O Som da Guerra: A Origem - Capítulo 23

Capítulo 23 

Mike avançou primeiro ao pilar com uma expressão firme, como se já antecipasse o resultado. Ao tocar o artefato, um brilho amarelo envolveu sua mão, revelando o número cinco — um talento de grau 5. Logo em seguida, o pilar mostrou a marca de uma raiz espiritual divina. Alguns dos participantes ao redor sussurraram impressionados; afinal, apesar de não ser um talento de grau 6 ou superior, a raiz espiritual divina era algo respeitado, e poucos ali poderiam se vangloriar dela. Para muitos observadores, o que faltava em habilidade nata podia ser compensado com persistência e o poder de uma raiz espiritual mais pura. 

Os mestres que haviam demonstrado interesse anteriormente notaram a presença de Mike. Um deles inclinou-se para o outro e comentou, em tom ponderado: 

— Um talento de grau 5 com uma raiz espiritual divina, esse rapaz pode vir a ser útil em batalhas, especialmente se direcionado ao desenvolvimento de habilidades de suporte ou controle de mana. 

Logo após Mike, foi a vez de Vindalf e Barbarossa. O ferreiro manteve sua expressão tensa, mas esperançosa, enquanto se aproximava e pousava a mão sobre o pilar. Um brilho sólido e azul revelou o número quatro, e, logo após, uma raiz espiritual divina iluminou a área em volta. Vindalf respirou aliviado. Embora seu talento natural fosse mais baixo, ele sabia que sua raiz espiritual ainda era respeitável e poderia significar um caminho promissor na Torre Mágica. 

Barbarossa, com seu estilo relaxado, aproximou-se despreocupadamente do pilar. Ao fazer contato, um brilho semelhante ao de Vindalf marcou sua presença, revelando também um talento de grau 4 e uma raiz espiritual divina. Ele sorriu de forma travessa e virou-se para seus amigos, piscando e sussurrando: 

— Não somos nada mal, não acham? 

Embora o talento de grau 4 dos dois não fosse considerado excepcional, os mestres da torre mantiveram uma leve atenção sobre o grupo de Ezrael. Era notável que, ainda que os três amigos possuíssem um talento menor, a rara presença de raízes espirituais divinas no grupo inteiro indicava uma afinidade especial com as artes da mana. Mesmo que não provocassem o mesmo impacto que Ezrael, eles tinham o potencial para crescer e serem moldados para funções de apoio ou combate estratégico. 

No entanto, a excitação dos outros candidatos e mestres logo foi eclipsada quando a chegada dos três grandes gênios das famílias nobres foi anunciada. Primeiro, Darius Warlock, o jovem de 15 anos da família Warlock, com olhos afiados e um ar de confiança. Logo atrás dele, Lucas Lionheart, de 14 anos, carregava uma expressão séria e focada, com a marca distintiva de leão dourado bordada em sua vestimenta. Por fim, Liliana Blackblade, de postura altiva e feições graciosas, fez sua entrada, atraindo olhares de respeito e admiração. 

Os participantes ao redor começaram a sussurrar com entusiasmo. Alguns erguiam as sobrancelhas com admiração, enquanto outros desviavam os olhares, nervosos ou até desanimados. Os três prodígios caminharam até o pilar com um ar de confiança inabalável, e um dos mestres suspirou, murmurando para si mesmo: 

— Agora veremos os verdadeiros talentos em ação. 

Ezrael observava a movimentação dos três com calma, mas seus olhos traíam um brilho calculista. Mesmo com o respeito implícito que sua presença transmitia, ele sentia o peso da diferença que existia entre ele e esses descendentes das famílias nobres. Contudo, isso não o intimidava; pelo contrário, apenas alimentava seu desejo silencioso de recuperar sua força e superar todos aqueles que ousassem subestimá-lo. 

Darius Warlock caminhou até o pilar com passos seguros, ciente de que todos os olhares estavam sobre ele. A multidão aguardava em um silêncio expectante, e até mesmo os mestres que observavam do alto da Torre Mágica Amanhecer estavam atentos. Darius ergueu a mão, com uma calma quase desdenhosa, e a pousou sobre o artefato de avaliação. De imediato, o pilar brilhou em uma intensidade avassaladora, lançando um feixe de luz dourada que preenchia a área ao redor. No topo do pilar, o número nove surgiu imponente, acompanhado pela marca de uma raiz espiritual divina. O impacto foi instantâneo. 

Os sussurros se transformaram em murmúrios de assombro. Alguns observadores mais próximos exclamaram alto, incapazes de conter o espanto diante de uma revelação tão rara e avassaladora. Um talento de grau 9 e uma raiz espiritual divina eram o ápice que qualquer cultivador poderia almejar. Mesmo que houvessem rumores sobre o potencial de Darius, testemunhar pessoalmente tal exibição de talento era algo completamente diferente. Era como se o ar ao redor dele vibrasse com poder e arrogância. 

Ezrael, observando à distância, manteve o semblante neutro, embora uma centelha de interesse surgisse em seus olhos. Ele reconhecia a força de Darius, mas dentro de si, um antigo orgulho de outrora reacendia lentamente. Este jovem, com todo o seu poder latente, poderia ser um adversário digno — um obstáculo que ele em algum momento teria que superar. 

