O Herói das Chamas - Capítulo 12
Não deu tempo para pensar demais, afinal a batalha ainda continuava a todo vapor.
O golem avançou novamente em nossa direção, sua aura emanava completo ódio. Só de encará-lo, ficava todo arrepiado.
Liam, com sua arma, que parecia uma lança misturada com um machado, não ficou para trás e pulou rireto na criatura, sem medo.
Ele virou sua lâmina para baixo e a moveu para cima de repente. O gigante foi jogado para trás, mas sequer mostrou que sentiu algo.
Que tipo de monstro era aquele? Tinha forma humana, forma golem e nem sentia dor? Como caralhos eu venceria um oponente daqueles? É roubado até demais!
O guerreiro, ao ver que seu ataque não teve resultado algum, recuou imediatamente.
— É a mesma coisa de antes — disse ele, chegando ao meu lado. — Ele sequer se mexe ao ser atingido! Da última vez a gente ficou duas noites lutando para cansá-lo…
Eu só podia observar todos aqueles guerreiros, que se juntaram para lutar contra o inimigo. Os pés da criatura eram constantemente atacados por eles.
No entanto, ficava claro que eles não conseguiam causar danos nele. O cara praticamente não se mexia.
A situação mudou quando um guerreiro, que parecia um templário, com um gigante martelo, atacou o golem.
Ele abriu sua boca, mostrando seus dentes e rugindo mais alto que meus ouvidos podiam suportar, o que era a coisa mais assustadora que tinha visto na vida. Com certeza ele tinha sentido o ataque.
Fiquei feliz por um momento, afinal tinha uma forma de derrotar ele, todavia era óbvio que ele não facilitaria nossa vida.
Todo o chão começou a tremer, e rachaduras se espalharam. O chão abria, e ficar em pé era cada vez mais difícil, todos os guerreiros acabaram caindo no chão, pois acabaram caindo nas fendas.
Enquanto todos falhavam ao tentar se reerguer, o golem gargalhava. Era um entretenimento e tanto para ele.
Eu encarava tudo aquilo em silêncio. Não tinha o que fazer, ele estava brincando conosco, como se não fossemos nada.
O suor escorria pelo meu corpo, e eu sentia uma dor de cabeça cada vez maior à medida que o tempo passava. Ao mesmo tempo que isso acontecia, minha respiração ficava cada vez mais ofegante.
Pensa em algo, porra!
Bom, eu acabei pensando, mas definitivamente não era o melhor plano.
Fiquei de pé, coloquei a mão na testa e falei com pesar: — Oh não! Minha espada está à solta, do lado da enorme besta! Ela é a mais forte do mundo e guarda a maior parte do meu poder! Por favor, ninguém pegue!
— O que está falando? É burro, por acaso? — Liam me reeprendeu.
Para quem não se lembra, qualquer pessoa que possua mana morre ao segurar minha espada se ela não estiver na bainha, logo, se o otário pegasse a espada, ele iria de base.
E, como eu esperava, o cara foi direto atrás da espada. Ela estava bem perto dele, então o plano ficava mais fácil de se concluir, nem precisava andar muito para pegar.
No momento em que segurou a Roxium, a retirou facilmente do chão. Era clara a diferença de bênção entre nossas forças. Passei vários minutos tentando tirar ela do lugar e só consegui vergonha, já ele fez como se não fosse nada.
Porém existia uma diferença entre nós. Eu não me tremia todo quando pegava a espada na mão.
Ao mesmo tempo que isso acontecia, algumas pedras caíam do seu corpo. Ele ia se desmanchando com o passar dos segundos.
O tremor no chão parou, o que fez com que os aventureiros levantassem do chão e entrassem na batalha novamente. Em compensação, o golem caiu, soltando a Roxium e sendo quebrado por completo.
— Caraca! Não sei que tipo de uso de magia é esse, mas foi genial! — bradou Liam.
— Né? Eu merecia um elogio desses. — Um sorriso surgiu em meu rosto.
Na verdade, a armadilha foi sugestiva ao extremo. Normalmente alguém não teria caído naquilo. Percebi que nós dois éramos burros. Eu por não conseguir pensar em algo decente e ele por cair que nem pato.
Independente de ter o golem caído ou não, todos se mantiveram cautelosos. Aquele cara já tinha dado vários sustos só naquele dia, então todo cuidado era pouco.
Os soldados se aproximavam lentamente, prontos para atacar caso qualquer coisa acontecesse.
Ao mesmo tempo, quando viu a Roxium caída no chão, um dos guerreiros se abaixou para pegá-la.
— Pega isso, não, cu de pato! — gritei, desesperado.
— Oh, perdão — respondeu ele, pondo suas mãos para cima. Talvez se sentisse um pouco culpado.
Senti um remorso gigantesco, afinal ele só queria ajudar e eu ainda ofendi ele. Me senti o pior ser humano da história.
— De boa… É só que eu ainda não tirei o encantamento dela, saca? — Neste momento, já tinha abaixado o tom de voz.
Em um instante peguei minha espada e a coloquei na bainha, que ficava nas minhas costas. Não era muito produtivo em combate, mas era bem maneiro deixar ela lá.
