O Monarca do Céu - Capítulo 221
Duelo entre regentes
Em um piscar de olhos, a espada de raios de Ayla cruzou com a espada enegrecida de Yanolondor. Aquela espada transmitia uma sensação inquietante, e era óbvio para uma guerreira experiente como Ayla que aquela lâmina guardava algo.
Seu oponente não teve esforço algum em defender sua técnica, o que já era esperado por ela. Ambos estavam testando os níveis um do outro.
Ting!
Yanolondor a rebateu para longe, e Ayla caiu graciosamente, ficando em cócoras enquanto segurava suas lâminas de mana na altura do pescoço.
“Então foi assim que ele chegou aqui, aquilo é um portal. Os únicos seres que conseguem fazer portais são errantes, mas ele não é um errante, isso significa…”
— Você é rápida — Ele apontou a espada — Como esperado de uma rainha, mas não conseguirá sequer me arranhar com esses movimentos previsíveis.
Cabrum!
Ayla desapareceu.
Até mesmo o rastro de sua mana havia sumido.
“Ela ficou mais rápida” Yanolondor tentava a procurar com os olhos “Alexander me avisou que ela não devia ser subestimada, mas quero ver com meus próprios olhos o quant-”.
Por instinto, Yan olhou para baixo e viu Ayla segurando a lâmina de raios que foi em direção ao seu pescoço.
Ting! Cabrum!
O corte veio de baixo para cima em um ângulo desfavorável, mas Yan conseguiu defender-se a tempo com sua espada, rebatendo o golpe para cima. Um poderoso raio dourado saiu da lâmina de raios de Ayla, destruindo parte do teto do salão em um estrepitoso trovejar.
Após o ataque, Yan saltou para trás e olhou para ambos os lados enquanto destroços despencavam do teto. Ele suou frio e passou a mão no pescoço.
“Tsc… Ela sumiu de novo? São raros aqueles que consegue apagar o rastro de mana assim. É a rainha de Runyra, afinal… De onde ela atacará agora?”
Tap!
Ayla o tocou nas costas.
— Merda! — Yanolondor se virou cortando o ar. Ayla havia desaparecido novamente. — Vai ficar fugindo por quanto tempo?
— Eu não estou fugindo. — Ela estava a quase quinze metros de distância segurando sua espada de mana elétrica em posição de saque.
Suor seco escorreu pela têmpora de Yan.
“O que foi isso? Minha análise não consegue acompanhá-la. Então ela é mesmo o monstro que disseram que era. Hehe, isso está me deixando empolgado”.
Sentindo um arrepio na espinha, Yan foi arremessado para frente após o barulho ensurdecedor de um trovão.
Cabrum!
Um círculo mágico se formou onde Ayla havia o tocado e explodiu. O corpo de Yan foi lançado para frente, na direção de Ayla, que preparava um corte mortal.
O impulso foi tamanho, que Yanolondor não conseguiu se recompor a tempo de defender-se.
“Merda!”
— Me ajude! — berrou a todos os pulmões.
Ting!
Ayla avançou na tentativa de decapitá-lo, mas algo parou o seu golpe. Uma criatura havia se materializado bem ali. Seu corpo era esguio e coberto por pelos de búfalo. Seu pescoço era longo como o de uma girafa, seu rosto era o de uma boneca de porcelana. Seus olhos eram arregalados, escuros e vibrantes. Seu cabelo era longo e atrapalhado, enquanto sua cauda de jacaré serpenteava de um lado para o outro.
A criatura abriu um sorriso grotesco para Ayla e ela retribuiu o sorriso.
— Então era você que ele estava escondendo, é a primeira vez que enfrento um espadachim espiritual.
— Yan! — disse a criatura grotesca com uma voz gutural — Quero devorá-la!
O sorriso de Ayla não se desfez, nem diante daquela “coisa”.
— Você não terá um fio de cabelo meu!
— Você não vai me impedir, mulher!
