Omega Hero - Capítulo 1
Japão, cidade de Nova Tóquio. Haviam se passado apenas 3 meses desde que Makoto tinha enfrentado os bandidos no beco do Distrito Oeste.
Do outro lado da cidade, no Distrito Central, nas dependências do nanico e improvisado Estádio Basílico, o jovem realizava o teste de admissão ao Estágio Ômega.
Junto com ele, vários e vários aspirantes testavam sua sorte, tentando se classificarem como Cadetes Militares. Será que algum cavaleiro alado conseguirá vencer o difícil exame?
Ω
— Oh, garoto, é você quem os outros professores chamam de maluco?
Perguntou, de forma ríspida, com a voz rouca e falando alto, uma professora de cabelos negros curtos completamente espetados para cima.
Ela usava uma máscara de raposa vermelha virada para o lado esquerdo do rosto.
—… — Makoto nada respondeu, apenas olhou para a professora com seu olhar usual: meio açodado, meio sem sal.
Teve medo de causar a falsa impressão de ser um idiota. Acabou causando a falsa impressão de desafiar a hierarquia militar.
A professora vestia um collant de couro branco de corpo todo, parecendo uma camisa de força adaptada. No traje incomum, corriam várias listras cor de sangue.
Em determinados pontos estratégicos, onde as listras se cruzavam, havia encaixes magnéticos para a fixação de algum acessório oval.
— Eu falei com você, garoto… Aliás, você não parece um idiota. Então, o que está tramando? — A Sensei avaliadora apontou-lhe o dedo indicador direito.
O gesto percorreu o ar feito uma flecha, acertando em cheio seu alvo. O peito de um Makoto acuado.
O rapaz não teve reação alguma. Olhou de volta para a professora nitidamente cabisbaixo. Parecia um avestruz pondo a cabeça dentro do solo.
— Deixe o garoto em paz, Tenente Cho — Outro professor abaixou o braço da colega — Olha, não é seu nome que estão chamando pelo megafone? Vai se atrasar para a prova!
O segundo professor vestia trajes civis. Usava um terno vermelho completo e uma camisa social branca sem gravata. Cobrindo sua cabeça, havia um chapéu de cowboy também vermelho.
Uma roupa quase tão desconfortável quanto a do exame, para um dia quente e abafado de final de agosto em Nova Tóquio.
— Gao Lee, não preciso que, logo você, me lembre meus deveres…
A professora de cabelo espetado rangeu os dentes com raiva. Uns poucos fios caíram revoltosos para a frente, formando uma franja adaptada.
— Se quer cuidar do “estorvo”, faça bom proveito… Tome! — Cho alinhou seu cabelo todo para cima, e jogou no peito do colega a ficha com os dados de Makoto.
Em seguida, ela saiu, não sem antes trombar em Lee, demonstrando sua total insatisfação — e rivalidade — para com ele.
Seu rancor se dava mesmo por pura rivalidade, diferente do preconceito velado dos outros professores por Lee ser um “Mutante”.
Talvez, devido ao fato de Lee estar vestindo roupas civis, Cho esqueceu-se de que o militar de terno vermelho era seu superior. Felizmente para a tenente, o Capitão Lee não dava muita bola para as formalidades da patente!
Por fim, o resultado da momentânea rusga foi um pequeno tilintar, como o sino da campainha da porta. Soou sacramentando aquele encontro acalorado.
— Então, seu nome é… Ômega 31415? — Lee levantou a cabeça e assoprou alguns poucos fios de cabelo.
Naquele momento, Makoto percebeu com estranheza, apesar de não demonstrá-lo, que Lee possuía cabelos azuis tão embaralhados, sendo quase impossível ver seu rosto.
Também era difícil compreender como o professor conseguia ler sua ficha, tendo aquele penteado inusitado.
Sem querer, o rapaz viu que no laço de couro do chapéu do Capitão, havia um enfeite de metal em formato ômega Ω com um sino no meio.
“Então, o barulho veio disso?”. Pensou. Logo depois, tomou um susto consigo mesmo! Tinha ficado hipnotizado vendo o estilo curioso do professor à sua frente.
— Sim, sensei! — Makoto respondeu num só fôlego.
