Pacto com a Súcubo - Capítulo 103
Renato olhou para as crianças que devoravam os cachorros quentes e bebiam suco de acerola.
Eram das mais variadas idades. Os mais novos, por volta dos 6 a 9 anos; e os mais velhos eram adolescentes. Cerca de 20 ao todo. E Dulce e Clarisse cuidavam de todos eles. Era um trabalho exaustivo, obviamente, e elas tinham rugas que provavam isso, além de atestar a idade.
Eram senhoras simples, que não estudaram muito. Amorosas no cuidado e cheias de afeto. Do colo quentinho e aconchegante.
Renato amava esse lugar. Ele não admitia nem para si mesmo, mas notou após observar aquelas pessoas por alguns instantes.
— Eu gostaria de ficar aqui para protegê-los. O mundo tem muitos perigos. Anjos, demônios, monstros… São apenas crianças e duas idosas. São tão indefesos…
Clara balançou a cabeça.
— Se quer mesmo protegê-los, fique longe.
— Eu sei, mas…
— Você acabou de matar um anjo, Renato. E, aliás, não foi você quem roubou a escrava de um demônio de alto nível? Acha que Belfefor vai deixar por isso mesmo? E os anjos? Vão te caçar até o fim do mundo. Você é um alvo, Renato. E eu também. Se ficarmos aqui, vai transformar essas crianças e essas idosas em alvos também. Pior: elas serão mero dano colateral.
Renato assentiu.
— Tem razão. Preciso me afastar.
— Ei, não fica assim. A gente pode cuidar deles de longe. Passar aqui de vez em quando pra ver se está tudo em ordem. Vou deixar alguns símbolos mágicos escondidos por aqui pra manter os demônios, anjos e monstros bem longe.
Renato pensou por um momento.
— Que bom. Obrigado.
— Não precisa agradecer. Depois me faça uma massagem e tá tudo certo.
*
— Mas você já precisa ir, Renato? — disse irmã Dulce, com um olhar triste.
— Preciso. Mas eu volto.
— Volte mesmo! E não demore.
Yuri se aproximou, segurando a caixinha com as cartas de Yu-Gi-Oh. Tinha um olhar neutro.
— Acho que a gente não vai jogar hoje, né?
— Preciso ir. Mas na próxima a gente joga.
— Certo. É bom você não se esquecer! E venha com tempo sobrando pra gente poder jogar. Não vou deixar você ganhar dessa vez!
Renato assentiu e o abraçou.
Após um abraço coletivo nas crianças, ele foi embora.
*
O trânsito estava caótico. Tinha uma briga acontecendo a cada esquina. Buzinas e palavrões formavam a nova canção que era entoada nas ruas. Caminhões do exército, cheio de soldados, e carros blindados circulavam para lá e para cá, dando reforço à polícia que não estava mais dando conta da situação.
Os semáforos estavam enlouquecidos e mudavam de cor sem seguir qualquer lógica, o que provocou um acidente. Um Golf bateu de frente com um Civic. Os dois carros foram reduzidos à lataria retorcida e possivelmente houve vítimas fatais.
Uma motocicleta, conduzida por dois rapazes, passou por eles, voando sobre a pista; e logo em seguida surgiu a viatura. Era uma perseguição.
Na esquina adiante, o piloto tentou fazer uma manobra e entrar numa rua perpendicular, mas a viatura os alcançou e bateu na motocicleta.
O rapaz que estava no carona, voou com a força do impacto e girou no ar. O capacete, que não estava com a alça travada, saiu da cabeça, e o rapaz bateu a cara no asfalto com toda a força.
O policial saiu da viatura rapidamente e pulou sobre o rapaz, o virou e pôs o joelho sobre o peito dele. Tirou a arma da cintura e pôs sobre o rosto dele.
— Tá preso, porra! Não se mexe, caralho!
O piloto da moto voou para frente e caiu diante de um ônibus em movimento. Seria completamente esmagado se o motorista não tivesse bons reflexos e freasse bem a tempo.
O piloto se levantou, meio atônito. O capacete ainda estava preso em sua cabeça, embora um pouco torto.
— Vai fugir da policia, caralho?! — gritou outro policial, puxando a pistola.
— Não! Esper…
O policial disparou quatro vezes.
*
Depois de andar por mais algumas ruas e avenidas, finalmente chegaram ao predinho de Clara.
Os portões abriram e a van entrou.
Renato pegou Jéssica no colo, e Clara pegou Mical.
Renato sorriu.
— Você tá sendo mais amigável com ela do que eu imaginava…
— Ah, o que que eu posso dizer? Gostei da Mical. Passamos alguns momentos juntas.
— Ei, eu vou ajudar também! — disse Tâmara, pegando Lírica no colo. — Eu também sou amigável, Renato! Tá vendo?
