mão e golpeei em meu rosto me tirando do transe… levei um tempo para me recuperar e após ajustar minha visão eu olhei para minha mãe que ainda estava lá, com seus braços abertos esperando minha resposta, todavia eu já sabia que aquilo… não era real. Coloquei um grande sorriso em meu rosto como minha mãe sempre me pedia para olhar para ela e disse:
— Meu desculpe mamãe, eu ainda não posso descansar… — Lágrimas correram em meu rosto enquanto a doce imagem de minha mãe com seus braços abertos me esperando, desaparecia ficando apenas um amargo em meu peito.
Reatei minha consciência e quando me dei conta, as raízes já estavam quase cobrindo meu braço que estava esticado próximo ao relógio, juntando todas as minhas forças eu gritei enquanto esticava meu braço pela última vez.
— Ahhhhhhh!! — Agarrei o relógio com toda minha força e uma forte luz emanou do mesmo me cegando por um brevemente.
Tudo que eu via era um espaço branco, comecei a escutar pássaros e senti uma leve brisa bagunçar meus cabelos, minha visão lentamente foi retornando e aos poucos pude ver um lindo campo, com várias árvores em volta, olhando para baixo, eu pude ver que estava sob em um pequeno riacho, a correnteza fraca da água passava sobre meus pés que ali estavam mergulhado.
Quando minha visão finalmente foi restabelecida, olhei mais uma vez ao meu redor, porém agora, fora o belo campo que eu presenciava, ao longe uma grande árvore ali se destacava, uma cerejeira no topo de um pequeno morro, e deitado sobre suas raízes, estava um homem que parecia descansar sem nenhuma preocupação… Comecei a sair do riacho até a terra firme, voltei novamente minha atenção ao homem que parecia ser minha única opção naquele momento se eu queria saber oque estava acontecendo.
Com receio, parti em direção ao desconhecido que estava a poucos metros do riacho que me encontrava.
“Como diabos eu fui parar ali?!” Pensei confuso com mais perguntas do que respostas, todavia espero que aquele homem talvez possa me esclarecer tudo.
Caminhando sobre o campo , flores e animais que eu nunca havia conhecido estavam espalhados por toda flora ali presente, o campo era colorido com flores preenchendo toda a área, chegando mais perto da grande árvore parei por um momento para admirar as belas pétalas rosadas lentamente caindo e aterrissando graciosamente ao lado do misterioso homem, aquilo era mágico…
Subi o pequeno morro e fiquei de frente com o homem, Longos cabelos amarrados e cobertos por um chapéu de palha, barba falhada e suas roupas sujas e esfarrapadas me davam a impressão de que…
— Um bêbado… — Completei meu pensamento em voz alta
Após um instante tomei conta do que havia acabado de falar.
“Merda !” Pensei cobrindo minha boca com medo de que o beb… digo o homem acordasse com a minha ofensa.
Voltei minha atenção ao desconhecido que parecia estar em um sono profundo, ele dormia despreocupadamente sem medo de nada, decidi que era hora de indagá-lo e perguntar o que era aquele lugar.
— Ah, olá, meu nome é Eduard Harley, eu estou perdido você poderia me dizer aonde estamos? — Perguntei tentando ser o mais gentil possível.
Esperei pela resposta do desconhecido, contudo o mesmo continuou dormindo profundamente me ignorando completamente, após meu fracasso, decidi fazer outra tentativa e cheguei mais próximo a fim de acordá-lo.
— Olaa!! — Gritei enquanto balançava os ombros do homem, contudo sem sucesso.
Tentei empurrá-lo, gritar em seus ouvidos, até belisquei seu braço, porém ele continuou dormindo sem mover um músculo.
— Qual é o problema desse cara… — Pensei alto o observando.
Enquanto estava tentando acordá-lo, minha atenção foi tomada para uma velha e longa espada que estava encostada ao lado da árvore, levantei-me e fui em sua direção fascinado pela mesma, e a observando mais de perto, vi que se tratava apenas de uma velha espada enferrujada com poucos detalhes e um tamanho peculiar, todavia havia algo nela que me deixava intrigado, eu não sabia dizer o que porém era como se eu estivesse sendo observado…
De repente um barulho estrondoso pode ser ouvido, os pássaros que estavam na grande árvore começaram a voar com medo…
— Estou com fome… — Disse corando minhas bochechas levantando minha camisa e olhando para minha barriga.
Após isso percebi que o sol que a pouco estava ali, já se despedia dando lentamente lugar a luz do luar.
— Droga !! — Eu disse preocupado e com medo, eu estava com fome e sabia que ao chegar da noite o frio seria terrível !!
Olhei novamente para o homem deitado e tentei acordá-lo mais uma vez.
— Vamos !! Acorde !! — O balancei em desespero, contudo sem respostas mais uma vez.
Comecei a olhar ao meu redor procurando alguma casa ou algo que pudesse me abrigar na noite que se aproximava, porém, havia apenas aquele lindo campo, os animais já estavam se recolhendo, e pouco a pouco foram partindo para suas casas…
— Casa… — Eu disse abaixando minha cabeça.
— Eu… EU QUERO MINHA MÃE!! — Comecei a chorar sentando no chão colocando minha cabeça entre minhas pernas.
— O que é esse lugar?! Onde está o papai, a mamãe?! Eu quero minha cama confortável, a minha vida normal, brincar com Alice e William, como isso foi acontecer ?! Por que isso teve que acontecer…? E minha melhor chance de ter respostas é um bêbado que não acorda… Eu só quero ir para casa. — Eu disse gritando em desespero.
Perdido em meus pensamentos comecei a me lembrar do que aconteceu naquele dia, tudo que presenciei, um parte de William que eu nunca vira antes, e a imagem de Alice não sai da minha cabeça, aquilo… eu nunca vou esquecer, a invasão no castelo, e o que eles querem da gente? O diário e oque mais me preocupa… como eu ainda estou vivo? O homem que vi antes de cair, aquela cicatriz… Preciso voltar para casa, preciso saber que todos estão bem, eu preciso descobrir oque aconteceu!!
Levantei meu rosto limpando minhas lágrimas admirando o pôr do sol por um momento, a vista era linda, e por um breve momento esqueci de tudo e apenas observei a lenta ida do sol, no entanto enquanto observava o mesmo, no extremo vi uma senhora passando pelas grandes árvores em direção a floresta.