O Dualismo de Yuki - Capítulo 4
A magia foi ativada.
Por ser uma magia que demandava um alto custo de mana, ele teve que entoar o seu nome.
Longos troncos de madeira com folhas verdes cresceram da ponta do cajado de Astaroth. Elas foram na direção das bestas e, subitamente, as engoliram.
Das 250 bestas, cerca de 130 foram pegas pela magia. Após serem atingidas pelo ataque, elas ficaram imóveis.
[Elderwood] era considerada uma magia de altíssimo nível; se fosse pôr em ranks, ela seria rank– A. Além de ser poderosa, ela também tinha um alcance enorme.
No entanto, esse ataque não parava por aí. Além de imobilizar os alvos, essa magia também sugava toda a mana do inimigo, e após consumi-la toda, a magia se desfaria sozinha.
Foi justamente isso que aconteceu.
As 130 bestas pegas pelo ataque tentavam sair dos vários troncos e raízes que as prendiam; mas não adiantava, nada escaparia daquilo.
Após alguns instantes, os corpos das bestas começaram a emitir um brilho levemente esverdeado. No mesmo momento, mais e mais folhas começaram a surgir dos troncos.
O local da batalha que antes era plano, agora estava todo coberto por dezenas de raízes e folhas. Era como se fosse um lugar completamente diferente.
As folhas verdes contrastavam com a amarelada floresta que havia ao redor do local de batalha.
— O-O que é essa magia poderosa?!
— Como esperado do líder!
— …N-Nunca vi algo assim!
Os magos que antes estavam desesperados, agora estavam impressionados pela magia de seu líder. No entanto, um deles percebeu algo:
— Ei, gente! O líder… — disse um dos magos do grupo secundário, apontando para onde Astaroth estava.
Os outros magos estavam tão impressionados com a fascinante magia de alto nível que esqueceram de prestar atenção no seu líder.
— … Não é possível…
No entanto, seus rostos logo empalideceram. O líder, Astaroth, estava de joelhos enquanto ainda segurava seu cajado. Mas não era apenas isso, uma enorme poça de sangue estava na frente dele.
Por causa do enorme custo de mana de [Elderwood], o seu corpo estava muito ferido. Ainda escorria sangue de sua boca.
…Haah… isso dói mais do que eu pensava… Ainda estando de joelhos, pensou ele antes de dar um sorriso irônico e, logo após, tossir sangue.
Ele tinha ultrapassado o limite que mais temia superar e, por causa disso, estava quase morrendo. No entanto, se fosse para proteger os magos mais novos, ele estava disposto a arriscar sua vida; e assim ele o fez.
Astaroth não tinha esposa, filhos, nem nenhum familiar muito próximo. Por isso, se fosse para arriscar a sua vida por algo nobre, ele faria sem pensar duas vezes.
Ainda jorrando sangue e estando de joelhos, ele viu que sua magia já tinha surtido efeito e tinha sugado toda a mana das 130 bestas. Logo após isso, as folhas que eram verdes, começaram a amarelar e secar.
Uma por uma, as folhas estavam secando como se nunca tivessem sido verdes. A cor, que era uma fusão de amarelo com um pouco de marrom, começou a dominar o local.
A magia estava começando a se desfazer.
E então, de repente, como se o tempo estivesse sendo rebobinado, as folhas voltaram para dentro dos troncos e raízes. Não só isso, mas os troncos começaram a recuar e voltar para a ponta do cajado de Astaroth.
Era como se, do nada, dezenas de árvores começassem a ir para um ponto específico e, de repente, desaparecesse por completo.
O cenário de floresta havia sumido, deixando vários corpos para trás.
Como as bestas eram movidas pela mana, todas elas morreram.
No entanto, após toda a magia ser desfeita, as bestas de mana que sobreviveram começaram a passar e caminhar pelos 130 corpos caídos e foram na direção de Astaroth.
Ao ver essa situação, os magos entraram em desespero novamente.
O líder estava quase morrendo e os magos ainda não haviam sido curados por completo, logo, não poderiam realizar ataques fortes.
Alguns gritavam pelo nome de Astaroth, outros se preparavam para tentar lançar outros feitiços enquanto viam as bestas se aproximando cada vez mais.
A situação era irreversível.
Agora é hora de conhecer os deuses… Ele pensou enquanto abaixava a cabeça e fechava os olhos para se preparar para dar seu último suspiro.
Quando uma das bestas estava para se aproximar dele… Algo aconteceu.
Elas pararam.
Não, na verdade, algo estava acontecendo. Sons de cabeças voando e caindo no chão podiam ser ouvidos.
