O Som da Guerra: A Origem - Capítulo 22
Capítulo 22
A atmosfera na área de seleção era tensa e fervilhante de energia. Ezrael e seus amigos avançavam cuidadosamente, desviando dos grupos de jovens prodígios e aventureiros experientes que se reuniam aos milhares em frente ao imenso portão da Torre Mágica Amanhecer. A estrutura era majestosa, uma torre de pedras cintilantes que se erguia até onde a vista alcançava, exalando uma aura tão densa que o ar parecia ondular ao seu redor. Estavam rodeados por figuras de todas as idades e origens, cada um emanando seu próprio grau de poder, alguns fortes e imponentes, enquanto outros, embora mais comuns, exalavam uma determinação tão intensa que suas presenças eram quase palpáveis.
Barbarossa lançou um olhar ao seu redor, seus olhos refletindo a luz dourada que emanava da entrada da torre. Ele murmurou em tom grave: — Parece que o mundo inteiro está aqui… Cada pessoa aqui é um adversário em potencial.
Mike, que até então mantinha um semblante descontraído, ergueu uma sobrancelha, impressionado. — Isso é mais gente do que eu imaginava. E olha só os clãs… — Seu olhar parou em um grupo que vestia armaduras brilhantes, bordadas com símbolos de fogo, provavelmente vindo das Famílias do Deserto Flamejante.
Vindalf, por outro lado, parecia estar em êxtase, observando a arquitetura detalhada da torre, que se estendia como se tentasse alcançar os céus. Seus olhos brilharam enquanto examinava as pedras místicas que compunham a estrutura. — Esse metal pavimentado… nunca vi nada igual. Um trabalho tão minucioso que é difícil acreditar que foi feito por mãos mortais.
Ezrael permaneceu em silêncio, observando o grupo de longe enquanto organizava mentalmente seus próximos passos. Ele viu jovens com rostos determinados e olhar fixo na torre, muitos deles já haviam iniciado o processo de concentração e controle de energia, medindo suas forças antes mesmo de o teste começar. A maioria carregava os olhares focados, confiantes, prontos para demonstrar o máximo de suas habilidades na frente dos anciões da Torre Amanhecer. Mais ao fundo, ele notou alguns rostos conhecidos, figuras claramente influentes, com vestes adornadas com emblemas das três grandes famílias.
— Aqueles são os três — murmurou Ezrael para si mesmo, observando as figuras imponentes de Darius Warlock, Lucas Lionheart e Liliana Blackblade. Cada um exalava uma aura que dominava o espaço ao redor, como se qualquer um que ousasse se aproximar fosse repelido por uma barreira invisível.
Sentindo o peso do que estava por vir, Ezrael deu um passo à frente, e seus amigos o seguiram. Ele sabia que esse momento definiria seus futuros, e que a chance de provar seu valor — e quem sabe, revelar algo mais profundo e poderoso que ele carregava — estava diante deles.
A chegada dos três prodígios das grandes famílias transformou a entrada da Torre Mágica Amanhecer em um palco de murmúrios e olhares cautelosos. Darius Warlock, com seu olhar frio e altivo, liderava o trio, vestindo uma túnica escura ornamentada com bordados que resplandeciam como brasas. Ao seu lado, Lucas Lionheart ostentava uma armadura leve de couro dourado, irradiando uma presença calorosa, mas perigosa, enquanto a última a chegar, Liliana Blackblade, caminhava com passos firmes, emanando uma aura afiada que parecia cortar o ar ao seu redor.
À medida que eles se aproximavam, a multidão abria espaço automaticamente, como se intimidada pelo peso das três presenças. Guardas pessoais, especialistas de idade avançada e expressão austera, caminhavam com passos calculados, sempre próximos a eles, formando um círculo de proteção que ninguém ousava cruzar. O poder de seus protetores era inegável; alguns eram velhos cultivadores que emitiam uma pressão intensa, tão forte que jovens e iniciantes próximos desviavam o olhar, quase sufocados pela energia que exalavam.
Ezrael, porém, manteve-se imóvel, seus olhos fixos nas longas filas que serpenteavam até as bancadas de inscrição. Ignorando os olhares curiosos e a comoção que se espalhava, ele respirou fundo e manteve a mente concentrada no objetivo. Seus amigos, notando sua indiferença, seguiram seu exemplo, ajustando suas posturas e ignorando a agitação ao redor.
Quando finalmente se aproximaram da bancada de registro, um escrivão, magro e de expressão séria, aguardava pacientemente, registrando cada nome com um semblante que demonstrava estar acostumado a esse tipo de evento grandioso.
Vindalf murmurou, olhando ao redor: — A presença desses três parece tornar o ambiente mais… pesado.
Ezrael, ainda sem desviar o olhar da fila, respondeu em um tom baixo: — Que perturbem o quanto quiserem. Nosso foco está em outra coisa. Eles terão os holofotes, mas talento verdadeiro se revela no campo de batalha. Vamos esperar o nosso momento.
Barbarossa, que até então apenas observava, soltou um suspiro divertido. — Confio em você, Ezrael. Que fiquem com as aparências; o que vale é o que acontece nas arenas.
Ezrael assentiu e, com a expressão inalterada, deu o próximo passo à frente, aproximando-se da bancada para registrar seu nome, consciente de que este era apenas o início de algo muito maior.