Logo após, Lucas Lionheart deu um passo adiante, mantendo a postura ereta e séria. Seu olhar encontrava-se com o de Darius por um instante, em um gesto de rivalidade silenciosa, antes que ele pousasse a mão no pilar. Assim como antes, o artefato reagiu imediatamente, iluminando-se em uma aura dourada, e o número nove apareceu mais uma vez, acompanhado pelo símbolo da raiz espiritual divina. Um frenesi percorreu a multidão; era a confirmação de que outro prodígio, à altura de Darius, acabara de surgir. Lucas, contudo, se manteve frio e composto, apenas assentindo levemente, como se o resultado fosse nada menos que sua expectativa. 

Por fim, Liliana Blackblade avançou. Os olhos da multidão seguiam cada movimento da jovem, cuja postura elegante emanava uma presença que combinava força e beleza. Ela ergueu a mão e, ao tocá-la no pilar, o mesmo brilho dourado resplandeceu, marcando o terceiro talento de grau 9 e a terceira raiz espiritual divina em uma sequência de tirar o fôlego. Para muitos, parecia inimaginável que três jovens tão excepcionais estivessem juntos. 

A comoção foi tamanha que até os anciões da Torre Mágica Amanhecer, figuras reservadas e imperturbáveis, começaram a murmurar entre si, trocando olhares de aprovação e admiração. Um deles, cujos olhos carregavam o peso de séculos de experiência, inclinou-se levemente para frente, fitando os três jovens com um sorriso raro e quase paternal. 

— Parece que esta seleção será particularmente interessante — comentou ele com um tom grave, porém satisfeito. — Talentos dessa magnitude surgem apenas em gerações distantes. Nós testemunharemos um novo capítulo em nossa Torre. 

Ezrael, ao ouvir as reações e observar os rostos dos mestres ao redor, sentiu-se simultaneamente impressionado e desafiado. Embora a atenção estivesse toda voltada para os três prodígios, ele prometeu a si mesmo que provaria seu valor naquela seleção. Afinal, ele já fora um dos mais poderosos, e nada o impediria de trilhar o caminho da ascensão mais uma vez. 

O sol estava a pino quando os participantes sobreviventes da primeira etapa foram conduzidos à arena de combate. A vastidão do local impressionava, erguendo-se em camadas de assentos repletos de cultivadores, mestres e espectadores da Torre Mágica Amanhecer. Ali, o chão da arena era marcado por antigos símbolos arcanos e coberto por uma leve poeira dourada, reminiscente de incontáveis batalhas travadas ao longo dos séculos. O barulho das conversas, risadas nervosas e murmúrios de expectativa pairava no ar enquanto os competidores formavam filas ordenadas para a próxima etapa. 

Ezrael, já familiar com a dinâmica dos torneios, reuniu-se com seus amigos numa área reservada, longe do alvoroço principal. Com uma expressão séria e voz firme, ele começou a explicar o significado da competição que estava prestes a começar. 

— Ouçam com atenção — disse Ezrael, lançando um olhar a Mike, Vindalf e Barbarossa. — Esta segunda etapa não se trata apenas de vencer ou perder. A classificação que obtivermos na arena de combate será crucial daqui em diante. Os primeiros lugares não só ganham reconhecimento, mas também benefícios especiais: recursos de cultivo, acomodações melhores e, principalmente, uma chance maior de serem selecionados pelos mestres da torre. 

Mike franziu a testa, compreendendo o peso das palavras do amigo. — Então, quanto mais alto ficarmos no ranking, maiores as nossas chances de chamar a atenção dos mestres? 

Ezrael assentiu, observando o interesse crescente de seus companheiros. — Exato. Além disso, o primeiro lugar é especialmente importante. Ele será coroado como o rei dos novatos deste ano, um título que garante prestígio e autoridade entre os outros discípulos. Mais que isso, é uma forma de demonstrar aos anciões e mestres que possuímos não só talento, mas também habilidade em combate real. 

Vindalf, com seu espírito de guerreiro e ferreiro, não pôde evitar um sorriso de empolgação. — Então, basicamente, precisamos dar tudo de nós. Mostrar do que somos feitos. 

Ezrael concordou, mas manteve uma expressão cautelosa. — Sim, mas lembrem-se de que também estamos enfrentando prodígios como Darius Warlock, Lucas Lionheart e Liliana Blackblade. Se qualquer um de nós cruzar com eles na arena, a estratégia será fundamental. Não lutem apenas com força; observem e aprendam com cada movimento. Se preciso, é melhor recuar do que arriscar uma derrota humilhante. 

Barbarossa bateu com o punho no peito em um gesto de lealdade e determinação. — Estamos prontos, Ezrael. Seguiremos seu plano e lutaremos com tudo que temos. 

Ezrael esboçou um leve sorriso. Embora os talentos de seus amigos fossem inferiores em comparação aos gênios das famílias nobres, ele sabia que cada um deles possuía uma força única e um espírito inquebrável. Isso os tornava aliados valorosos e, de certa forma, sua própria fonte de motivação. 

O anúncio de que a arena estava pronta ecoou pelos corredores, e Ezrael e seus amigos trocaram olhares decididos antes de caminharem em direção ao campo de batalha. O primeiro combate estava prestes a começar, e com ele, o teste definitivo que colocaria à prova não apenas a habilidade e a força dos participantes, mas também seus sonhos e ambições.