Os Contos de Anima - Capítulo 9
Num vale no formato de uma cratera escondido do mundo, longe de todo conflito e guerra, da ganância e egoísmo ou qualquer que fosse o interesse motivado por seja lá qual for a razão, existia uma vila. Nesta vila, onde seus habitantes podiam facilmente passar toda sua vida sem sair dali devido ao ambiente que os cercava e os provia com tudo que poderiam necessitar, pouco após os limites do lugar, em meio a floresta de altas copas e inúmeras espécies de fauna, havia uma árvore.
Essa árvore, para todos os efeitos e olhos desavisados, era apenas mais uma dentre as tantas com exceção do buraco em seu tronco. Neste buraco, deitado sobre uma grossa raiz forrada com folhas e coberto com um manto da cor do céu noturno, havia um garoto que no momento dormia tranquilamente sem ter a menor ideia que este descanso logo seria interrompido.
A floresta, tal como o garoto, em sua maioria de seres, dormia. O orvalho já condensava nas folhas das árvores que cobriam a vida abaixo, além de enfeitar as ervas e outras espécies de vegetação terrestre no local, fazendo com que, quando iluminadas pela luz das estrelas, a própria floresta imitasse o céu, mostrando sua própria versão esverdeada dos cosmos.
As feras da terra dormiam em suas tocas e cavernas, ou como o garoto, em árvores, já as feras do ar se aninhavam nos galhos e descansavam enquanto as feras aquáticas do grande lago mantinham o silêncio da noite. Com exceção dos predadores da noite e alguns insetos ou feras mágicas que perambulavam em seus afazeres cobertos pelo véu obscuro do anoitecer, tudo estava em paz e até a própria flora parecia respirar tranquila enquanto uma leve neblina pairava sobre o ambiente.
Nesse instante o céu, que em sua maior parte ainda permanecia decorado de estrelas, demonstrou sua majestade. O grande astro luminoso que governava o dia surgiu em sua parcela mais minúscula nos limites do vale, e, apesar do fato que essa parcela em outras situações seria inexpressiva, neste exato momento um evento único ocorreu neste vale.
Passando por uma fenda do tamanho e do formato de uma melancia, um feixe de luz disparou vale adentro. Feito uma estrela-cadente rasgando o véu noturno, o feixe de luz viajou e, como se a própria floresta tivesse sido construída dessa maneira, atravessou a distância totalmente ininterrupto em uma fração de segundo antes de acertar em cheio a abertura da árvore onde dormia o menino, passando pela “janela” e iluminando todo o interior com, como havia dito Kaella horas antes, a primeira luz do dia.
Demoraram alguns minutos até que o garoto grunhisse e cobrisse seu rosto com o manto para bloquear a luz.
— Só mais uns minutos, diretor albus…
Em resposta, porém, uma voz feminina soou num suspiro.
— Sinceramente garoto, com o entusiasmo que estava ontem, pensei que já estaria de pé antes mesmo de eu aparecer — a voz disse — E imaginei que estaria mais animado para seu treino já que até mesmo aceitou virar meu discípulo para aprender a arte da mana.
Uma sombra surgiu num canto escuro do ambiente iluminado. A silhueta furtiva se ergueu no local, mostrando-se inicialmente apenas como um grande vulto que, com o passar dos instantes, tomou forma sólida antes de abandonar sua forma sombria e revelar uma mulher.
Com o cabelo vermelho-rubi especialmente brilhante devido à luz ambiente e a pele pálida levemente reluzente, a mulher fitava com seus olhos violetas a criança, uma tinge de relutância e pena em sua face. “Vendo assim, dá até dó de tirá-lo daí, mas é melhor que sofra agora do que morra depois”
Ela vestia calças, camisa e jaqueta verde-escuro com padrões que imitavam as folhas da floresta e botas de couro marrom escuro como os troncos das árvores. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo, sobreposto em seu ombro existia um arco acompanhado de uma bolsa de flechas e em sua cintura haviam duas adagas com cabos de madeira escura inscritas com runas seguras em bainhas de couro escuro.
Ela andou até o garoto e puxou o manto de seu corpo deixando-o no canto da “cama”, expondo-o ao ar frio da madrugada que instantaneamente o fez tremer e cegamente tatear em busca do manto que o cobria tão confortavelmente até então.
