O Herói das Chamas - Capítulo 14
O ambiente feroz me assustava completamente. Minha visão estava um pouco turva, enquanto eu me esforçava ao máximo para manter as pernas firmes.
O rosto do meu oponente se fechou completamente, somente sua aura já me fazia querer recuar. Quer dizer, eu não conseguia ver a aura dele, nem sei se isso existe, mas com certeza era algo parecido com isso.
Ficar parado não vai adiantar nada, né? Eu tenho que avançar contra esse porrinha!
Respirei fundo e logo tive que preparar um ataque com a Roxium.
Ao perceber isso, meu oponente logo revestiu seus punhos com rochas que vieram do chão. Isso acabou deixando seus braços parecidos com um martelo.
Segurei o cabo da espada com as duas mãos com força. Não dava para deixar cair de novo, não conseguiria juntar se acontecesse. Com as mãos firmes, estava pronto pra ir em frente.
Só que não importava o quanto olhasse, não dava para ver nenhuma abertura sequer. A sua postura era praticamente perfeita! Tudo bem que eu era o mais leigo pra falar disso, mas ao menos a postura parecia legal.
Fiquei alguns segundos pensando numa estratégia decente. Talvez um ataque de cima para baixo? Não, ele defenderia com um braço e atacaria com o outro. Uma estocada? Nem, minha espada nem servia pra isso.
Então que tipo de ataque eu faria? Não entendia nada de espada, logo minhas opções eram bem limitadas comparadas a um mestre espadachim.
Minha aflição crescia a todo instante em que eu demorava.
— Não vai fazer nada? Quer passar o dia olhando? — disse Adam.
Calma aí, rapaz. Não vê que estou pensando um pouco? Enfim, tinha que ter um jeito.
— Hmpt! Que seja! Eu mesmo vou até aí! — continuou, com passos longos e pesados, tão pesados que faziam o chão tremer.
Sinceramente não esperava aquilo. Antes eu tinha tempo de pensar, mas agora o cara estava vindo na minha direção e chegaria em poucos segundos. Eu tinha que pensar em algo, e rápido!
Mas era óbvio que eu e minha mente de símio não conseguimos pensar em algo. O cara já estava praticamente em cima de mim quando voltei à realidade.
Ele moveu seu punho para trás, armando um soco, e assim o fez. Ele veio diretamente ao meu rosto.
Praticamente só no reflexo, coloquei o fio da espada contra o soco, tentando desviar ele, mas só consegui ser jogado para trás enquanto arrastava os pés.
Calma lá, eu tenho que…
O desgraçado nem deu tempo de terminar a narração! Veio direto com outro soco, desta vez com a mão esquerda.
Por pouco consegui desviar de novo.
Após dar o soco no nada, o garoto, com dificuldades, conseguiu sustentar seu braço novamente. É claro! Como um garoto magrelo sustentaria aquelas rochas enormes? Parece até que é burro.
Dei um salto para trás para não ser pego de surpresa de novo.
Não importava o quanto desviasse, ele continuaria atacando até me matar. Estava óbvio para nós dois que o primeiro a cair seria o perdedor. E eu era o mais perto de acabar perdendo.
Não tinha o que fazer. O ar estava cada vez mais rarefeito, cada vez que inspirava era como se rasgasse tudo por dentro. Que dor! Consequentemente, ficava mais cansado em pouquíssimo tempo.
De alguma forma, acho que o treinamento infernal que tive adiantou um pouco. Lembro que subia uma montanha carregando um peso desgraçado, então eu conhecia um pouco da sensação de ficar sem ar. Se não fosse por aquele tempo, talvez já estivesse caído duro no chão.
Se bem que fugi várias vezes enquanto ninguém estava olhando, isso diminuiu muito a eficiência daquele pouco tempo que treinei. Droga, se tivesse aproveitado um pouco mais, não estaria dessa forma, quase no fim.
Merda! Não é hora pra pensar nisso. Tem um cara muito forte na minha frente, e muitas pessoas torcendo por mim.
Não morreria em paz sabendo que levei tantos comigo. Inocentes não têm culpa da minha incompetência.
Saí da minha postura de combate e assumi uma mais tranquila, deixando a coluna reta e o peito levemente para fora. Vi em um canal no YouTube que isso demonstrava confiança.