Quando virei minha atenção ao golem, vi apenas um conjunto de pedras espalhadas. Algumas eram grandes, outras pequenas.
Ao revirarem os restos daquela coisa, os aventureiros acharam o garoto no meio deles. Era um pouco assustador ele estar praticamente intacto depois de tanta porradaria descontrolada.
Tudo indicava que ele era um monstro que virava um garoto e ainda tinha consciência. Como seria matar um desse tipo? Eles parecem bem humanos, afinal.
Sem perder tempo, prenderam o moleque com umas algemas. Naquele ponto, não sei se adiantaria muito, afinal ele tirou aquele bicho gigante do nada só arrancando pedras do chão.
Suas vestes estavam parcialmente rasgadas, por causa disso, consegui ver parte da sua pele. Ela estava cheia de marcas, como veias, que partiam da mão ao peito.
Não tive certeza, mas, pelo menos vendo tudo o que tinha acontecido, raciocinei que provavelmente as marcas foram feitas pela espada. Era assustador, ele pegou nela por alguns segundos e fez um estrago enorme. Imagina se ficasse mais tempo.
Colocaram o moleque de joelhos, segurando seus braços para que não caísse, afinal, assim como da última vez que foi visto, estava desmaiado. Parecia eu, que a cada dois capítulos desmaiava.
Mas, aparentemente, tudo estava tranquilo naquele momento. O pior já havia passado quando o golem caiu.
Ou era o que esperávamos.
— Más notícias, senhor! — Um adolescente, provavelmente aventureiro também, foi correndo na direção de Liam. Parecia que ele era o comandante da missão. — Tem algo que o senhor precisa ver.
— Hã?! O que aconteceu?
— Senhor… por favor, me siga. — O garoto estava ofegante.
Assim que escutou aquilo, Liam saiu correndo, acompanhando o moleque. Quanto a mim, fiquei preso ao chão, sem saber o que fazer.
Só pude andar um pouco e encostar as costas em uma parede que vi. Eu precisava descansar um pouco, mesmo que não tivesse feito muito esforço.
Coloquei as mãos na cabeça, fechei os olhos e relaxei por alguns segundos.
— Hahahahah! Demoraram para perceber, hein? — Alguém parecia bem animado.
Abri apenas um olho, procurando quem havia falado aquilo. Quando achei, apenas o repreendi: — Perceberam o quê? Só cala a boca.
A pessoa em questão era o garoto preso. O mesmo garoto que tinha virado um golem e havia tentado matar todos, por isso suas palavras já não tinham mais importância para mim.
Ele abriu um sorriso assustador. — Pois bem… continue ignorando. De qualquer forma, eu posso sobreviver ao que vai vir, mas e vocês?
O clima ficou mais sério. Óbvio que ele estava tramando algo, então larguei a postura relaxada que tinha assumido.
Fui até ele, com passos lentos e firmes e a cabeça abaixada.
Assim que cheguei e fiquei frente a frente com o garoto, elevei meu olhar até o seu. Confesso que naquele momento eu sentia muito medo, mas também possuía um resquício de coragem, que me fez sair do local que estava.
Firmei todo o meu corpo, tentando parecer um pouco mais confiante, e falei: — O que está dizendo? O que é que vai vir?
Ele só começou a gargalhar sem parar.
Me aproximei um pouco e abaixei o corpo, o encarando cada vez mais perto.
— S-senhor! Por favor, não chegue tão perto! — disse o guarda que estava o segurando.
Segurei o garoto pela gola de sua camisa e o puxei de uma só vez. Em resposta, ele parou de sorrir e ficou assustado. Com certeza não esperava aquilo.
— Me fala logo, moleque. — Me mantive sério ao falar.
E mais uma vez, mesmo acorrentado, o cara abriu um sorriso descarado, como se fosse um desafio.
— Por que não pergunta para o seu amigo, que está vindo aí? — Assim que ele falou aquilo, me virei e vi Liam chegando.
Liam estava horrorizado, seu rosto pálido e suas pupilas trêmulas denunciavam isso. Parecia ter visto um fantasma.
— Bartolomeu, acho que não dá mais para vencer… — Nem sua voz expressava a mesma confiança de antes.
— Hã?! Por quê?
— A cidade… a cidade inteira está voando…
Não deu para pensar muito e já saí correndo até a entrada da cidade, entrada pela qual passei com a carruagem.
Enquanto corria, não podia acreditar naquela informação absurda, ou melhor, não queria.
No momento em que cheguei, constatei o que tinha acontecido. Foi assustador.
— Arf… Arf… Não falei!? — disse Liam, que tinha me acompanhado esse tempo.
Em passos pequenos e trêmulos, cheguei na ponta da cidade. Era como se ela tivesse sido arrancada do chão.
Estávamos, no mínimo, a cem metros do chão e subindo rapidamente. Como aquele garoto conseguia fazer aquilo?
Aos poucos eu entrava em desespero e minha respiração ficava mais ofegante. Era impossível sair daquela situação que fomos colocados.
Enquanto a cidade ascendia aos céus, nossa esperança descia a sete palmos abaixo do chão.