— T…Tão f… Frio… C…cadê o manto?
Ele tateou de olhos fechados por mais alguns momentos, mas, logo acabou desistindo e abriu os olhos para procurar o manto. Foi então que virou a cabeça e viu que Kaella o olhava, um leve sorriso em seu rosto, como se estivesse olhando algo engraçado. Suas pupilas contraíram e em instantes ele cambaleou para fora da cama.
— M…Mestra! Bom dia!
— Bom dia pequeno — Ela respondeu, soltando um leve riso — Se demorasse mais um pouco eu iria ter de jogá-lo para fora.
— Vo…Você faria isso? — Ele perguntou assustado.
— Experimente estar dormindo novamente quando eu aparecer e irá descobrir — a elfa respondeu, o fitando com olhos afiados.
A elfa olhou o garoto e reparou que nem mesmo os sapatos ele havia tirado para dormir, e obviamente, ela não reparou nisso. O medalhão continuava no seu peito, exposto para todos verem, ela achou melhor que ficasse mais bem guardado, então disse.
— A relíquia, esconda-a — Ordenou.
— Ahn? — Ele respondeu confuso, ainda um tanto grogue de sono.
— Esconda a relíquia — Ela repetiu — coloque-a dentro da camisa, deixe-a fora de vista. Posso estar por perto, mas nem mesmo eu sou capaz de evitar todas as eventualidades e impedir que ela seja roubada ou que você a perca. Além do mais, ela é sua agora, portanto, guarde-a bem, pois ela é seu pertence e sua responsabilidade. Relíquias mágicas são itens cobiçados por todos no mundo, e uma como essa que basicamente pode ser tratada como uma segunda vida, é ainda mais valiosa.
Kaella então colocou o dedo sobre o medalhão e apertou levemente contra o peito do garoto.
— Então, cuide bem — ela disse — Quanto ao manto, apenas deixarei que o use para descanso. Durante seu treino você não usará nenhum auxílio externo, e como a relíquia só irá ativar em caso de perigo mortal, ou grandes doses de dor que você não consiga suportar sozinho como a sua primeira experiência do passo dos corvos, deixarei que fique com você. — ela explicou.
Kaella sabia que mesmo que quisesse tirar o medalhão do garoto, agora que já havia entrado em contato com ele, seria extremamente difícil de fazê-lo, afinal, o objetivo da promessa divina é protegê-lo. Para tal a promessa deve estar com ele a todo momento para usar seu poder efetivamente, portanto, é provável que a própria relíquia tente impedi-la de afastá-la de seu protegido, afinal, ela mesma já havia sido manipulada a colocar a promessa em seu corpo.
Lucet acenou a cabeça indicando que entendeu.
— Bem, vamos então para um lugar mais apropriado para seu treino.
Kaella então colocou sua mão no ombro do garoto e ambos afundaram nas sombras. Apesar de ainda sentir dor considerável ao realizar o transporte, quando Lucet saiu da escuridão, a dor era relativamente menor, aparentemente, o seu corpo se acostumaria com esse processo quanto mais fosse exposto a ele. Mas, ainda assim, ao sair do transporte, caiu de joelhos no chão e abraçou o corpo tentando resistir a dor.
Dessa vez, porém, o medalhão não reagiu. Kaella notou isso. “Então a promessa apenas funcionará em condições extremas? Ou será que a proteção que fala é mais que isso?” Ela, como uma curiosa e diligente pesquisadora, até cogitou a ideia de testar os efeitos da promessa, mas logo desistiu, afinal, seria cruel demais usar a criança como cobaia para testar os efeitos da promessa divina que, com exceção da própria congregação, ninguém possuía a menor ideia de como funcionava.
A única informação que possuia era de que para ativar a promessa eram necessárias enormes quantidades de aura da fé e que cada promessa só poderia ser usada uma única vez, pois, após cumprida, a reliquia se desfazia e virava pó. Mas, quanto aos limites da promessa, suas restrições e para que tipo de uso ela existia, e mais importante, quantas ainda existiam em posse de Puritas, isso ela não tinha a menor idéia.
O que a deixava ainda mais curiosa era considerar exatamente quantas ainda restavam e que tipo de feitos o paladino que ativou a promessa de Lucet havia realizado para acumular uma aura poderosa o bastante para lhe garantir proteção por quinze anos.