TUM!… TUM!… Os sons não cessavam.
Quanto mais segundos se passavam, mais e mais esse barulho se repetia no local.
Além disso, algo parecido com um ruído de lâminas se chocando contra as bestas também podia ser escutado.
Uh? Estando perplexo com o que acontecia, Astaroth decidiu levantar sua cabeça e abrir os olhos.
Foi quando…
— C-Caitlyn… — disse ele enquanto tinha um semblante de surpresa.
Alta, um corpo esguio, cabelo azul-marinho grande e liso que brilhava quando entrava em contato com a luz do sol, pele pálida, e vestia um grande e luxuoso vestido preto e cinza com detalhes dourados nas pontas.
No entanto, não era só isso; também tinha a forma majestosa que a pessoa usava a magia da água.
Era como se fosse uma dança. A forma como a pessoa sincronizava a sua dança com os ataques só poderia ser descrita como “fabulosa”. Grandioso, bonito e poderoso, eram essas as palavras que descreveriam o seu estilo de luta.
Para Astaroth, só havia uma pessoa que era assim — a “Dançatriz das Águas”, Caitlyn Boreau. Uma poderosa maga de água que era membra de uma importante família. No entanto, ela também foi uma integrante de seu grupo de aventureiros.
Ele continuou observando-a enquanto ela decepava as várias e várias bestas de mana.
Mesmo já tendo visto o estilo de Caitlyn várias vezes antes, ele ainda não deixava de se impressionar. Enquanto ela dançava, a magia [Corso d’eau] surtia efeito e causava dano nas bestas.
[Corso d’eau] era uma magia em que a água agia como uma corrente envolta do conjurador. Caitlyn a utilizava de forma eficiente: Sempre antes de fazer um movimento, ela criava pequenas “lâminas de água” e, ao finalizar, ela as lançava em seu inimigo.
O nome do feitiço era escrito em um idioma antigo do reino onde Caitlyn nasceu. Era um estilo de manipulação da água específico da Família Boreau.
Mesmo que fossem feitas de água, elas eram tão rígidas e resistentes quanto lâminas feitas de metal.
— Aaaaahh!!! — Ela gritava ferozmente enquanto aproveitava da força centrípeta momentânea para avançar e fazer pequenos movimentos giratórios com seu corpo, para no final, fazer uma meia lua com sua perna, atirando uma sequência de lâminas nos inimigos.
Por ter um enorme estoque de mana e ser proficiente no controle dela, ela reforçava cada uma das lâminas de água, deixando-as ainda mais poderosas.
À medida que ela fazia alguns passos, as pequenas e afiadas adagas transparentes movidas pela magia de água perfuravam mais e mais os inimigos.
TIN!… TIN!… Altos e claros barulhos de lâminas atingindo as bestas ressoavam pelo lugar. Assim que cortavam os inimigos, elas se desfaziam automaticamente.
Caitlyn fazia alguns movimentos, como, por exemplo, um que se parecia com um chute vertical. Consistia em repousar um pé e esticar o outro para dar o golpe.
O nome desse golpe era “Frappé”, o mesmo nome de um movimento de uma dança de sua terra natal, Rinia, o reino das águas.
Assim que ela terminou a ação, uma de suas lâminas saiu de sua posição — que no caso era ao redor dela — e, seguindo o movimento de sua conjuradora, perfurou verticalmente algumas das bestas, fazendo com que mais e mais corpos de pedra voassem no chão.
Ela mantinha um padrão. Chutes horizontais, chutes verticais e apontava o braço direto para o peito de algumas bestas. Às vezes havia alterações, como as vezes em que ela saltava, rodava a perna no ar formando um semi-círculo, fazendo com que um grupo de adagas fossem nos inimigos.
Antes de realizar um movimento complexo, ela sempre flexionava os joelhos para dar elasticidade ao seus tendões e realizar golpes ainda mais rápidos.
Da visão dela, eram movimentos e ataques simples. No entanto, por causa de sua alta velocidade, junto com o poder de ataque e os chamativos pequenos rios d’água que circulavam ao redor dela, aquilo era uma apresentação completa, na visão de quem a observava. E claro, isso incluía Astaroth.
Pum! Uma das bestas que ainda estava viva, socou o chão, quase atingindo Caitlyn. Porém, para responder ao ataque, ela criou uma mini barreira de água em seu antebraço, que assim como suas lâminas, era mais dura do que o aço.
As outras bestas começaram a fazer o mesmo.
Cada uma, com poderosos golpes, tentou esmagar a maga. Esse esforço, no entanto, era inútil contra a dançarina. Com seu corpo esguio, ela, de forma rápida, conseguiu se esquivar de cada golpe. E quando percebia que não conseguiria, ativava a sua barreira de água.
