O Herói das Chamas - Capítulo 11
— Certeza que isso aí é um monstro? — perguntei, apontando para a coisa que estava vendo.
— Claro! Pelo modo de agir, só pode ser! — O homem respondeu.
Para ter certeza, observei aquilo mais uma vez.
Por mais que me esforçasse, só conseguia ver uma coisa: uma homem normal. Quer dizer, ele parecia ter a minha idade, era bem novinho, devia ser um adolescente, assim como eu.
O adolescente em questão estava deitado no chão, desmaiado. O cara parecia bem surrado, porque possuía vários hematomas pelo corpo.
— Cadê o monstro? — Abri um sorriso desdenhoso. — Só tô vendo um pobre coitado.
— Não se engane, amigo. Esse daí fez o maior estrago pelo local. — O homem do meu lado falou.
Realmente, todo o lugar se encontrava destruído, tanto o chão como as casas ao redor tinham buracos ou simplesmente tinham sua estrutura partida.
Pensando bem, que tipo de garoto faria tanto estrago? O mais provável seria realmente que fosse um bicho disfarçado, se isso fosse possível, claro.
Se fosse um monstro de verdade, a transformação dele em humano era bem útil, tipo uma camuflagem. De qualquer forma, eu não conseguia acreditar que ele era uma máquina assassina destruidora de cidades.
— Sabem de onde ele veio? — Eu precisava pegar algumas informações sobre o carinha.
— Não temos muita certeza. Testemunhas disseram que ele surgiu literalmente do chão, então verificamos os rastros.
— E então…?
— E então é que eles seguem até de uma vila de agritultores que manipulam a terra. Desconfiamos que era um deles, porém todos ali são bem fracos e descartáveis, então…
Beleza, não consegui descobrir coisa alguma, só que aquele mundo odiava agricultores por algum motivo aleatório, uma informação bem merda, né? Eu tinha que descobrir mais coisas, coisas úteis, de preferência.
— Ele tá desacordado, né? Por que não mataram logo? — Fiz uma pergunta esquisita se colocada fora de contexto, porém na hora tinha fundamento.
— Não dá. Toda vez que tentamos cortar… — Ele pegou uma pedra um pouco menor que a palma da sua mão e jogou em direção ao moleque desacordado.
VUM.
Antes mesmo que a pedra chegasse no menino, um rastro de pedra saiu do chão e bloqueou o ataque, como se o chão criasse um braço para o defender.
— …isso acontece. — Completou sua fala. — Conseguimos fazer ele desmaiar, mas nem eu sei como.
De fato, bem impressionante, mas já tinha visto aquilo em algum lugar.
Não tinha como pensar em algo diferente, era óbvio que a primeira coisa que viria à minha cabeça seria…
— Defesa Absoluta! É igual à do Gaara! Será que ele também é defendido pelo espírito da mãe? Que história linda este garoto deve ter! — gritei empolgado.
O cara do meu lado parecia confuso. — Hã? Enfim… como a gente pode resolver isso? Resolvemos chamar o Alexandre porque ele tem uma técnica de espada superior a de todos, até mesmo a do Haakon.
Que tipo de afronta era aquela? Como ele ousaria me subestimar em frente a todos? Detalhe que esqueci de mencionar: aquelas pessoas que me seguiam com os olhos estavam observando nossa conversa.
Estufei o peito com a respiração e engrossei a voz. — Não se preocupe, guerreiro, farei o trabalho sujo por você. Aliás, garoto, qual é o seu nome?
— Liam, senhor… — Ele parecia estar com vergonha alheia, mas ele não sabia com quem falava.
Sem mais delongas, com a cara séria, segurei o cabo da Roxium e a retirei da bainha. Com certeza ele estava pensando algo como: “Nossa, como a aura dele mudou”, ou algo assim.
Lentamente empunhei a espada, colocando-a acima da cabeça, pois faria um corte de cima para baixo, certeiro no pescoço da vítima.
Eu só precisava de calma. Alex tinha me ensinado três movimentos, então bastava seguir o que ele tinha feito, já que seu “ataque!” também foi de cima para baixo.
Vizualizei o alvo, não tinha como errar, afinal ele estava parado, seria ridículo se acontecesse, logo não poderia me dar ao luxo.