O pescoço da criatura encolheu e deu um agudo estalo. Seu corpo esguio ganhou músculos e a pelagem de seu corpo se tornou metálica.
— Vou te devorar, pedaço por pedaço! — disse a criatura apontando o dedo para ela.
A sombra de Ayla começou a oscilar, e seu demônio onírico, que mais parecia a personificação da morte, apareceu atrás dela. Ele era coberto por uma capa preta da cabeça aos pés e nada havia no lugar de seu rosto.
Woosh!
A criatura saltou para trás, ficando ao lado de Yan.
— O que foi? — perguntou Yanolondor — Por que fugiu?
— Aquilo é um demônio onírico!
Confuso, Yanolondor ergueu uma das sobrancelhas.
— E daí?
— Não deixe que ele o toque, ou você não conseguirá distinguir o que real e o que não é.
“Tsc” Yan apertou o cabo da espada “Essa mulher é mesmo perigosa. Consegue sumir com seu rastro de mana, é rápida e ainda tem um demônio onírico como aliado. Quais mais truques você tem, rainha Ayla?”
Bam!
Os guardas adentraram empunhando suas armas e armaduras. Após ver o raio saindo pelo teto, os guardas começaram a se mobilizar. O salão não era usado para trinos fazia meses. Se assustaram em ver nele Ayla, duas criaturas grotescas e um elfo da neve que desconheciam.
A primeira coisa que deduziram foi de que aquele era um ataque inimigo. Alguns soldados focaram seu olhar na rainha. Era a primeira vez que muitos a viam sem vestido e com roupas tão curtas.
Nenhum deles imaginou que ela tivesse um corpo malhado e cheio de cicatrizes.
— M-Majestade!
— Não se metam nisso! — ela não tirou os olhos de Yanolondor — Vão para fora e fiquem em alerta, mais inimigos podem aparecer.
— C-Certo!
Ninguém a contrariou.
Após ver o estado do corpo de sua rainha, eles entenderam que ela não era a regente por acaso. Os guardas deixaram o salão às pressas e começaram a organizar um perímetro. Os sinos foram soados e Runyra foi colocada em alerta.
Yanolondor estava em um dilema. Ele queria obter mais informações sobre a regente, mas isso significaria que ela também teria mais informações sobre ele.
“Não importa, não terei outra oportunidade como essa!”
A espada de Yan brilhou em púrpuro e ele a cravou no chão. Todo salão foi tomado por um círculo mágico e explodiu.
Kabom!
Primeiro, viu-se fogo.
Segundo, sentiu-se uma onda de choque.
E por último um cogumelo de fogo subiu aos céus, ele pôde ser visto a quilômetros de distância, iluminando a noite. As chamas desapareceram, restando somente fumaça.
Alguns guardas do lado de fora foram atingidos por pedras e esmagados. Os menos experientes saíram correndo e se protegeram, enquanto os mais experientes destruíram os destroços flamejantes que caíam em torno de Runyra como se fossem meteoritos.
Yan saiu da nuvem de fumaça junto de seu espírito e foi para cima de um dos telhados coberto de neve. Observou entorno e fez muxoxo por não conseguir causar algum dano significativo na cidade, mesmo que tivesse usado uma quantidade abundante de mana em seu ataque.
— Parece que subestimei o pessoal dela.
Ayla também deixou a nuvem de fumaça e foi para cima do mesmo telhado que o invasor, encarando o Elfo há alguns metros de distância. Seu cenho estava franzido e parte de seu cabelo havia chamuscado, assim como suas roupas.
Por ter um corpo repleto de cicatrizes, não era possível distinguir quais queimaduras eram recentes.
— Atacaram o vilarejo de meu marido e agora vem atacar a capital. Você e Alexander passaram de todos os limites! Começaram essa guerra sem termos feito nada contra vocês!
— Você se casou com um expansionista. Suas intenções já estavam claras, nós só agimos primeiro. Arrependida, rainha?