Seus longos e brilhantes cabelos azuis esvoaçavam enquanto ela avançava em alguns inimigos e desviava de outros.
Às vezes, uma parte da água que circulava ao redor dela ia para seus pés, fazendo com que ela flutuasse um pouco enquanto avançava. Utilizando isso, antes de aterrissar perto dos inimigos, ela fez mais e mais dos movimentos em formato de meia lua com sua perna. Com esse ataques horizontais, ela derrubou vários inimigos de uma vez.
E assim foi a luta durante alguns instantes, alternando cada parte de seu corpo, seus braços e pernas, que ela continuou derrotando cada um deles.
TIN! Ela se movimentava, a adaga ia na direção que ela desejava e… TUM! A cabeça ou um dos membros principais da besta caíam.
Assim a batalha seguiu… Até que só sobrou uma.
Caitlyn fez seu movimento final, esticando seu braço esquerdo e apontando para a besta restante. Com isso, ela lançou suas lâminas e derrotou a última besta.
Até a forma como ela finalizou a luta parecia mais como uma apresentação. Sincronizando tudo de forma perfeita e impecável.
— Fin — disse ela, juntando as pontas dos dedos e finalizando sua magia. As lâminas e as adagas de água desapareceram por completo.
O cenário da luta estava devastado. As pequenas folhas de grama estavam encharcadas por causa da magia utilizada por Caitlyn. Fora isso, ainda haviam todos os corpos dos monstros que foram derrotados pela dupla.
A maga, porém, estava com uma aparência normal como se nada tivesse acontecido. Nem mesmo um fio de cabelo estava bagunçado.
Não era apenas Astaroth que tinha ficado maravilhado com aquela forma de lutar, os outros magos também estavam impressionados. Muitos deles gritavam elogios como “Incrível!” e “Que lindo!”.
Após o fim da luta, os magos aplaudiram o incrível show dado por ela.
No entanto, Astaroth — que por causa do espetáculo dado por Caitlyn, quase tinha se esquecido de sua dor — não estava nem aplaudindo nem gritando. Ele estava se esforçando para ficar de pé e encará-la. Mas não adiantava, ele estava perdendo muito sangue e seu corpo estava muito frágil.
Notando o que seu velho amigo estava tentando fazer, Caitlyn caminhou até ele.
Após se aproximar e agachar, colocando a mão em suas costas e olhando para ele, ela disse: — Não importa quanto tempo passe… Roth, você continua o mesmo. Até arriscando a vida para salvar esses jovens… — disse ela de forma meiga e gentil, enquanto passava seus finos fios de cabelo por trás da orelha e sorria para o seu velho amigo.
— …
Ele permaneceu calado enquanto observava seu belo e caloroso sorriso e seus olhos azuis que brilhavam como jóias. Sorriso e olhar esses que diferiam dos que ela passava enquanto estava lutando.
Depois de alguns instantes se encarando, utilizando mais um pouco de sua mana, ela estalou os dedos e usou a magia [Divine Water] para curar os ferimentos de seu amigo.
Ela se afastou dele e uma enorme bolha de água o cobriu. De repente, todos os ferimentos começaram a sumir e ele se recuperava.
Vendo tal magia, a dupla de magas do grupo de suporte se impressionou.
— Incrível!! Então essa é a lendária magia de cura do tipo água…
— E ela ainda usou sem entoar o nome…
Com magias de baixo nível não era necessária a entoação. Porém, quando se falava sobre as de alto nível, o assunto era outro. Era necessário entoar pelo menos algumas letras. Logo, quando alguém não fazia isso, significava que a pessoa tinha um controle completo, ou quase completo, da magia.
Além disso, a magia que Caitlyn estava usando nele, por ser tão rara de ser encontrada, era considerada do nível lendário. Magias de cura normais costumavam demorar muito mais para fazer efeito. A [Divine Water], no entanto, era quase que instantânea.
Enquanto a magia fazia efeito, ela se virou para o grupo de magos e se desculpou.
— Oh! Me perdoem pela minha falta de educação! — Colocando o pé direito para trás, puxando as pontas de seu vestido e se abaixando levemente, ela continuou — Me chamo Caitlyn Boreau. É um prazer conhecê-los.
— Igualmente!!! — Em uníssono, responderam os magos enquanto permaneciam maravilhados e se inclinaram para frente.
Além de ser muito poderosa, ela também era muito bonita e educada. Nem a dupla de magas, mesmo sendo do mesmo sexo, pôde deixar de ter um leve rubor no rosto.