Afastei a perna direita para trás, flexionei um pouco os joelhos e respirei fundo. Um corte direto, era isso que precisava.
Em um instante fiz o movimento.
Já esperava que viesse a defesa de pedra, então coloquei toda a força que tinha para que cortasse a defesa absoluta dele.
Faltavam alguns centímetros para o contato, e um sorriso e abriu em meu rosto, minha vitória era certa.
PAH!
A espada bateu contra a defesa, uma parte do plano havia sido completa, só faltava cortar, né? Sim, só faltou isso.
Em vez de cortar o “braço” de pedra, a espada foi ricocheteada para trás e ficou acima da minha cabeça novamente, no entanto a força foi tão grande que me jogou para trás também.
Merda.
Tinha certeza de que iria bater a cabeça no chão e ter um traumatismo craniano. Fechei meus olhos, esperando pelo impacto.
Só que eu não bati a cabeça, nem finalizei o movimento de queda, só estava parado no ar. Aquilo foi bem confuso, ainda mais porque, assim que soltei a espada, caí no chão.
Levantei e virei de costas.
Lá vi a Roxium cravada no chão, aquele fato explicava tudo, eu estava suspenso no ar porque ela estava servindo de apoio.
Fiquei feliz de não ter me machucado, mas…
— PFFFT! AHAHAHAHAHAHA QUE TÉCNICA DE MERDA, HEIN? — gritava Liam, enquanto lágrimas saltavam dos olhos. Ele devia estar achando muito engraçado.
Todos os aventureiros que observavam a conversa também caíram na gargalhada, esperavam algo épico, mas foi mais deprimente.
Rapidamente fui até a Roxium para tirá-la de lá antes que ficasse ainda mais vergonhoso.
As veias saltavam dos meus braços, e meu rosto ficava vermelho a cada segundo que passava, mas ainda assim a espada nem se mexeu.
— Não dá para tirar! — falei depois de desistir.
A mão do aventureiro veio até meu ombro. — Relaxa. Depois eu te ensino a como usar uma espada. Inclusive, por que não usou sua magia?
— É que… Se eu usasse aqui, iria explodir todos aqui de tão forte. — Tentei esconder as mãos trêmulas atrás do corpo, porque elas entregavam quando mentia.
— Bom, não conseguir controlar o próprio poder é o contrário de forte, né? — As suas palavras atingiram meu coração como uma flecha. Fiquei magoado.
— Não é culpa minha que a pedra se mexe sozinha para defender ele. — Naquela situação, me fazer de vítima seria bem ridículo, todavia era claro que inventaria uma desculpa.
— Isso não existe, um fenômeno desses só acontece com alguém controlando, pare de inventar desculpas. Um herói deveria ser capaz de acabar com isso aí — Ele destruiu minha argumentação jogando a responsabilidade para cima de mim.
Sendo assim…
Limpei a garganta com pequenas tossidas. — Mudemos de assunto. Como vamos fazer pra eliminar o monstro? Acho que já ficou claro que não consigo…
Por mais que eu fingisse estar tranquilo algo não estava certo. No fundo, sabia que não.
Liam coçava sua cabeça. — É que você é o Herói aqui, então esperávamos que tivesse a solução. De qualquer jeito, o monstro está desacordado, ainda há tempo para pensar.
Minha respiração ficava cada vez mais ofegante, enquanto o suor escorria por todo o corpo. Estava mais fraco, então me agachei para descansar um pouco, de costas para Liam.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntou, percebendo o incômodo.
— Você disse que só dá pra acontecer isso se tiver alguém controlando, né?
Ele ficou em silêncio, talvez esperasse uma conclusão da minha parte.
Haviam muitas vozes, os aventureiros, cerca de quinze, conversavam entre si e até mesmo sozinhos. Era uma forma de passar o tempo, talvez. Eles já estavam ali havia um bom tempo.
Tirei alguns segundos para relaxar um pouco a mente, só que era impossível.
Não conseguia parar de pensar naquela situação. Era intrigante tudo o que estava ocorrendo, afinal por que ele era defendido pelo rastro? E por que tinha forma humana?