Ao se aproximarem da bancada de registro, Ezrael e seus amigos notaram que o escrivão observava cada candidato com um olhar afiado e calculista, como se estivesse já filtrando quem merecia continuar. A fila avançava devagar, mas finalmente chegou a vez deles. O escrivão, um homem de idade indefinida, cabelos grisalhos e olhos que pareciam analisar até a alma, ergueu a pena, sem desviar o olhar das folhas que preenchia.
— Nome e idade, — disse o escrivão, sem olhar diretamente para Ezrael.
— Ezrael Silver-Wings, quatorze anos, — respondeu ele, firme. O escrivão ergueu uma sobrancelha, um indício mínimo de surpresa, mas continuou a escrever.
Mike, Vindalf e Barbarossa seguiram o exemplo de Ezrael, registrando seus nomes com a mesma seriedade, enquanto o escrivão anotava os detalhes, um traço rápido e preciso, como se já soubesse do histórico de cada um. Após escrever, ele indicou a direção da primeira etapa, onde os testes de talento e raiz espiritual eram conduzidos.
Assim que passaram pela bancada, um conjunto de imponentes pilares mágicos estava disposto ao longo de um grande corredor ao ar livre, cada um emanando uma leve luminosidade. Iniciados pelo teste de talento, um dos mestres da Torre Mágica Amanhecer, de olhos severos e cabelos brancos, os aguardava ao lado do primeiro pilar. Sua presença era austera, com uma energia esmagadora que praticamente selava qualquer dúvida sobre sua posição elevada ali.
— Aqueles com talento inferior ao grau 3 com raiz espiritual celestial e abaixo serão dispensados imediatamente, aceitaremos apenas talentos de grau 4 e raiz espiritual celestial e acima — ele anunciou, sem qualquer compaixão. — O Mundo Divino é cruel, mas sua recompensa está na força daqueles que o desafiam. A seleção para a Torre Mágica não é para os fracos.
Vindalf engoliu em seco, enquanto Mike e Barbarossa trocavam olhares cautelosos. Eles sabiam que esse teste poderia eliminar a maioria dos presentes, mas a confiança silenciosa de Ezrael, que mantinha uma expressão de convicção, os acalmava. Ele observava atentamente cada candidato à frente, avaliando a maneira como eram testados no pilar.
Os primeiros participantes posicionavam as palmas das mãos sobre o pilar mágico. Uma luz suave e vibrante ascendia conforme o talento era lido. A cada luz mais fraca, o mestre anunciava com frieza: “Desclassificado.” Alguns mostravam luzes de grau 2, ou mesmo raízes espirituais terrenas. Esses se afastavam cabisbaixos, alguns contendo lágrimas, pois a chance de entrar na Torre Mágica Amanhecer lhes fora arrancada ali mesmo.
Quando chegou a vez de Ezrael, ele inspirou fundo e colocou sua mão no pilar.
Assim que a mão de Ezrael tocou o pilar, uma luz intensa se acendeu, pulsando com uma coloração azul-dourada, e o símbolo que representava o talento de grau 7 brilhou nítido e inconfundível para todos ao redor. Murmúrios começaram a se espalhar entre os demais participantes, a maioria impressionada pela rara raiz espiritual divina que poucos ali possuíam. Além dos candidatos, até alguns mestres e observadores mais atentos inclinaram-se nas altas plataformas da torre para observar melhor. O nome “Ezrael Silver-Wings” começava a atrair olhares interessados.
Entre eles, alguns mestres sussurravam entre si:
— Um talento de grau 7 com raiz espiritual divina… — murmurou um mestre de olhar aguçado, seus olhos fixos na presença confiante de Ezrael. — Um jovem assim pode evoluir muito rapidamente se orientado corretamente.
— Verdade, — concordou outro, observando a postura firme do rapaz. — Ele pode não ser um prodígio absoluto, mas tem a essência de um guerreiro nato.
Contudo, enquanto esses olhares eram lançados em sua direção, Ezrael sentia uma onda amarga se agitar dentro de si. A luz daquele talento grau 7 representava uma fração de quem ele já havia sido no passado. Ele lembrava-se vividamente do corpo original que outrora possuíra, um gênio supremo com talento de grau 9 e raiz espiritual imperadora, algo ainda mais raro e mais poderoso do que a raiz divina. Sentia-se estranho ao ser aplaudido como um talento notável quando, por dentro, a sensação era de perda e de um abismo intransponível entre ele e seu antigo eu.
Mesmo assim, Ezrael manteve a compostura, uma expressão firme e um olhar calculista, como se nada o perturbasse. Internamente, ele murmurava para si mesmo: “Se esse é o corpo que tenho agora, então que assim seja… Ainda assim, é um talento que supera o de muitos. E o caminho para recuperar o que fui começa aqui.”
Ao se afastar do pilar, ele deu um sinal discreto para Mike, Vindalf e Barbarossa, que estavam nervosos, à espera de sua vez. Ezrael se aproximou deles, sua voz baixa e grave.
— Vocês também têm potencial. Não pensem demais em superar os prodígios das três grandes famílias… concentrem-se em dar o melhor de si. Esse é apenas o começo, e temos tempo para crescer.
Seus amigos assentiram, inspirados pela determinação silenciosa de Ezrael, e logo começaram a se posicionar para o teste. Cada um, em seu próprio ritmo, colocaria a mão no pilar, mas o que havia sido mais notável era o exemplo que Ezrael deixara ali. Afinal, mesmo sendo um talento aquém de seu antigo ser, ele mostrava aos demais que, em um mundo onde apenas a força era respeitada, a persistência e a ambição eram igualmente essenciais.