A brisa gélida os açoitou, agitando seus cabelos e roupas. O clima do lado de fora do salão era rigoroso. Ayla sentiu o frio glacial na pele, mas manteve a postura.
Ela abriu um sorriso, dobrou os joelhos e começou a se concentrar.
— Tudo bem, Yanolondor, começarei a te levar a sério, é isso que você quer, não é?
A espada de raios que segurava começou a mudar do amarelo-ouro para o vermelho sangue. Raios carmesim eram agressivos, quentes como lava e destrutivos como o disparo de um canhão.
Ver aquela variação foi o suficiente para fazer Yan recuar um salto, indo para outro telhado junto de seu espírito.
“Tsc! Uma usuária do céu que sabe a variação vermelha, que saco!”
— O que foi? Assustei você? — Zombou Ayla segurando a espada de raios carmesim. Faíscas causavam arranhões no telhado e a neve entorno dela começou a derreter.
Seu demônio onírico arrastou-se para fora de sua sombra e começou a borbulhar enquanto mudava de forma. Sua mão esquelética ganhou pelo, transformou-se em uma pata e também ganhou pelos. O rosto, que não existia, ganhou a forma da cabeça de um lobo com cinco pares de olhos avermelhados e uma boca enorme com três fileiras de dentes. O corpo mudou, assumindo a forma de um lobo de pelagem escura e grossa. Ele tinha quase dez metros de altura.
O peso do animal fez os telhados racharem e aquela aura assustadora fez Yanolondor se arrepiar bem mais do que se sentisse o vento do inverno sobre a pele.
Rosnando, a criatura ficou atrás de Ayla, esperando suas ordens.
A confiante criatura de Yan se estremeceu por inteiro ao ver aquele lobo que era bem mais assustador que ele.
— Yan! Vamos embora daqui, agora!
— O quê? Está com medo dela?
— Não seja idiota! Ela é uma usuária do céu que sabe a variação carmesim, e o pandoriano onírico liberou a segunda restrição. Viemos despreparados, vamos voltar!
O espírito se desfez em névoa e as runas da espada de Yan brilharam enquanto ele adentrava as runas marcadas. O Elfo cortou o ar e o espaço rachou.
— Da próxima vez você não terá tanta sorte, caçadora.
Ayla continuou sorrindo.
— Você não vai fugir para sempre, Yanolondor. Você e Alexander estão com os dias contados!
Furioso, Yan adentrou a rachadura e ela desapareceu.
— Um espírito que consegue abrir portais — disse o demônio onírico que mais parecia um cachorro demoníaco. Sua voz era poderosa e rasgada, doendo até mesmo os tímpanos ao ouvi-la — Existem regras para usar portais, mas ele usou bem aqui, onde a senhora estava. Nunca senti a mana daquele homem antes, ele provavelmente nunca havia pisado em Runyra. Não sei que truque é esse, mas devia tomar cuidado. Ele pode voltar, trazendo um exército consigo.
— Eu sei! — Sua mana dissipou e ela cerrou os punhos — Primeiro eles atacam Colin, e agora atacam a mim. Eles precisam de uma lição, entender que há consequências para algo dessa magnitude.
— Planeja retaliar?
— Óbvio, mas será do meu jeito.
O demônio onírico começou a adentrar a sombra de Ayla.
Tuly saltou até o telhado e se ajoelhou.
— Senhora, nossos rastreadores não encontraram nenhum outro rastro de mana invasor.
— Tudo bem, aquele homem não vai voltar tão cedo. Alguém se feriu na explosão?
— Sim… Contamos seis mortos e dezoito feridos até o momento. Felizmente não houve baixas civis.
— Entendi, mobilize seu pessoal e dê suporte total aos feridos.
— Senhora, tem mais uma coisa.
— O quê?
— Chegou uma mensagem agora a pouco, endereçada ao seu marido.
Ela ergueu uma das sobrancelhas. — Mensagem? Que tipo de mensagem? De quem?
— É uma mensagem codificada. A única palavra que entendi foi “Anoitecer florido”.