— Tô vendo — disse ele, achando a atitude da garota um tanto engraçada.
— Ai, Renato! — disse Tâmara, dramática. — Estou me sentindo tão fraca! Você poderia me carregar no colo também?
O garoto simplesmente ignorou e continuou andando.
— Vamos.
— Humpf! Chato!
Eles deixaram as duas garotas desacordadas no quarto.
— Bom — disse a súcubo —, agora eu vou sair pra respirar um pouco, meditar, talvez. Vou deixar você com as duas aqui.
Renato assentiu.
— Eu vou ficar também! — disse Tâmara.
— Não vai, não — respondeu Clara.
— Vou sim!
— Não vai. A casa é minha. Já foi muito eu deixar você entrar também.
— Renato! O que você acha? Eu posso ficar, não posso?
— Tâmara… Obrigado pela ajuda no Priorado e aqui, mas… eu preciso de um tempo. Ainda não… confio em você.
— Ai! Uma facada no meu coração teria doído menos!
— E a casa é minha — disse Clara, com um sorriso sereno, mas um olhar ameaçador.
— Certo, certo! Eu vou! Mas se precisar de mim, Renato, é só ligar que eu venho correndo!
Clara bufou.
— Gada.
Renato coçou a bochecha. Fazia isso quando se sentia embaraçado.
— Certo. Eu lig…
Ele não conseguiu terminar a frase. Tâmara selou seus lábios com um beijo roubado.
O cheiro dela era tão agradável! E o toque de seus lábios era suave e gostoso.
Clara puxou Tâmara pelo colarinho, afastando-a de Renato.
— O que foi, súcubo? Não está acostumada a ser deixada de escanteio?
— Deixada de escanteio? — Clara riu. — Isso nem foi um beijo de verdade!
Dessa vez foi Clara quem roubou um beijo de Renato.
E foi como da primeira vez. As sombras do quarto se curvaram, as forças de Renato foram drenadas e suas pernas amoleceram. O coração bateu enlouquecido e um calor incontrolável tomou suas partes íntimas.
Quando Clara se afastou, um fio de saliva os manteve conectados por mais alguns milésimos de segundos antes de se partir.
O garoto, sem forças e extasiado, caiu sentado no chão. Sua visão estava turva.
— Viu? — disse Clara. — Isso sim foi um beijo. Aquela parte dele ali até acordou.
— Grr! — Tâmara rosnou. — Eu ainda nem comecei a jogar a sério!
Aproveitando-se que Renato estava sentado no chão, Tâmara se inclinou sobre ele e, suavemente, correu os dedos sobre o braço dele, acariciando, sentindo os músculos.
Aproximou a boca do pescoço dele e, com suavidade, passou os lábios sobre a pele, passou a língua, e depois mordiscou e beijou.
Renato primeiro sentiu o calor da respiração dela em seu pescoço, o que fez um arrepio correr por seu corpo, e depois aquele beijo molhado. O pescoço sempre foi seu ponto fraco.
Tâmara, tomada de desejo, escorregou a mão para debaixo da calça dele e tateou, procurando a coisa pulsante que, a esta hora, estava rígida feito aço.
Envolveu os dedos em volta daquela coisa, segurando firme, e movimentou de cima para baixo.
— Não é uma delícia essa combinação de desejo e violência? De sangue e amor; de tesão e agressão?
Ela mordiscou a orelha dele.
Clara puxou Tâmara, mais uma vez afastando-a de Renato.
— Não exagere, princesinha homicida. Vou te mostrar o que é desejo!
Dessa vez foi Clara quem se inclinou sobre Renato.
Ela segurou na calça dele e a abaixou.
Aquela parte ereta apareceu, pulsando.
Clara lambeu os lábios, umidificando-os, como alguém que vê uma comida deliciosa, e se inclinou, aproximando a boca daquilo.
Tâmara engoliu em seco. O coração da garota batia forte. A aura da súcubo também a afetou e ela queria ver aquilo. Queria participar daquilo.
Mas, antes de concluir o movimento, Clara parou e sorriu.
— Não.
— O quê? — Tâmara franziu o cenho, confusa.
— Você não tem o direito de participar. Não faz parte da família. Aquelas duas garotas têm mais direito de participar disso do que você.
— Aquelas duas? — Tâmara pareceu indignada. — Elas não passam de duas puritanas sem graça! Elas não… !
— Shhhhi! — Clara pôs o dedo sobre os lábios de Tâmara, silenciando-a. — Não fale mal de minhas amigas assim, ou teremos problemas.
— Mas… !
— Vamos!
Clara segurou Tâmara e, logo em seguida, se tornou em névoa, e essa névoa desapareceu através da janela levando a garota dos olhos âmbares consigo.