Após alguns minutos, Lucet se levantou, sua respiração um pouco ofegante. Mas, apesar do desconforto e da dor, seu rosto carregava um leve sorriso.
— Dessa vez…Doeu menos — Ele disse — Ainda doeu muito, mas, foi um pouquinho menos dolorido.
Kaella o observou por alguns instantes, satisfeita.
— Essa é a natureza do poder criança — Ela afirmou — Nada é instantaneamente resolvido. O poder e a habilidade, ou de certa forma tudo neste mundo, é uma acumulação e progressão de milênios de esforço. Imagine que os problemas do mundo são a “dor” e cada solução para cada problema é o resultado de muito esforço, tempo e experiência para ser alcançar a “cura”. Assim como seu corpo irá lentamente se acostumar com o processo de transporte do passo dos corvos, assim também será o seu poder mágico. Independente de quão imenso é o seu talento, de nada ele vale se você apenas quiser atingir os resultados sem colocar o devido esforço, se assim fizer, no fim apenas alcançará resultados inferiores e distorcidos.
— Resultados distorcidos… — ele murmurou — Se é fácil demais então é problema?
Kaella deu um leve riso e respondeu.
— Exato criança — ela disse — Se é fácil demais, é problema. Creio que essa é uma excelente lição para ser sua primeira.
Lucet então observou seus arredores, pois, finalmente se desprendeu do fascínio que possuía pelo conhecimento de sua mestra. Ele notou que estavam muito próximos a um dos limites do vale de Elysium, e, nesta parte específica havia um barulho muito alto, além de um constante cheiro de molhado, como se o próprio ambiente estivesse mais úmido.
Além disso, o cheiro das árvores, das incontáveis flores e ervas, neste parte em particular, eram especialmente mais fortes e chegavam a deixa-lo um tanto zonzo. Ele cobriu o nariz enquanto sua expressão apertava e ele chacoalhava, demonstrando seu claro desconforto.
— Consegue notar a demonstração da natureza do poder aqui Lucet?
Ele, porém, chacoalhou a cabeça.
— Bem — Ela começou — Você claramente está incomodado pelo cheiro potente das plantas nesta área não?
Ele concordou.
— As plantas aqui são muitas e, graças a umidade elevada do ambiente e uma exposição particularmente benéfica de luz solar pela maior parte do dia, elas se tornam gradativamente mais fortes com o passar do tempo. Porém, sozinhas, apesar de grande em qualidade, elas não têm potência aromática o bastante para incomodar. Portanto, o fato do aroma ser tão forte é devido ao grande número de plantas existentes por aqui.
— Ou seja, aqui o poder se mostrar incremental. Quanto mais se tem de algo, maior é o seu poder.
Os olhos do garoto reluziam com novo entendimento.
— Então quer dizer que se eu tiver um monte de mana, eu vou ser o mais poderoso? — Ele perguntou.
— Não exatamente — ela respondeu — Quantidade não é o único fator determinante quando se fala de poder. Qualidade também é algo extremamente importante.
Kaella então olhou algumas vezes para o solo. Ele continha várias raízes que protuberavam da terra escura, folhas de grama, fungos e diversos insetos que passavam por perto. Por um instante os olhos da elfa brilharam, e no instante seguinte ela se moveu.
— Achei! — Ela exclamou animada.
— Achou o que mestra?
Ela parou no pé de uma árvore e, com seus dedos envoltos em mana, começou a escavar. Não demorou muito até que ela retirasse algo do lugar.
— Isso — Ela respondeu, levantando e erguendo sua mão.
Ela segurava pelas raízes um tubérculo. Parecia uma batata, se uma batata fosse do tamanho de uma melancia e fosse vermelha, além disso, cheirava muito bem, tanto que Lucet, sem perceber, se aproximou de Kaella. A elfa escondeu a coisa em seu saco de tamanho interno desconhecido e o cheiro desapareceu, fazendo com que o garoto parasse e chacoalhasse a cabeça.
— O…o que aconteceu? O que foi isso? — Ele perguntou, preocupado.
