O Herói das Chamas - Capítulo 13
Suor encharcava meu rosto, minhas pupilas tremiam, e eu não parava quieto. Até mesmo a minha respiração estava ofegante.
A cada segundo que passava, a cidade subia cada vez mais e mais. Eu não sabia o que fazer, somente encarava aquela situação em silêncio absoluto.
Estávamos a uma altura que, caso caíssemos, a morte era certa.
— O que vamos fazer?! — Liam me encarava horrorizado.
Meu corpo, que antes tremia, relaxou totalmente. Abaixei minha cabeça e tomei um pouco de ar, deixando meu rosto sério. — Não sei.
— Como assim?! Você tem que pensar em algo! Nós contamos com você! — disse, segurando meus ombros e me balançando.
Pela minha cabeça só passava pensamentos negativos. Naquele ponto, já tinha aceitado que não havia escapatória, mas, diferente das outras vezes em que isso aconteceu, havia mais vidas em risco.
Não conseguia pensar em nada além de fugir, mas para onde? Aquilo havia se tornado uma ilha flutuante, não tinha como sair.
Quando levantei minha cabeça, vi todos me encarando fixamente, esperando uma resposta minha. Não estava aguentando todos me colocando em pressão.
“Não. Eu não consigo fazer isso”, pensava ao olhar para eles. Eu desviava o olhar, rejeitando-os completamente.
Só que, ao olhar de canto de olho, vi suas expressões esperançosas, como se dissessem “por favor, não tem outra pessoa para fazer isso”, e isso me machucava por dentro.
Parei para pensar um pouco. Se enfrentasse o moleque cara a cara, perderia feio, porém, se implorasse, talvez tivesse uma chance. Só podia ser desta forma.
Inspirei e expirei profundamente. — Tá, eu vou lá. — Fingia que tudo aquilo era normal, mas me arrependi de ter aceitado poucos segundos depois.
Os aventureiros começaram a comemorar e gritar. Sorriam e se abraçavam sem parar. Achei aquilo um exagero, mas fazer o que.
Dei as costas para eles e fui em direção ao moleque. Ao mesmo tempo, vi que alguns curiosos tentavam me seguir para ver o desfecho da luta que teria.
— Todos fiquem abrigados. Vai ser melhor se ninguém morrer por culpa minha — disse, com uma aura medonha. Quer dizer, ao menos tentei passar isso.
Imediatamente os guerreiros voltaram para o portão principal e se instalaram lá, os que estavam vigiando o garoto também correram para ficarem seguros.
— Vai lá, Herói! — falou um dos que estavam correndo para o “refúgio”, e assim fizeram vários outros, que passavam e mandavam uma frase motivacional. Não que isso ajudasse.
Eu estava preso em um loop quase infinito, o mundo parecia câmera lenta. O primeiro passo já havia sido dado, que era aceitar a responsabilidade, mas e depois? Como eu iria derrotar o garoto e ainda deixar todos vivos?
A realidade veio à mim novamente, pois já estava frente a frente com o garoto.
Ele me olhou com uma cara séria e falou: — O que veio fazer aqui? Vai me matar enquanto estou preso?
Fiquei em silêncio. Não havia decidido o que fazer ainda.
“É isso!”
Afastei o pé direito para trás. No mesmo instante, o adolescente fez força e arrebentou a algema facilmente. Nem parecia que estava preso.
— É isso aí! Finalmente assumiu uma postura de combate! Vem pra cima! — gritou ele.
Completando o movimento, caí de joelhos e encostei a cara no chão. — Por favor, senhor, pare o que está fazendo e nos deixe vivos. — Só me restava implorar.
Ele ficou um pouco confuso, acho que não sabia o que fazer.
Seus olhos encheram de brilho, e ele parecia surpreso de alguma forma. Mas, além disso, parecia feliz. Ao ver isso, me enchi de esperança.
— Não — falou na minha cara.
Não funcionou.
Me levantei aos poucos, dando tapinhas nas minhas roupas para tirar a sujeira. — Qual o seu nome, amigo?
— É Adam. — Ficou perplexo com a pergunta que veio do nada, mas ainda assim respondeu.
— Vai tomar no cu, Adam. Aliás, que nome de merda.
Ele ficou estressado e gritou: — Vai tomar no cu você! Nem sei seu nome, mas deve ser horrível!
— Não, eu disse primeiro.
— E eu disse por último! — exclamou, apontando o dedo na minha direção.
Que moleque esperto.
— Seguinte, Adam… eu vim namoral e tu não aceitou. Acho que prefere que seja do jeito difícil, hein?
— Jeito difícil? — Seu rosto se encheu de ódio. — Não venha falar sobre isso, afinal você sabia de tudo o que acontecia com a minha gente. Eu não poderia deixar tudo passar facilmente.
— O que aconteceu? — perguntei. Naquele ponto, também já estava preparado para atacar.
Sem me dar uma resposta, ele avançou com um soco, porém não um soco comum, pois ele revestiu seu braço inteiro com pedras. O maluco parecia o Coisa, do Quarteto Fantástico.
Esperei até o último momento e desviei para o lado direito rapidamente, só que um de seus socos veio do chão e acertou em cheio na cara, me fazendo voar alguns metros.
Não tinha sido tão forte, mas foi o suficiente para me deixar ainda mais em alerta.
Mais uma vez ele veio, mas desta vez com um chute. Desviei com o maior pulo que pude dar para trás.
E, de novo, outro ataque vindo do chão. Estava relativamente lento, então consegui sair do caminho de novo.
Ele continuava usando a mesma estratégia, e eu continuava desviando de tudo. Meus movimentos estavam lentos, pois era difícil se concentrar em duas coisas ao mesmo tempo: desviar e minha carta na manga.