— Adam, me matar não vai adiantar nada. Você me acerta fatalmente e eu morro. Acabou? Acha que vai ser fácil assim? — Tentava ficar o mais tranquilo possível, mas minha atenção estava à mil. Esperava que ele atacasse a qualquer momento.
O moleque ficou parado por alguns segundos.
Parecia que ele estava mais calmo, então usei um pouco desse tempo pra tomar um pouco mais de fôlego, mas sem demonstrar isso, claro. Era doloroso, mas não podia demonstrar fraqueza.
Ele estava de costas para mim, só que aos poucos foi se virando. Em toda minha vida, nunca acharia que sentiria tanto medo quanto senti alguns segundos depois.
Seus olhos foram de encontro aos meus. A expressão carregada do Adam expulsava a minha alma do corpo, quase que literalmente.
Com seu olhar coberto por fúria, disse: — O que quer dizer com isso?!
Inconscientemente, recuei um pouco. Os sentimentos dele estavam à flor da pele. O perigo de falar algo errado poderia custar a minha cabeça. Tinha que tomar cuidado com as palavras.
— Guh… É que… — Não sabia muito bem o que falar.
Porém ele me cortou antes que eu pudesse pensar em algo. — Durante toda a minha vida, sempre fui oprimido. Nunca tive a chance de provar do que era capaz… então por que deveria ter piedade de vocês? — Sua pergunta me pegou de jeito.
Qualquer um pode inventar uma história triste. Seja para um fim bom ou não. De qualquer forma, uma dessas não me comovia havia tempos. Só que, lá no fundo, lá no fundo mesmo, eu sentia que precisava ajudar a pessoa na minha frente.
Me disseram para matá-lo, pará-lo ou qualquer coisa. Mas é tão justo chamá-lo de monstro em situações como essa? Não sei se continuava idiota demais, só que eu não poderia deixar tudo daquela forma.
— Não devia. — Ainda sério, ele parecia confuso depois de ouvir a primeira parte da resposta. — Você, mais do que ninguém, deve saber o valor da vida.
— Aonde quer chegar?
— Se eu morrer aqui, assim como os outros, você acha que não terão consequências? Outros heróis vão saber e vão atrás de você.
— AHAHAHAHAHA ISSO POR ACASO É UMA AMEAÇA? — Até a risada do maluco é assustadora.
— Não, mas acha que quer mesmo desperdiçar sua vida?
Pode parecer que estou arregando ao apelar para algo desse tipo. E, sim, estou. Só que entenda a minha situação, afinal até poderia usar todo o poder de uma vez, mas do que ia adiantar? Já que se ele fosse pro brejo, todos nós iríamos com ele.
Eu tenho que dar um jeito de convencê-lo a parar, senão vai dar ruim.
Aaarrghh! Que merda! Eu quero fugir! Por que essa responsabilidade tem que vir logo pra mim? Eu não sou herói de ninguém caramba!
“Por que não vai embora logo?” Você, jovem mais lentinho, me pergunta. Simples, quem, em sã consciência, pularia de uma altura superior a de um arranha-céu?
Ele continuava me encarando, sem uma resposta, até que, depois de um tempo, simplesmente disse:
— Eu não tenho uma vida há tempos. Não tem o que eu jogar fora.
Maldito! Como é que eu posso convencer alguém que já perdeu tudo? Esse moleque está mais ferrado que eu.
Ambos estavam parados, tanto eu, quanto ele. Eu esperava um ataque, seja verbal ou não. Já ele… Bo m, não sabia o que ele queria de fato.
— Contar sua história para um desconhecido, esperar tanto tempo assim mesmo tendo a oportunidade de finalizar a luta… Isso é bem suspeito. Definitivamente não é o comportamento comum de alguém que busca por vingança ou algo assim, né? — Falei, me aproximando um pouco, enquanto Adam deu um passo para trás.
— O que quer dizer com isso?
— Quero dizer que não está tão convicto do que quer fazer, ué.
— Claro que estou! — E mais uma vez estava irritado. Era minha deixa.
— Irritabilidade, necessidade de aprovação e indecisão… Entendo, é apenas uma criança, né? No fundo, não sabe nada do mundo.
— CALA A BOCA! VOCÊ NÃO SABE DE NADA! — disse, colocando a palma da mão no solo.
Três espinhos gigantescos surgiram, vindo em minha direção, de baixo para cima. Por isso, pulei para o lado de uma só vez.