— Essa foi uma batata modificada pelos mestres Faeram em Elysium com sua arte druida. Ela demora três vezes mais tempo para amadurecer do que uma batata comum, porém, ela é dez vezes mais nutritiva que uma batata comum, e tem um aroma extremamente atrativo e, apesar de eu achar o nome de extremo mal gosto e ter expressado diversas vezes meus protestos quanto a isso, eles a batizaram de “Super Batata”.
Nisso ela suspirou e colocou os dedos pálidos sobre as têmporas, as massageando.
— Sinceramente, décadas de pesquisa para desenvolver o método para enriquecer os nutrientes dos alimentos, ai eles vão lá e chamam de “Super” — Ela comentou desanimada — Se algum dia você criar qualquer coisa e chamar “Super” ou “Mega”, ou também de “Supremo”, “Absoluto”, “Invencível” ou “Turbo”, eu não te chamo mais de discípulo e vou apagar suas memórias para que o conhecimento que te passei seja excluído. Discípulo meu não vai dar nome ridículo a nada, se não souber nomear, me pergunte que eu ficarei feliz em ajudar.
Lucet acenou repetidamente, concordando. Ele tinha certeza que essa ameaça não era só isso, mas uma promessa de que se ele ousasse, mesmo que não fosse expulso do aprendizado, ainda sofreria um bocado.
— Bem — ela continuou — Essa “Super Batata” só demonstra a importância da qualidade, afinal, você precisaria de dez batatas comuns para equivaler apenas uma dessas. Além disso, também tem o fato que ela pode facilmente ser plantada em quase qualquer tipo de solo, o que facilita muito a produção, apesar do tempo mais elevado de maturação.
Kaella então juntou suas duas mãos, como se em uma prece. Elas reluziam com mana e então ela as separou, formando uma espécie de véu fino, quase transparente entre as palmas. Ela então se virou e disse.
— Outra forma da natureza do poder é a subjugação — Ela explicou — Certas formas de poder são antagônicas as outras. Por exemplo, o fogo é sempre combatido melhor com a água, porém, é extremamente poderoso contra a energia natural, tal como a das plantas.
— Outra forma da natureza do poder é a amplificação, onde a combinação de dois ou mais poderes exibem um poder total várias vezes superior às partes iniciais. Por exemplo, o vento pode alimentar e alastrar o fogo, tornando mais poderoso que inicialmente.
Lucet imaginava as cenas. Magos disparando feitiços uns nos outros, torrentes de água apagando chamas enormes e tornados flamejantes destroçando defesas de terra. Quanto mais aprendia, mais queria aprender, e, maior era seu desejo de um dia alcançar o nível onde pudesse tornar real as fantasias da sua mente.
— Mas para nós, corvos, a natureza do poder mais apropriada é a manipulação e o controle — ela comentou — Tal como esta que está entre minhas mãos. É muito simples combater força com força, mas é muito mais difícil combater força com sutileza.
— Mas mestra — Lucet disse — O que é isso que você fez?
— Bem, eu poderia explicar, mas seria muito mais fácil deixar que você descubra o que ela faz — Ela respondeu — Vamos lá, tente me dar um soco, e eu vou me defender apenas com isso.
Lucet ficou confuso, e preocupado. Sabia que não poderia desobedecer e que aquilo que sua mestra segurava certamente era algo incrível, mas ainda assim, era tão fino que até mesmo ele, com sua pequena força, conseguiria rasgar com facilidade não?
— Mestra, e se eu te acertar? Você não vai me bater vai? — Ele perguntou apreensivo.
A elfa riu. Em seu rosto um genuíno sorriso, o garoto era realmente divertido de ensinar.
— Você acredita que consegue me acertar? — Ela perguntou rindo.
— N…Não! — Ele respondeu, suas bochechas rosadas — Mas é que é tão fininho que vai rasgar se eu bater.
— Ah vai é? — Ela respondeu, entretida — Se você conseguir rasgar esse véu com seu punho, eu lhe darei um item encantado da minha coleção, qualquer um que seja.
— Sério? — Ele respondeu, interessado.
— Claro que sim, está, por um acaso, me chamando de mentirosa? — Ela respondeu, indignada.
— N…Não! Eu nunca! — Ele exclamou amedrontado.
— Então vai, dê um soco — Ela ordenou.
— T…Tá bom! Lá vai! — Ele respondeu.