No entanto, após a educada introdução, um dos magos percebeu algo.
— Ei, espera! — Um jovem de cabelos vermelhos gritou de repente.
Todos os outros voltaram seus olhares para ele.
— Caitlyn Boreau… Caitlyn não é o nome da “Dançatriz das Águas”? Aquela do antigo grupo lendário de aventureiros de Reinheit e membra da Família Boreau? — Após uma breve pausa, ele continuou: — Parando para pensar, o nome do nosso líder também não me é estranho…
Após isso, como se a colocação do mago fizesse sentido, todos se desesperaram e direcionaram seus olhares para Caitlyn; entretanto, nem ela nem Astaroth estavam mais lá.
— Ehhhhh?
De novo, em uníssono, eles demonstraram surpresa.
***
Em um lugar próximo de onde a batalha ocorreu, Caitlyn, estalando os dedos, tira Astaroth de sua [Divine Water].
Ao sair da bolha, surpreso, ele disse: — Ei, Caitlyn… Obrigado por me curar, sério…, mas posso saber onde nós estamos?
Diferente do lugar plano de antes, agora eles estavam em uma área com várias folhas amareladas por causa do outono. Além disso, ainda tinha o fato de ter vários insetos por lá.
Segundo uma breve análise de Astaroth, eles estavam ainda mais perto da Floresta das Bestas, local que ficava ao redor do setor norte de Reinheit.
Ela, que estava arrumando o vestido, ao ouvir as palavras de seu velho amigo, congelou e começou a suar frio.
— É…Então… — Coçando a parte de trás da cabeça e sorrindo de forma desajeitada, ela continuou: — Eu não sei?
— Ei… — Franzindo a testa e dando um olhar frio para ela, ele continuou: — O que diabos você está fazendo?
Ela tinha fugido com o corpo de Astaroth enquanto a bolha o curava. Como ela tinha pleno controle do feitiço, ela apenas fez com que a bolha a seguisse enquanto ela corria pra algum lugar.
Foi assim que eles foram parar ali.
— E-Eu só agi no modo automático e te tirei de lá… Não pensei muito…
Após isso, com os dedos juntos e a mão aberta, ele deu uma leve batida na cabeça de Caitlyn.
— Ai!… P-Por quê? — Com uma voz um pouco chorosa enquanto botava as mãos na cabeça, ela perguntou.
— Você…
Sim, essa era a verdadeira personalidade dela. Na frente de desconhecidos, ela se comportava de forma nobre e educada, mas quando estava perto de seus amigos e conhecidos, ela era apenas uma descuidada.
O motivo da raiva de Astaroth era simples: Primeiro, ela tinha sido irresponsável por revelar seu nome todo; segundo, ela sumiu com ele sem dizer nenhuma palavra para os magos.
No passado, antes de eles se separarem, eles tinham concordado que iriam esconder que faziam parte do grupo lendário de aventureiros. Fora isso, os integrantes mais conhecidos teriam que esconder seus nomes ou criar apelidos novos.
Ele tinha revelado seu nome verdadeiro pois não era tão famoso quanto ela. No entanto, Caitlyn, além de não ter usado apelidos, disse seu nome completo.
Depois disso, Astaroth deu um breve sermão nela.
— Me desculpe, me desculpe! — disse Caitlyn enquanto abaixava a cabeça.
— Ainda bem que você entendeu. — Ele deu uma leve tossida e continuou — Bem, obrigado por ter me salvado. Acho que eu não estava pronto pra… De qualquer forma, o que você está fazendo aqui no interior?
— Ahh sim, eu vim visitar a Lyn! — disse ela com um sorriso no rosto enquanto arrumava o cabelo.
Ela tinha ido à cidade para visitar uma velha amiga, porém, por meio de um aviso fornecido pela Guilda de Aventureiros, ouviu falar sobre algo acontecendo e então resolveu ver a situação, e acabou salvando Astaroth.
Caitlyn costumava morar perto da capital de Hiadiun — lugar que era longe de Reinheit — por isso ele perguntou.
— Entendo… Bem, por favor, não faça mais nenhum alarde por aí.
Ouvindo o que ele disse, Caitlyn inclinou levemente a cabeça para o lado e perguntou algo a ele.
— Ei, Roth. Mudando de assunto… Por que você usou [Elderwood]? Você sabe que poderia morrer caso eu não chegasse a tempo, né?
Quando Astaroth falou em “alarde”, essa foi a primeira coisa que ela pensou. Afinal, por causa de seus machucados, ele tinha prometido que nunca mais usaria esse tipo de magia.