Quanto mais tempo passava, mais ele cobria seu corpo com as rochas. Isso me fazia entrar em um pouco mais de desespero, porque não haveria pontos fracos caso ele ficasse igual a última vez, um gigante de pedra.
O fluxo de seus avanços era intenso. No entanto, do mais absoluto nada, ele parou de atacar e me observou por alguns segundos.
— A sua espada é a do tipo que acompanha a mana? Ela está brilhando. Qual é o seu truque? — A cada frase que fazia, ofegava cada vez mais e mais.
Eu fiquei em silêncio. Não sabia que a Roxium dedurava todo o meu plano. Ainda bem que Adam não tinha percebido.
— Que seja! Me ataque logo! — Ele continuava falando sozinho, pois eu pensava em outras coisas, mesmo que estivesse com o olhar fixado no meu oponente.
Desde o dia em que havia lutado contra aquela planta, pensava no porquê de ter explodido daquela forma ridícula. Quando parei para raciocinar, ficou óbvio que eu não conseguia controlar a espada corretamente.
Mas já que o Alex não me deixava usá-la no treinamento, então fiquei só na teoria, mesmo. Imaginava a cena várias vezes antes de dormir.
“Será que vai dar certo? Nunca foi testado antes…”, pensei após imaginar alguns possíveis desfechos para a luta. Na maioria deles eu perdia.
Respirei fundo e segurei minha espada mais forte.
— Não sei o que aconteceu com o seu pessoal para você querer matar todo mundo, mas…
Eu só conseguia lembrar da ameaça do Alex, que disse que me mataria caso deixasse alguém morrer. Na hora eu achei exagerado, mas, pensando agora, eu provavelmente não me perdoaria caso acontecesse.
— …eu também tenho quem proteger. Sabe por quê? Porque isso significa ser o Herói das Chamas.
Me concentrei o máximo que pude e criei a imagem mental do ataque que iria fazer, utilizando a mana da Roxium para realizá-lo.
“Perdão, Alex. Sei que você não gostaria que eu fizesse isso, mas…”
A imagem da mana fluindo por toda a espada surgiu, só que não cheguei a deixar a espada em chamas.
Antes eu não entendia, mas naquele momento meus erros já estavam claros para mim. Concentrar todo o poder na lâmina da espada só faria ela se explodir sem mais nem menos, por isso não cheguei a deixar ela pegando fogo.
— Hahahaha! “Isso significa ser o Herói das Chamas”! Isso parece até uma frase de efeito — falou, gargalhando.
— Porque é, burro — respondi seriamente.
Ele parecia estar com mais raiva do que antes. Óbvio, né? Não parava de vacilar.
Eu estava esperando que ele atacasse, só que isso não aconteceu. Ainda que tirasse ele do sério, Adam não saía do lugar de jeito nenhum. Até que decidi tomar uma atitude por conta própria.
Saí correndo na direção do meu adversário e preparei um corte horizontal da direita para a esquerda. No exato momento em que o realizei, ele pulou para trás, mas não adiantou.
No momento do corte, inflamei minha lâmina, o que fez com o corte pegasse em cheio. O garoto das pedras começou a sangrar feio.
Abri um longo sorriso. — Que foi? Tá quente aí? — As palmas das minhas mãos foram queimadas, mas a sensação de ter acertado um otário valia a pena.
Todavia, ele pareceu não ter se abalado, porque logo deu um soco na minha costela, que com certeza trincou de leve.
A sensação era a mesma de ser esfaqueado — mesmo que eu nunca tivesse sentido isso antes —, uma dor aguda e intensa. Não pude fazer nada além de cair no chão gritando de dor.
Nem consegui respirar, o desgraçado veio com um soco na minha cabeça.
Até que tentei proteger com os braços, mas, por causa da pancada fortíssima, recebi o soco diretamente e bati a cabeça chão.
Comecei a me arrastar, porém não consegui, porque a consciência ia e voltava a todo momento.
Adam levantou seu pé e ameaçou um pisão.
Com as poucas forças que me restavam, rolei para o lado e me levantei de uma só vez e dei um chute dele, o que só o afastou um pouco.
Arf… Arf…
Respirar estava cada vez mais doloroso, e deixar meus olhos abertos não era mais uma tarefa fácil, porém não tinha outro jeito. Era matar ou morrer.
— Por que você continua levantando? Não vê que está completamente desbalanceado? — perguntou ele.
— Arf… Arf… Quer mesmo saber?
— Claro que sim, se eu perguntei, é porque quero saber.
— Pra comer o cu de curioso — falei com uma cara seríssima.
O garoto entrou em sua postura de combate, e o chão começou a tremer. Mais uma vez ele estava putinho. Aquilo foi muito engraçado para mim, mas parei de brincar quando ele abriu sua boca.
— Quando criança, queria ser um herói, mas vejo que são apenas uns brincalhões que ignoram os problemas de todos. Diga-me, grande herói, onde estava quando mataram minha família a sangue frio?
Fiquei sem silêncio. Mesno que não tivesse nada a ver com aquilo, me senti mais culpado do que deveria.
Adam continuou: — Mas isso não importa mais. Vou te matar e matar qualquer um que se opuser a mim.
— Matar, matar e matar… Se as coisas se resolvessem depois da morte de alguém, você não estaria aqui.
Ele cerrou seus punhos e inclinou sem corpo na minha direção. — Não fale como se soubesse do que está falando!
— É… talvez eu não saiba — falei um pouco cabisbaixo.
Com algumas costelas quebradas, energia em falta e sem ar, sentia que a luta finalmente iria começar. Não conseguia disfarçar meu medo.
Que cara assustador.