— Bem, não é tão incomum se usar pseudônimos na prova, sabia? — Com a negativa de Makoto, Lee continuou sua avaliação do jovem — Vejo que foi o primeiro a preencher o formulário, contudo terá que sentar após eles…
— Obrigado, sensei! — Makoto recebeu sua ficha das mãos de Gao Lee, pregada numa prancheta transparente.
O jovem dirigiu-se a passos curtos para o final de uma bancada de madeira bem antiga e esfiapada, onde estavam sentados três garotos e uma menina.
O número da bandeira pregada no início da fileira indicava que eles seriam o 13º — e último — quinteto avaliado naquele dia.
— Você não devia me agradecer por algo feito para complicar sua vida! — Lee pigarreou — Pois os professores disseram que você é o prato principal do dia!
Após o professor explicar o drama do rapaz, todos seus colegas riram.
Desde um menino magricela com longos cabelos castanhos e olhos esbugalhados, também castanhos. O primeiro da fila.
Passando pelo segundo, esse de cara quadrada, tendo os dentes da frente protuberantes parecidos aos de um coelho; lhe saltavam os lábios grossos mesmo quando permaneciam fechados.
O terceiro e último menino na fileira antes da garota se destacava dos demais no quesito estilo; apesar de todos os alunos, Makoto inclusive, usarem roupas de treino parecidas com as de Cho, sem os mecanismos para fixação magnética.
O garoto usava óculos com lentes espessas e platinadas, cuja armação em fibra de carbono escura se fazia particularmente adaptada para o treino.
Ficava afivelado por detrás de seu cabelo negro, penteado para o lado de forma milimétrica. O conjunto da obra lhe dava um ar bastante hi-tech.
Tinha um encorpado anel de ouro no dedo indicador direito, entalhado com um brasão familiar. A joia cara indicava que o possuidor vinha de uma família muito rica.
A menina era a última da fila. Diferente dos rapazes, já preparados para o exame, ela se mantinha escondida dentro de um sobretudo e um capuz cinza — pois achava a roupa de treino bastante incômoda, devido suas curvas sinuosas.
No entanto, seria quase impossível esconder por completo uma beleza como aquela. Algumas mechas do seu cabelo violeta e seu olhar, da mesma cor cintilante, denunciavam que, por dentro da concha, havia ali uma pérola rara.
Envergonhada, a menina desviou o olhar enquanto Makoto passava à sua frente. Contudo, seu drama aumentou exponencialmente quando ele sentou-se quase colado ao lado dela.
Para seu azar, o pequeno banco tinha pouco espaço disponível.
— Vocês não deveriam rir! Pensam que a prova será mais tranquila só porque vão enfrentar um único avaliador? — O professor repreendeu a todos, cruzando os braços e tossindo — …Será que devo lembrá-los de como a prova é injusta? Aff, que seja, ainda bem que gosto muito do meu salário!
O Sensei botou-se a explicar o que, no seu ponto de vista, fazia a prova ser quase impossível.
Ω
Primeiro, o exame consistia no Aspirante vencer dois avaliadores experientes, em dias diversos.
Segundo, após o primeiro exame, a banca de avaliadores podia escolher um oponente bastante difícil para o segundo exame — por conhecer o poder do aluno.
Terceiro, para vencer a prova o aspirante deveria tocar um pequeno botão verde, do tamanho de uma maçã, no traje do avaliador.
Contudo, o Sensei podia escolher colocá-lo em qualquer um dos mecanismos para fixação magnética. Assim, podia colocá-lo em qualquer parte da frente do corpo.
Por último, o aluno tinha a árdua tarefa de vencer a prova dentro de um tempo limite de 100 segundos. O tempo gasto na prova consistia em sua pontuação.
Se a somatória da média das notas nos dois exames fosse superior a 50, o desafiante poderia comemorar sua aprovação.
Os alunos já conheciam a maioria daqueles regras, pois realizavam seu segundo exame naquele dia. Gao Lee fez questão de frisá-las novamente pensando em Makoto, que realizaria a prova pela primeira vez.
Contudo, a garota — por sentir o calor do garoto sentado ao seu lado — nem ouviu a dura bronca do professor. Envergonhada, se tremia pelo corpo todo.
Soluçando, também derrubou a prancheta na qual preenchia, com letras bisonhas e trêmulas, seus dados pessoais.