Olhei para o chão, que abrigava uma pequena pedra, a qual, por algum motivo, saltitava, parecia inquieta por algum motivo, no entanto não conseguia identificar o porquê.
“É isso!”
Me virei rapidamente, desesperado, pois, naquele meio tempo, já tinha encontrado a resposta.
— Liam! Ele não está desm… — Não consegui terminar a frase. Fui surpreendido por algo pior.
Um homem… Não, uma criatura enorme, estava logo atrás do aventureiro.
Tinha uns sete metros, e seu corpo era feito de várias rochas. Tinha a forma humana, mas com certeza não era um de nós, era simplesmente absurdo.
Aquela criatura possuía um rosto, que apontava para Liam, com um olhar assassino, enquanto levantava seu pé direito aos poucos. Era óbvio o que aconteceria ali, ele seria pisoteado.
— A-a-atrá…
Porém, mesmo que eu quisesse ajudar em algo, meu corpo simplesmente estava paralisado em medo. Não conseguia soltar uma palavra sequer.
Todo o meu corpo tremia, as pílulas estavam inquietas. Eu só queria fugir daquele lugar o mais rápido possível.
— O que foi? Por que está tão assustado?! — Para piorar, o desgraçados não percebeu os sinais e continuava de costas para a criatura.
Juntei todo o restante de coragem para levantar o braço e apontar para frente. E, seguindo a direção que eu disse, Liam finalmente olhou para trás.
Não pude enxergar sua reação completa, pois o rosto não estava no meu campo de visão, no entanto estava óbvio seu desespero quando perdeu o equilíbrio enquanto observava a criatura.
Assim que o pé dela alcançou o pico, começou a abaixar rapidamente na direção de Liam. O aventureiro só pôde observar, sem reação.
Eu sabia o que iria acontecer, sabia que tinha pouco tempo, mas, ainda assim, minhas pernas não se moviam. Talvez por não saber reagir em situações como aquela, mas com certeza pelo medo.
“Por quanto tempo vai viver assim? Porra! Se mexe!”
Em um pico de energia, pulei em direção ao meu recente amigo, o que tirou ele da direção do pisão, mas fiquei em seu lugar.
O pé da criatura já estava a poucos metros acima de mim, não havia chance de escapar.
— Cuidado! — gritou alguém atrás de mim.
Uma rajada de vento foi até o monstro e o desequilibrou, então teve que usar o pé, que me esmagaria, para apoiar seu corpo.
Um cavaleiro veio até mim. — Está tudo bem com o senhor? O jeito que o senhor Liam foi salvo pareceu simplesmente épico! — Ele deu um joinha.
— Valeu — disse enquanto me levantava, confesso que ainda estava um pouco em choque.
Liam também já havia assumido a postura de batalha, mas ainda consehuiu um tempo para se desculpar: — Foi mal, aquilo me pegou desprevenido, mas sem “mas”, temos que derrotar o monstro. — Nem deu tempo para aceitar suas desculpas.
— Certo. — Enquanto eu dizia isso, mais alguns cavaleiros, que carregavam espada e escudo, vieram à frente de batalha.
Com todos aqueles homens, tudo parecia resolvido, afinal número era poder naquela situação, então óbvio que fiquei feliz.
Só que não foi bem assim…
— Monstro?! — A voz grossa e carregada da criatura nos trouxe de volta à realidade. — É isso que falam de mim e do meu povo?! Vermes que não sabem o que é o sofrimento não têm o direito de julgar alguém!
Todos os aventureiros no local evidentemente ficaram mais cautelosos ao ouvir a frase. Com certeza a convicção de suas palavras havia os feito tremerem.
— Porra… Desde quando monstros tem consciência? — disse um cavaleiro, assustado.
Os olhar do amontoado de pedras se virou para o homem que havia dito aquilo, e, em um único movimento, seus punhos viajaram até ele.
Com seu escudo, o guerreiro defendeu o ataque, e assim outras pessoas que estavam no local também avançaram contra o golem em sua frente.
Enquanto a maioria ali corria para cima ou até mesmo não conseguia sair do lugar, por algum motivo, minha mente viajava, lembrando dessas mesmas palavras, que uma hora foram pronunciadas tempos antes.