Um deles acabou pegando de raspão no meu braço esquerdo, que começou a sangrar um pouco. Acho que não tive uma reação tão rápida assim. Provavelmente por causa da caralhada de danos que levei anteriormente.
Em um instante, o garoto veio correndo até mim e veio com um soco cruzado de esquerda.
Que cara chato! Não dá nem tempo pra respirar um pouco. Que vontade de meter uns tapas nele! Óbvio que não consigo, mas deu vontade.
Recuei rapidamente, só que acabei batendo as costas numa parede, o que me impediu de realmente escapar do seu golpe.
Com um direto na minha cara, ele atacou. Só que apenas encontrou a parede, que foi perfurada com APENAS UM SOCO! Porra, eu não-ironicanente pensei na possibilidade de estar lutando contra o Saitama.
Desviei no último segundo, me agachando e saindo de lá. Não dava pra ficar perto de alguém que FUROU UMA PAREDE COM A MÃO.
— POR QUE NÃO ATACA, HEIN? — disse.
Sendo sincero, existiam muitos motivos para que eu não atacasse.
Minhas mãos tremendo por causa do medo, meu corpo sangrando por causa dos ataques, minha cabeça doendo pelo estresse de ter que sustentar tantas pessoas… Tudo em mim estava ruim.
Só que, entre todos esses, tinha um em particular. Este um me fez falar tudo aquilo, assim como me fez levar a lita até aqui.
— Porque você não é um monstro. — Fiz questão de que minhas palavras fossem escutadas por ele.
Ele, olhando para mim, cerrou os punhos, e seus olhos se encheram de lágrimas.
Não posso deixar que continue assim. O ciclo de ódio acaba aqui.
Mantive a postura séria, demonstrando que estava firme no que eu queria, mas óbvio que não estava. Era foda, porque aquele cara podia me matar a qualquer momento.
Peguei no ponto fraco dele, dava pra ver que o garoto ficava todo emocionado com essa coisa de monstro.
Pode parecer que estou só me aproveitando — e isso não é mentira —, mas não. Tudo o que eu quero é um final feliz pros dois.
Óbvio que isso significava que eu não hesitaria em nenhum segundo para sair na frente dele, afinal, eu vencendo, todos vencendo. Yey!
Continuamos nos encarando por algum segundo. Por que o pessoal desse lugar gosta tanto de encarar? Porra, assim eu saio atrás de todo mundo.
Enfim, agora estávamos cara a cara, mano a mano, homem a homem. Só bastava ele ter captado a mensagem que passei.
— Você fala isso só porque está ferido — disse ao virar seu rosto.
— Ué? É claro que sim! Descobriu sozinho, Einstein?!
— Quem é Einstein? — perguntou visivelmente confuso.
— Isso é o de menos aqui, pô. Foco! Toda sua vida é baseada no que os outros pensam ou falam? Pretende seguir assim?!
Hipócrita, é isso que sou.
Ele continuava me encarando. Será que quer uma conclusão? Como eu posso fazer isso? Devo me afundar mais em mentiras pra isso?
Argh! Que se foda!
Fechei os olhos e gritei do fundo a minha alma: — Quero que guarde essas palavras: Só quem define seu futuro é você!
Quem sou eu pra falar isso? Deixei que qualquer um mudasse meus pensamentos e forma de agir. Então por que agora falo como se fosse exemplo?
Ah, porra! Não pensa nisso! O que importa mesmo é o garoto na minha frente. Ele precisa que eu fale algo. Ou melhor, eu preciso falar algo.
Adam continuava parado, me encarando com uma expressão que parecia assustada. Na verdade não sei se era por causa da minha estupidez ou da minha inteligência.
Quer dizer, com certeza é a segunda opção.
Calma, eu poderia dizer tantas coisas nesse momento, né? Tipo falar um “Não leve isso tudo sozinho, pois eu estou aqui!” ou algo assim.
Mas se bem que eu deveria criar uma frase nova, que fosse só minha. “Você segurou bem esse fardo. Deixe isso comigo agora” fica bom?
Aaarrrggghhh, por que tô dizendo isso? Eu deveria focar na luta!
Adam olhava para sua mão todo esse tempo. Parecia estar brisando sobre toda a situação, até que cerrou o punho e olhou para mim com um sorriso assustador.
— Eu… Eu vou te matar!
Puta merda…