— Ei, garota! Termine de preencher o formulário ou, depois de tudo que expliquei, não poderá fazer a prova!
— S-sim! — Juntando a prancheta do chão, a garota intimidada pelo clima pesado, deixou-a cair novamente por entre os dedos suados — N-n-n-não!
Enquanto a menina gaguejava feito um disco de vinil arranhado, a prancheta caía rumo ao chão em câmera lenta. Juntando ambos os fatos, seria correto presumir que o tempo havia tropeçado e desacelerado seus passos.
Ao mesmo tempo que as leis da física ameaçavam se romper com o embaraço da menina, seus olhos e cabelos, antes violeta, começaram a mudar de cor e se inflamar.
— Tome, aqui, eu peguei para você… — Makoto, com uma perícia impressionante, segurou a prancheta em pleno voo e entregou-a à menina.
Bem a tempo, o jovem colocou de volta o pino naquela granada de sentimentos acumulados, evitando o pior. No instante em que a menina se acalmou, o tempo também voltou a caminhar naturalmente.
— O-obrigada! — Ela agradeceu e sorriu.
Finalmente Makoto pôde ver sem entraves os traços raros daquela beleza cativante. Infelizmente, ao mesmo tempo que a menina se acalmou…
— P-poxa, a c-caneta? E-e a-agora?
A alegria dela durou pouco!
Desconsolada, viu a caneta pular da ponta do prendedor da prancheta. Saiu voando em linha reta feito um míssil, para uma aterrissagem perfeita num dos poucos buracos do ralo.
— Tome, pode usar a minha!
— T-tem c-certeza?
— Sim, eu já terminei! E como todo mundo ouviu… não me custa ajudar, já que acham que estou louco!
— Obrigada!
Makoto a viu preenchendo seu nome, Haruka Emiko.
Quando Haruka lhe devolveu um sorriso amistoso, com aqueles olhos violeta sensuais e cintilantes, Makoto disfarçou sua vergonha olhando para o lado.
Vendo os olhos azuis marejados do garoto, que acentuavam seu sorriso tolo e envergonhado, pela primeira vez ela enrubesceu não pelo medo.
— …Eu sei como é ter todo mundo nos chamando de loucas!
Haruka também conseguiu falar sem gaguejar, ao pensar que o rosto do rapaz lhe agradava um pouco.
— Mas eu acho que, quem vê apenas a casca, não pode dizer na verdade o que seja o ovo, não é mesmo?
Surpreso e ao mesmo tempo satisfeito, Makoto sorriu com apenas metade do rosto.
Ω
Logo após os alunos entregarem suas pranchetas ao professor, soou uma buzina em tudo igual ao de um carro de bombeiros.
— É a vez de vocês! Antes vamos tirar uma foto! Sorriam! — Lee tirou a foto deles com uma câmera antiga.
— Agora, estufem o peito e vamos!
— Sensei, não consigo! — O primeiro aluno da fila travou de medo, parando na frente do portão de acesso ao estádio.
— Apenas dê o seu melhor! — Enganando-o, Lee chutou-lhe corredor a dentro.
Depois da queda, o garoto caminhou junto com os colegas e o professor, por um amplo corredor até o gramado.
O primeiro garoto pensava numa vida confortável e num salário gordo, ganho sem muito esforço.
O segundo, logo atrás dele, desejava, a qualquer custo, dar aos familiares estrangeiros o direito de adquirir a cidadania japonesa.
O terceiro garoto cumpria uma missão tida por ele como crucial, de realizar sua vingança pessoal ao derrotar seu inescrupuloso avô.
Já a garota, ainda mais assustada ao ver a pequena multidão na arquibancada, queria apenas não estar ali.
— Você, garoto… “A gaivota deve voar entre o céu e a terra!”
— O que, professor? — Makoto virou-se para Lee.
— Essas palavras não são minhas, são de Du Fu! — Lee falou, enquanto Makoto passava calmamente por ele — Tente apenas ser aprovado, depois decida com a cabeça fria, se é um gênio ou um louco…
— Eu sei, Capitão… — Makoto tinha o mesmo sorriso cínico de antes — Mas qual a graça de fazer uma omelete, sem ter quebrado alguns ovos?
Ω Ω Ω