— Eu sei. Mas foi necessário… se eu não estivesse lá, aquelas crianças…
— Necessário? Ei, você sabe quanta gente se preocupa contigo? Mesmo depois desse tempo todo…
Apesar de tudo, no passado, os dois eram muito próximos. Por isso, era normal Caitlyn se preocupar com seu velho amigo. Mesmo que as palavras parecessem duras, ela estava dizendo com um tom mais gentil.
— Obrigado por se preocupar comigo, Cait…
Ele tinha entendido o porquê dela ter dito aquilo tudo, por isso ele respondeu com poucas palavras enquanto sorria.
— Haah… Parece que você continua o mesmo cabeça dura de sempre… Mas isso é bom, de certa forma… — disse Caitlyn com o rosto virado para o lado enquanto estufava de leve suas bochechas que estavam um pouco rosadas.
Ela ainda age do mesmo jeito… Isso é um pouco nostálgico, pensou Astaroth enquanto sorria de leve.
Já fazia mais de 10 anos da última vez que eles se encontraram. Após o fim do grupo, cada um seguiu os seus respectivos destinos. Um viajou pelo continente, o outro voltou para a sua família, outros abriram negócios, foram estudar em países distantes…
No entanto, para o alívio dele, Caitlyn, pelo menos, continuava a mesma. Mesmo após tantos anos.
— Mas então, Roth… por que você está aqui? — disse ela para voltar ao tópico que eles tinham iniciado antes e para quebrar o silêncio entre os dois.
Para Caitlyn, não fazia sentido a estadia dele na cidade, já que ele costumava viajar para outros reinos.
Ao ouvir a pergunta de Caitlyn, hesitantemente, ele respondeu: — Bem… Pelo mesmo motivo que você…
Ela arregalou os olhos e, colocando a mão na boca e dando uma risada sarcástica, respondeu: — Ohh. Hehe, entendo. Você de fato continua o mesmo.
— O que há com essa careta?! — disse Astaroth antes de dar um suspiro.
O motivo dessa risada era simples: a pessoa que eles estavam indo visitar era, na verdade, a maior inspiração para Astaroth. Era a pessoa que ele sempre quis alcançar. Mesmo nos quase 14 anos após a separação do grupo, ele ainda não tinha desistido dessa meta.
Seria a primeira vez em mais de uma década que eles veriam esta pessoa.
— Então, por que não vamos juntos? Já estamos indo ao mesmo lugar de qualquer forma — comentou ela.
— Pode ser. Mas antes você vai ter que me ajudar na situação do grupo de magos! Ainda temos que ajudar os guardas que estão machucados. — Após uma breve pausa, ele continuou: — E por favor, pare de me chamar de “Roth” perto de desconhecidos…
Ela deu outro sorriso irônico antes de responder com um “Claro, claro”. Eles começaram a andar e saíram para procurar o caminho de volta para o local da batalha.
Mais tarde, a população local saberia que três dos 5 integrantes do tão famoso grupo de aventureiros “Golden Vanguard” estavam na cidade, e, posteriormente, fariam um evento para comemorar isso… Mas isso seria história para outra hora.
***
Mesmo após derrotarem todas as bestas e mais tarde curarem todos os guardas, Caitlyn e Astaroth esqueceram de um detalhe: Com a súbita saída deles do local e com os magos atraídos por Caitlyn, por um breve momento não tinha ninguém cuidando da área principal do setor, deixando uma brecha.
***
Em um lugar próximo onde a luta ocorreu, na parte de fora da barreira, segurando uma besta de mana de 20 metros de altura, uma pessoa encapuzada sorriu levemente. Uma larga roupa de cor azulada, com detalhes prateados na parte dos ombros e braços, estava cobrindo todo o seu corpo.
— Está sendo exatamente como “ele” disse… Daqui a pouco vai ser a hora de começar… — murmurou a pessoa enquanto mantinha um sorriso assustador.
Logo após dizer essas palavras, ele descobriu uma parte de seu braço, levantou sua mão esquerda — da qual havia um anel cinza com uma pedra escura em sua ponta, no seu dedo médio — e a apontou para a enorme besta.
— [Guðlegt Rými] — entoou a pessoa, em uma língua quase que incompreensível.
E então a pedra roxa na ponta do anel brilhou e… FUSH!
De repente, a besta virou um tipo de pó e foi sugada para dentro do item. Se alguém olhasse para a situação, ninguém diria que havia um monstro no lugar até pouco tempo atrás.
Como se os preparativos estivessem prontos, a pessoa voltou a sorrir maliciosamente e caminhou em direção à entrada da barreira de Reinheit.
O seu destino já estava definido — o setor sul.