“Depois não me culpa se eu te acerta mestra!” Ele reclamou em sua mente. Lucet então fechou seus dedos da mão direita e formou um punho, fechou seus olhos com medo do resultado, e então, disparou o soco na direção do estômago da elfa, que era o mais alto que ele conseguia acertar em linha reta. Kaella por sua vez apenas sorriu e posicionou o véu sobre a área onde o punho iria acertar.
O punho acertou e atravessou o véu, Lucet sorriu confiante, certamente uma coisa fina como aquela não poderia segurar seu punho, mesmo que ele não fosse exatamente forte. “Eu falei que ia rasgar essa coisa!” pensou. Kaella, apesar de não estar usando a leitura emocional agora, podia dizer exatamente o que o garoto pensava pela sua expressão e respondeu.
— Eu não estaria tão certo da sua vitória se fosse você pequeno — Ela sorriu.
— Ahn? — Ele respondeu, confuso.
Ele finalmente abriu seus olhos e viu algo que o chocou instantaneamente. Seu punho certamente havia atravessado o véu, mas de maneira alguma havia rasgado. Seu punho estava lá, impedido de continuar pelo véu que havia se esticado e amparado seu ataque, e por isso, era óbivo que ele não havia conseguido vencer a elfa.
“Não pode ser! como é que essa coisinha fina conseguiu se manter inteira?” ele pensou confuso. Neste instante Kaella disse.
— Pensei que meu véu de mana fosse rasgar sob sua incrível força pequeno — Ela provocou — fiquei com medo de ser acertada.
Seu rosto vermelho com raiva, Lucet socou mais uma vez, e novamente, o véu esticou e resistiu, mas não mostrou nenhum sinal de romper. Kaella apenas ficou olhando seu discípulo frustrado com um sorriso no rosto. “Vamos garoto, desvende isso”
— Porque não tá rasgando?—Ele disse enfurecido.
Ele então disparou diversos socos no mesmo local. “Não pode ser que essa coisa vai resistir para sempre, uma hora a mana da mestra tem que acabar, e uma coisa estranha dessas com certeza deve gastar um monte de energia para manter!”
“Vamos! Rasga! Rasga! Rasga! Rasga! Rasga! RASGA!” Ele exclamou em sua mente com toda sua fúria enquanto seus olhos queimavam com ira.
Kaella que agora observava as emoções e pensamentos do garoto com seus olhos reluzentes não pode deixar de demonstrar um sorriso satisfeito. “Sim, manter isto custa um tanto de energia, mas ainda assim, eu poderia ficar aqui o dia todo e ainda assim, com sua força, o véu não se partiria” ela pensou.
Lucet passou mais meia hora socando repetidamente até que desabou no chão, arfando.
— Porque…— Ele disse, tomando um grande folêgo — Essa coisa não rasga? Não importa o quanto eu soque…Não tem efeito…Parece um elástico…
Nesse momento, como se uma luz acendesse em sua mente, ele desvendou o mistério.
— Elástico! — Ele exclamou — Isso não é um simples tecido de mana, é um elástico de mana não é!?
Kaella sorriu e acenou a cabeça.
— Exatamente — Ela respondeu— Isso é um elástico de mana e custa um bocado para manter as propriedades elásticas, mas, com apenas esse pequeno pedaço, eu poderia ficar aqui o dia todo me defendendo do seus ataques que nada aconteceria.
Lucet suspirou.
—Não é a toa que prometeu um item mágico, eu nunca ia conseguir romper isso — Ele reclamou baixinho.
—Essa é apenas mais uma das naturezas do poder— Ela explicou— Usar o suave para dominar o sólido. Tal como a água, que é suave, pode, se usada de uma maneira específica, partir uma rocha, assim um elástico que é muito mais maleável que uma pedra, pode por vezes, resistir a força muito melhor do que uma.
—O poder existe de muitas maneiras então mestra?
— Exatamente, e essas que te expliquei são as mais comuns e podem ser aplicadas para toda uma vida se souber usar direito, portanto, guarde isso bem — Ela disse séria —O poder é uma ferramenta, nas mãos certas pode trazer maravilhas, nas mãos erradas, uma catástrofe. O que lhe ensinarei, espero que sejam certas as suas mãos.